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terça-feira, fevereiro 11, 2025

«Há um olhar sobre o passado em Almada. Mas, e o presente, onde é que está?»


Sei que posso estar enganado, até por hoje ser uma pessoa "mal informada" (basta não ter redes sociais, por onde tudo circula...), mas faz-me confusão sentir que não há oposição política em Almada.

Quando se percebe com alguma nitidez, que Almada está muito pior do que era, há dez anos. Basta andar pelas ruas e perceber que nunca existiram tantos buracos nas estradas, tanto lixo à vista de todos, e zonas verdes completamente descuidadas.

Mas posso continuar: a realização de obras públicas de melhoramento são uma desgraça, nunca são cumpridos os prazos (há diferenças superiores a seis meses e até um ano) e sente-se muitas vezes que se gastou "dinheiro para nada", ou seja, ficou tudo, mais ou menos igual.

Mas onde noto mais diferenças é na oferta cultural. É muito menor. Isso também acontece por que se tentou, com êxito, asfixiar o associativismo local (há dezenas de colectividades que fecharam portas nesta última década, por falta de apoio...).

Lá estou eu a deixar a "caneta" escrever sozinha... 

O que que queria dizer, é muito simples. Faz-me confusão que o vereador António Matos, eleito pela CDU, faça excelentes retrospectivas do passado, do trabalho meritório que o seu partido realizou em Almada e nunca fale do presente. 

E tem tanta coisa para criticar!

Daí a pergunta que dá título a estas minhas palavras: «Há um olhar sobre o passado em Almada. Mas, e o presente, onde é que está?»

Até parece que está tudo bem em Almada, pelo menos para a CDU...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, janeiro 18, 2025

A desagregação de freguesias que não chegou a Almada (nem às Caldas da Rainha)...


Consultei a lista das freguesias que são ser desagregadas de outras (são cento e trinta e cinco) e não encontrei qualquer sinal do Concelho de Almada, mesmo que algumas uniões sejam autênticos erros de casting, pelo menos para quem conhece a história local e o dia a dia destes pequenos centros urbanos.

O mesmo se passou em relação às Caldas da Rainha, onde até existe uma união entre uma freguesia urbana unida a duas rurais (Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório)... e irá continuar a existir. Aqui é que se deve sentir o "abandono autárquico"...

Mesmo assim, estou satisfeito, pelas mais de cem freguesias que voltam a caminhar, apenas com os seus pés. Sei que se trata de uma reposição justa e uma forma de servir melhor as suas populações.

Sei do que falo. Assisti às mudanças de um concelho com o de Almada, que passou de onze para cinco freguesias. O que foi mais notório foi a "desresponsabilização" dos autarcas, com a velha desculpa, de que lhe era impossível estar em todo o lado ao mesmo tempo. Isso fez, entre outras coisas, que cada vez apoiassem menos as colectividades recreativas, culturais e desportivas, tal como outras instituições que serviam os almadenses. Neste caso particular, diziam sempre que não havia dinheiro para tudo...

Por se tratar de um Concelho onde há um grande envelhecimento da população (especialmente nos centros urbanos mais antigos, como são os casos de Almada, Cacilhas, Cova da Piedade ou Trafaria), a anterior divisão de freguesias permitia uma maior proximidade junto das populações. Infelizmente, esta ligação foi desaparecendo com o tempo, assim como a própria identidade dos lugares, quase sempre com uma história muito própria, e bastante rica, como são os casos de Cova da Piedade, Trafaria ou Cacilhas.

Se acho natural que as freguesias do Feijó e Laranjeiro, assim como a Charneca e Sobreda de Caparica, devem permanecer unidas, acho que pelo menos a Cova da Piedade, o Pragal e a Trafaria, deviam ser freguesias autónomas.

Todos tínhamos a ganhar, especialmente os habitantes destes pequenos centros urbanos.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

Nota: Este texto foi publicado primeiro no "Largo da Memória".


quinta-feira, janeiro 02, 2025

Uma Almada que se quer e deseja diferente


Esta fotografia tirada no último dia do ano, com as flores que foram colocadas junto ao busto de José Elias Garcia, na rua com o mesmo nome, em Cacilhas, pelo "O Farol", tem um simbolismo especial.

