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20 de outubro de 2007

As palavras são como as amoras


Olho para algumas das minhas Lessing e não resisto a fotografá-las:

Penso ainda nas que me faltam adquirir e nas que preciso de emprestar.

11 de outubro de 2007

Doris Lessing

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Foto de 1956, Mark Gerson

Das minhas escritoras favoritas. A 11ª mulher a receber o Nobel da Literatura. Com 88 anos.

Segundo um comunicado da Academia Sueca, o Comité Nobel decidiu distinguir «a contadora épica da experiência feminina, que com cepticismo, ardor e uma força visionária perscruta uma civilização dividida». na TSF

Gosto tanto de escrever este post como de a ler.
Parabéns querida Lessing!
(esta entrevista dela em português do Brasil é gira: recomendo)

19 de fevereiro de 2007

Sugestão de leitura


Por acaso tinha emprestado este livro a um amigo, que mo devolveu ontem e era altura de uma sugestão de leitura que me tinha sido pedida. Acredito em coincidências, pois é.
Acho a Doris Lessing uma das grandes escritoras contemporâneas, pela sua escrita enérgica, directa, envolvente e feminina (mas não feminista).Muitos adjectivos, mas passo a explicar. Assumida politicamente, viveu a sua juventude na África Inglesa, o que lhe deu uma endurance muito especial para falar do racismo e dos preconceitos hipócritas das pequenas sociedades, que descreve nos seus primeiros livros.
Multifacetada enveredou pela ficção cientifíca na conhecida série Canopus em Argos, género menor para muita gente...(uma parvoiçada, que não entendo aliás). O Caderno Dourado é outro livro a não perder.E todos os outros aliás.
Mas vamos ao que interessa, Os Diários de Jane Sommers. É uma obra em dois volumes e tem a particularidade da Lessing, no seu jeito brincalhão e quase felino, o ter publicado sob um pseudónimo Jane Somers, que como referência dizia só ser jornalista. O engraçado da questão é que já era famosa e a sua obra foi recusada por alguns dos seus próprios editores ( outros disseram ser um livro à La Lessing e aceitaram).
De que nos fala o livro? De uma bem sucedida mulher, Jane Somers, uma jornalista de uma revista feminina, que depois de lhe morrer o namorado e a mãe, sente a necessidade de fazer algo diferente na sua vida. Assim estabelece uma relação de ajuda com Maude, uma nonagenária, ex empregada dum loja de chapéus.
Ambas são mulheres dificeis, habituadas a esconder o que sentem. E a sua relação acaba por transformá-las.
Aconselho este livro, mas desde já digo que é dificil comprá-lo: na Fnac não havia nada da Lessing, idem na Bertrand. Um amigo meu comprou-os na Barata. Eu estou esperançada numa ida à Europa América, que é a sua editora em Portugal. Exactamente porque quero oferecer alguns a amigos meus.
E é isto.

25 de fevereiro de 2006

Seis pulseiras de madeira

Tilintam as seis pulseiras de madeira que vieram da Costa Rica direitinhas para mim:) Obrigadas Rui!!!

Chovia a potes enquanto ia na romaria semanal à Biocoop!! Que grelinhos tão fresquinhos! E umas cenourinhas boas:) E comprei fígado! Vou fazer iscas!!! E as costeletas de borrego? Infelizmente não vi o ângelo para lhe perguntar sobre as águas biológicas.

Depois fui comprar alimentação e litter para a gataria. E pronto, agora vou sornar, que eu mereço. E ler um livro espantoso de que vos irei falar. Não, não é da Lessing Ruinzolas. É de um espanhol novinho que escreve bem que se farta.

E Azinho preciso de te fazer umas perguntas técnicas sobre a gripe das aves. O que se deve transmitir às crianças. Vi um senhor ministro, vénia, a dizer que já havia mensagens preparadas sobre essa matéria, tipo o que fazer se encontrar uma ave selvagem morta. Já agora introduzíamos esses conteúdos né?

Beijos e bom Carnaval e tudo o mais!!

Desconfio que Lisboa estará deserta:)

19 de fevereiro de 2006

Fim de dia

Estava a pensar nalgumas coisas, neste dia de trabalho, à espera que o telefone toque.
Sexta estava morta, sábado ressuscitei para andar na rua e receber a sobrinhada e amigos em casa.

