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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Austeridade como Arma na Luta de Classes


Já passou tempo suficiente para que quem tinha dúvidas deixe de as ter: a austeridade não é uma estratégia para relançar a economia. É uma estratégia com outros objectivos: resgatar os bancos, sobretudo os alemães, que provocaram a crise, permitindo-lhes transferir para os contribuintes europeus os prejuízos em que incorreram antes de 2008; perpetuar esta crise e utilizá-la como arma do poder contra a sociedade; destruir as classes médias e o estado social; e transformar os países periféricos da Europa numa zona de trabalho "ultra-low-cost", que permita aos países do centro concorrer com a Ásia e ao mesmo tempo pressionar para baixo os salários que eles próprios praticam. 
Quem ainda há poucos anos assistia, atónito e indignado, às políticas da fome usadas contra os povos africanos pelos Senhores da Guerra, dificilmente acreditará nos seus olhos quando vê políticas semelhantes usadas contra os europeus por senhores respeitáveis com gravatas de seda italianas e doutoramentos em Economia.

A austeridade como estratégia contra a sociedade não pode ser compreendida nem combatida no âmbito exclusivo das políticas nacionais. O seu âmbito é europeu e, em última instância, mundial. A título de exemplo: a obstinação de Angela Merkel em obrigar os trabalhadores do Sul da
Europa a cobrir as perdas especulativas dos bancos - autorizando-os a pedir empestado ao BCE a 1% ou menos, para depois emprestar aos governos a juros usurários que inviabilizam o investimento público - encontrará menos obstáculos numa eventual Administração Romney do que na actual Administração Obama, que mantém sobre os bancos europeus um olhar vigilante.

Compreender a estratégia austeritária num contexto europeu e mundial não significa, porém, que não devamos exigir à classe política portuguesa que nos preste as devidas contas. Compreende-se que o governo dum pequeno país tenha a sua margem de acção severamente limitada por circunstâncias externas que não controla. O que não se compreende nem perdoa é a colaboração voluntária e activa do governo português, vagamente justificada por opções ideológicas mal digeridas, com interesses hostis a Portugal e aos portugueses.

Colaboracionismo é uma feia palavra, mas é a palavra exacta para designar as políticas económicas de Pedro Passos Coelho e do seu governo. É por isso que as responsabilidades com que nos cabe confrontá-lo não são apenas políticas, mas também criminais. Não basta que a junta golpista em que este governo se transformou saia do poder: é preciso que não saia dele para uma dourada impunidade.
 
 
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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A Face da Besta

Este post corresponde, com algumas ligeiras alterações, a um comentário que fiz a este texto publicado no "Ladrões de Bicicletas, e refere-se a esta entrevista a Christophe Dejours", director do Laboratório de Psicologia do Trabalho e da Acção em Paris, publicada no "Público" no dia 1 deste mês. O título, roubei-o aos "Ladrões".

Quando, há vários dias, li a entrevista a Cristophe Dejours no "Público", o episódio que mais me ficou na cabeça foi o dos gatinhos entregues, no início duma acção de formação, a quinze candidatos a quadros superiores duma empresa, para no fim do seminário lhes ser ordenado que os matassem. O objectivo era ensiná-los a serem impiedosos; o resultado foi catorze gatinho mortos e uma candidata em tratamento psiquiátrico.

Imaginei-me a falar disto com um defensor estrénuo do "empreendorismo" e dos mercados livres e a ouvir o argumento dos costume: que se trata de comportamentos isolados, de pessoas mal formadas, que não se pode tomar a parte pelo todo, etc.

Mesmo que se tratasse dum comportamento isolado - mesmo que se tratasse de um comportamento único - haveria sempre lugar a uma inferência inescapável: se isto é permitido a uma empresa, é permitido a todas.

Mas não se trata de casos isolados. Pelo contrário, são casos inseridos em contextos que envolvem a colaboração de muitas equipas especializadas. Se estes comportamentos se devessem exclusivamente à desumanidade idiossincrática de uns poucos gestores ou patrões, estes não beneficiariam de estruturas montadas nem de técnicas elaboradas para tornar a sua desumanidade mais eficaz.

O horror destas situações está precisamente no seu carácter sistemático, estudado, organizado, racional. E isto desperta alguns fantasmas que desejaríamos ver adormecidos, se não para sempre, pelo menos por mais umas décadas.

No mesmo dia em que li a notícia, comentei-a com um jovem de trinta anos, altamente qualificado, que se move nos mesmos meios académicos e empresariais em que se move a generalidade dos seus amigos e contemporâneos. Também ele tinha lido a entrevista, mas surpreendeu-se com a minha surpresa. E começou a contar-me um rosário de horrores de que tinha sido testemunha, incluindo alguns que não ficam atrás em crueldade dos que a entrevista menciona.

Como é que isto se pode passar à nossa volta sem nós notarmos? O que vamos dizer aos nossos netos quando eles nos pedirem contas do mundo que lhes deixámos? Que não vimos nada? Que não reparámos? Que desviámos os olhos? Que acreditámos nos economistas, nos empresários, nos políticos e nos gurus quando nos disseram que para tornar produtivo o ser humano era preciso destruí-lo?