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28 de agosto de 2010

O taxista existencialista


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Cheia de sono, agarro nos sacos de revistas que comprei na Feira da Ladra (avisada pela TR que devia ir lá num ápice) e olho para um livro que ficou no chão do táxi. E digo ou penso alto, mas este livro não é meu. Pois não, diz o taxista. Mas se quiser ofereço-lhe, já li. Era a Náusea de Sartre.

8 de agosto de 2010

O taxista viúvo

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Entro esbaforida e carregada de tralhas, cumprimento e digo a morada para onde quero ir. O ambiente é fresco, graças à gentileza do  ar condicionado e a ansiedade quebra aos poucos. Não sei quem inicia a conversa, raramente isso não acontece, mas o taxista começa a contar-me a sua vida. Viúvo há  alguns anos, gostava de ter uma companheira, não para sexo, para isso já não, diz ele veemente, mas para dar passeios e limpar a casa um do outro em conjunto. É tão bom ter companhia, acrescenta. Mas não consigo arranjar ninguém. Eu  já no fim do percurso e meia à pressa,, digo-lhe com todo o carinho de que sou capaz, mas  olhe, há tantas senhoras também sozinhas. Certamente arranjará alguém de quem goste. Ele triste, abana a cabeça. Não há quem me queira fazer companhia. E ficamos assim, chegados às ruas de Arroios.

Foto de Armando Serôdio, 1963, AML

4 de fevereiro de 2010

Chuvas de Fevereiro

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Uma chuva espessa e silenciosa invade a cidade. Nem demos por ela, só ao sair, e no entanto, caía constante e batalhadora. Na breve corrida até ao portão, fico ensopada. Felizmente o taxista é um homem calado e afável, pois à meia-noite a minha vontade de falar é escassa e sobeja a vontade de cama ou talvez de uma sopa quente. Fico a pensar em como terá corrido a experiência de sushi alentejano da Lulu. Pelos vistos bem, soube hoje. E penso assim noutras coisas entarameladas. Dizia-me uma amiga, estes horários fazem-nos ter saudades de casa e de preguiçar no sofá. E como ela tem razão.
Em breve virá o verão e exercer-se-à a prática do verbo esplanadar, caracolar e outras actividades afins. Suspiro.

31 de janeiro de 2010

Gosto

Já fiz aqui este exercício há uns anos mas vou repeti-lo.

Gosto de ir ao cinema.
Gosto das secções de cremes e produtos de higiene dos supermercados.
Gosto de dormir de meias no Inverno.
Gosto de vestir calças de ganga.
Gosto de ler e gosto de acabar livros.
Gosto de ir às livrarias ler contracapas.
Gosto de meter conversa com taxistas e com velhinhas no autocarro.
Gosto de andar de óculos de sol.
Gosto de comida de plástico.
Gosto de bacalhau com grão.
Gosto dos saldos.
Gosto de ouvir Caetano.
Gosto de caminhar.
Gosto de dormir na praia.
Gosto de dormir no autocarro.
Gosto de dormir no sofá.
Gosto de vir ver o que os outros escrevem no Dias que Voam.
Gosto de dançar com a sobrinha ao colo porque ela ri-se como uma doida.
Gosto de revistas cor de rosa.
Gosto de imans de frigorífico.
Gosto da minha sogra.
Gosto quando posso ajudar em qualquer coisa.
Gosto do google.
Gosto de usar cuecas pretas.
Gosto de cortar o cabelo.
Gosto do miradouro da Graça.

E vocês, do que gostam?

23 de janeiro de 2010

De novo o taxista apaixonado

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Amo-te muito também. Eu sei,meu amor.
E desliga. Estou de olho pisco e ouço amodorradamente a conversa entre os dois. Ele ainda não chegou a meio pintor. Ela tem dois clientes marcados. Tento descodificar, mas estou um bocadinho cansada para o fazer integralmente.
Só quero chegar a casa, diz ele. Ela não deve acreditar e ele diz-lhe vai ao my vodafone. Lá vês que só telefono para ti. Penso eu, como o amor acompanha a tecnologia nos dias de hoje.
Apanhamos um acidente e ele suspira. Então é que o reconheço. Estou no táxi do motorista apaixonado de novo. Mas hoje ele está triste. Desejo-lhe boa sorte e vou a correr para o aconchego da casa.