Depois de este espaço ter sido "pichado" e usado como "reservatório de lixo", durante meses a fio, sem que alguém dos vários poderes locais, se preocupasse seriamente com o assunto, foi limpo e  fez-se finalmente  justiça a um espaço de homenagem a um grande republicano (quando ainda era proibido sê-lo...), nascido em Cacilhas.

Continuamos a acreditar que a melhor forma de combater os "selvagens" que não sabem respeitar o espaço público, que é de todos, é mantê-lo em bom estado de conservação, de forma a que esta gente vá percebendo, que é uma beleza poder usufruir das coisas em perfeitas condições, e não sujas ou destruídas...

É uma boa forma de começar o ano, com uma imagem simbólica, de quem gostava de ver uma Almada mais limpa e mais bonita (mesmo sabendo que, por ser ano de eleições, muita coisa irá mudar para melhor, para fazer esquecer os anos de desleixo das autarquias socialistas do Concelho...).

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quarta-feira, outubro 30, 2024

Vagabundear pelo Ginjal (porta a porta)...


Não sei ao certo, há quanto tempo me perco pelo Ginjal. 

Há uns 35 anos, no mínimo. Foi a minha amizade com Romeu Correia que me "acordou" para a beleza e história desta "Margem Sul", que tanto pode começar em Cacilhas como no Barreiro. 

A minha margem deste Sul, deste além Tejo, sempre começou em Cacilhas (o tempo que vivi perto do Barreiro não conta para nada nestas vivências...). Provavelmente o Rio deve-me ter convidado a caminhar ao longo do Cais do Ginjal, logo nas minhas primeiras vezes que fiquei a ver o cacilheiro partir para a Capital (às vezes perdemos a barca por segundos e temos de esperar pela próxima, o que pode demorar entre quinze a trinta minutos...).

Mesmo que no início fosse para "matar tempo", foi assim que fui descobrindo, pouco a pouco, o Ginjal. O que existiu por ali, antes deste antigo espaço de restaurantes famosos e de várias indústrias, se ter tornado no conjunto de ruínas que hoje conhecemos, entre Cacilhas e o "Ponto Final" (sim, é ali rente ao restaurante que acaba o Ginjal e começa a Fonte da Pipa...), colorido, graças aos "grafiteiros" e pixeteiros". 

As descobertas com mais conteúdo histórico, aconteciam sobretudo nas conversas que tinha com os companheiros da memorável "Tertúlia do Repuxo", que durante mais de duas décadas, foi um espaço privilegiado de amizade e de conhecimento. 

Tertúlia que também contou nos últimos anos, com a presença de Luís Bayó Veiga, que se prepara para lançar no próximo sábado o livro, "O Ginjal, Porta a Porta - Referências e Memórias". Sei que ele também "bebeu" muita informação nas nossas conversas sobre história local à mesa do café. 

Felizmente o Luís não se ficou apenas pelas conversas e quis ir mais longe, quis viajar no tempo e saber que Ginjal era, o que existia há cem anos (para não recuar mais no tempo, coisa que ele faz nesta obra, com um rigor assinalável). E o resultado é um belo livro, que nos satisfaz todas as curiosidades, porta a porta, contando a história das gentes e dos lugares, que estão por detrás de cada "número de polícia"...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, outubro 28, 2024

"O Ginjal, Porta a Porta (Referências e Memórias)" de Luís Bayó Veiga


Durante a semana vou deixar aqui algumas palavras, sobre um livro escrito por um amigo, que será apresentado no próximo sábado.

