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15 de junho de 2016

o trabalho para o mês de julho


muitas vezes a música que gosto de cantar está a léguas daquela que mais oiço.
para o próximo mês de julho tenho encontro marcado com o canto moçárabe, o canto gregoriano e o parente mais antigo, o canto ambrosiano ou milanês, por estar associado à arquidiocese de milão, a são ambrósio e ao rito litúrgico ali desenvolvido, tornando-se a partir do século 6 oficial em todo o norte de itália.
com a posterior centralização da igreja de roma, todos estes modo de canto chão (moçárabe, galiciano, beneventino e romano primitivo foram sendo eliminados dos ritos litúrgicos e apenas o canto ambrosiano sobreviveu.
o grande desafio de cantar esta música é que ela não tem, como aquela que ouvimos todos os dias, um ritmo em que nos apoiemos: as frases são cantadas 'em suspensão' como que a dois centímetros do chão sem nunca tocar, até ao final e apenas aí se 'descansa' mas mesmo assim só descaindo 1 dos dois centímetros em que mantinha suspensa.
é tecnicamente muito mais difícil para mim e esse é o desafio.
e ele vou!


2 de junho de 2016

the last internationale



os the last internationale são uma das bandas mais promissoras do 'pós-grunge-, que mistura a temática dos velhos cantores folk politicamente comprometidos, com a atitude mais enérgica vinda do grunge e do hardcore.
formados originalmente por delila paz e por edgey pires (um descendente de portugueses de arcos de valdevez), tiverem depois o contributo poderoso do baterista dos rage against machine, que lhes deu mais solidez sonora.



the last internationale, workers of the world - unite!

14 de abril de 2016

morreu ontem arnold wesker

já aqui tinha falado de arnold wesker e do centre 42, que ele fundou e dirigiu.
wesker não foi apenas um dos nomes mais importantes da dramaturgia mundial do século 20.
ele foi determinante para a cultura britânica, para a participação activa dos artistas na luta e na vida dos trabalhadores, determinante para o que conhecemos como 'realismo britânico', para o renascimento da musica tradicional (mesmo que, penso eu, nunca tenha cantado)
arnoild wesker foi dos que sempre estiveram com 'os de baixo'
quando em 1960 o tuc (trade union congress) aprovou uma resolução extraordinária (a 42º da ordem de trabalhos), sobre a necessidade de um inquérito ao estado das artes no reino unido.
a resposta dos artistas britânicos não podia ser sido mais expressiva e mais generosa:
a nata dos jovens (e alguns menos jovens) escritores, dramaturgos, músicos, escultores respondeu ao movimento sindical que se eles estivessem interessados em tornar a arte popular entre as pessoas, eles estariam ao dispor para o que fosse necessário.
no ano seguinte, em 1961, estava então criado um dos mais influente movimentos artísticos dos anos 60. dirigido pelo dramaturgo arnold wesker e com gente como harold pinter, ewan mac coll, a.l. lloyd
o centre 42, tinha como principal missão encontrar uma audiência popular para as artes e foi isso que com o empenho e a direcção de arnold wesker conseguiu.
conseguiram a audiência e conseguiram uma imensa legião de escritores, pintores, músicos, que percorreram as ilhas britânicas num trabalho incansável de divulgação artística com a participação popular.
curiosamente, no começo deste novo empreendimento esteve a fundação calouste gulbenkian que financiou, em 1961, o projecto com 10 000 libras
3 anos depois estava 'sediado' na roundhouse: casa de uma lista infindável de acontecimentos artísticos, do teatro à música.
com a morte de arnold wesker vai um dos últimos sobreviventes da aventura inicial, mas mantém-se viva a actividade da roundhouse e do seu legado.

28 de janeiro de 2014

Pete Seeger : "this train is bound for glory" (forever and ever)