13 de dezembro de 2009

O Chauffeur da Noite

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Em 1958, a Revista Mundo publicava uma série de retratos de alguns profissionais que não tinham gozado o Natal com a família. Comecemos pelo clássico taxista. Outros se lhe seguirão.

1 de dezembro de 2009

A greve dos táxis

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Em 1928, greve dos táxis em Lisboa. Os taxistas grevistas invadiam a Praça do Município e inundavam-na com as suas Donas Elviras. Gostava de ter visto esta cena!
Revista ABC, Janeiro de 1928

28 de novembro de 2009

Alice

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Acordo cedo . Demasiado cedo. Vou à praça pelas oito e picos. Falo sobre o frio e a neblina com as minhas camaradas de compras e vendedeiras. Compro tomates bem vermelhos e oferecem-me hortelã. E os grelos cheiram deliciosamente. Resolvo-me e avanço para a Feira da Ladra. 50 revistas velhas esperam por mim e este anúncio delicioso, de 1963, à Mostarda Savora  pertence a uma delas. Desconfio que vou ter um sábado afadigado entre décadas muito diferentes, sem já saber a quantas ando. E o senhor taxista que me trouxe era lindo. Não um Paulo Pires, tinha muito mais idade, mas uma classe extraordinária. A vida é bela.

Nota: A vendedeira do Mercado diz-me maliciosamente: quer a minha menina que eu corte os pés aos grelos? E eu digo que sim. Como passei a menina dela é que não faço ideia.

18 de outubro de 2009

Uma indizível tristeza

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Vejo o táxi parado e pergunto se está livre. Afavelmente o taxista convida-me a entrar. A pouco e pouco estabelece conversa. A propósito do stress, conta-me que tem uma casa fora de Lisboa, que foi construindo pouco a pouco, conforme as possibilidades.Aqui faz uma pausa e diz que só parou um tempo, quando a mulher morreu. Não pergunto nada, mas sinto-lhe uma indizível tristeza. Conta como criou o filho, lhe deu o curso, lhe montou o escritório, lhe ofereceu uma casa e como gosta da nora, que lhe recorda a própria mulher. Aqui pára de novo e numa voz lenta conta o acidente brutal em que ela perdeu a vida. "Éramos tão felizes sabe, nunca discutíamos, decidíamos tudo em conjunto. Acho que é mesmo a vida, as relações tão felizes assim não são feitas para durar". Fico assim com um nó na garganta e quando pago noto-lhe as duas alianças de ouro juntas. São quase iguais às que herdei da minha mãe. e , inevitavelmente, penso nas percas que sofremos ao longo da vida e como nada as consegue colmatar. E é isto.


Fotografia de Artur Goulart, Arquivo Municipal de Lisboa

18 de agosto de 2009

Zumbido

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Nem vou dizer que ando cansada e ansiosa por férias, isso já devem ter percebido. Ontem o taxista que me deixou em casa, alongou-se em adeuses dizendo Esse tipo de trabalho é duro.
Hoje ataquei uma série de imagens por organizar, vejo o improvável por todo o lado. Nem vou citar a velhinha que me agarrou o braço ao entrar no autocarro e disse venha minha menina. E agora enquanto me estico, e me embalo no zumbido da ventoinha, só me dá vontade de me refastelar num sofá a ler um livro.
Ou talvez fechar os olhos para pensar melhor. À falta disso, talvez vá picar uns blogs e responder a uns e-mails e essas coisas. Ontem só me apetecia ir beber uns copos ao Bairro Alto. Foi então que me lembrei mais uma vez que o bar da Joãozinha fechou e o Mahjong está asséptico. Já sei, vou emigrar para uma cidade onde se possa passear à noite.

