domingo, 31 de agosto de 2008

Quem domina o passado, determina o futuro

Capa de um antigo livro para crianças

“Queridos amigos! O texto que têm entre mãos é dedicado à história da nossa Pátria… desde o fim da Grande Guerra Patriótica [II Guerra Mundial] até aos nossos dias. Mostrar-vos-emos a trajectória da União Soviética desde os seus dias de triunfo histórico até à sua trágica desintegração.”

Assim começa o novo livro de História da Rússia que vai ser utilizado nas escolas. Comparando este discurso com os livros de História de Portugal onde a palavra “Pátria” raramente aparece e, a bandeira de Portugal só surge a propósito da implantação da República, parece-me desde logo significativo.

Mas o livro continua falando sobre a União Soviética “não era uma democracia, mas foi um exemplo para milhões de pessoas em todo o mundo da melhor e da mais justa das sociedades”. Durante setenta anos, a USSR, “uma superpotência gigantesca conseguiu realizar uma revolução social e ganhou a mais cruel das guerras” e durante grande parte desse tempo “… o ocidente foi hostil para com a Rússia…”

Este manual de história cobre o período entre 1945-2006 – desde a vitória de Estline até ao triunfo de Putin- e, celebra a grandiosidade da Rússia, e condena os responsáveis pela fragmentação do império. O colapso da Rússia é, para os autores, uma tragédia. Todo o pós-guerra é dominado pela guerra fria “iniciada pelos Estados Unidos”. O período Estalinista não é condenado, é justificado “…nas circunstâncias ditadas pela guerra fria a democraticidade não era uma opção”. E no entanto, “estupidamente” anos mais tarde Gorbatchev veio a considerar o “ocidente como seus aliados políticos”. Ele abdicou da Europa central e de Leste. A América e o ocidente instigaram revoluções na Ucrânia e na Geórgia, que tornaram esses territórios em bases militares ocidentais. Estas revoluções “... impuseram que Moscovo empreendesse uma política externa mais ambiciosa no espaço da ex-União Soviética”.

Este livro diz muito sobre a política neo-soviética que parece tomar conta do Kremlin por estes dias. É por esta cartilha que os jovens vão aprender. Se ouvirmos as palavras de Putin e Medvedev nas últimas semanas vamos encontrar curiosas reminiscências mas, como já disse a história só aparentemente se repete. Os tempos são outros, o mundo globalizou-se, a Rússia não pode viver orgulhosamente só. Por isso, nas vésperas da cimeira da U.E., Moscovo vem procurar explorar as divisões internas (ver, aqui e acolá ). O problema, diz Medvedev, é o mundo unipolar, a predominância dos EUA … o grande problema para Moscovo é que, se pode ter lançado de cabeça para um ostracismo que não vai bem com o séc. XXI, veremos se a receita muitas vezes usada do “inimigo externo” pega mais uma vez.

___________________

A União Europeia, dependente da "energia russa" “vai examinar atentamente e com profundidade a situação e as diferentes dimensões da relação UE-Rússia”, no entretanto, as consequências da aventura no Cáucaso a se fazem sentir : desde 1998 (crise do rublo) que não se assistia a uma tão rápida saída de capitais estrangeiros da Rússia.


Importa-se de repetir?! (2)


Está confirmado:

"Foi por apenas dois minutos que a Câmara do Seixal perdeu a possibilidade de candidatar a requalificação de "lugares críticos" do concelho a financiamento comunitário, no valor de seis milhões de euros." DN

"...o município do Seixal perdeu a possibilidade de ter uma verba de cerca de 6 milhões de euros para a requalificação do bairro da Quinta do Cabral e para a instalação de alguns equipamentos desportivos e sociais."
Ler texto na íntegra

E agora, sr. vereador?
____________
Artigos relacionados: a-sul, Revolta das Laranjas, JSD/Seixal

Consequência da mega-barragem?


Hoje é notícia mais um sismo na China. O solo tem tremido a um ritmo preocupante. Porquê?

"Um sismo de 6,1 na escala de Richter abalou ontem a província chinesa de Sichuan e fez 28 mortos e 350 feridos, informou hoje a agência de notícias Nova China. A região foi atingida hoje com uma réplica de 5,6.

A réplica foi mais sentida na cidade de Panzhihua, segundo o Instituto americano de Geofísica (USGS). As autoridades enviaram equipas de socorro para ajudar à retirada de 30 mil pessoas de Panzhihua, informou a agência oficial Xinhua.