Isso acontece por duas ou três razões, para lá da amizade com o autor. Uma delas é este blogue chamar-se "Casario do Ginjal"...


domingo, outubro 13, 2024

Uma Bela Surpresa para Todos os Familiares e Amigos de Fernando Barão


Ontem, durante a apresentação do livro da minha autoria, "Fernando Barão; (Quase) Tudo o que Vivi", as mais de cem pessoas que encheram a Sala Pablo Neruda, no Fórum Romeu Correia, em Almada, tiveram uma bela surpresa, durante a intervenção do vereador Filipe Pacheco, que fez parte da mesa de honra, em representação do Município de Almada.

O Vereador deu a todos a excelente notícia, que iria ser atribuído, brevemente, o nome de "Largo Fernando Barão", ao espaço que ainda continua a ser conhecido, popularmente, pelo "Largo da Bomba", onde em temos idos existiu uma bomba de água que abastecia os locais deste bem precioso. Ou seja o Largo junto ao Centro de Turismo de Almada, que foi durante quase todo o século XX, o quartel dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas.

Este lugar tem ainda outra particularidade, foi o lugar de "namoro à janela" de Fernando Barão com a jovem e bonita Isabel, que viria a ser a esposa e companheira da uma longa vida. Foi ainda a propósito deste namoro que o Fernando ganhou a alcunha do "Vai à Bomba"...

Em suma, uma escolha muito feliz do Município, que muito honra os familiares e amigos mais próximos do nosso "Barão de Cacilhas".

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, outubro 11, 2024

segunda-feira, outubro 07, 2024

A História de vida de Fernando Barão em Livro...


No próximo sábado será apresentado o livro, "Fernando Barão - Quase tudo o que vivi", na Sala Pablo Neruda, em que junto uma série de conversas que fui tendo com este Amigo, nos anos de 2018 e 2019, que acabaram por ser interrompidas com a Pandemia...

Ou seja, este livro é a história de vida de Fernando Barão, contada por ele próprio...


quinta-feira, setembro 19, 2024

A "Nova Sintese" de Abril


Sou um dos colaboradores da revista "Nova Síntese", comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, editada pelos Amigos do Museu do Neo-realismo, com o ensaio, "Sociedade Filarmónica Incrível Almadense - 175  de Associativismo Popular e Democrático".

A Revista será apresentada no próximo sábado, no Museu Neo-realismo, em Vila Franca de Xira.


quinta-feira, julho 18, 2024

A Visita ao Castelo de Almada...


Gostei de passar hoje pelo Castelo de Almada e de ver as escavações arqueológicas levadas a cabo pelo Município e pela Universidade Nova, e claro, as vistas, sempre deslumbrantes deste lugar altaneiro (como acontece com todos os castelos).

Gostei desta iniciativa da Autarquia, de mostrar o que se está a fazer, a todos os interessados, por estas coisas da história.

E espero que esta equipa de trabalho consiga descobrir alguns vestígios, pelo menos da ocupação muçulmana, desta nossa Margem Sul, embora de certeza que também os romanos, tenham estado num lugar tão importante, em termos estratégicos, pela visão que nos oferece do Tejo, de Lisboa e até do Oceano.


Felizmente nem tudo é mau no Município de Almada. O desleixo das ruas (é geral, se excluirmos o eixo principal...) tem sido disfarçado por iniciativas como esta e outras das Culturas (tenho ficado feliz por alguns amigos continuarem a ter ideias e a conseguirem colocar algumas em prática, pelo menos nos Museus e Bibliotecas, lutando contra o desinteresse crescente das pessoas por coisas que nos elevam como seres humanos e contra a burocracia institucional...).

(Fotografias de Luís Eme - Almada)


terça-feira, julho 16, 2024

Fernão Mendes Pinto: cada vez mais respeitado e "menos mentiroso"


Um dos livros que levei para ler nas férias foi "Na Senda de Fernão Mendes Pinto", de Joaquim Magalhães de Castro.

O autor não só desmonta muitas das falsidades que se foram escrevendo sobre este grande aventureiro, que felizmente se tornou escritor de viagens, quando estes ainda não existiam, como prova a passagem desta figura histórica pela China, Japão e muitos outros orientes. É importante recordar que Fernão viveu os últimos anos da sua vida no Pragal, em Almada, onde escreveu a "Peregrinação".