4 de agosto de 2009

Chinelando

É um bom dia este, para chinelar palmilhando a cidade. Saída de um autocarro fresco que convidava à leitura, tinha um livro para estrear, resolvo-me a ir inspeccionar uma nova loja de produtos brasileiros que abriu na Carlos Mardel. Claro que já tinha sido informada da existência do Queijo de Minas e a ele não resisto. A J avisara-me para comprar pamonha e lá vou eu experimentar. Também não resisti a ouvir a conversa de aconselhamento à dona da loja, tem que haver entrosamento cara! Assim você consegue tudo.
Estes de dia de calor convidam à conversa e ao desabafo. Desde o taxista que me conta que tem uma nora marca corno, e cito, a confidências várias angustiantes pois sou atreita a casos clínicos, ouço vozes várias em fluxo imparável. Sei que preciso de silêncio e de férias. Sei-o bem.
Entretanto irei gerindo tudo isto, comme d´habitude. Depois falarei do livro que me ofereceram . Por acaso fui parar outro dia a um lançamento de um Audio-Livro, dito pelo Jorge de Silva Melo que fascinou as poucas pessoas presentes com as suas palavras ditas e lidas, fabuloso contador,ficou-me na memória a voz da pequena M a dizer O senhor já acabou de contar a história?
É isso mesmo, às vezes temos que ler em voz alta. E contar-mo-nos histórias. Não necessariamente de embalar.

2 de julho de 2009

Os táxis!

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Adoto esta cidade mas também este modelo de táxis. Que lindos que eram.
Reconheceis o nome e a marca?

Fernando disse...
É a Praça da República, em Braga

Quanto à marca ninguém tem a certeza..nem eu:)

28 de junho de 2009

Doces enleios


De vez em quando dão-me assim umas saudades dum filme determinado. Procuro-o por todo o lado, não existe nem o conhecem, cravo-o a todos os amigos ninguém o tem mas todos se lembram dele. Há uma semana caiu-me da estante o livro da Anne Tyler que lhe deu origem. Releio-o com todo o prazer, embora a cola que o unia tivesse apodrecido, originando que o relesse literalmente página a página. Ontem a fazer um zapping tormentoso, dou com o William Hurt. Momento de pausa. É " O Turista acidental" pois claro. Como tinha o livro tão fresco e dedilhado ao pormenor, quase que fazia de ponto nos diálogos. Aliás eram todos pessoas que falavam pouco (ainda bem). Limitavam-se a sentir. O Kasdan a fazer filmes é excelente. E a Geena Davies fez uma Muriel perfeita. Tenho a dizer que a ideia de escrever guias de viagem para pessoas que odeiam viajar é sublime. E que duas coincidências assim me fazem estranhar. Apesar de não ser supersticiosa, pois claro. Acreditam? O caso é que acordei e pensei que não tinha visto o fim do filme. Mas vi e é conforme o original. Ele de táxi e cheio de dores de costas manda o taxista parar, ao ver Muriel. E o rosto dela ilumina-se quando o reconhece. Tal qual o livro.

16 de abril de 2009

Dedicado ao Gin:)







Ainda outro dia um taxista me citou o nome desta rua como o faz a escrevente deste postal . Verdade que se seria mais prazenteiro saborosa, que sabrosa.
A dona Hortense é dos teus conhecimentos, caro gin?

9 de abril de 2009

Atravessamentos

De manhã ensonada, a tentar alinhar várias questões pendentes e a organizar-me enquanto atravesso a rua. Uma brasileira jovem diz-me, vamos agora e agarra-me a mão desatando a correr. Entendam-me, eu não aprecio de andar de mão dada com mulheres, excepção feita à minha amiga Jú, baiana e demonstrativa. Arrasto-me a contragosto e diz a brasileirita, cheira bem e é você! Pensei eu, ainda bem que sim, diacho afinal tomei banho. Conta um bocadinho da vida dela e desaparece noutro cruzamento. Relembro o taxista de outro dia dia que me dizia, estou a contar-lhe tudo isto porque a senhora tem ar de quem entende. E assim de entendimentos estamos falados, antes isso que outra coisa qualquer. Embora continue a achar, que muita gente não devia ser entendida nem escutada sequer. É a idade. A malvadez refina-se. E é isto.