Já passou tempo suficiente para que quem tinha dúvidas deixe de as ter: a austeridade não é uma estratégia para relançar a economia. É uma estratégia com outros objectivos: resgatar os bancos, sobretudo os alemães, que provocaram a crise, permitindo-lhes transferir para os contribuintes europeus os prejuízos em que incorreram antes de 2008; perpetuar esta crise e utilizá-la como arma do poder contra a sociedade; destruir as classes médias e o estado social; e transformar os países periféricos da Europa numa zona de trabalho "ultra-low-cost", que permita aos países do centro concorrer com a Ásia e ao mesmo tempo pressionar para baixo os salários que eles próprios praticam.
Quem ainda há poucos anos assistia, atónito e indignado, às políticas da fome usadas contra os povos africanos pelos Senhores da Guerra, dificilmente acreditará nos seus olhos quando vê políticas semelhantes usadas contra os europeus por senhores respeitáveis com gravatas de seda italianas e doutoramentos em Economia.
A
austeridade como estratégia contra a sociedade não pode ser
compreendida nem combatida no âmbito exclusivo das políticas nacionais. O
seu âmbito é europeu e, em última instância, mundial. A título de
exemplo: a obstinação de Angela Merkel em obrigar os trabalhadores do
Sul da
Europa a cobrir as perdas
especulativas dos bancos - autorizando-os a pedir empestado ao BCE a 1%
ou menos, para depois emprestar aos governos a juros usurários que
inviabilizam o investimento público - encontrará menos obstáculos numa
eventual Administração Romney do que na actual Administração Obama, que
mantém sobre os bancos europeus um olhar vigilante.
Compreender
a estratégia austeritária num contexto europeu e mundial não significa,
porém, que não devamos exigir à classe política portuguesa que nos
preste as devidas contas. Compreende-se que o governo dum pequeno país
tenha a sua margem de acção severamente limitada por circunstâncias
externas que não controla. O que não se compreende nem perdoa é a
colaboração voluntária e activa do governo português, vagamente
justificada por opções ideológicas mal digeridas, com interesses hostis a Portugal e aos portugueses.
Colaboracionismo é uma feia palavra, mas é a palavra exacta para
designar as políticas económicas de Pedro Passos Coelho e do seu
governo. É por isso que as responsabilidades com que nos cabe
confrontá-lo não são apenas políticas, mas também criminais. Não basta
que a junta golpista em que este governo se transformou saia do poder: é
preciso que não saia dele para uma dourada impunidade.
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Compreender a estratégia austeritária num contexto europeu e mundial não significa, porém, que não devamos exigir à classe política portuguesa que nos preste as devidas contas. Compreende-se que o governo dum pequeno país tenha a sua margem de acção severamente limitada por circunstâncias externas que não controla. O que não se compreende nem perdoa é a colaboração voluntária e activa do governo português, vagamente justificada por opções ideológicas mal digeridas, com interesses hostis a Portugal e aos portugueses.
Colaboracionismo é uma feia palavra, mas é a palavra exacta para designar as políticas económicas de Pedro Passos Coelho e do seu governo. É por isso que as responsabilidades com que nos cabe confrontá-lo não são apenas políticas, mas também criminais. Não basta que a junta golpista em que este governo se transformou saia do poder: é preciso que não saia dele para uma dourada impunidade.