Na adolescência, a minha amiga Paula ofereceu-me uma cassete BASF gravada em casa, uma das formas através das quais então ouvíamos música. De longa duração, continha todos – ou quase todos – os temas de Pete Seeger. Ouvi-a vezes sem conta, na impossibilidade de ter os discos. Foi sempre esta a melhor forma até hoje encontrada para, por conta própria, aprender inglês, a procura de sentidos presentes em grandes temas (a par dos de Woody Guthrie). Através deste método de aprendizagem (mais apelativo do que o escolar) deu-se a empolgante descoberta de todo um imaginário comum à canção folk e ao country: ouvi-las quase que fazia desfilar, como num cenário real, o verde das pradarias, viagens em comboios sem pressa de chegar; histórias de homens de caminhos de ferro cruéis, que bebiam o sangue em vez de vinho (a railroad man, will kill you if he can, he'll drink your blood and will drink it like wine) a par da despreocupação do amor fugaz (careless love) ; a cor negra de uns cabelos de alguém especial (black is the color of my true love's hair); as palavras de Luther King (we shall overcome), tornadas canto alargado de protesto contra a injustiça . Há cerca de um ano, fiquei surpreendida ao ter visto um postal escrito pela mão do próprio Pete Seeger ao Jorge, amigo de longa data -  tratava-se de uma resposta pessoal a uma carta que este meu vizinho lhe havia enviado, o músico tratava-o pelo primeiro nome e não era um texto estereotipado, referia-se mesmo a Sintra, à vida neste pequeno país. Fiquei a admirar ainda mais o músico, é assim que o tenciono recordar, caso a memória não pregue partidas: simples, vertical, a conduzir-nos através das pradarias americanas. E sim, o título do post é também para dizer que Guthrie (a par de Seeger) se mantém vivo no pensamento.

11 de outubro de 2013

"Variedades"

 "Arte Musical" (1907)- retirado da página do Museu da Música

Em termos de instrumentos de sopro estamos mesmo aquém das antigas gerações... Mas eles mal sabiam que viria a pegar a arte da "Vuvuzela" !

1 de outubro de 2013

a capella science, bohemian gravity para o dia mundial da música

Música para os nossos ouvidos


Hoje, dia 1 de outubro celebra-se o dia mundial da música.
Para assinalar este dia, várias são as iniciativas que visam recordar a importância da música na nossa vida e cultura.
No Museu da Música, em Lisboa, um pianoforte construído há 250 anos (e que não é ouvido há outros 50) vai ser o mote para um recital dado pelo pianista José Carlos Araújo às 18h.
Mais a norte, às 21h na Casa da Música, um concerto vai juntar 100 flautas e 100 saxofones, onde será pela primeira vez ouvido o arranjo de Daniel Moreira especialmente composto para este momento.
Para além de ser dia de celebrar a música e o melhor dela que se vive no panorama nacional é também dia de refletir de que maneira esta nos influencia, afeta e domina as nossas vidas.
Sabiam que, de acordo com um estudo alemão, ouvir música e fazer tarefas que exigem concentração como ler, pode afetar a compreensão?
Mas se por exemplo associarmos a audição de música a atividades de esforço físico os impactos são muito positivos.
E quais são os fatores que nos levam a eleger uma música como a nossa favorita? Investigadores da Universidade de Keele dizem que as nossas músicas preferidas são por nós inconscientemente associadas a eventos importantes da vida, ou metas pessoais ligadas às mesmas! Confirmam?
Mas nem tudo na música tem impactos assim tão positivos... muitas vezes ela é usada contra nós! Nunca se perguntaram porque é que em algumas lojas o som da música é tão alto que quase nem nos deixa pensar? Pois é... Investigadores da Universidade de Bretagne-Sur têm motivos para crer que a música alta em espaços comerciais leva os consumidores a precipitarem-se e a gastarem mais dinheiro.
Ainda assim, nem todos percecionamos a música da mesma forma, e neste sentido, acredito que estes ditos “efeitos” não sejam assim tão lineares, embora me pareçam dados interessantes e curiosos.
Mas mais importante que perceber a música é apreciá-la e por isso partilho convosco um vídeo que me parece inspirador. Que tenham um dia com muita música!



27 de setembro de 2013

a colocar nas vossas agendas


este é um balanço que nunca foi feito.
antes de 74, alguns, poucos, grupos de música coral, tiveram uma importância determinante na música portuguesa.
tive o prazer de ter feito parte de um deles, com um dos oradores deste colóquio como maestro, e uma das oradoras e o organizador como colegas.
o moderador também foi meu maestro décadas e rosário pestana é das pessoas que mais tem estudado este fenómeno em portugal e ultimamente tenho tido algumas conversas com ela sobre este tema.
se gostam de música;
se querem saber mais sobre o que foi o movimento coral antes de 74 e a sua influência em muitos grupos que hoje são determinantes na música popular portuguesa;
que querem participar num balanço que nunca foi feito,

este é um elenco de luxo para esse balanço que se quer iniciado.


