domingo, maio 31, 2020

"O Fotógrafo da Névoa"



                                                           (ao Fernando Barão)


O Fotógrafo da Névoa

Quando ouve a ronca do Farol
sente que o chamam no cais
para tirar retratos sem Sol
de belas paisagens fluviais

Prepara tudo com cuidado
a "kodak" é uma caixa de surpresas
que às vezes o deixa abismado
por o deixar fixar tantas belezas

A sua Isabel fica ao balcão
ele lá vai, atrás do nevoeiro
movido pela sua outra paixão-

Quem o olha, ali rente ao rio
ignora aquele artista de corpo inteiro
capaz de arrancar beleza até do vazio.

[Luís (Alves) Milheiro]


(Fotografia de Fernando Barão - Cacilhas)

sábado, maio 30, 2020

O Centenário do Liberdade Futebol Clube


Foi na quarta-feira,  dia 28 de Maio de 2020, que o Liberdade Futebol Clube, um clube popular fundado na Mutela (entre Almada e a Cova da Piedade) fez 100 anos.

Esta semana foi ainda mais atípica que as outras, foi por isso que me esqueci de felicitar este clube, nesta data tão especial...

Fiquei satisfeito, por saber à posteriori, que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, visitou o Clube, que agora está transformado em centro de acolhimento dos sem abrigo do Concelho de Almada.

Também lhe "lavaram a cara" (uma operação de cosmética, rápida e merecida...) e deram-lhe uma cor nas paredes da Sede.

E o mais importante. Parabéns Liberdade!

(Fotografia de Luís Eme - Mutela)

segunda-feira, maio 25, 2020

Fernando Barão: um Amigo e um Verdadeiro Renascentista da Cultura Almadense

Partiu hoje um dos meus melhores amigos de Almada.

Não sei o que dizer... embora tenha escrito muitas coisas sobre Ele, em livros, jornais, boletins e... até aqui no "Casario".

Em 2016 comecei por aqui uma pequena série (nove textos), a que intitulei "As Gentes da Minha Terra". Não foi por acaso que ele foi o primeiro. Embora já tenham passado mais quatro anos, o texto permanece actual e foi escrito no dia que o Fernando fez 92 anos... vou republicá-lo, com pequenas alterações.

«Não poderia escolher melhor para este começo, que um grande amigo, que faz hoje a bonita idade de noventa e dois anos, com uma lucidez e alegria de viver, invejáveis.
Falo de Fernando Barão, um verdadeiro Renascentista da Cultura Almadense.
É reconhecido com todo o mérito como um dos grandes associativistas de Almada (ajudou a fundar três colectividades, Clube de Campismo do Concelho de Almada, SCALA - Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada e O Farol, Associação de Cidadania de Cacilhas e ocupou o cargo máximo (presidente da Mesa da Assembleia Geral) na Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Ginásio Clube do Sul, Bombeiros Voluntários de Cacilhas, SCALA - Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada e O Farol, Associação de Cidadania de Cacilhas. Foi provedor da Santa Casa da Misericórdia de Almada durante 12 anos.
Mas mais que os cargos, importante foi o trabalho que desenvolveu. Sempre que havia uma actividade cultural nas suas colectividades de recreio ou de desporto, tinha dedo do Fernando...
E depois temos ainda as suas capacidades pessoais, que o transformaram num excelente contador de histórias (orais e escritas... é autor de mais de uma dezena de livros sobre o Concelho de Almada, de prosa e poesia). Foi um grande apaixonado pela fotografia a preto e branco, tendo sido premiado em vários salões, nos anos cinquenta e sessenta do século passado.
Mas ele gosta de tudo o que é cultura. Adora música (foi coralista...), cinema (que pena teve de nunca ter conseguido ajudar a criar um cine-clube em Almada...), teatro (escreveu vários quadros alegres para peças carnavalescas...) e todas as outras Artes.
A par deste currículo impressionante, não podemos deixar de destacar a sua qualidade humana, que suplanta todos estes talentos, pois Fernando Barão sempre fez (e faz) do seu dia-a-dia um hino à amizade e à fraternidade.»

A Fotografia de Gena Sousa que publico com este texto é uma fotografia especial. Foi tirada no dia do lançamento do livro que fizemos em conjunto sobre Cacilhas ("Cacilhas - A Pesca, a Gastronomia e as Tradições Populares"). O Fernando dá um autógrafo na minha companhia e do meu filho, que já tem 22 anos...

domingo, maio 24, 2020

O "Gaivota" de Cacilhas...


