31 de dezembro de 2010
2011
Está a fazer um bocadinho de sol. Talvez seja ele que me está a empurrar, a fazer desejar tudo de bom para os nossos amigos e leitores, que nos sobejem forças para enfrentar um ano que se afigura perigoso e cheio de escuridão. Um abraço amigo, a todos os que diariamente nos seguem,aos silenciosos leitores e aos que generosamente colaboram neste projecto. Apesar de tudo, boas festas.
10 presentes para um natal com a nova música portuguesa, parte 10
10. sean riley & the slowriders, only time will tell
este é o último conselho deste ano para a visita guiada à nova música portuguesa.
propositadamente não falei em nomes que têm tido mais destaque nas rádios ou nas vendas de discos (deolinda, com ambos os discoa; diabo na cruz, com virou, ou legendary tiger man, com o excelente femina) ou outros por uma questão de escolha de géneros e limite de quantidade
sean reiley & the slowriders é uma das muitas bandas com que coimbra brinda a nova música portuguesa.
com uma saudável mistura de folk, rock e blues, sean riley é um notável escritor de canções e de criação de ambientes sonoros servidos por uma boa voz e um naipe de músicos de grande experiência.
fechando o ano em ambiente de serra rodeado de amigos, nada melhor que estes sons de espaços abertos e sol na cara
sean riley & the slowriders, houses and wives
este é o último conselho deste ano para a visita guiada à nova música portuguesa.
propositadamente não falei em nomes que têm tido mais destaque nas rádios ou nas vendas de discos (deolinda, com ambos os discoa; diabo na cruz, com virou, ou legendary tiger man, com o excelente femina) ou outros por uma questão de escolha de géneros e limite de quantidade
sean reiley & the slowriders é uma das muitas bandas com que coimbra brinda a nova música portuguesa.
com uma saudável mistura de folk, rock e blues, sean riley é um notável escritor de canções e de criação de ambientes sonoros servidos por uma boa voz e um naipe de músicos de grande experiência.
fechando o ano em ambiente de serra rodeado de amigos, nada melhor que estes sons de espaços abertos e sol na cara
sean riley & the slowriders, houses and wives
10 presentes para um natal com a nova música portuguesa, parte 9
9. sara serpa, camera obscura
o jazz em portugal é um mundo estranho.
ao contrário do que é normal noutros géneros musicais, tem muito mais executantes do que ouvintes e a vitalidade criativa raramente é acompanhada pela merecida audição de quem faz musica de tão grande qualidade.
sara serpa é um desses exemplos de uma enorme qualidade vocal, amplamente reconhecida internacionalmente e amplamente desconhecida do grande público em portugal.
mesmo que aqui já tenha cantado pelo ccb, são luiz, ou aquele que foi uma das suas escolas, o hot club, são seguramente as passagens por casas míticas da divulgação do jazz, como o village vanguard, que lhe dão a destaque e lhe abrem caminhos para os imensos festivais internacionais onde já participou.
com uma formação 'clássica' e uma continuidade em escolas como a berklee college of music (para onde irá o vencedor de um concurso de novos talentos da rtp), sara serpa tem uma solidez vocal invulgar, mesmo para os grandes nomes da vocalidade jazzistica.
mesmo quando canta sem palavras (num 'scat' muito mais rico do que se esperaria), a sua voz é não apenas mais um instrumento sonoro: é um riquíssimo painel de sons criadores de harmonias notáveis e em permanente criatividade.
sara serpa é um dos grandes nomes da música portuguesa.
o jazz em portugal é um mundo estranho.
ao contrário do que é normal noutros géneros musicais, tem muito mais executantes do que ouvintes e a vitalidade criativa raramente é acompanhada pela merecida audição de quem faz musica de tão grande qualidade.
sara serpa é um desses exemplos de uma enorme qualidade vocal, amplamente reconhecida internacionalmente e amplamente desconhecida do grande público em portugal.