Fico encantada sempre que vejo a pequenita. De semana para semana progride, tão sociável e ávida do mundo. Estive a ler uns estudos americanos, em que explicam que as crianças até a um ano de idade têm capacidadesque depois perdem. Então tudo aquilo que achamos que é palermice nossa afinal é verdade : reconhecem expressões, sorriem com o som dum beijo repenicado, distinguem inclusivé falantes de línguas diferentes. E auto reconhecem-se muito mais cedo do que se pensava.
Acho que em termos de psicologia de desenvolvimento das crianças, ainda vamos ter muitas coisas para descobrir. E os estímulos são diferentes. A maternidade começa a ser reabilitada também. É um mundo novo.

Não é nada díficil comunicar com esta miúda. É mostrar coisas, sons e deixá-la mexer e sentir. Fico apaixonada pelo mistério do que vai ser a Maria quando crescer.

Fiz um zapping pela Oprah. Que se lixem as intelectualices, eu gosto de ver o programa. E entre algumas mulheres que a produção elegeu como devendo ser conhecidas, apareceu uma americana que organizou uma fundação de apoio a doentes terminais. A ideia é ninguém sofrer ou morrer só. E há sessões de acompanhamento de grupo e individuais. Já há em Portugal alguma coisa destas? ABS sabes disto?

Lembrei-me das campanhas de beneficência que se fazem, tal como as do pirilampo e as oferecer comida para quem dela precise, Banco Alimentar ou lá o que é.
Uma coisa que me intriga: não leio muito jornais, mas as contas dessas campanhas são publicadas? Há esse hábito? É porque trigo limpo farinha amparo. Ou sabemos exactamente para quem damos e como é dado, ou tudo se torna estranho. E cada vez mais proliferam as associações. Para a Abraço não dou, evidentemente. Acho que o voluntariado deve ser grátis e as direcções dessas associações não devem ser pagas da forma como esta o está a ser.


De muita coisa que vi, muito desconfio do conceito de caridadezinha. Mas acredito no princípio básico de solidariedade humana. Num voluntariado de apoio a doentes terminais alinhava. Ou a idosos, como conta a Lessing nos Diários de Jane Sommers.

E é isto.

7 de fevereiro de 2006

Leituras em dia

Pois é, lá terminei a biografia da Lessing. Uma autora que agora quase ninguém lê em Portugal. Não é da moda, pois não., não é mesmo. No entanto é perfeitamente actual e acutilante. Ela termina a biografia nos anos 60. Não quer implicar gente próxima e viva, diz ela. Disseca porém a relação que teve com os pais e os seus filhos duma forma tão aberta e verdadeira que impressiona. Uma mulher de bom senso e que escreve muitíssimo bem.

Arrumadinha que ficou na estante ao pé das outras Lessing, peguei aleatóriamente num livro que fosse bom para usar na mala. Querem-se leves e finos. O escolhido foi o "Um quarto que não é seu", da Alicia Giménez Bartlett e contraria a teoria que de "Espanha nem bons vento, nem bons casamentos".

A Bartlett nasceu em Almansa ( Corrige-me Çamorano, se estiver enganada e já agora onde é Almansa?). E escolheu Barcelona para viver.

É uma apaixonada pelo grupo de Bloomsbury .

E resolve escrever um contraponto ao livro da Woolf com o mesmo nome, mas como um diário escrito pela sua criada, Nelly Boxall. Até agora e o percurso de autocarro/trabalho é delicioso para a leitura, vale muito a pena.
Tinha já todos os policiais da Bartlett. Acho que vou continuar a comprar tudo dela. Há espanholas que valem a pena.

