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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A Face da Besta

Este post corresponde, com algumas ligeiras alterações, a um comentário que fiz a este texto publicado no "Ladrões de Bicicletas, e refere-se a esta entrevista a Christophe Dejours", director do Laboratório de Psicologia do Trabalho e da Acção em Paris, publicada no "Público" no dia 1 deste mês. O título, roubei-o aos "Ladrões".

Quando, há vários dias, li a entrevista a Cristophe Dejours no "Público", o episódio que mais me ficou na cabeça foi o dos gatinhos entregues, no início duma acção de formação, a quinze candidatos a quadros superiores duma empresa, para no fim do seminário lhes ser ordenado que os matassem. O objectivo era ensiná-los a serem impiedosos; o resultado foi catorze gatinho mortos e uma candidata em tratamento psiquiátrico.

Imaginei-me a falar disto com um defensor estrénuo do "empreendorismo" e dos mercados livres e a ouvir o argumento dos costume: que se trata de comportamentos isolados, de pessoas mal formadas, que não se pode tomar a parte pelo todo, etc.

Mesmo que se tratasse dum comportamento isolado - mesmo que se tratasse de um comportamento único - haveria sempre lugar a uma inferência inescapável: se isto é permitido a uma empresa, é permitido a todas.

Mas não se trata de casos isolados. Pelo contrário, são casos inseridos em contextos que envolvem a colaboração de muitas equipas especializadas. Se estes comportamentos se devessem exclusivamente à desumanidade idiossincrática de uns poucos gestores ou patrões, estes não beneficiariam de estruturas montadas nem de técnicas elaboradas para tornar a sua desumanidade mais eficaz.

O horror destas situações está precisamente no seu carácter sistemático, estudado, organizado, racional. E isto desperta alguns fantasmas que desejaríamos ver adormecidos, se não para sempre, pelo menos por mais umas décadas.

No mesmo dia em que li a notícia, comentei-a com um jovem de trinta anos, altamente qualificado, que se move nos mesmos meios académicos e empresariais em que se move a generalidade dos seus amigos e contemporâneos. Também ele tinha lido a entrevista, mas surpreendeu-se com a minha surpresa. E começou a contar-me um rosário de horrores de que tinha sido testemunha, incluindo alguns que não ficam atrás em crueldade dos que a entrevista menciona.

Como é que isto se pode passar à nossa volta sem nós notarmos? O que vamos dizer aos nossos netos quando eles nos pedirem contas do mundo que lhes deixámos? Que não vimos nada? Que não reparámos? Que desviámos os olhos? Que acreditámos nos economistas, nos empresários, nos políticos e nos gurus quando nos disseram que para tornar produtivo o ser humano era preciso destruí-lo?

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Serão os jornalistas avaliados?

A acreditar no que escrevem, claro que sim. São taxativos: todas as profissões são avaliadas, e por isso os professores também têm que o ser.

Fica-me a dúvida: os jornalistas da TVI que escreveram em rodapé, e depois disseram de viva voz, que o quadro A Origem do Mundo de Gustave Courbet era uma obra de arte renascentista, deram esta calinada APESAR de terem sido avaliados ou POR CAUSA de terem sido avaliados?

Agora vão avaliar os médicos

Como é que se avalia um médico? Para mim, que não sou médico nem tenho nenhum MBA em gestão tirado nos EUA, um bom médico é o que diagnostica correctamente a minha doença e a trata de maneira a que eu fique curado - ou, se a cura for impossível, que disponha da melhor qualidade de vida possível pelo máximo de tempo.

O problema é que nada disto pode ser quantificado. Então o Governo, não podendo avaliar por critérios relevantes mas não quantificáveis, vai avaliá-los por critérios quantificáveis mas não relevantes.

Como que é que se avalia um professor? Um bom professor é o que ensina bem e consegue transmitir o adquirido civilizacional das gerações passadas às gerações futuras, de modo que estas não tenham que partir sempre do zero, como propõem certas teorias pedagógicas em vigor. Um bom professor tem a consciência aguda que a escola é a única antepara de que a sociedade dispõe entre a civilização e a barbárie.

Mas para o governo a civilização é irrelevante e o adquirido está ultrapassado por definição. Mais uma vez: não podendo quantificar o que é importante, quantifica o que não interessa e avalia as pessoas por estes critérios.