Neste caso particular, o tempo tem sido amigo do escritor português, pois, ano após ano, o seu registo histórico vai-se valorizando, pela quantidade de informação - cada vez mais respeitada e enaltecida - que nos ofereceu e também pela forma como conta as suas peculiares epopeias, positivas e negativas. Ou seja, afinal não é o "mentiroso" que muitos pensavam e difundiam.

Publico esta fotografia especial, de um amigo que já não está por cá, porque neste ano de 2024, se comemora o centenário do seu nascimento: o também almadense Fernando Barão. Fotografia tirada numa tertúlia histórica de Almada ("As Tertúlias do Dragão", organizadas pela SCALA no Café Dragão Vermelho...), com o Fernando a encarnar com graça e história, o extraordinário Fernão Mendes Pinto.

Nota: texto publicado inicialmente no "Largo da Memória".

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

terça-feira, julho 02, 2024

"Santos da terra não fazem milagres..."


É costume dizer-se que "santos da terra não fazem milagres", quando sentimos que não se dá o devido valor a alguém, que nasceu ou cresceu em determinado lugar.

Sempre senti isso em relação a Almada e a Manuel Cargaleiro. O melhor exemplo é o facto de não existir qualquer espaço museológico dedicado à sua obra, extensa e variada, tal como acontece em Castelo Branco (que belo museu...) ou no Seixal. E foi aqui que ele sempre viveu (se não contarmos com Paris e Lisboa nos últimos anos...).

O facto de ele sempre ter usado a sua Arte como o seu principal interesse e a única política, onde era realmente hábil, explica algumas coisas. Também não lhe devem ter perdoado o facto de ter sido vogal (nesse tempo não existiam vereadores...) da Câmara Municipal de Almada nos anos 1950, com o pelouro da Cultura, ou seja, no tempo do "outro senhor".

Tive o grato prazer de o conhecer e de viajar pelo seu mundo artístico, quando ainda não existiam estes museus e a sua "Quinta da Silveira de Baixo" tinha uma autêntica "caixa-forte" onde guardava parte da sua obra e as suas colecções particulares, especialmente a de cerâmica, que devia ser das mais importantes do mundo (até tinha peças de barro da autoria de Picasso...). É importante referir que a maior parte do dinheiro que o Mestre Manuel Cargaleiro ganhou com a sua pintura, foi investido em arte, de outros artistas...

Ainda tenho bem presente a visita guiada que fiz à Quinta da Silveira, com o Mestre Cargaleiro a mostrar-me com orgulho, as suas várias colecções (tinha obras de cerâmica do mundo inteiro) de arte, ao mesmo tempo que me ia contando uma ou outra história mais curiosa, sobre algumas peças.


É comum dizer-se que ficamos todos mais pobres quando desaparece algum dos nossos melhores. Almada ainda fica mais pobre, porque não soube aproveitar a arte de um artista tão singular e de renome mundial, como foi Manuel Cargaleiro.

Felizmente temos o seu mural publico, em azulejo, no Jardim Alberto de Araújo...

(Fotografias de Luís Eme - Sobreda e Almada)


sexta-feira, junho 07, 2024

Quando a sociedade civil fez a Revolução no interior dos quartéis, na "Tertúlia de Abril"


António Matos era o mais novo dos convidados (o moderador não contava...), pelo que tinha uma história pessoal para nos contar, sem grandes vivências revolucionárias. Falou da honra de estar ali com tão boa companhia e num lugar tão importante na história de Almada e dos Almadenses.

Mesmo assim andou atrás no tempo e falou do jovem adolescente que chegara da província com os país,  onde a religião tinha (e continua a ter...) um peso maior que nos grandes centros urbanos. Foi por isso que as suas primeiras acções, foram mais sociais que políticas, e tiveram o dedo do Padre Sobral. António acabou por seguir os passos dos católicos progressistas, ajudando no que era possível, como aconteceu com a luta contra o analfabetismo, um problema social sério, que era cada vez mais difícil de esconder...