A 12 de Maio, Sichuan foi abalada por um sismo de 8 na escala de Richter. Morreram cerca de 70 mil pessoas e 18 mil estão desaparecidas. Desde então já foram registadas 12.600 réplicas, segundo as estatísticas chinesas, duas delas de 5 e 5,9 na semana passada em Yunnan, perto da fronteira com a Birmânia. Três pessoas morreram e cem ficaram feridas." in Público
E se os recentes sismos e terramotos na China, forem uma consequência da gigantesca barragem das Três Gargantas, que está a ser construída no rio Yangtze, tal como indicam os relatórios da Academia Chinesa de Ciências? (ver, aqui)

Um ícone revisitado

Maccain-Palin uma dupla que está a fazer furor entre os (humoristas) americanos.

Democracia em Angola, uma utopia?

No final de um ano difícil para as eleições no continente africano: Quénia, Zimbababué… aproximam-se as eleições em Angola o que constitui um motivo para observar a realidade naquele país. Por isso, e apesar das autoridades angolanas fazerem o possível para manterem afastados jornalistas e repórteres indesejáveis a verdade é que vão aparecendo aqui e ali alguns artigos e reflexões sobre Angola que vale a pena aprofundar:

“…after being starved of elections for decades, Angolans now face a flurry of polls. The coming vote is expected to be followed by a presidential one next year and local ones in 2010. President José Eduardo dos Santos, in power since 1979, seems to have developed a sudden taste for democracy and says that Angola will now hold general elections every four years. It may be that the ruling party, with the benefits of incumbency, deep pockets and no immediate prospect of losing its grip on power, has decided that democracy is now a safe option.

The Economist

“A Amnistia Internacional está preocupada com a evolução da campanha eleitoral em Angola, referindo a existência de "sinais de intolerância" e de violência, "ainda que não necessariamente identificados com elementos dos partidos".
Para o director da secção portuguesa da Amnistia Internacional (AI), Pedro Krupenski, a debilidade da sociedade civil em Angola, que se pode "considerar embrionária" e a proliferação de armas entre os civis são fonte de preocupação no momento em que se vive um processo eleitoral importante para este país.[…]

Diário de Notícias

“Intimidation of opposition parties and the media ahead of parliamentary elections in Angola, as well as interference in the electoral commission, threaten prospects for a free and fair vote in September, Human Rights Watch said today.

“The conditions for free and fair elections start long before election day,” said Georgette Gagnon, Africa director at Human Rights Watch. “But less than a month before elections, it’s clear Angolans aren’t able to campaign free from intimidation or pressure. And unless things change now, Angolans won’t be able to cast their votes freely.”

HRW


“On Aug. 14, the government dismissed reports by the New York-based Human Rights Watch organization that there have been “numerous” cases of harassment against opposition parties by MPLA officials. The prime minister asked HRW to refrain from interfering in the ballot, and said that the vote would be “free, fair and transparent.”

Open Democracy News

"Estes "são conflitos clássicos, em altura de eleições, entre os Governos africanos e os meios de informação com que têm o que chamamos 'conflitos pessoais'", disse ao PÚBLICO Leonard Vincent, responsável por África na Repórteres Sem Fronteiras. Vincent classifica estas situações [de não atribuição de vistos a determinados jornalistas ou órgãos de comunicação social] como "escandalosas", pois os Governantes "consideram que os interesses nacionais estão nas suas mãos, quando estão na monitorização da justiça de uma eleição por forças e entidades neutras, como a imprensa livre e estrangeira".

Público, 30 Setembro


sábado, 30 de agosto de 2008

"Desloca[liza]dos"


"As tropas russas que se encontram ainda na Geórgia estão a tentar impedir que milhares de refugiados voltem às suas casas, de acordo com uma autoridade georgiana. " As tropas russas continuam a procurar minar a estrutura do poder em Tbilisi para desta forma atingir um dos seus objectivos estratégicos: derrubar o governo georgiano. Ora, as condições de vida a que os "deslocados" estão sujeitos são um excelente fermento para minar qualquer poder democrático por dentro.
Milhares de pessoas já tinham sido vítimas da limpeza étnica que obrigou a que muitas famílias georgianas que residiam na Abecásia e na Osséssia do Sul se tivessem tornado, nos anos 90, "pessoas deslocadas internamente", isto é, pessoas que não podiam voltar à sua casa, à sua terra. Agora, acrescentaram-se mais de uma centena de milhar que estão, compreensivelmente, desejosos de voltar às suas casas mas, irão encontrar casas destruídas e saqueadas... quando forem autorizadas a voltar. A comunidade internacional tem o dever de ajudar na reconstrução mas, mais do que isso, tem o dever de não se conformar com estes "desloca[liza]dos", e de não deixar que a sua situação se perpétue (como, aconteceu no passado).
Relacionado: Recordações da Abecásia
Ver fotos de Gori (aqui e aqui), refugiados.

Ver imagens de satélite que provam os incêndios e a destruição aqui, aqui e aqui (HRW). Mapa dos fogos activos até 22 de Agosto, ou seja muito depois do cessar-fogo.
Pilhagens e destruição de aldeias na Geórgia (foto-galeria)