mesmo que aqui já tenha cantado pelo ccb, são luiz, ou aquele que foi uma das suas escolas, o hot club, são seguramente as passagens por casas míticas da divulgação do jazz, como o village vanguard, que lhe dão a destaque e lhe abrem caminhos para os imensos festivais internacionais onde já participou.
com uma formação 'clássica' e uma continuidade em escolas como a berklee college of music (para onde irá o vencedor de um concurso de novos talentos da rtp), sara serpa tem uma solidez vocal invulgar, mesmo para os grandes nomes da vocalidade jazzistica.
mesmo quando canta sem palavras (num 'scat' muito mais rico do que se esperaria), a sua voz é não apenas mais um instrumento sonoro: é um riquíssimo painel de sons criadores de harmonias notáveis e em permanente criatividade.
sara serpa é um dos grandes nomes da música portuguesa.
Anos 70
Recebo um grande salário, só porque sei falar inglês...V. Acha isso certo?
Revista Notícia, 1973.
Pena ele não investir parte do salário num novo visual;antevia-se porém o século XXI neste anúncio.
Clicar para ampliar.
Revista Notícia, 1973.
Pena ele não investir parte do salário num novo visual;antevia-se porém o século XXI neste anúncio.
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30 de dezembro de 2010
Isabelle Caro e a moda
Pêsames!
O anúncio da morte da modelo Isabelle Caro colocou-me a questão: Os padrões de moda podem interferir na felicidade das pessoas?
Considero que a moda deve ser encarada como um meio para as pessoas se sentirem bem consigo quando interagem com os outros, facilitando e modelando a socialização.
A moda, por outro lado, é também uma forma de esconder traços da individualidade de cada um, normalizando os padrões de comportamento.
A procura excessiva de igualar a imagem publicitada de mulher frágil, magra e alta ou de homem musculado, seco e alto, os actuais padrões de moda, tem criado situações de felicidade a alguns e de falta dela a muitos outros.
Naturalmente as mulheres e os homens têm diversificados tipos físicos que, conjugados com comportamentos, atitudes, traços fisionómicos e história pessoal, o individualizam entre todos.
A aceitação da substituição, mesmo que em parte, das suas características individuais por uma reprodução da imagem publicitária em voga, interfere com a identidade da pessoa e pode provocar distúrbios e desequilíbrios.
Penso que seria esta a mensagem que a modelo Isabelle Caro queria fazer vingar com a sua última campanha publicitária.
Cartazes publicitários com fotos de Oliviero Toscani
Callas
Amália
Uma Amália em padrão floral e linda como sempre. Acompanha-a Diamantino Viseu. Ambos faziam o filme Sangue Toureiro.
CF; 1958
CF; 1958
29 de dezembro de 2010
o mundo visto de fajão, ou o que dava conto das abelhas e não das colmeias
um dia o pascoal foi ao val'da cal contar as suas 27 colmeias.
contava, recontava, voltava a recontar e não lhes dava conto.
como não dava conto das colmeias decidiu contar as abelhas.
tantas abelhas contou e recontou que lhe faltava sempre uma.
saiu à cata dela pela serra e encontrou-a nas pedras d’hera com 7 lobos de volta dela a comer-lhe os bocados.
agarrou no cajado e atirou-o aos lobos que fugiram e deixaram os restos da abelha, mais morta que viva, no meio do mato.
o pascoal apanhou os restos da abelha e espremeu-os tão bem que deitaram 7 canadas de mel.
como não tinha onde colocar o mel, tirou 2 piolhos das costas e, com a pele dos piolhos, fez dois odres para guardar o mel.
o pascoal tentou colocar os odres de mel às costas mas, cansado da busca pela abelha, não lhes pôde com o peso.
olhou em volta para ver o que lhe podia acudir, apanhou uma carriça e colocou-lhe os odres com as 7 canadas de mel em cima para os transportar para fajão.
quando sentiu a carga em cima, a carriça voou para cima dum carvalho.
o pascoal, ao ver o mel a voar no lombo da carriça, atirou-lhe com uma machada que desapareceu no mato.
