quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Um Poema para Edgar...


Edgar, é um nome que se mistura com o de Alexandre, Castanheira, o poeta, o professor, o político, o associativista, o operário, já para não falar das mil e uma ocupações que teve, durante os quinze anos, que passou na clandestinidade, ao serviço do PCP, onde foi um dos seus principais dirigentes (no final da década de cinquenta, princípio de sessenta).
Hoje Edgar faz oitenta anos. Tal como o seu irmão gémeo, Alexandre. Para ambos o meu aplauso e um poema:

Olhas o Rio

Olhas o rio com ternura,
Sentado, junto ao cais...

Foi daqui que partiste,
Para uma viagem
Quase sem destino...

Depois foram anos de luta,
Quase sempre “escondido”
No porão da barca vermelha
Que navegava de terra em terra,
Em busca da Liberdade sonhada...

Olhas o rio com saudade,
Sentado, junto ao cais...

Foi daqui que partiste...

Luís Milheiro


O desenho que acompanha o texto é da Ligia e faz parte do livro "Almada e a Resistência Antifascista", da minha autoria.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Alexandre Castanheira Homenageado

Os "Poetas Almadenses" promovem amanhã, às 21.30 horas, no Salão de Festas da Incrível Almadense, o lançamento do livro de poemas, "Tempo Meu", da autoria de Alexandre Castanheira, um dos grandes vultos da cultura almadense, que festeja a bonita idade de oitenta anos.
A festa será animada com música e poesia, com a colaboração de Francisco Naia, Cénico Incrível Almadense, Cantadeiras da Alma Alentejana, Os Cantadores de Rusga e Poetas Almadenses.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Voltaram as "Marmitas"...

Quando me dirigia para casa, cruzei-me com dois jovens funcionários da "TV Cabo", que estavam a petiscar algo parecido com um almoço, numa escadaria.

Sei que nos últimos anos, quem possui condições mínimas no trabalho (ou proximidades), para se acomodar a almoçar, trás esta refeição de casa, porque o dinheiro é um bem cada vez mais escasso, para a maior parte dos portugueses. Quem não deve achar muita piada a este facto, real, são os donos de restaurantes...
Apesar das palavras (que eu diria, quase injuriosas, para todos nós...) do primeiro-ministro, na entrevista encomendada pela SIC, em que, para variar, ofereceu-nos números, pouco consentâneos com a realidade portuguesa.
Como disse Mário Ramires, na sua coluna semanal no "Sol": «A propaganda vale o que vale. Só convence quem quer ou se deixa ser convencido.»
Infelizmente o país "inventado" por Socrates, está muito distante daquele que encontramos diariamente, feio, pobre e triste, cuja única virtude que oferece, é conseguir esvaziar-nos as "carteiras", quase sem darmos por isso...

Escolhi a "Sesta dos Ceifeiros", de José Malhoa, para colorir este pequeno texto...

sábado, fevereiro 23, 2008

Teatros Quase de Rua

No começo da tarde de hoje, discute-se o futuro de um pedaço de Cacilhas.

Se fosse um rapaz inocente até era capaz de imitar o outro e dizer: «porreiro, pá!», mas como já cresci um palmo, vou cada vez menos em conversas de políticos...
E nem sequer estou interessado em assistir a mais uma exibição da peça, "Monólogos da Maria Emília" (costuma ser a "animação-surpresa" do programa)...
Mas mesmo assim, estou indeciso, se devo ou não aparecer...

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Olhar o Espelho...

A Maria Luar, que tem "O Quarto de Lua", quer conhecer-me melhor...