O que está aqui em operação é um tipo muito especial de inteligência: a inteligência tecnico-burocrática. Esta inteligência está ao nível da duma alforreca, e não está ao alcance de qualquer um. Um grau tão elevado de estupidez exige pelo menos um MBA em gestão tirado nos EUA.

Mas é uma estupidez imprescindível. Sem ela, os políticos nunca poderiam acreditar na sua própria propaganda. Os professores, os médicos e tutti quanti têm mesmo que ser avaliados. Porquê? Ora, porquê! Porque «toda a gente sabe» que todos têm que ser avaliados, com excepção dos políticos e dos banqueiros.

É o que está a dar. De que outra explicação precisamos?

quinta-feira, 13 de março de 2008

"Ministério da Educação" porquê?

Educar é uma tarefa vasta e variada. Implica formar o gosto, moldar a opinião, firmar valores, exercitar a memória, agilizar o raciocínio, fornecer informação. Só uma parte da educação resulta de um propósito educativo. A outra parte, a maior, é um subproduto de outros propósitos: informativos, propagandísticos, lúdicos, etc.

Como assinala O Bengalão no texto que transcrevi, as escolas não são, mesmo no seu conjunto, o único nem o principal agente educativo. Há aspectos da educação em que não podem competir com a televisão ou com a internet, e há aspectos em que não devem competir com as famílias. Seria portanto sensato que se concentrassem nas tarefas educativas que nem as famílias, nem os media, nem as outras instituições do Estado ou da Sociedade civil estão em condições de desempenhar. Ou seja, e para usar uma linguagem que os nossos governantes possam entender: as escolas deviam concentrar-se no seu core business.

O que as escolas fazem melhor que ninguém, se as deixarem, é ensinar. Se não forem elas a ensinar Latim, Filosofia, Literatura, Gramática, Matemática, Lógica; se não forem elas a treinar os jovens no método científico e no pensamento racional, mais ninguém o fará. É esta a tarefa central das escolas; é este o núcleo irredutível da deontologia docente.

Portugal não precisa para nada de um Ministério da Educação. Útil seria uma outra estrutura, muitíssimo mais leve: um Ministério da Instrução Pública.

Este projecto seria menos ambicioso? Sem dúvida. Mas seria mais modesto, mais honesto, mais realista, mais exequível e mais democrático do que a monstruosa geringonça totalitária que se propõe moldar e dirigir todos os aspectos da vida a partir da 5 de Outubro. E se o adoptássemos obteríamos, por acréscimo, um bem que tanta falta nos faz: um critério simples, objectivo e racional para avaliar as escolas e os professores.

terça-feira, 4 de março de 2008

Houve os que gritaram e houve os que resistiram calados

Há uma acusação contra os professores que recentemente se tem avolumado: que nunca protestaram nem se insurgiram em nome dos alunos e do ensino, mas que protestam e se insurgem em nome dos seus estreitos interesses corporativos.

Encontro alguma justiça e muita injustiça nesta crítica: há professores que andam há décadas a lutar pelo ensino e pelos alunos contra a tecnoburocracia do Ministério, mas nunca conseguiram que a sua voz chegasse à praça pública. Não admira que esta os acuse de nunca terem falado - mas falaram, e falam.

Durante décadas o poder político descentrou do ensino a «educação», sobrecarregou as escolas e os professores de tarefas que não lhes competem, afogou o sistema numa burocracia monstruosa, baixou os níveis de exigência, fomentou a indisciplina e o incivismo.

Como reagiram a isto os professores? Uns aderiram às modas; outros, muitos, fizeram das tripas coração e, já que não podiam ensinar com as políticas educativas vigentes, ensinaram, e bem, apesar dessas políticas. Foram décadas de heroísmo silencioso e resistência discreta, praticada dia após dia enquanto na rua outros professores se manifestavam ruidosamente - com toda a legitimidade, de resto - pelos seus salários, pelas suas carreiras e pelas suas prerrogativas.

