Olhando à nossa volta é elucidativo a forma como o património ambiental e edificado do concelho de Seixal tem sido tratado. Houve uma escolha cirúgica de património* a preservar, de tudo o resto se tem feito tábua rasa: as matas e florestas são substituídas por casas (o exemplo mais recente, é o da Verdizela); o estaleiro da Fidalga foi irremediavelmente destruído sem que fossem tomadas medidas de salvaguarda do eventual património arqueológico; os moinhos de maré estão em ruínas (excepção feita ao de Corroios cujas obras se arrastam no tempo, para ser convenientemente reaberto em ano de eleições??); o Gaivota apodrece há anos no estaleiro; e as frentes ribeirinhas com os seus edifícios históricos que se degradam ano após ano submersos pela malha urbana...
“-Conheço este prédio – disse Winston por fim. – Está em ruínas agora. Ficou no meio da rua do Palácio da Justiça.
[…]
Winston indagou vagamente de si mesmo a que século pertenceria a igreja. Era sempre difícil determinar a idade de um prédio londrino. Tudo quanto fosse grande e importante e de aparência nova era automaticamente declarado pós-revolucionário, enquanto que tudo o mais comprovadamente antigo era atribuído a um período obscuro denominado Idade Média. Afirmava-se que séculos e séculos de capitalismo não haviam produzido nada de valor. Da arquitectura não se podia aprender mais história do que dos livros. Ruas, pedras comemorativas, estátuas, nomes de ruas – tudo quanto pudesse lançar luz sobre o passado fora sistematicamente alterado.”
George Orwell, 1984
_______________
* sobre este assunto, ver aqui e aqui.