sem mel nem machada, o pascoal deitou fogo ao mato.
a carriça voou com o mel.
ardeu o mato, o carvalho e a machada e o pascoal ficou com o cajado
contava, recontava, voltava a recontar e não lhes dava conto.
como não dava conto das colmeias decidiu contar as abelhas.
tantas abelhas contou e recontou que lhe faltava sempre uma.
saiu à cata dela pela serra e encontrou-a nas pedras d’hera com 7 lobos de volta dela a comer-lhe os bocados.
agarrou no cajado e atirou-o aos lobos que fugiram e deixaram os restos da abelha, mais morta que viva, no meio do mato.
o pascoal apanhou os restos da abelha e espremeu-os tão bem que deitaram 7 canadas de mel.
como não tinha onde colocar o mel, tirou 2 piolhos das costas e, com a pele dos piolhos, fez dois odres para guardar o mel.
o pascoal tentou colocar os odres de mel às costas mas, cansado da busca pela abelha, não lhes pôde com o peso.
olhou em volta para ver o que lhe podia acudir, apanhou uma carriça e colocou-lhe os odres com as 7 canadas de mel em cima para os transportar para fajão.
quando sentiu a carga em cima, a carriça voou para cima dum carvalho.
o pascoal, ao ver o mel a voar no lombo da carriça, atirou-lhe com uma machada que desapareceu no mato.
sem mel nem machada, o pascoal deitou fogo ao mato.
a carriça voou com o mel.
ardeu o mato, o carvalho e a machada e o pascoal ficou com o cajado
(para os não fajaenses, o 'pascoal' é o contraponto popular ao 'juiz' e aos 'fidalgos'. muitas das histórias de fajão se centram nestes 3 grupos: os do juiz com a esperteza de um 'magistrado' cheio de sabedoria popular, os fidalgos com o surrealismo do 'só génios somos 5' e o 'pascoal' com um surrealismo fantástico cheio de inocência.. o meu preferido e o meu conhecido.. espero que os fajaenses não me matem por esta 'fixação' em escrita da história do mel
Um pequeno-grande património...
Pelas ruas e a enviarem-nos interessantes mensagens, os cartazes ou pinturas murais lá estão… Alguns, obrigam-nos a parar e a abrir os olhos, enquanto nos transportam a outros universos... Há os que desaparecem com os caprichos do tempo e ainda aqueles que, concebidos a pensar na voragem do tempo, ficam gravados em memórias e afectos.
Fica-se a magicar no porquê de partilharem os caminhantes opiniões sobre castelos, museus, catedrais e o facto de se ignorar alguns apelos, deixados em paredes de edifícios, por ruas tristes ou iluminadas das cidades percorridas.
(primeira imagem: Sylvie Fondacci)
28 de dezembro de 2010
10 presentes para um natal com a nova música portuguesa, parte 8
8. la la la ressonance, outdoor
a primeira banda que ouvi vinda de barcelos foi nos idos de 71, em vilar de mouros. chamavam-se 'celos' e na memória não ficou grande coisa para além do nome e dum cover dos doors.
passadas algumas décadas, descubro durante a minha estadia de 2 anos em barcelos, uma quantidade de bandas e projectos musicais duma riqueza absolutamente extraordinária para a dimensão da cidade (uns 20 000 habitantes se considerarmos as freguesias urbanas).
os la la la ressonance são um dos maiores expoentes do que se poderia chamar o experimentalismo barcelense, se isso não fosse redutor para a qualidade do projecto.
na verdade, os lllr não são uma banda 'de barcelos': são uma excelente banda em qualquer parte do mundo.
resultantes da mutação musical e de nome dos também excelentes 'the atonishing urbana fall', trazem destes não apenas a totalidade dos músicos, mas também vontade de experimentar novos sons sem limites de género ou espartilhos de estilo.
se os the atonishing urbana fall eram uma explosão de rock mas com a consistência de quem queria muito mais que apenas aquilo, os la la la ressonance são o alargar desse universo rock a uma linguagem mais 'erudita' com experimentalismo do jazz e ainda a energia do rock.
