Mostrar mensagens com a etiqueta Orwell. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Orwell. Mostrar todas as mensagens

domingo, 20 de julho de 2008

Rectificações


“[…] O jornal de hoje continha uma notícia sobre a produção real pela qual se verificava que as profecias estavam redondamente erradas. O serviço de Winston era rectificar as cifras originais, fazendo com que concordassem com as posteriores. Quanto à terceira mensagem referia-se a um simples erro, que poderia ser rectificado num minuto. Recentemente, em Fevereiro, o Ministério da Fartura dera a público uma promessa (“o penhor categórico” eram as palavras oficiais) de que não haveria corte da ração de chocolate em 1984. Na verdade, […], a ração do chocolate deveria ser reduzida de trinta e quatro gramas no fim da semena. Bastava portanto substituir a promessa original por uma advertência de que provavelmente seria necessário reduzir a ração por volta de Abril. [...]
Dia a dia e quase minuto a minuto o passado era actualizado. Desta forma era possível demonstrar com prova documental todas as profecias do Partido...”

George Orwell, 1984

__________

Não acredito em bruxas mas, alguém me explica qual a razão pela qual muitos números do boletim municipal do Seixal deixaram de estar disponíveis on-line? Mais, o que terá levado à adopção do formato pdf. ?

sábado, 31 de maio de 2008

Gerir a História (3)

Olhando à nossa volta é elucidativo a forma como o património ambiental e edificado do concelho de Seixal tem sido tratado. Houve uma escolha cirúgica de património* a preservar, de tudo o resto se tem feito tábua rasa: as matas e florestas são substituídas por casas (o exemplo mais recente, é o da Verdizela); o estaleiro da Fidalga foi irremediavelmente destruído sem que fossem tomadas medidas de salvaguarda do eventual património arqueológico; os moinhos de maré estão em ruínas (excepção feita ao de Corroios cujas obras se arrastam no tempo, para ser convenientemente reaberto em ano de eleições??); o Gaivota apodrece há anos no estaleiro; e as frentes ribeirinhas com os seus edifícios históricos que se degradam ano após ano submersos pela malha urbana...



“-Conheço este prédio – disse Winston por fim. – Está em ruínas agora. Ficou no meio da rua do Palácio da Justiça.

[…]

Winston indagou vagamente de si mesmo a que século pertenceria a igreja. Era sempre difícil determinar a idade de um prédio londrino. Tudo quanto fosse grande e importante e de aparência nova era automaticamente declarado pós-revolucionário, enquanto que tudo o mais comprovadamente antigo era atribuído a um período obscuro denominado Idade Média. Afirmava-se que séculos e séculos de capitalismo não haviam produzido nada de valor. Da arquitectura não se podia aprender mais história do que dos livros. Ruas, pedras comemorativas, estátuas, nomes de ruas – tudo quanto pudesse lançar luz sobre o passado fora sistematicamente alterado.”

George Orwell, 1984

_______________

* sobre este assunto, ver aqui e aqui.


terça-feira, 20 de maio de 2008

Estatísticas, um mundo de sombras

“As estatísticas eram tão fantásticas na versão original como na rectificada. Com efeito, era função do pessoal inventar estatísticas, tirando-as de si próprio. Por exemplo, o cálculo do Ministério da Fartura [Economia] prevendo a produção trimestral de calçado num total de 145 milhões de pares. A produção real, dizia-se, fora de 62 milhões. […] Com toda a probabilidade não tinham fabricado calçado algum. Ou, mais certo ainda, ninguém fazia a menor ideia de quanto calçado tinha sido produzido; nem ninguém se importava. […] Tudo se misturava e confundia num mundo de sombras no qual, por fim, até a data do ano se tornava incerta.”

Orwell, 1984


"Os dados do Eurostat revelam que o investimento estrangeiro em Portugal caíu para 54% no ano passado.Uma quebra que contraria a tendência de outros países europeus.
Manuel Pinho diz, no entanto, que à excepção do sector imobiliário, o investimento está a aumentar mas o Ministro adianta que Portugal tem um longo caminho a percorrer."
Rádio Clube

Os números do nosso descontentamento, aqui.