6 de fevereiro de 2006

Sobre mitos urbanos e medos esporádicos

Estava a pensar em duas coisas, por esta mesma ordem: os mitos urbanos de que o Azinho falava ontem e sobre o que o Fénix disse,  que postamos muito e reflectimos pouco.
Por isso resolvi contar uma história que se tornou um mito urbano da Praça de Espanha.
Factos?
Dois indianos ou paquistaneses envolveram-se em violenta discussão perto da mesquita. Um empunha uma faca e usa-a como argumento. E foge. Ao mesmo tempo saía da Comuna, o técnico de luzes, para apanhar o seu costumeiro táxi para o Estoril. É esfaqueado também, ainda anda um bocado e cai morto ao pé da paragem de táxis. Sai do metro uma senhora, que também é esfaqueada. Temos a Praça de ESpanha ensanguentada ao fim da tarde e o assassino à solta.
Penso, não tenho a certeza, se o senhor estará preso no momento. O amigo que sobreviveu identificou-o e denunciou-o.
Durante meses se contaram e ainda contam histórias sobre isso. Falam-se de mais crimes, encobertos para não assustar a população. Instalou-se a psicose da Praça de Espanha Quando houve outro crime na Avenida de Berna,disseram logo: pronto foi o assassino da Praça de ESpanha.
Qualquer indíviduo de cor mais acastanhada era olhado com suspeita e as pessoas tendiam a afastar-se dele o mais rapidamente possivel. Dado que a mesquita se situa mesmo nesta área, a situação não era muito cómoda . O caso é que a zona ficou como que assombrada e pouco atractiva. Bem, para falar verdade, já era um caos urbanístico nojento.
Hoje para variar vim de autocarro para o trabalho. Atravessei a Praça de Espanha mesmo pelo local mais recôndito. Estava um sol a estalar de novo e até se ouviam passarinhos. Não estava a pensar muito em nada, a não ser que já tinha resolvido uma data de assuntos e que vida é boa comigo duma forma geral.
Não vi nenhum indíviduo acastanhado. A não ser as simpáticas negras das limpezas que encheram o autocaro na Av de Berna, num enorme chilreado.
Qual o tempo de validade para um mito urbano? Porque é que às vezes temos medo e outras vezes não? A Lessing ( que continuo a ler, 2º volume) conta que sempre passeou em zonas complicadas e sozinhas e nunca teve medo de assédios e quanto muito lhe mostraram uma pilinha esquálida, a que ela pouco ligou. Diz que agora não é assim: qualquer assobiadela ou boca é logo considerada assédio. Que o medo está institucionalizado, para não falar da atitude em relação ao sexo.
A sociedade mudou é um facto. Mas também quanto aconteceu o Jack The Ripper as pessoas tiveram medo e instalou-se a histeria colectiva.Ainda conheço pouco a lógica do medo. E é uma coisa que me fascina. Estou já a perorar muito, eu sei.Não tenho conclusões para tirar. Sorry.

27 de janeiro de 2006

Portugal visto por Lessing

"Mas existiam formas de viver mais civilizadas. Num baile organizado pelos jogadores de rugby, estava sentada junto a uma portuguesa, a quem gabei a sua pochette em ouro, com embutidos vermelhos.
Ela ofereceu-ma de imediato.
Fiquei aborrecida, porque sabia que era pobre. Mas foi impossível recusar. Explicaram-me de seguida, que em certas sociedades exprimir a admiração por um objecto, implica a sua dádiva e que devemos ser prudentes na expressão da nossa admiração.
Portugal foi colonizado pelos mouros, que lhe transmitiram os modos cavalheirescos da civilização árabe. Conservei esse saco anos e anos, como um talismã e quando abria a gaveta onde o guardava , recordava que em certas regiões do mundo reina a graça do coração"

Tradução muito livre dum pequenino excerto da autobiografia da Doris Lessing

25 de janeiro de 2006

Tempos de.

Tempo, sempre o tempo.
Estou cansada de adormecer com a biografia da Lessing enterrada no nariz. O que acontece, é que quando recomeço a leitura, volto sempre páginas atrás. Durante o sono o livro foi propulsionado para parte incerta. Assim um passo atrás e nem por isso são dois para a frente.Imagino quando for a biografia do Mao, que pesa uns dez quilos. Talvez tenha gatos lesionados.
Acho que tenho pouco tempo para ler.Hoje pensei aproveitar o percurso do táxi, para o fazer. O taxista porém contava histórias sem parar e eu pensei...dar-lhe com uma descarga eléctrica em cima e continuar a ler tranquilamente? Não me parece. Não o fiz.
Estamos horas demais no trabalho. Presos, sempre presos. Ando numa fase de me apetecer ter muito tempo. Livre, claro está. Estou chata que me farto. Preciso de ar! Há dias em que apetece dar gritos à janela não é?
Ontem fiz uma coisa que não fazia há anos. Toquei em todas as campainhas dum prédio e continuei a andar tranquilamente. Apetecia-me era correr, mas era a minha rua. Fiquei um bocadinho menos chata e mais satisfeita.
Mas hoje apetece-me dar pontapés no pc do trabalho. Enfim.