este outdoor não é um disco fácil, propositadamente.
mas é um disco notável, felizmente.
a primeira banda que ouvi vinda de barcelos foi nos idos de 71, em vilar de mouros. chamavam-se 'celos' e na memória não ficou grande coisa para além do nome e dum cover dos doors.
passadas algumas décadas, descubro durante a minha estadia de 2 anos em barcelos, uma quantidade de bandas e projectos musicais duma riqueza absolutamente extraordinária para a dimensão da cidade (uns 20 000 habitantes se considerarmos as freguesias urbanas).
os la la la ressonance são um dos maiores expoentes do que se poderia chamar o experimentalismo barcelense, se isso não fosse redutor para a qualidade do projecto.
na verdade, os lllr não são uma banda 'de barcelos': são uma excelente banda em qualquer parte do mundo.
resultantes da mutação musical e de nome dos também excelentes 'the atonishing urbana fall', trazem destes não apenas a totalidade dos músicos, mas também vontade de experimentar novos sons sem limites de género ou espartilhos de estilo.
se os the atonishing urbana fall eram uma explosão de rock mas com a consistência de quem queria muito mais que apenas aquilo, os la la la ressonance são o alargar desse universo rock a uma linguagem mais 'erudita' com experimentalismo do jazz e ainda a energia do rock.
este outdoor não é um disco fácil, propositadamente.
mas é um disco notável, felizmente.
10 presentes para um natal com a nova música portuguesa, parte 7
7. noiserv, one hundred miles from toughtlessness
noiserv é o nome do projecto pessoal sob o qual se esconde david santos.
é dos projectos mais sólidos da nova música portuguesa e, felizmente, começa a ser reconhecido.
ouvi-o pela primeira vez há uns dois anos, tímido, a agradecer ao pai por lhe ter dado boleia para transportar o material e ao pouco publico por se ter dado ao trabalho de o ir ouvir.
reconheço que este foi dos concertos que mais de deslumbrou: pela completa surpresa; pela qualidade do projecto; pelo que antevia ali de grande músico a seguir com muita atenção.
aquela sobreposição de linhas melódicas para formação da linha harmónica, tem tanto de simples como de fantástico.
comprei nessa mesma noite o seu disco. uma edição cuidadosa e muitíssimo bem elaborada: uma espécie de caderno com lombada de espiral e lápis a convidar a desenhar mais ainda.
a carreira do david santos tem vindo num crescendo permanente, com passagens pela primeira parte do concerto dos 'amália' hoje no coliseu, ou uma tenda a transbordar no último optimus alive.
que esperam as editoras portuguesas para apostar numa carreira internacional deste projecto que pode absolutamente ombrear com os sons duns amiina ou sigur ros?
noiserv, bullets on parade
noiserv é o nome do projecto pessoal sob o qual se esconde david santos.
é dos projectos mais sólidos da nova música portuguesa e, felizmente, começa a ser reconhecido.
ouvi-o pela primeira vez há uns dois anos, tímido, a agradecer ao pai por lhe ter dado boleia para transportar o material e ao pouco publico por se ter dado ao trabalho de o ir ouvir.
reconheço que este foi dos concertos que mais de deslumbrou: pela completa surpresa; pela qualidade do projecto; pelo que antevia ali de grande músico a seguir com muita atenção.
aquela sobreposição de linhas melódicas para formação da linha harmónica, tem tanto de simples como de fantástico.
comprei nessa mesma noite o seu disco. uma edição cuidadosa e muitíssimo bem elaborada: uma espécie de caderno com lombada de espiral e lápis a convidar a desenhar mais ainda.
a carreira do david santos tem vindo num crescendo permanente, com passagens pela primeira parte do concerto dos 'amália' hoje no coliseu, ou uma tenda a transbordar no último optimus alive.
que esperam as editoras portuguesas para apostar numa carreira internacional deste projecto que pode absolutamente ombrear com os sons duns amiina ou sigur ros?
noiserv, bullets on parade
Adivinha
Duas figuras muito conhecidas nos anos 60. Identificais? A Foto está muito esbatida, mas a ver se conseguem. Aliás tenho a certeza que sim.