Tenho "fugido" a estes jogos, por não os achar importantes, já que penso que somos muito aquilo que escrevemos, por mais capas que utilizemos. Depois, como tudo isto continua a ser demasiado virtual, nem sequer acho que seja necessário mudar as coisas...
Por opção pessoal, assino os meus blogues com o meu nome. Não tenho mostrado o rosto - que acaba por ser público, pelo menos em Almada, onde sou conhecido, pelo menos nos meios culturais -, na tentativa de diminuir toda esta exposição...
É por isso que hoje vou abrir uma excepção. Vou abrir a janela e mostrar-me ao mundo, nesta minha casa, rente ao Tejo...
A Maria Luar pede-me seis características pessoais. Ai vão:
- Sou teimoso (especialmente quando penso que tenho razão...);
- Sou extremamente pontual (quem me rodeia acha um exagero...);
- Sou ligeiramente distraído com as coisas pequenas da vida (acaba por ser óptimo, viver acima das miudezas da nossa sociedade...);
- Gosto demasiado da Liberdade (toda, até da liberdade dos outros...);
- Gosto de andar (especialmente por caminhos agradáveis, com os cheiros a campo e mar...);
- Gosto de escrever, tudo (ficção, poesia, ensaios, notícias, diálogos...);
E já está, não custou quase nada...

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Fidel e as Paixonetas Pelo Poder

Fidel disse finalmente adeus ao poder, alegando razões de saúde.

Podia ter abdicado há pelo menos vinte anos, invocando outras doenças graves da qual também sofre, como o "autismo", as "cataratas", a "limitação de movimentos" e, essencialmente, o medo da democracia, esse "monstro", etc.
Quase em simultâneo, Putin vai deixar de ser presidente da república da Rússia, mas mais jovem e dado a malabarismos, está a preparar o terreno para se manter no poder como primeiro-ministro, praticamente com os mesmos poderes (até já arranjou um "corta-fitas", como o Tomás, para o suceder...).
Por cá, alguns autarcas, que já conseguiram fintar alguns limites aos mandatos, se puderem, ficam no poder muito mais tempo que Salazar (36 miseros anos...).
Pois, o poder sempre foi uma coisa estranha, demasiado atractiva e perigosa. Parece que vicia como qualquer jogo, mas acaba por ser pior, já que as principais vitimas são os outros, e não o "jogador". Ainda não percebi qual é a coisa mais saborosa do poder, se a série de mordomias e atenções, os palcos de intervenção ou o poder decisório, que os vai transformando em pequenos e grandes tiranetes (aumentando ao mesmo tempo as contas bancárias...). Mas acredito que seja o todo da "refeição"...
A foto é de Burt Glinn, com Fidel num dos seus discursos vitoriosos, no longínquo ano de 1959...

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

As Ironias da Natureza...

Este domingo, "gordo" em água, diz-nos tantas coisas...

Pena que existam tantos ouvidos surdos, tantos sorrisos patetas, tantos gestos imbecis...
Esta semana foi notícia em vários jornais, "a maior seca dos últimos anos" (os repórteres esqueceram-se que ainda estamos em Fevereiro...).
Os agricultores do costume tinham começado o habitual "choradinho", de que as colheitas estavam em risco, tal como as terras de pasto para os animais, e claro, preparavam-se para esticar as mãos ao Estado.
Azar dos azares, no domingo desatou a chover (e a bom chover...) e lá foram os primeiros planos para a substituição do "roles-roice" e remodelação da "pischina" no monte...
Mais previdente foi a Maria Elisa, na estreia do programa "Depois do Adeus", na RTP, que falou das cheias (que sempre apareceram, de madrugada na área de Lisboa...), do ordenamento do território, das quintinhas, de todas as asneiras que se têm feito nos últimos trinta anos, com o avassalador e selvático crescimento urbano.
E para terminar, não posso deixar de referir que não era acordado há bastante tempo, por verdadeiros trovões, daqueles que parecem bombas...
O óleo é de Turner...

domingo, fevereiro 17, 2008

Acidente Insólito


O "DN" de hoje relata mais um triste episódio nas nossas estradas, com mais uma vida perdida, numa situação completamente anormal, que, para variar, envolve o INEM.
A notícia publicada no diário realça o facto insólito de terem ocorrido dois acidentes à mesma hora, com o mesmo tipo de viaturas, na mesma estrada, separados apenas por dois mil metros...