Mais curioso foi o seu testemunho, dos tempos em que cumpriu o serviço militar, em Mafra, no curso de oficiais milicianos (depois de vários adiamentos até cumprir a licenciatura em engenharia), já depois da Revolução de Abril. Teve como camaradas de armas muitos dos jovens que tinham fugido da guerra e se tinham exilado em vários países da Europa. Alguns já com mais de trinta anos. A maior parte deles estava ali para legalizar a sua situação e não para cumprir as normas castrenses, pelo que se recusavam a fazer a rotina diária de um recruta, para desespero dos instrutores. Como a alimentação também não era famosa, tornaram-se famosos os seus "levantamentos de rancho" (recusa colectiva de alimentação no refeitório militar). A solução que o Exército encontrou foi dividi-los e "despromovê-los" para o curso de cabos. Como os problemas se mantiveram, acabaram por passar todos a disponibilidade como "praças rasas"...

Pois é. Os militares tinham feito a revolução fora dos quartéis e não estavam à espera que a "sociedade civil" fizesse a sua revolução no interior dos quartéis...

Mais um bom apontamento histórico.

(Fotografia de Alfredo Cunha)


quarta-feira, junho 05, 2024

A história da resistência associativa e operária na "Tertúlia de Abril"...


O testemunho mais real - e mais sentido - da Tertúlia de Abril" da Incrível, foi o de Mário Araújo. Mário falou da sua vida difícil, do lar pobre onde nasceu, da obrigatoriedade, por isso mesmo, de com dez, onze anos de idade, ter de ir trabalhar para ajudar a família, por muito que o professor insistisse com os pais que ele deveria continuar... Não era possível, não se podiam dar a esse luxo...

Crescer num mundo com tantas injustiças tornou-o Comunista. Como ele é um "Homem Colectivo" (escrevi um poema sobre ele com este título...), e sempre pensou nos outros, rapidamente se tornou um resistente activo. Começou a trabalhar para o Partido, dentro das colectividades e das fábricas. Recordou as "Escolas do Desportivo da Cova da Piedade" e o Gomercindo de Carvalho, todo o trabalho extraordinário que foi feito ao nível do ensino e também na consciencialização política. E claro, do João Raimundo, a grande referência da luta operária da Cova da Piedade.

Como é normal nestas coisas, acabou preso...

O mais curioso, é o Mário falar mais do muito que aprendeu dentro das prisões fascistas (Caxias e Peniche), que do que sofreu. E não quer esquecer, nunca, tudo o que viveu.

Depois na segunda ronda, falou da URAP (União dos Resistentes Antifascistas Portugueses), do contacto e da amizade com os Tarrafalistas, estes sim, os grandes resistentes do Salazarismo, que sofreram coisas inimagináveis em Cabo Verde, que era mesmo um "Campo de Morte Lenta". E também na sua importância nas escolas, no contacto com alunos e professores, para que não se "apague a memória"...

(Fotografia antiga do Caramujo, a grande zona industrial da Cova da Piedade)


domingo, junho 02, 2024

O Cerco à Assembleia da República de 12 de Novembro de 1975 na "Tertúlia de Abril"


Na sua intervenção na "Tertúlia de Abril" da Incrível (28 de Maio), José Manuel Maia além de referir o seu percurso profissional - de como tudo começou e até onde chegou -, falou-nos do espanto que sentiu, depois de ser eleito para a Assembleia Constituinte, quando entrou pela primeira vez, nesta grande casa da nossa democracia.

Como são cada vez menos as pessoas capazes de falar em público das suas fragilidades e inseguranças, isso ainda torna mais relevante o testemunho de Maia, que também nos falou da sua "paralisia momentânea", quando foi convidado a deslocar-se para a Mesa da Assembleia da República, para exercer as suas funções de secretário (quase obrigado pelo seu Partido...) e usar da palavra pela primeira vez. Foi salvo pelo ligeiro empurrão de um camarada, que o fez seguir em frente, para cumprir o seu papel com grande dignidade durante este mandato inicial da história da nossa democracia.