Hoje aqueles professores vêem-se, em vez de louvados pela sua resistência e dedicação, censurados pelo seu silêncio. Talvez seja esta, no fim, a maior das injustiças - maior ainda que o cerco montado pelo novo Estatuto da Carreira Docente, pela nova lei da gestão escolar, pelo novo modelo de avaliação e pelo novo estatuto do aluno, cerco este que lhes fecha a escassa margem de manobra que lhes permitia ainda resistir e ensinar.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Apelo a todos os professores

Colegas:

Ao elaborarem as vossas fichas de objectivos individuais, tenham o cuidado de NÃO assumir o compromisso de prestar trabalho não pago sem limite de tempo. Para tal, desdobrem cada objectivo em actividades específicas e atribuam a cada actividade um tempo de execução. Na ficha deverão estar contempladas TODAS as actividades do professor, incluindo preparação de aulas, pesquisa de materiais, elaboração e correcção de testes, estudo individual, participação em reuniões, tarefas burocráticas, serviço de exames, etc. O tempo de trabalho anual variará de professor para professor e de ano para ano, mas andará pelas 1600 horas tendo em conta as 35 horas semanais de trabalho a que estamos obrigados.

(Ver ficha modelo abaixo)

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Ficha de objectivos individuais


Entretive-me a elaborar esta ficha, em parte inspirada na que elaborou o Ramiro Marques, em parte em resposta a ela. A novidade da minha está na terceira coluna, onde se prevê um tempo de execução para cada actividade de modo que o número de horas de trabalho anual não exceda as cerca de 1600 que resultam para qualquer funcionário da semana de 35 horas.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Sucesso, eficácia, honestidade

Um dos professores que mais me marcaram, o saudoso Prof. Paulo Quintela, não gostava que lhe falassem em «sucesso» na acepção de «êxito». Isso é anglicismo, dizia. Em Português, sucesso é parto! Peço perdão à memória do meu querido Professor, mas nesta mensagem, em cedência à pressão do jornalês, do politiquês e do empresarialês, vou usar a palavra «sucesso» como sinónima de «êxito».

Erram os jornalistas, os políticos e os empresários quando falam de sucesso em abstracto. O sucesso é sempre concreto. Somos bem-sucedidos (ou não somos) num empreendimento que sabemos qual é. Se temos sucesso, temos sucesso nesse empreendimento. Se andamos na escola e aprendemos, temos sucesso. Se andamos na escola e não aprendemos, fracassamos. A não ser que andemos lá para outra coisa.

Outra noção muito concreta e relativa que é usada, na língua de trapos das nossas elites, como se fosse abstracta e absoluta, é a eficácia. A quem me fala abstractamente em eficácia, costumo perguntar o que é mais eficaz: um martelo ou uma aspirina. Para pregar um prego é o martelo, para combater uma dor de cabeça é a aspirina, mas não há nenhum critério de eficácia abstracta e universal pelo qual seja possível comparar as duas coisas.

O sucesso e a eficácia são preocupações inseparáveis da profissão docente. Se o seu emprenndimento, o seu propósito, consistem em ensinar, então os instrumentos e os métodos que utiliza são tanto mais eficazes quanto melhor lhe permitem que ensine. E o sucesso do professor é a aprendizagem dos alunos.

Ou pelo menos era assim no tempo em que a profissão docente era uma profissão nobre e honesta, antes de sucessivos ministros, com destaque para a actual titular, a terem transformado num ignóbil e bisonho carreirismo. Agora, com o Estatuto da Carreira Docente, com a avaliação dos professores tal como está decidida, com as certificações «de aviário», os cursos profissionais e as passagens administrativas, com a nova gestão, e com um Estatuto do Aluno que nem a ser assíduo o obriga, tudo mudou. E mudou para pior.

Em lugar do ensino e da aprendizagem, temos hoje em vigor uma meretriciosa encenação do sucesso, na qual a tutela espera que todos os professores colaborem. E quem se recusar a colaborar por querer exercer honestamente a profissão pagará essa veleidade com a estagnação na carreira.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Esquema da avaliação dos professores

(Organigrama roubado no blogue A Educação do Meu Umbigo)

Alguém calculou quantos milhões de horas de trabalho é que isto vai custar por ano a nível nacional? Alguém se deu ao trabalho de verificar se isto, somado às outras tarefas de um professor, cabe nas cerca de 1600 horas de trabalho anual que lhe compete prestar? Alguém se perguntou se uma geringonça destas funciona?

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

As irritações do Senhor José Sócrates

Questionado na Assembleia da República sobre a lei de avaliação dos professores, o Primeiro-Ministro declarou, com um ar muito irritado, que os seus adversários não queriam que o governo fizesse uma coisa que já devia existir há trinta anos.