15 de janeiro de 2006

Dias de chuva e de afecto

É bom estar em casa, abrigadinha da chuva.
Estar a ler um livro de contos da Lessing. Chama-se " o hábito de amar". A Lessing consegue ser mordaz e verdadeira em cada linha que escreve.
Ontem fiz o tal do bacalhau. Terei que reformular: mais azeite.
A tubaroazinha sorriu e encantou. Adora gente a adorá-la. Quem não gosta?
Ela está habituada a ser amada. E os olhinhos dela a olhar para os pais e quando ouve a voz deles mostram-no bem. Vá lá condescendeu em sorrir e brincar com o resto do povo. E recusou-se a dormir para brincar mais um bocadinho.
É um privilégio vê-la a crescer e fazer coisas novas. Ontem deu um sacão e sentou-se. E quando de costas, endireita a cabeça, cusca como ela não há, faz sempre um big , big smile. Mesmo que vá de nariz à fralda passado um bocado e isso a irrite, ela não desiste.
Escusam de pensar (tia babada ataca de novo). Isso eu já sei.
:P

30 de dezembro de 2005

The great secret that all old people share is that you really haven't changed in 70 or 80 years. Your body changes, but you don't change at all.
Doris Lessing, O Magazine, October 2003

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Dizia-se numa entrevista qualquer, que a Doris Lessing não tinha apenas leitores, mas seguidores. Com efeito, esta mulher escreve tendo em conta valores e defesa de causas. Muitos acusam-na de dura feminista.
Os seus romances sobre a àfrica do Sul, desfizeram para sempre o mito dourado da supremacia branca. No entanto o que ela escreve envolve-nos. É impossível não sentir e amar as personagens que ela cria, sofrer por elas. Ficar sempre com vontade ler mais. Que melhor elogio se pode fazer?

Recomendo, a quem nunca a leu, que inclua nas suas resoluções para 2006 , a de ler pelo menos o The Golden Book, traduzido por O Caderno Dourado. Ou o espectacular " A boa Terrorista" . Ou qualquer dos violentos romances sobre a África do sul.do Sul. Qualquer coisinha, por favor. Pode ser até a sua excelente ficção científica.

Eu decidi que vou encomendar a biografia dela. Na Amazon, pois claro. Where else?

10 de dezembro de 2005

Um marxista muito particular.

Sempre gostei muito do Lafargue e do seu célebre texto, "O Direito à Preguiça", editado em Portugal aqui há uns anos pela Lobo Mau, salvo erro.
Era irónico, subversivo. Tudo aquilo que um filósofo deve ser para o ser. E esta ideia inteligente da reabilitação do lazer, ao contrário daquilo que ainda hoje nos é inculcado.

Quem era o dito cujo senhor? (explorem o site tem textos bem interessantes)

Paul Lafargue

(1842-1911)

Paul Lafargue

Etudiant en médecine, proudhonien, il connut à Londres F. Engels et Karl Marx dont il épousa la fille, Laura.

Gagné au socialisme scientifique et membre de la I° Internationale, il participa à la Commune puis gagna l'Espagne où il participa à la fondation du Parti Socialiste Ouvrier Espagnol.

Revenu à Londres, il rencontre J. Guesde avec qui, de retour en France, il fonda le Parti Ouvrier Français (1880), le premier parti marxiste du pays, et la revue Le Socialiste (1885-1904).

Auteur de l'ouvrage célèbre Le droit à la paresse (1880), d'un Cours d'économie sociale (1884), etc...

Paul Lafargue se suicida avec sa femme.

Do Direito à Preguiça:

"Paressons en toutes choses,
hormis en aimant et en buvant,
hormis en paressant."
Lessing.