Não menos importante foi o seu testemunho sobre o "cerco" à Assembleia da República, promovido pelos sindicatos ligados à construção civil no dia 12 de Novembro de 1975.  Mais de 100.000 trabalhadores impediram a saída dos deputados e do primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo, da Assembleia da República e do Palácio de São Bento, durante 36 horas. E de como uma manifestação de reinvindicações sobre o contrato colectivo de trabalho de uma actividade profissional ganhou importância política, ao ponto de ser usada por Mário Soares e pelo PS, para acelerar a contestação à esquerda e extrema-esquerda, que irá atingir o seu epilogo no dia 25 de Novembro, com a acção militar do "grupo dos nove", que alterará profundamente o rumo político do País.

(Fotografia do Arquivo da Assembleia da República)


quinta-feira, maio 30, 2024

O controlo operário na "Tertúlia de Abril"...


Nunca tinha ouvido falar do "controlo operário", de uma forma tão simples e aberta, como a que Joaquim Judas - o médico que foi presidente do Município de Almada - nos resumiu e testemunhou, desse memorável "Verão Quente", na "Tertúlia de Abril" da Incrível.

Foi a partir de 28 de Setembro de 1974 (onde se tentou inventar uma "maioria silenciosa"...), que as grandes famílias do antigo regime, perceberam que não iriam ter uma vida fácil, porque a transição democrática não seria a que Spínola e Palma Carlos tinham "desenhado" logo após o 25 de Abril. E é então que começam a descapitalizar as suas empresas, bancos e seguradoras, colocando o capital no exterior.

A banca terá sido das primeiras vítimas deste "logro", mas graças aos seus funcionários mais atentos, foi desmascarada. O caminho foi a nacionalização (que chegou tarde demais, porque muito capital já tinha sido "desviado"...). Empresas lucrativas e que continuavam a laborar normalmente, começaram a alegar dificuldades em pagar os salários aos seus trabalhadores. A única razão para que isso acontecesse era o tal "desvio" do dinheiro (que deve ter sido concertado pelo patronato)...

Augusto Flor também focou esta "novidade", que foi os operários trabalharem normalmente e deixarem de receber salários, dizendo que a Sociedade de Reparação de Navios, foi a primeira do País a colocar em prática esta "artimanha", contrarrevolucionária.

Claro que se devem ter cometido muitos excessos, durante as muitas acções do "controlo operário", mas se este não tivesse acontecido, o país teria parado, deixando as pessoas sem trabalho e sem dinheiro...

Foi um passo decisivo para se virar de vez a página do "país cinzento" e este passar a ter "todas as cores"...

(Fotografia de Vitor Palla)


quarta-feira, maio 29, 2024

A Alfabetização e o Mercado da Reforma Agrária na "Tertúlia de Abril" da Incrível


Na "Tertúlia de Abril" da Incrível de domingo foram transmitidas memórias bastante importantes, algumas das quais ouvidas pela primeira vez (por mim, claro). Ai vão alguns exemplos:

Augusto Flor falou do "Mercado da Reforma Agrária", que se realizava nos armazéns que ficavam em frente da Lisnave, mesmo ao lado do actual Quartel dos Bombeiros de Cacilhas, que tinham feito parte da indústria corticeira. E também de um sistema de trocas de peixe por produtos agrícolas, que se realizava neste mesmo mercado, entre operários, pescadores e camponeses...

Antes Augusto falara da boa experiência que foram os cursos de alfabetização, que começaram a funcionar na Sociedade de Reparação de Navios, onde ele era operário. No início eram ministrados para os seus trabalhadores e familiares analfabetos (pelos operários mais instruídos), mas rapidamente despertou também o interesse dos moradores do Ginjal. Interesse que se expandiu de tal forma por Almada, que foram criados vários polos, espalhados pelo Concelho, permitindo a centenas de pessoas aprender a ler, a escrever, para depois obterem aproveitamento no exame da quarta classe.  