Jorge Alves e Maria Helena Fialho Gouveia.
Jorge Alves e Maria Helena Fialho Gouveia.
Martírio
Este martírio intenso tem uma imagem muito expressiva...
Revista ABC, 1929
Clicar na foto para ampliar.
Revista ABC, 1929
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27 de dezembro de 2010
Pai Natal
Hoje o dia estava a ser normal como tantos outros, um pouco frio. Fui trabalhar e o dia decorreu como de costume, sem grandes problemas.
Foi o primeiro dia após o natal, já sem cheiro a bacalhau, a rabanadas, a pinheiro de plástico ou a papel de embrulho. Sem brilho de dia especial.
Apesar de tudo saí depois da hora, deviam ser umas 18:30.
Pelo caminho, à porta de uma superfície comercial, encontrei um Pai Natal a pedir esmola. Estranhei e depois de, por simpatia, lhe ter dado uma moeda de um euro, questionei-o sobre a sua situação:
- Já estive na porta da igreja à saída da missa da manhã, mas pouco me deram. Depois de almoço estive a estacionar carros, houve quem me pedisse para tirar uma foto com as crianças, mas moedinhas muito poucas. Esperei que a romena saísse de aqui da porta e aqui estou eu.
- Mas no natal… não ganhou alguma coisa?
- Eu dei tudo o que tinha e fiquei sem nada para mim.
Desejei-lhe boa sorte e continuei o caminho. Em casa esperava-me o jantar, nada de novo, eram restos da ceia de natal.
Lamento mas não consegui identificar a foto
Encerramento para balanço...
(imagem: a-sul)
Muitos se lembrarão de ver, no passado, em época posterior ao Natal e a invadir os primeiros dias de um ano novinho em folha, estabelecimentos comerciais a ostentar os dizeres «encerrado para balanço».
Sendo o comércio tradicional actualmente mais esquecido , surge a ideia de, à semelhança de outrora, proceder a um breve encerramento para balanço, sob a forma de apontamentos soltos…
Trazendo a simples observação da correria consumista cansaços e desejos do regresso à rotina, fica-se a dissecar algumas experiências a pairar entre festas… Não gostando de fazer compras por atacado – ao contrário de tanta gente – fica-se como consciente outsider de um exército responsável pela desarrumação de prateleiras a mobilizar comerciantes , o que ainda torna mais surpreendente algum enfado devolvido à escriba em alguns rostos por detrás do balcão. Mais estranho se torna o azedume, quando são os proprietários a ostentar atitudes hostis , existindo honrosas excepções que merecem destaque pela positiva… É que com tantas alternativas, constitui tortura insistir no regresso a locais onde cada um não se sente bem-vindo…
Passando para o lado de cá do balcão – porque a vida não se divide entre os bons e os vilões – vislumbra-se alguma clientela desencantada, em fintas rumo à caixa …
Nas notícias, a referência ao aumento de acidentes de viação, um deles ainda ontem presenciado no empolgante IC 19, perguntando-se, a propósito, aos nossos botões, se no volume de tráfego e no facto de muitos só pegarem no carro nestes dias se encontrará a explicação…
Encerrando a festa e não com chave de ouro, verifica-se que a experiência da corrida aos ecopontos de uma zona habitualmente pacata se revela supreendente, tendo de se distribuir os resíduos da festa por vários locais: parece que na fúria de se restituir à home, sweet home o regresso ao quotidiano, muitos desistem de depositar os despojos festivos no interior de contentores adequados, sendo o cenário semelhante ao de uma greve dos colectores do lixo. Afigura-se à própria - com alguma dose de mau feitio, mesmo que por vezes controlado- que seres humanos há a merecer melhor ambiente festivo do que outros… E assim se goram os ideais da revolução francesa, da tal igualdade (substituiria a fraternidade pela mais grata solidariedade)… Chega à memória uma leitura distante de um artigo do Guardian a referir que, na velhinha Albion, quem trabalhava na recolha de resíduos auferia de muito melhor vencimento que um empregado de escritório menos qualificado, embora a generalidade dos cidadãos do país preferisse uma profissão «limpa» (white collar), mesmo que de inferior remuneração… Certamente que a quadra não será só isto e, sem dúvida, os apontamentos soltos terão surgido porque o dia amanheceu cinzento e frio…
Dupla adivinha
Um grande actor interpretando um grande personagem.Portugueses. Adivinham?