morrer, mas morrer feliz...



quando em 1497 o príncipe joão, filho dos reis católicos, morreu de 'excessos de amor', espanha caiu numa espécie de depressão pela perda de uma das suas maiores esperanças de continuação das glórias..

quando juan del encina (que também tem uma história muito curiosa e algumas canções dignas de fazer corar os mais púdicos) compôs um ano antes o 'triunfo de amor' para celebrar o casamento de joão com a princesa margarida de austria, mal imaginaria que as necessidades insaciáveis da princesa austríaca (afinal não tão fria como os rigores dos alpes tiroleses fariam supor) haveriam de secar o príncipe num ano apenas..

morreu, mas morreu muito feliz

esta é uma das mais bonitas canções sobre a morte de alguém

23 de abril de 2013

richie havens



"i didn't know what i did.
i just did it and didn't call it anything except music."

pode ter sido 'apenas' música.
mas seguramente richie havens foi das vozes mais importantes na luta pelos direitos humanos.
já aqui falamos muito sobre a importância da música de richie havens, mas todas as vezes são pouca.
agora, que não vai poder cantar mais em nossa defesa, resta o agradecimento pelo que fez e pelo que foi.
e fica uma obra imensa, mesmo que sempre ao lado do grande reconhecimento.


richie havens, freedom

12 de janeiro de 2013

Bowie, «The next day»: uma história de bastidores



                 Foto: Bowie com a mulher, Iman /Andrew H. Walker/Getty Images para a DKMS

Uma das maiores surpresas musicais dos últimos tempos é, sem dúvida, a gravação do tema «Where are we now?», faixa do álbum «The Next Day», tudo em completo sigilo. Tony Visconti, o produtor, conta o que sucedeu, revelando alguns dos planos de David Bowie. Nos anos 70, o cantor trabalhava com uma equipa de cerca de 45 elementos, hoje só conta com um colaborador, no seu escritório de Nova Iorque. Não tem um «manager» pessoal. Afirma uma fonte próxima do cantor «ele sabe ser discreto e ficar nos bastidores, quantas vezes, nos últimos 10 anos, viram fotografias de David? Talvez as de dois ou três paparazzi... Bowie não é um recluso, mas só aparece em público quando bem entende». Rob Stringer, presidente do grupo Sony Music Label, teve conhecimento do trabalho deste músico de 66 anos há apenas um mês, quando foi convidado a ir ao estúdio para a audição algumas faixas. Afirma Tony Visconti «Bowie é um apaixonado pela História da Inglaterra Medieval e pela História Russa Contemporânea o que fornece excelente material para uma disco de rock». Sigilo absoluto foi a exigência desde o primeiro momento, a par de diversas mudanças de estúdio, sempre que os proprietários deixavam escapar informação sobre quem lá se encontrava a gravar. Terá o secretismo influenciado o trabalho? «Sem dúvida, falávamos enquanto grupo, partilhando a nossa experiência de insanidade e frustração, enquanto David se limitava a sorrir, impávido e sereno, o que conduziu os restantes a um completo estado de neurose». De momento, encontram-se 29 temas gravados, embora a edição de luxo possua 17 faixas. A surpresa, quando se pensava que Bowie se havia retirado da cena musical, foi  a revelação sobre o seu próximo álbum, a sair dentro de dois meses. Fonte: The Guardian (adaptação livre)


29 de dezembro de 2012

Ar rarefeito para acabar o ano

Estou a ouvir, maravilhado, um disco de Paul Buchanan saído em Maio último. Mid Air é o seu nome. Ouvi falar dele esta semana, pela voz de João Gobern, numa revisão de discos de 2012 da Antena 1.
O homem é há muito referência através da sua banda de vinte e tal anos, The Blue Nile. Esta gente nunca foi muito conhecida por estas bandas. Ganhou alguma notoriedade um belíssimo arranjo de Craig Armstrong a umas das canções dos The Blue Nile, e não muito mais. A banda acabou e Paul Buchanan gravou este disco agora.

Thin Air aparece como uma das escolhas possíveis entre os melhores discos do ano no Público e no Expresso, o que quer dizer que há quem esteja atento.

Pela minha parte direi apenas que isto é, para mim, e de longe, a melhor coisa que ouvi em 2012, e sem dúvida uma das coisas mais belas que ouvi em anos.