Une étrange folie possède les classes ouvrières des nations où règne la civilisation capitaliste. Cette folie traîne à sa suite des misères individuelles et sociales qui, depuis des siècles, torturent la triste humanité. Cette folie est l'amour du travail, la passion moribonde du travail, poussée jusqu'à l'épuisement des forces vitales de l'individu et de sa progéniture. Au lieu de réagir contre cette aberration mentale, les prêtres, les économistes, les moralistes, ont sacro-sanctifié le travail. Hommes aveugles et bornés, ils ont voulu être plus sages que leur Dieu; hommes faibles et méprisables, ils ont voulu réhabiliter ce que leur Dieu avait maudit. Moi, qui ne professe d'être chrétien, économe et moral, j'en appelle de leur jugement à celui de leur Dieu; des prédications de leur morale religieuse, économique, libre penseuse, aux épouvantables conséquences du travail dans la société capitaliste."

Paul Lafargue 1870

9 de novembro de 2005

Livros que acordam comigo todos os dias

Livros que acordam comigo todos os dias


Mark Twain qb. Nada como ser Tom Sawyer de vez em quando.
O Melville. O Ahab e a Moby sempre foram grandes amigos.  Gosto de seres brancos e escorregadios e outros que não gostam de ser engolidos e trincados.
Gosto de tantos. As mulheres da minha vida: Duras e  Yourcenar, de braço dado com a Highsmith, Lessing e Atwood. E a Murdoch, pois claro.
O Lodge, o Ackroyd, o Sharpe. O Calvino...O Reverte...
A Gaite, o Henry James.
Tantos improváveis pares na minha cabeça.
Ninguém é verdadeiramente infeliz se gostar de ler.
E não vou dar mais seca. Excepto. O Cohen, Albert. Belissimo. Quem o ler não verá de novo os amores humanos da mesma forma.
Tantos que ficam de fora. Que importa, eles não vão ler este post.

23 de dezembro de 2004

A senhora do cabelereiro.

Tenho uma ideia àcerca do Natal. Todas as personagens e figuras estranhas que encontramos no dia a dia, tem uma relevância especial. Talvez porque enjoados do espírito de boa vontade do Natal, tentemos descobrir o que está por detrás das máscaras. E não é pouco.
Estava fascinada hoje por uma senhora , a Dona Rosarinho, que estava no cabeleireiro. Deve ter uns oitenta anos e foi decerto muito bonita.Era acompanhada pela criada, no mínimo tão velha como ela. Desfizeram-lhe o chignon, e surgiu uma farta cabeleira loura, que ela teimava em pintar de novo, apesar de não haver necessidade.
Tossia uma tosse de cão e cada vez que lhe perguntavam se estava bem, ela respondia invariavelmente " Estou péssima querida".
Acho que este ano vou adoptar uma pessoa mais velha para dar mimos. Ok, o Natal é para as crianças. Mas e sobretudo na zona onde vivo, basta sorrir e ser minimamente simpática para se ser recompensada por uma história de vida.
Sim há aquele livro da Lessing, "O Diário de Jane Sommers", que conta exactamente uma história assim.
E não tivéssemos tanto stress natalicio com as prendas e coisas afins, talvez conseguissemos ter utilidade prática. Não acredito em enfeites, em festas, em paz e amor universais. Mas faz-me sentido dar afecto. E este não é mensurável . Mas pode ser exercido.

30 de janeiro de 2004

Sexta Feira

Ontem adormeci ao som da chuva intensa. É aconchegante quando se está dentro de casa, com um livro na mão. A propósito do livro, vou citar uma amiga minha que afirmava,vale mais ler um livro que aturar um homem...Risos. Eu não sou tão radical e vou citar uma minha ex-chefe que dizia "namore à sua vontade mas nunca os deixe guardar as cuecas na gaveta":). Realmente o simbolismo da gaveta dá cabo de qualquer um/uma. Quando se re-arrumam as nossas coisas para criar espaço,que cada vez se torna mais exigente. Ou seja viver com outra pessoa é um acto que exige muita coragem. Tanta ou mais como viver sozinha.
Li ou ouvi outra vez que existem cada vez mais pessoas a viverem sós em Portugal. Isto lembra-me aquele delicioso livro da Doris Lessing, em que uma solteirona proto-beta entra numa rede de solidariedade com pessoas velhinhas e as modificações que essa relação introduz na vida dela e da sua protegée velhota. Eram os Diários de Jane Sommers, acho eu.
Acho que vou reler um dia destes.
Sobre solidão. Conheço muitas que são acompanhadas. Outras são mesmo duras e cruas:)
Mas a verdadeira é aquela em nos aborrecemos de viver connosco próprios..risos.
Bem.Abeijos e braços.