Raul de Carvalho no filme Bocage.
Raul de Carvalho no filme Bocage.
Passou-se
Esta deverá ser uma das frases mais ouvidas hoje sobre o Natal que finda. Algum cansaço por um tempo em que, apesar dos resquícios de tradição, para muitos um anúncio do Azeite Gallo, nada mais. Os substitutos, por outro lado, não auguram grande coisa: discotecas, jantares de amigos em restaurantes, ou seja, mais do mesmo. Como nova tradição deixa um bocado a desejar, mas isto sou eu que sou já de outro tempo.
Que as festas tenham sido felizes é o que posso nesta altura desejar, que o trabalho continua agora.
26 de dezembro de 2010
Domingos de sol...
Em domingo de sol, fica-se como que a desculpar à chuva o tempo agreste dos últimos tempos. A paisagem enfeitou-se de um verde esmeralda e a água abundante das chuvas canta pelos campos... E surge na memória um jogo semântico e, quem sabe, se matemático.
Nessa mata ninguém mata,
a pata que vive ali,
com duas patas de pata,
pata acolá, pata aqui.
Pata que gosta de matas
visita as matas vizinhas,
com as suas duas patas
seguida de dez patinhas.
E cada patinha tem,
como a pata lá da mata,
duas patinhas também
que são patinhas de pata.
Sidónio Muralha, A dança dos pica-paus
Camping
O propósito do almanaque era não só divertir, mas formar as famílias. Esta é das primeiras menções que vejo feitas à prática do campismo, que viria a reencontrar mencionado na Revista Panorama nos anos 40. Relembro que o Lello foi feito à imagem do Hachette, embora poucos anos tenha durado. Aqui reportamo-nos a 1930.
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25 de dezembro de 2010
Preparativos do dia: duas propostas
Em correrias para o natalício repasto , o pessoal contributo do dia, ficando a pairar a ideia do excessivo consumo de substâncias «colestrólicas», o que levará a um cuidado redobrado após a quadra.
Com o peixe mais consumido na época, uma quiche improvisada, dado ter saído gorado o plano de preparar uma saladinha de grão e bacalhau – tanto do agrado dos parentes de Évora - com as sobras da consoada. Encontrando-se todos os estabelecimentos da área encerrados, teve de se fazer a "quiche lorraine" adaptada a "quiche portugaise". A massa é a da receita clássica, com 200 gr de farinha, 125 gr de margarina, 1 ovo, 0,5 dl e água e sal, tudo amassado (margarina derretida) e descansando um pouco, a fim de se poder estender fina... Confessa-se aqui que, em existindo massa adquirida já comprada é esta a solução mais prática.
O recheio é feito com bacalhau desfiado, cozinhado com cebola da horta às rodelas e pedaços de espinafre pré-cozinhado. Sobre a massa e o recheio, deita-se ainda um pacote de natas (magras, para iludir...) e dois ovos, sal e pimenta qb.
Como segundo contributo, pato desfiado e pré-cozinhado envolto em massa folhada que se pincela com gema de ovo… E assim se pensa em todos : os que consomem carne e aqueles que, não sendo 100% vegetarianos, aceitam de quando em vez pratos de peixe.