Esta imagem com o dispositivo operacional do INEM foi retirada da revista "Sábado", de 14 de Fevereiro de 2008.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Olá Justiça!

Pode parecer uma piada, mas não é...
A justiça portuguesa, é sim, uma coisa que nos vai envergonhando, a cada dia que passa, em que somos forçados a acreditar (através dos exemplos quase diários de arquivamento de processos...), que só existe para alguns, em completo desiquilibrio e desrespeito pelas regras elementares de qualquer Sociedade.
Ontem foi dia de uma blogagem colectiva, com um grito de "Não à Pedofília".
Por achar que dias não são dias, deixo aqui o repto, para não deixarmos silenciar o "Caso Casa Pia", em que toda a intoxicação posta em prática, um pouco por todo o lado (inclusive na blogosfera) pode mesmo fazer parir um rato, deixando os Ritos, os Cruzes, os Abrantes, os Bibis, os Marçais, os Pedrosos, e tantos outros seres disfarçados de humanos que conseguiram "apagar" os nomes do processo e que continuam a atacar pobres inocentes, na sombra (com mais cuidado, claro), para satisfazer as suas taras doentias...
Claro que é mais fácil chamar populista ao bastonário dos advogados e dizer: «prove!» A palavra chave desta nossa Justiça!
Só que, quando se tem poder para comprar testemunhas, advogados, polícias, juizes, jornalistas, etc, não há prova que resista...
O desenho é de Pedro Palma.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

O Povo de Timor

Nunca estive em Timor e sempre evitei tecer grandes comentários sobre este pequeno país, que fez parte do nosso império colonial, porque um amigo que esteve por lá, durante seis meses, nos tempos de transição, no começo do século XXI, em que havia um força multinacional que governava a Ilha (com militares portugueses) ofereceu-me um retrato pouco positivo do povo timorense.

Durante esses tempos já era visível a luta de interesses entre as principais potências da região. O povo, esse, balançava ao sabor dos "doces" que lhe acenavam, tal como grande parte dos políticos timorenses, divididos em cada vez mais partidos...
Eu nessa época desculpei o povo timorense, pela pobreza e exploração de que sempre fora vitima, quer durante a nossa ocupação, quer com a ocupação indonésia. Pobreza que também chegava ao espírito...
Quando duas figuras cimeiras da luta pela independência, como Xanana Gusmão e Ramos Horta, que ocupam os principais cargos governamentais da Ilha, são alvo de atentados (dos quais o primeiro escapou ileso e o segundo ficou ferido com alguma gravidade), tenho de dar razão ao meu amigo João, há realmente muito volubilidade, muita intoxicação e também muita falta de memória do povo timorense.
Infelizmente, talvez nunca consigam ser completamente independentes, como todos nós gostávamos...

domingo, fevereiro 10, 2008

Chegada a Cacilhas


Domingo de manhã.

O cacilheiro aproxima-se do cais colorido,
transporta turistas, trabalhadores,
gente à procura de gente...
e porque não, também de almoço,
num dos muitos restaurantes cacilhenses?...

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Os Carnavais do Jornalismo


Os caminhos pela qual o nosso jornalismo tenta conduzir o país, estão longe de ser os mais recomendáveis.
Não gosto deste governo socrático, muito menos votei nele. Mas acho de uma estupidez gritante todas estas nuvens que se levantam à volta da figura do primeiro-ministro, com comentadores, jornalistas, todos cheios de moral (tal como na história do diploma...), em relação a factos menores do começo de carreira de um jovem que era uma espécie de engenheiro e assinou uma série de projectos de mau gosto, tão em voga na época.
Preferia ver estes jornalistas a investigarem os 300 documentos assinados pelo ministro do turismo, na noite mais longa que passou no ministério; a descobrir porque razão Portas gastou tanto papel em fotocópias quando abandonou a pasta da defesa; a conseguirem saber o que está por detrás da afirmação do director nacional da policia judiciária; a entrevistarem o engenheiro Ferreira do Amaral, administrador da lusoponte, sobre a assinatura do acordo de exclusividade; ou melhor ainda, a fazerem-nos o verdadeiro retrato do estado caótico da saúde, principalmente no interior, com as distâncias "mortais" que os doentes têm de fazer, da sua localidade até à unidade hospitalar mais próxima, etc.
Vou deixar de comprar jornais, que de "sério", só têm o nome. Prefiro comprar os desportivos, que pelo menos têm a vantagem de me distrair...