Não, Sr. José Sócrates. O que já devia existir há trinta anos não era isto. O que já devia existir há trinta anos era uma avaliação que recompensasse os professores que ensinam bem e penalizasse os que ensinam mal. Não era esta geringonça que a sua Ministra da Educação inventou, este pesadelo burocrático que faz precisamente o contrário.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Avaliar os professores

Agora que as grelhas foram publicadas já é possível sabermos os fins deste modelo de avaliação:

1. Pôr no topo da pirâmide os professores hiperactivos, isto é, os que fazem ou aparentam fazer muitas coisas, independentemente da qualidade do ensino que praticam.

2. Recompensar moderadamente os subservientes e os medíocres.

3. Penalizar e marginalizar os intelectuais, ou mesmo, no extremo, excluí-los.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Avaliação

Sem avaliação nada se faz. Quando um processo corre, seja que processo for, é preciso ver se corre bem ou se corre mal, para poder corrigir a rota ou continuar nela, conforme o caso. O maratonista, ao longo da prova, vai recebendo informações sobre os tempos que está a fazer e sobre os tempos que estão a fazer os seus adversários, e assim gere a corrida.

Isto é avaliação.

O merceeiro faz as suas contas: está-se a avaliar, e a avaliar o seu negócio.

O gestor compara os objectivos estabelecidos com os resultados obtidos, e estes com os resultados obtidos pela concorrência: avaliação, de novo.

A proprietária da farmácia no Centro Comercial, que normalmente está aberta sete dias por semana até à meia-noite, fecha-a um dia por ano, sabe-se lá com que relutância, para inventário e balanço. Mais uma vez, avaliação.

O que o maratonista não faz, nem o merceeiro, nem o gestor, é dedicar à avaliação a maior parte do seu esforço ou do seu tempo. A maior parte do seu esforço e do seu tempo, dedica-a o maratonista à corrida, o merceeiro ao comércio, o gestor à gestão. Se assim não fosse, não teriam nada para avaliar. Se a proprietária da farmácia, em vez de fechar o estabelecimento uma vez por ano, o abrisse uma vez por ano, estaria a avaliar coisa nenhuma. O que o maratonista sabe, como o sabem o merceeiro, o gestor e a proprietária da farmácia, é que a avaliação não é um proveito, mas sim um custo; e que será tanto mais eficiente quanto menos onerosa.

Pois bem, agora o Ministério da Educação quer avaliar os professores. Haverá quem se escandalize com isto. Eu, não. Acho perfeitamente natural que os professores sejam avaliados. E digo mesmo mais: acho que os professores têm o direito de ser avaliados, quando mais não seja para saberem às quantas andam.

Isto, é claro, da forma mais prática, mais simples, mais rápida, menos onerosa e menos burocrática possível, de modo a não desviar tempo, nem esforço nem recursos do que é essencial, ou seja: o ensino.

Mas estamos em Portugal, e em Portugal nunca nada é simples. Em Portugal gastam-se pelo menos sete semanas, que podiam ser de aulas ou de férias, com os exames. E mesmo assim há exames que deveriam ser feitos e não se fazem. De princípios de Junho a fins de Julho, e às vezes por Agosto dentro, entram as escolas, os alunos, os pais, os professores no corropio do costume. Tudo pára. Mobiliza-se a polícia, os gabinetes todos do Ministério, os professores, toda uma logística paranóica para aplicar a uns tantos alunos uns tantos testes que qualquer professor seria capaz de elaborar, aplicar e corrigir em dois dias. E ele há os recursos, e ele há os anonimatos, e ele há os júris, e ele há os critérios do GAVE, e ele há os formulários electrónicos que se repetem em papel, e ele há as duplas e triplas assinaturas, e ele há a diskette que não é compatível com a pen e a pen que não é compatível com o excel, e ele há a cotação que tem que ser escrita nas margens e a que não pode ser escrita nas margens...

Quem quiser conhecer um Estado Policial em toda a sua pujança tem que vir a Portugal em época de exames.

Pois bem, é este Estado, é este Ministério, que assim avalia os alunos, que agora se propõe avaliar os professores. Da forma mais rápida, mais expedita, mais justa e mais económica possível? Por amor de quem lá têm, não brinquem comigo. O Estado que desperdiça quase dois meses de cada ano lectivo para avaliar alguns poucos alunos sobre algumas poucas matérias é estruturalmente incapaz de avaliar os professores sem imobilizar completamente as escolas.