Com o peixe mais consumido na época, uma quiche improvisada, dado ter saído gorado o plano de preparar uma saladinha de grão e bacalhau – tanto do agrado dos parentes de Évora - com as sobras da consoada. Encontrando-se todos os estabelecimentos da área encerrados, teve de se fazer a "quiche lorraine" adaptada a "quiche portugaise". A massa é a da receita clássica, com 200 gr de farinha, 125 gr de margarina, 1 ovo, 0,5 dl e água e sal, tudo amassado (margarina derretida) e descansando um pouco, a fim de se poder estender fina... Confessa-se aqui que, em existindo massa adquirida já comprada é esta a solução mais prática.
O recheio é feito com bacalhau desfiado, cozinhado com cebola da horta às rodelas e pedaços de espinafre pré-cozinhado. Sobre a massa e o recheio, deita-se ainda um pacote de natas (magras, para iludir...) e dois ovos, sal e pimenta qb.
Como segundo contributo, pato desfiado e pré-cozinhado envolto em massa folhada que se pincela com gema de ovo… E assim se pensa em todos : os que consomem carne e aqueles que, não sendo 100% vegetarianos, aceitam de quando em vez pratos de peixe.
24 de dezembro de 2010
O Natal voa
Está frio, as pessoas deslizam pela rua, já se sente o trânsito, há qualquer coisa no ar, talvez uma certa ansiedade, ou apenas o tempo a passar muito depressa. Na minha rua há silêncio. A maior parte das pessoas estão na "terra". Resto eu, alguns resistentes e os vizinhos brasileiros. Penso que terei de inventar uma receita de arroz de pato para o almoço de Domingo, a pedido da pequena M, e em que livros pegarei para limpeza interior. Decido-me pelos cadernos de Agata Christie, recentemente editado e prometo a mim mesma que vou arrumar pelos menos os almanaques velhos. Pelo menos. E ver um filme. Do João Canijo, pois então.
A quem for de Natal, desejo umas boas festas e a quem como eu o acarreta com paciência, lembro que são só dois dias. E é isto.
AML/Foto de Arnaldo Madureira, 1961
A quem for de Natal, desejo umas boas festas e a quem como eu o acarreta com paciência, lembro que são só dois dias. E é isto.
AML/Foto de Arnaldo Madureira, 1961
Um cíclico cessar-fogo
Olhando para o exterior fica-se a pensar que, pela primeira vez, só há menos de 24 horas se conferiu à casa alguns dos brilhos da época... Caixas trazidas da confusão do sótão pela energia das gerações mais jovens, responsáveis por cores e enfeites.
Dias em que lugares vazios em torno da grande mesa familiar reavivam passados... Agradece-se então à natureza o seu carácter cíclico, a fazer renascer espantos e risos de criança pela casa... Momento de sonhar com um cessar-fogo com temporários esquecimentos, no que diz respeito a preocupações comuns à generalidade.
Ganha sentido a lição literária do circular percurso do Cavaleiro que se inicia e conclui no aconchego do lar e a que não ficam alheias as marcas de recontos orais, como a da vida do pintor Giotto ou de Dante, por entre chamas, em busca de Beatriz:
[...] quando chegou em frente da claridade viu que não era uma fogueira. Pois era ali a clareira de bétulas onde ficava a sua casa. E ao lado da casa, o grande abeto escuro, a maior árvore da floresta estava coberta de luzes. Porque os anjos de Natal a tinham enfeitado com dezenas de pequenas estrelas para guiar o Cavaleiro.
Sophia de Mello Breyner Andresen, O Cavaleiro da Dinamarca
Natal dos pobres
"Os pobres são como os rios. Estancam a sede da terra, fazem inchar as raízes e crescer as árvores; acarretam; moem o pão nos moinhos. Ei-la, a vida da terra. Todas as catedrais se construíram da sua dor; sem eles a vida pararia. (...)
As lágrimas que se choram e se não vêem são as melhores: caem sobre a alma"
Texto de Raul Brandão, Desenho de Bernardo Marques, 1956
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As lágrimas que se choram e se não vêem são as melhores: caem sobre a alma"
Texto de Raul Brandão, Desenho de Bernardo Marques, 1956
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