Bom 2013. Com saúde e trabalho, ao menos.

26 de dezembro de 2012

O villancico: um pretexto para lembrar Lhasa De Sela



Entre os cânticos tradicionais (villancicos/vilancetes) de Natal em castelhano, Los peces en el rio,  em lugar de destaque no «top pessoal» : os peixes que dançam (e bebem), entusiasmados, com o nascimento do menino. A mãe cumpre os gestos do quotidiano: penteia os cabelos de oiro ou, noutra passagem deste tema tradicional, lava os paninhos no rio, em cenário apelativo onde o alecrim adoça a paisagem. Mais um pretexto para recordar a fantástica Lhasa De Sela.

Los peces

Foto: aquário de Tóquio

20 de dezembro de 2012

gareth malone, ou a música como serviço público




o meu conhecimento de gareth malone não vem, ao contrário da maioria das pessoas, da premiadíssima série ‘the choir’, mas dum programa que em tempos realizou sobre as canções de marinheiros: shanties and sea songs with gareth malone'.
um excelente programa que parte de portsmouth, no canal da mancha e vai até gardenstone no norte da escócia para aí perceber a participação das mulheres na vida e nas canções sobre o mar.
pelo meio é uma lição sobre este património notável que os britânicos souberam preservar como ninguém.

mas os shanties são apenas uma das paixões de gareth.
a sua maior paixão parecer ser uma espécie de vontade indomável de por o reino unido a cantar e realizar essa enorme tarefa como uma espécie de serviço público.
a sua obra mais visível e premiada, é o programa ‘the choir’, onde gareth cria coros a partir de gente pouco provável para cantar em grupo.
a primeira experiência começou em 2007 numa escola nos subúrbios de londres (northolt high school), depois a série continuou com ‘boys don’t sing’, ‘unsung town’, gareth malone goes to glyndebourne, military wifes ou sing while you work.
nestes programas trabalha com jovens problemáticos, mulheres de militares no afeganistão, trabalhadores de hospitais, correios ou aeroportos.
dois programas têm para mim uma especial importância: ‘the big performance’, onde trabalha com 10 adolescentes vítimas de gozo e violência na escola e com dificuldades de auto-estima e os prepara para um concerto com milhares de pessoas ao vivo e uns milhões na televisão.
outro, com pouca música envolvida, ‘extraordinary school for boys’, é um trabalho notável de recuperação de um grupo de quase 40 miúdos dos 5º e 6º ano de uma escola pública com dificuldades na leitura e na expressão oral, e com um atraso significativo relativamente às raparigas da mesma idade da mesma escola.

gareth malone tem um ar de puto simpático contagiante e uma notável capacidade de gerar confiança naqueles que o rodeiam.
gareth malone fez serviço público!!!
ainda bem que o faz.

extraordinary school for boys, ep.1   

(os dois restantes rapidamente se encontram no youtube junto a este, bem como de todos os seus programas e ter uma noção do notável trabalho realizado por gareth malone)

14 de dezembro de 2012

f, de flamenco




a minha relação com o flamenco tem 3 episódios marcantes:
a primeira vez que me cruzei verdadeiramente com ele foi a falar sobre ele.
estava eu numa discoteca (entenda-se loja onde se vendem discos) em zamora nos idos de 70 e, ao mesmo tempo que fazia um ‘download ilegal’ duma cassete dos beatles com o seu último trabalho, ‘dejalo así’, a minha conversa com a funcionária da loja versava sobre uma cassete de flamenco que estava a tocar.
à minha afirmação de não gostar daquele estilo, ela me respondia que para gostar era preciso compreender.
ainda hoje lhe estou grato.
não por estar distraída para com a edição em castelhano do ‘dejalo así’, mas pelo sábio conselho que me deu.
o segundo encontro com o flamenco foi na década seguinte no filme de carlos saura, carmen.
carmen é uma espécie de aula prática sobre o flamenco, a postura, a intensidade, a entrega, a emoção. um elenco de luxo com antónio gades, laura del sol, paco de lucia, cristina hoyos e pepa flores (essa mesmo, marisol).
antónio gades, ao explicar como se deve dançar fez-me finalmente compreender o flamenco e aquela atitude ‘de galo’ que eu odiava.
as companhias de teatro, dança e os músicos, deviam vender bilhetes para os ensaios, que normalmente são muito mais interessantes que os concertos.
o terceiro, um pouco mais tarde, foi o primeiro verdadeiro concerto ao vivo de flamenco a que assisti:
o enorme el pele.
lembro o ar entusiasmado com que el pele apresentou um rapaz que estava a tocar com ele e de quem prometeu um enorme futuro, vicente amigo. tinha razão! é seguramente um dos melhores guitarristas de flamenco de sempre.
depois foi a descoberta natural de nomes como cameron de la isla, paco pena, tomatito, diego el cigala, enrique morente, os pata negra.
devo â funcionaria da discoteca de zamora, a antónio gades e a el pele o meu gosto pelo flamenco.
bem hajam.
em 2010 a unesco declarou o flamenco como património da humanidade.

