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Sophia Mello Breyner Andresen sempre se admirou por as pessoas celebrarem a passagem do ano, dizia ela que o ano está sempre a passar. Há quem nunca deseje bom ano a ninguém, dizem que dá azar. E há a velha sabedoria que nos diz que os anos só são novos enquanto os novos somos nós.
Se viram um amável filme da norte-americana Nora Ephron, com Meg Ryan e Billy Cristal, “When Harry Meet Sally”, que, parvamente, em português se chamou, “Um Amor Inevitável”, o filme em que a Meg Ryan simula um orgasmo em pleno snack e, finda a performance, a cliente da mesa ao lado, que esperava para fazer o seu pedido, volta-se para o empregado e diz: “quero o mesmo que aquela senhora”, e certamente lembrar-se-ão que quase no final do filme, quando, numa festa de fim de ano, Harry reencontra Sally, começam a ouvir-se os acordes de “Auld Lang Syne”, e Henry diz que nunca entendeu o significado da canção pois diz que os velhos conhecidos devem ser esquecidos ou que se os esquecemos devemos recordá-los mas como recordar se já os esquecemos? Sally não tem resposta mas, sorrindo, acaba por lhe dizer: “seja o que for é uma canção sobre velhas amizades”.
Chegamos a bom porto: velhas amizades, lembrar os que já não estão connosco, com os que estão, os que ainda fazem do Natal a festa dos amigos, celebrar a amizade. sempre, enquanto não chega a hora do adeus. Fará isso.
Mas também quer deixar, aos viajantes que diariamente atravessam esta rua, aos contribuidores, que tentam que a rua continue viva, o desejo que a viagem, pelos dias do novo ano, seja uma viagem tranquila, ao mesmo que não quer deixar de lembrar a velha tia, que repetia sempre os mesmos votos de Ano Novo: “não se pede grande coisa: trabalho e saúde...”