Quem tem memória, sabe dos quase "milagres", realizados pelas Comissões de Moradores e de Trabalhadores, com o apoio da Comissão Administrativa do Município de Almada, que num curto espaço de tempo nesse "Verão Quente" inesquecível, fizeram o que não se tinha feito em décadas...

Felizmente isso também aconteceu com a alfabetização, com gente a querer aprender e a crescer, em liberdade. Liberdade que lhes estava a dar o que o outro tempo lhes tinha roubado.

É por estes exemplos que se percebe que os 25% oficiais da taxa de analfabetismo estava errada. Porque não se somavam todos aqueles que mal deixaram a escola nunca mais leram um livro ou até um simples jornal. Liam apenas aquilo que lhes aparecia à frente, nas ruas ou no trabalho, em placas, cartazes, etc. (e muitas vezes de uma forma "destorcida"...).

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, maio 27, 2024

Abril em Maio em Almada (nunca em Novembro...)


Passei a tarde de hoje no Salão de Festas da Incrível Almadense, onde me coube o papel de moderador de uma "Tertúlia de Abril", que procurava visitar o antes e o depois de Abril, em Almada, organizada pela Incrível.

Os convidados eram do melhor que se poderia encontrar no Concelho (Mário Araújo, José Manuel Maia, Joaquim Judas, Augusto Flor e António Matos), em conhecimento e experiência política. Isso muitas vezes complica a função do moderador. Não foi o caso, porque eu limitei-me a deixar esta gente da história de Almada, falar. Falar do muito que viveram, para as duas dezenas de pessoas presentes, sempre atentas, que saíram dali muito mais ricas (tal como eu...), sem arredar pé, nas quase três horas em que se "tertuliou" e visitou a história recente de Almada e de Portugal.

Foi uma pena não se ter filmado a sessão (nem fotografado.. .), porque se disseram coisas extremamente importantes e sentidas (foi uma boa ideia pedir-lhes na segunda ronda de intervenções, que nos contassem aquilo que mais os marcou durante esse tempo verdadeiramente revolucionário e progressista).

Também se falou do presente, dos avanços da direita à tentativa dessas mesmas forças em "compararem o que não é comparável": a Revolução de Abril com um Movimento Militar democrático (o mais curioso é que esta direita nem sequer teve nenhum papel activo neste movimento, protagonizado pelo "Grupo dos Nove" e pelo PS...), que tentou cortar com os extremismos que estavam a dividir o País (tanto à esquerda como à direita...).

(Fotografia de Júlio Diniz - Almada, 27 de Abril de 1974, sábado)

Nota: Texto publicado inicialmente no "Largo da Memória". Durante a semana, irei publicar textos sobre o que de mais importante foi dito, nesta sessão, extremamente rica em testemunhos e história, por aqui, no "Casario do Ginjal".


quinta-feira, maio 23, 2024

Falar de Abril em Almada (com o antes e o depois)


Nem mesmo a o futebol (a final da Taça...) demoveu a Incrível Almadense de organizar uma tertúlia, na tarde do próximo domingo, às 16 horas (onde serei o moderador). 

Tertúlia onde se recordará a Almada, que antes de Abril, já não disfarçava que as suas principais colectividades, eram autênticas "Ilhas da Liberdade".

E também deverá existir espaço para se falar com orgulho do PREC, que em foi verdadeiramente revolucionário no nosso Concelho, com a união entre o Povo e o Poder Local. Sim, as Comissões de Moradores e as Comissões de Trabalhadores, a Comissão Administrativa do Município e as Juntas de Freguesia, uniram-se e foram mesmo transformadoras, melhorando de uma forma significativa a qualidade de vida dos Almadenses, em pouco tempo.

Esta é também uma das explicações para que o PCP (APU, FEPU e CDU) fosse poder de 1976 a 2017, e deixasse a marca do seu trabalho em todos os sectores da Sociedade Local (e não menos importante, pelo menos neste Portugal: uma Autarquia sem dívidas significativas).