aqui podem ouver um dos programas da série que a televisão da andaluzia realizou sobre o flamenco.
é uma excelente porta de entrada.

el sol, la sal y el son

30 de novembro de 2012

as polifonias, danças e rituais de shoplouk




as muito popularizadas ‘vozes búlgaras’ devem grande parte do seu reconhecimento na europa central e ocidental após a divulgação nos anos 80, pela famosa editora inglesa 4ad, de um álbum chamado ‘le mystère des voix bulgares’ (a ‘lenda’ diz que foi peter murphy, dos bauhaus, que levou um dia uma fita à editora inglesa).
o nome em francês deve-se seguramente a uma primeira edição feita pelo etnomusicólogo marcel cellier nos disques cellier.
após essa divulgação por uma reputada editora virada para os sons rocks alternativos, a atracção pelos sons modais e as harmonias dissonantes da bulgaria tornaram-se uma moda na europa.
esta maior popularidade desta música ajudou a que outras tradições mais ‘escondidas’ pudessem vir a lume.
o reconhecimento pela unesco, como património da humanidade, das polifonias, danças e rituais de região de shoplouk, vem salvaguardar esta tradição menos exposta que os grandes grupos ‘sinfónicos’ da polifonia búlgara.
hoje, na bulgaria como na maior parte do mundo, grande parte destas músicas já não não estão associadas a rituais antigos pré-cristãos ou aos trabalhos agrícolas que lhe estiveram na origem e sobrevivem no roteiro das 'músicas do mundo'.
a babi bistritsa constrói-se sobre uma base diafónica (duas vozes a cantar uma melodia em jeito ‘gritado’ próprios das canções de ar livre) com duas ou três linhas de sons monótonos e constantes que serve de base harmónica (por vezes dissonante)
claramente menos espectacular que os grandes coros polifónicos búlgaros, a beleza destes sons não deixa nunca de surpreender pela ‘voltas’ escondidas.

bistritsa babi



29 de novembro de 2012

el cant de la sibil.la




como penso que acontece com a esmagadora maioria das pessoas fora da ilha de maiorca e do resto dos paisos catalans, o meu conhecimento do canto da sibila vem de jordi saval e de montserrat figueras.

o canto da sibila é uma tradição originalmente de mallorca cantada na noite de natal.
é uma drama catastrófico sobre o fim do mundo e as penas dos pecados, saído da apropriação pelo cristianismo da profecias de sibila, uma personagem comum no universo grego e romano.

al jorn del judici
parrà el qui haurà feyt servici.

assim começa o canto.
sibila, do alto do presbitério canta, sobre uma música gregoriana, o dia do juízo final, ao que o povo vai respondendo no final de cada estrofe com aquele primeiro fragmento.

os textos podem variar conforme os locais, mas a base é a mesma:
 no final as contas serão feitas e a coisa não vai sair barata…

no ano de 2010 a unesco classificou como património imaterial da humanidade esta tradição que vem da idade média e sempre se manteve por aquelas partes ininterruptamente, não obstante as diversas proibições ou entraves que a igreja lhe foi colocando.

el cant de la sibil-la, na igreja de sineu, mallorca, biel mas


el can de la sibil.la, barcelona (cor francesc valls, eulalia fantova)