Isto até nem seria mau se ao menos servisse para os nossos tecno-burocratas aprenderem alguma coisa; mas é claro que não vão aprender nada. Nem esquecer nada: ai de quem ouse tocar, com mão ímpia, numa grelhazinha, numa fichazinha que seja! A culpa, como sempre, será dos professores. Ou dos Fados, porque os professores, segundo a ministra, já foram postos na ordem e por consequência já não podem ser culpados de nada.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Escolhas inevitáveis

É materialmente possível instituir um sistema de ensino sem retenções, ou quase. É materialmente possível instituir um sistema de ensino baseado na comprehensive school - a que em Portugal se deu o nome de ensino unificado. É materialmente possível instituir um sistema de ensino eficaz em termos de transmissão de conhecimentos e rigoroso na sua avaliação. E é materialmente possível combinar quaisquer duas destas três possibilidades.

O que não é materialmente possível é conjugar as três. Ao dar a impressão de que esta possibilidade existe, o governo está a mentir aos portugueses. Ao exigir dos professores que a ponham em prática, culpando-os do inevitável fracasso, o governo está a cometer uma pulhice.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Resultados do PISA

Os alunos portugueses com 15 anos, considerados na globalidade, têm resultados abaixo da média da OCDE. Má notícia, é claro.

Decompondo-se este universo entre os que estão e os que não estão no nível correspondente à sua idade, vê-se que os do primeiro grupo até obtêm resultados superiores à média: logo, a média é puxada para baixo pelos do segundo grupo.

Entende o Secretário de Estado que se os do segundo grupo fossem incluídos no primeiro por via do carácter excepcional da retenção, os resultados médios melhorariam. Não vejo como é que ele chega a esta conclusão: um aluno que não sabe baixa os resultados médios do conjunto, independentemente de estar retido no sétimo ano ou de estar já a frequentar o nono ou o décimo. Se não sabe, não sabe.

Atrevo-me até a especular que, a fazer-se o que exige o secretário de estado, os resultados não só não melhorariam, como haviam de piorar: a presença numa turma de um aluno que, por não acompanhar a matéria, se torna disruptivo prejudica a aprendizagem de todos os outros.

Acho bem que se reduzam as retenções, mas não enquanto estiver vigente a escola de modelo único que temos em Portugal. Se um aluno não aprendeu o suficiente no sétimo ano de escolaridade, deve passar para o oitavo - mas não para o mesmo oitavo, na mesma escola, para que transitaram os seus colegas.

Por mais que a lei queira obrigar os professores a estabelecer «estratégias de diferenciação» que obviem a necessidade de reter alunos, eles nunca o farão, e não o farão porque é materialmente impossível. Não se pode fazer de cada aluno uma turma, fazendo para cada um uma planificação diferente, uma leccionação diferente e uma avaliação diferente. Nenhum professor poderia ter a seu cargo 120 turmas unipessoais. Se se exigir diferenciação aos professores, eles vão fazê-la, sim - mas só no papel. Vão inventar um paleio qualquer para pôr nas actas e nos relatórios, e vão continuar a trabalhar como podem - isto é, e ressalvando uma ou outra diferença cosmética, como sempre fizeram.

A diferenciação não pode ser feita aluno a aluno, tem que ser feita escola a escola. Só assim será possível reduzir as retenções sem agravar ainda mais um problema que já é grave.

domingo, 2 de dezembro de 2007

O direito a ser avaliado

Não há nada pior nem mais desgastante para um profissional do que não saber se é bom ou mau. Numa profissão como o ensino, em que os efeitos do que fazemos só se fazem sentir, muitas vezes, anos depois, este desgaste é especialmente notório, principalmente numa cultura em que os responsáveis são avaros tanto nos elogios como nas críticas.
A pergunta que qualquer professor digno desse nome faz a si mesmo é esta: eu ensino bem, ou ensino mal? Muitos, suspeitando (às vezes sem razão) que ensinam mal, gastam o melhor do seu tempo e do seu esforço com tarefas que são acessórias mas que têm resultados imediatamente visíveis.
Para estes, vêm aí bons tempos. É com base nestas tarefas que o Governo se propõe avaliar os professores. Para os que se preocupam com os alunos e com o ensino, e gostariam de ser avaliados por esta ordem de competências, o futuro já não se afigura tão risonho.