Antes de começar a escrever estas palavras no café, pensei em como o frio é terrível, pois até tinha afastado o "Tarzan" do nosso café...
Estou a falar de um senhor simpático, presença diária no "Repuxo", que de vez em quando me conta algumas das suas aventuras futebolisticas, dos tempos em que era um avançado centro de eleição, de uma equipa que já não há, "Os Unidos de Lisboa", que andou pela primeira divisão no tempo dos cinco violinos.Uma das suas maiores glórias - e prazeres, diga-se de passagem -, foi ter metido um golo ao Azevedo, guarda-redes dessa equipa mítica onde "tocavam" os cinco violinos (Travassos, Vasques, Jesus Correia, Albano e Peyroteo) e da selecção, no campo do Sporting, no Campo Grande.
Era muito jovem na época e houve um colega de trabalho que lhe deu uma encomenda para entregar ao guarda-redes do Sporting. Antes do início do jogo lá foi fazer a entrega. Mas foi tão mal recebido pelos "leões" (num tempo em que os jogadores mais antigos eram tratados por senhor pelos mais novos, além de terem ainda outros privilégios de balneário...).
Não esperava aquela recepção, cheia de piropos ofensivos. Irritado deixou a encomenda num dos bancos e virou costas às "vedetas" que faziam as delícias nos campos de futebol da época, deixando-os de boca aberta com o atrevimento. Não estavam era à espera que o atrevimento continuasse dentro do terreno de jogo...
"Tarzan" fez uma grande jogatana, trocando os olhos aos defesas do Sporting, em especial a Octávio Barrosa, um central grande e intratável. Marcou um golo que ainda hoje recorda, escapando ao defesa leonino que não gostou nada da brincadeira e lhe apontou o dedo, como quem diz, «cá estou à tua espera». E não esperou pela demora, levou mais dois ou três nós cegos, que só não deram golo, porque o Azevedo era mesmo um guarda-redes extraordinário...
Depois de escrever estas palavras, lá chegou o "Tarzan", acenou-me à entrada do café e sentou-se na esplanada, ao lado do seu companheiro de todos os dias. Desde que foi proibido de fazer nuvens de fumo no interior do café, fica sempre na esplanada, faça frio, chuva, vento ou calor...
É caso para dizer, o senhor Pereira continua a fazer jus à alcunha que ficou dos estádios, continua um autêntico "Tarzan", mesmo no café...