A ilustração de Rafael Bordalo Pinheiro, publicada nos "Pontos nos ii", a 14 de Março de 1889, apesar de ter passado mais de um século, explica a lógica de algum jornalismo que se faz entre nós e se acha de referência... (aumentar para ler a legenda)

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Viver Além Tejo

Almada recebeu emigrantes do Sul do país durante praticamente todo o século XX. A maioria era de origem alentejana, embora também surgissem, aqui e ali, alguns algarvios.

Só depois da Revolução de Abril é que estas passagens dos campos do Sul para a indústria da área metropolitana da Capital, acalmaram.
Embora nunca tenha lido nada do género, penso que o facto de o Carnaval não ter grande sucesso entre nós, com grandes manifestações populares e desfiles expontâneos de mascarados pelas ruas, se deve a estas nossas origens, Além Tejo.
É curioso, não temos muitos "foliantes" mas temos bastantes poetas, músicos, escritores, pintores, etc, gente que interioriza mais do que exterioriza...
Eu com esta prosa apenas tento explicar o porquê desta pobreza carnavalesca almadense, onde não há desfile, não há corso, há sim uma apresentação de poucos minutos, à Rainha do Carnaval, Maria Emília de Sousa, que financia as colectividades que participam nesta brincadeira de discutível gosto, que antecede o espectáculo musical (desta vez foi o Bonga...) do costume.
Esta foto antiga mostra uma das bandas da Academia Almadense, a desfilar numa das ruas da vila, esta sim, uma tradição de Almada...

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Um Tiro Certeiro no Dedo Grande do Pé

Embora este "blogue" seja regional, é impossível passar ao lado das afirmações de Alípio Ribeiro, director nacional da Polícia Judiciária.
A sua afirmação, de que, «houve uma certa precipitação», na constituição de Kate e Gerry McCann como arguidos, fazendo fé na sua experiência como magistrado do Ministério Público, abana mais a credibilidade desta nossa polícia, que as prováveis falhas que poderão ter existido na investigação dos casos mais mediáticos dos últimos anos: Casa Pia e Maddie.
Mas não fica por aí, abana todo o edifício da justiça, desde os juizes aos magistrados do Ministério Público, passando pelos inspectores e agentes da Polícia Judiciária...
Não percebo porque razão, não surge ninguém a pedir a "cabeça" do senhor...

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

A Filha de Alfredo Costa Viveu em Cacilhas


Hoje todos os jornais (e certamente muitos blogues...) falam do regicídio, com algum saudosismo, à boa maneira portuguesa.
Como não partilho desse sentimento, prefiro falar de alguns descendentes dos responsáveis directos pela morte do Rei D. Carlos e do Príncipe Luís Filipe, aqui no "Casario" e também nas "Viagens".
Na primeira metade do século vinte, Ermelinda Costa, filha de Alfredo Costa, um dos autores materiais dos assassínios dos dois elementos da casa real, que ocorreram no Terreiro do Paço, vivia em Cacilhas. Era dona de uma Chapelaria na rua Cândido dos Reis.
Apesar de vivermos num regime republicano, os familiares de Costa e Buiça, não tiveram uma vida fácil, até ao 25 de Abril de 1974. Apesar de tentarem manter o anonimato, não deixavam se ser apontados a dedo e vitimas de alguma perseguição política, pelo regicidio e também pela ligação umbilical a movimentos extremistas, como a Carbonária, o braço armado da Maçonaria.
Este postal do primeiro quartel do século vinte, mostra-nos a rua Cândido dos Reis, próximo do local onde existiu a Chapelaria de Ermelinda Costa.