Maria Rosa Colaço, escritora e professora que viveu uma boa parte da sua vida em Almada, em 1982 publicou o seu conto "Gaivota".
Curiosamente, só li esta bela história de Cacilhas e das suas Gentes, a semana passada, com Maria Rosa a dar vida ao Alfredo, conhecido por todos como o "Gaivota", ao mesmo tempo que retrata um tempo em que havia crianças, quase sem espaço para serem crianças...
Mas vamos lá descobrir a Cacilhas  do "Gaivota", no começo de uma manhã de Dezembro:

«Não havia nada, ninguém, que lhe tirasse aquela alegria: levantar-se quase de noite, a terra a dormir ainda, as ervas e os cães ensonados e ele ali, sozinho, rua abaixo, até Cacilhas.
Sozinho, ouvindo o quase silêncio da madrugada, os primeiros ruídos indistintos como um grande corpo que começa a despertar e tem medo de perder os sonhos nocturnos.
Ao longe, Lisboa era como uma terra de ninguém: cinzenta. enorme, vazia. Ou uma pessoa que tivesse adormecido com o arrulhar das ondas, aquele som de ir-e-vir das águas mansas do Tejo.
E ali, a descer a rua, com a cana de pesca, a lata de isco, as sapatilhas cheias de curacos, a camisola larga; ali com o vento de Dezembro na cara, a respiração feita névoa, sentia-se um pequeno rei a fumar charuto ou outra coisa assim, impossível e engraçada.
Aquela ideia de ser rei a fumar charuto, sozinho no mundo e a fumar charuto, dava-lhe sempre vontade de rir. Mas durava pouco tempo porque, de repente, acabava-se o filme cómico e começava a vida de verdade: eram mulheres do peixe que apareciam; eram os pequenos carros de hortaliça, mercado ambulante para os que viviam sem tempo nem dinheiro para grandes compras; eram as mulheres das castanhas; os operários do estaleiro; os homens dos jornais.
Nasciam do chão, das paredes, do nevoeiro matinal, furavam as pedras da calçada, vinham do rio, saltavam da ponte, caiam do ar.
Eram, subitamente, muitos e vários.
E Cacilhas, ali, colada ao Tejo, já não era uma terra: era um formigueiro. Parecia que tudo era coisa viva e respirava, saía dos barcos, entrava nas camionetas.»

domingo, maio 17, 2020

Hoje Comemora-se o Centenário do Ginásio Clube do Sul


O Ginásio Clube do Sul faz hoje a bonita idade de 100 anos, pois foi fundado no dia 17 de Maio de 1920, em Cacilhas.

Foram seus fundadores Armando "Arrôbas", Carlos Durão, Hernâni Jorge da Silva, Joaquim Miranda, José de Oliveira Gendre, Ramon Bayó, Vital Garrido Moreira, Wenceslau Francisco da Silva, entre outros (também no Ginásio, não há certezas em relação ao nome de todos os seus fundadores...).

O facto de ter nascido nas margens do Tejo foi aproveitado da melhor maneira, para se tornar num clube com uma vocação diferente das outros colectividades desportivas do Concelho, privilegiando a prática de desportos náuticos (natação, remo e vela). Mas o seu nome diz quase tudo. Ginásio é ginástica. E o Ginásio Clube do Sul desde muito cedo que teve classes de ginástica... Claro que por pressão dos associados, teve de ter também a sua equipa de futebol (modalidade que por ser o grande "sorvedouro" das verbas do clube acabou extinta em 22 de Agosto de 1967...).

Mas desde a sua fundação, que a grande marca do Ginásio Clube do Sul, foi sempre o seu ecletismo. Durante a sua já longa vida teve secções de: andebol, atletismo, basquetebol, bilhar, boxe, ciclismo, damas, ginástica, halterofilismo, judo, karaté, kick boxing, natação, pólo aquático, râguebi, remo, ténis de mesa, vela, voleibol, xadrez (e é provável que me possa ter escapado mais alguma disciplina desportiva...).

Teve também um grupo cénico, que fazia a alegria dos cacilhenses, especialmente no carnaval.

Felizmente duas das suas grandes figuras históricas,  os meus amigos Henrique Mota e Fernando Barão, depois de  terem sido atletas e dirigentes  de grande qualidade (o Henrique também foi treinador...), tornaram-se também nos historiadores do clube, pois são os autores da obra, "Ginásio Clube do Sul, 75 anos de Glória", publicada em 1995, que nos oferece o que de mais importante se passou nos primeiros 75 anos de vida do Ginásio do Sul e de Cacilhas. 

Foi também graças a eles que comecei a gostar do Ginásio...

(Fotografia de Álvaro Costa)

quinta-feira, maio 14, 2020

"Há um ano o Ginjal estava assim..."

Não são preciso muitas palavras para descrever esta fotografia, datada de Maio de 2019.

Quase que basta dizer: "há um ano, o Ginjal estava assim..."

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)

terça-feira, maio 12, 2020

As Chuvas de Maio e a "Rua 26"...


Quando chove, custa menos ficar em casa.

Já lá vai o tempo que nos divertíamos a pisar poças de água (até a minha já está suficientemente crescida, para não me obrigar a esconder o sorriso... quando não resistia à tentação de passar por dentro de um "pequeno lago" de água).

Embora eu na minha meninice, além de meter o "pé na poça", também adorasse ficar na janela da sala da velha casa da "rua 26" (pois é, as ruas do bairro da minha infância eram numeradas, queriam lá saber de pessoas...), a a ver a chuva a cair e as pessoas a passarem, a fazerem uma ginástica enorme para fugir das poças de lama, num tempo em que o alcatrão ainda não chegara ao bairro, nos finais dos anos sessenta do século passado...

Ainda continuo a gostar de olhar para a janela, embora na minha rua (quase escondida), passem muito menos pessoas que na "rua do meio" (sim, além dos carteiros, ninguém lhe chamava "rua 26"...).

(Óleo de Denis Ichitovkin)