28 de novembro de 2012

a polifonia albanesa, um património da humanidade




pelos anos 70 tropecei na música polifónica albanesa por via do meu interesse pelo país e pela descoberta do festival de gjirokastra.
na sequência de umas perguntas feitas e de uns livros sobre tradições populares trocados com a academia de ciências da albânia, passei a receber regularmente algumas publicações daquele organismo no que às tradições populares diziam respeito (e mais umas sobre arqueologia… em albanês, que é um pouco como chinês para mim).
a verdade é que o meu primeiro contacto com as polifonias balcânicas foi com a música tradicional da albânia, através de uns ep’s editados pela provavelmente defunta artimpex, de tirana, e seguramente prensados na china.
tirando algumas óbvias alusões laudatórias ao partido e à defesa da pátria (coisa que não me incomodava nada...) as polifonias albanesas eram de uma riqueza imensa.
normalmente em 2 partes (como acontece em muitas músicas da bacia mediterrânica): um solo e resposta polifónica sobreposta ao solo, variam no entanto na forma, contínua ou não, conforme os cantores utilizam respirações alternadas ou simultâneas.
fundamentalmente cantado por homens, com poucas exepções (um pouco divergente  da vizinha bulgária onde as polifonia femininas são muito comuns), estas canções continuam a manter a tradição de, ao temas naturais da vida do campo, juntar as temas patrióticos.
no entanto, ao contrário de outros locais onde o circuito das chamadas ‘músicas do mundo’ tem permitido o desenvolvimento e salvaguarda destas tradições musicais, as polifonias albanesas não conseguiram penetrar nesse tão apetecido mercado.
o risco de desaparecimento, não obstante a declaração, em 2008, de património imaterial da humanidade, é cada dia maior.
é tempo de ouvir antes que apenas restem umas memórias do que foi.


Flaka Mbuloi Fshane



um ano depois do fado, vamos a outras músicas




há um ano por esta altura estavam os portugueses inchados com a classificação do fado como património imaterial da humanidade.
como acontece normalmente com os portugueses, inchamos, desinchamos e passamos.
o fado não ficou nem mais forte nem mais fraco por via da classificação, as prometidas edições dos clássicos do começo do século não viram a luz do dia e os imensos estudos sobre a guitarra portuguesa não tropeçaram no prelo.
mas se o fado manteve a sua vitalidade sem isso, não irá morrer por falta disso, seguramente.
para comemorar a classificação fadista, e ao jeito aqui da casa, iremos inaugurar a semana (que como a guerra dos 100 anos não tem que durar exactamente o tempo que o seu nome indica) das músicas classificadas pela unesco.
falarei daquelas que eu gosto mais ou que conheço melhor, como está bom de ver.
serviço público tem limites…




há uns tempos (em 2006..) falei aqui do ‘canto a tenore, da sardenha, da sua classificação e da não classificação do fado e do cante alentejano. uns anos depois o assunto foi tratado e alcançado parcialmente. falta o cante, já que as polifonias minhotas parecem estar perdidas para sempre e os lhaços mirandeses continuam enredados no meio dos paulitos do esquecimento.
hoje volto ao assunto do 'canto a tenore'.
este é o canto tradicional dos pastores da sardenha.
uma polifonia a quatro vozes (bassu, contra, boche e mesu boche), cantada em círculo e um pouco como no cante alentejano, o solista lança o começo da quadra e os restantes abrem a polifonia, com o bassu e o contra num estilo muito próximo do que usam os cantores de tuva com o seu canto gutural.
a forma de canto em círculo dá um som mais compacto para quem ouve e melhora a afinação para quem canta. o som grave do bassu serve de apoio e dá o ´tom' de terra à música.
o ‘cante a tenore’ mantém-se vivo nas tascas da sardenha e ganha a vida, felizmente, nos circuitos da chamada música do mundo.
nós agradecemos.

tenores di bitti, explicação do processo de canto


tenores de bitti 'mialinu pira', ballu lestru


21 de outubro de 2012

rokia traore hoje na gulbenkian !!!

hoje, 21 de outubro, estará no grande auditório da fundação gulbenkian aquela que é seguramente a maior voz feminina da musica do mali.
aqui falei dela a propósito de questões laterais.
volta aqui hoje à casa exclusivamente por si só e pela qualidade da sua música.
numa terra cheia de excelentes músicos masculinos, rokia traoré ousou desafiar os preconceitos e começar a cantar no feminino.
a sua vinda a lisboa, dentro do ciclo 'músicas do mundo: roots' da temporada de música da fundação, será um retorno à tradição mandinga.
será um oportunidade excelente para ver e ouvir, a preços razoáveis, uma das mais importantes vozes de áfrica.
a ir !!