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26 julho 2008

O JOGO DE DeNIRO



Acabei de ler "De Niro's Game" do escritor líbano-canadiano Rawi Hage, que foi recentemente editado entre nós pela Civilização Editora com o estranho título "Como a Raiva ao Vento" (não percebo muito bem porque é que não traduziram o título inglês, mas enfim). Como o li em inglês, não sei como é que será a tradução portuguesa. No entanto, este é um livro a comprar. Um livro óptimo para as suas férias do Verão.

Este é o primeiro romance de Rawi Hage, um livro que recebeu em, Junho último o prémio literário mais generoso do mundo, o International IMPAC Dublin Literary Award, para o qual livros de todos os países podem concorrer. O livro merece o galardão. Hage descreve magnificamente a história de dois rapazes que crescem no ambiente violento da guerra civil libanesa. Beirute é uma cidade cercada e dominada pelas milícias cristãs, muçulmanas e comunistas. Bassam e George (De Niro) vivem as atribulações e as idiossincracias da guerra e são moldados pela mesma. Hage transporta-nos para a vida em Beirute durante a guerra, com todos os seus excessos, perigos e contradições. Apesar dos estilos serem muito diferentes, Rawi Hage é uma espécie de Khaled Hosseini do Líbano. Um livro fabuloso que vale a pena ler.

12 abril 2008

O FIM DO ALFABETO



O que faria se lhe dissessem que tem um mês para viver? Viajar? Viver os últimos dias intensamente? Sentar-se e esperar a morte? Rezar até ao fim dos seus dias? Converter-se a uma religião nunca dantes praticada? Viver exactamente como dantes? Reviver o passado?
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Um mês para viver. Este é o tema de “The End of the Alphabet”, um pequeno grande livro de um autor desconhecido até agora. C.S. Richardson trabalha na indústria literária há mais de 25 anos, mas não como escritor. É book designer, já premiado com alguns dos galardões da indústria. Apesar da ideia não ser nova, o livro é tudo menos um cliché. A escrita é sóbria. O ritmo é perfeito. Frases curtas. Lentas. Cheias de significado. Intensas.
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Lê-se num fôlego. Um livro altamente recomendável. Não sei se a tradução portuguesa já está a ser feita. Esperemos que sim. Se não, aconselha-se vivamente que as editoras nacionais não deixem passar esta oportunidade para publicar uma obra simplesmente notável.
Aqui está uma sinopse do editor canadiano:
“The End of the Alphabet is about Ambrose Zephyr, an absolutely average man who is content with the habit of his days. His only extraordinary aspect is his utter passion for his wife of some years, Zappora Ashkenazi, whom he calls Zipper. Zipper is elegant and distinctive, and Ambrose is besotted with her; even after years of marriage, he simply cannot understand what she sees in him. When Ambrose fails his “annual medical exam” and is told by his doctor that he has only a month to live, he decides to contradict his impending death by embarking on a wild journey, an alphabetical “grand tour” of all the places on the globe that demand visiting. And thus begins a frantic odyssey, from Amsterdam to Berlin to Chartres to Paris to Florence and onwards, with Ambrose trying to outrun his limited time by gulping down all the sights of a bountiful world and its infinite variety. Zipper travels with him, watching her husband’s physical erosion and struggling to negotiate her own pain and grief. Until gently, quietly, the two of them reach an understanding about love and mortality. Instead of going for the easy structure of the complete alphabet, Richardson interrupts their journey and they return to their London home to face together the final and most inevitable destination, death.”

01 março 2008

GLOBALIZAÇÃO

Nunca canso de me espantar com o nível de ressentimento e desconfiança que muitos dos meus alunos têm em relação à globalização. Quase todos(as) são de Sociologia, Filosofia ou Antropologia. Alguns de Ciência Política. De um modo geral, os(as) de Economia ou Gestão não são tão cépticos(as). Mesmo assim, é perfeitamente claro que, apesar de todos(as) terem uma opinião sobre o assunto, o nível de ignorância é grande. E as causas e consequências da globalização são simplesmente desconhecidas por uma grande maioria das nossas populações.
É neste contexto que se deve saudar a tradução e publicação do livro de Martin Wolf (acima) pela Dom Quixote.
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O livro de Wolf divulga e sintetiza os principais factos que a investigação sobre a globaliza tem descoberto. Quais são estes factos? Em primeiro lugar, a globalização não é um fenómeno recente. No século 19, houve uma era de globalização pelo menos tão significativa como a actual. Esta era de globabilização acabou quando algumas tendências proteccionistas passaram a dominar a ideia de comércio livre.
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Em segundo lugar, existem muitas ideias falsas e muitos mal entendidos em relação à globalização. A globalização não é um fenómeno liderado pelos Americanos. De um modo geral, os salários não baixaram por causa da globalização. A globalização não é a causa de uma maior desigualdade de rendimentos. E até o trabalho infantil não aumentou devido à globalização. Todos estes são mitos que os economistas desfizeram e que são analisados por Wolf neste livro, o qual demonstra inequivocamente que a solução para muitos dos problemas económicos do mundo não é descartar a globalização, mas sim reformá-la.
Um livro a não perder para quem quer perceber melhor as reais consequências da globalização.

03 fevereiro 2008

AS CONTRADIÇÕES TURCAS

Numa altura em que as águas turcas andam novamente agitadas por causa da questão do laicismo do Estado fundado por Atartuk, com milhares de pessoas nas ruas a exigirem que o governo volte atrás na decisão de permitir o uso do véu islâmico nas universidades, vale a pena revisitar uma das obras mais importantes do escritor e Prémio Nobel Orhan Pamuk. De certa forma, Pamuk é ele também o espelho dos conflitos e contradições que rasgam a sociedade turca. Laico e republicano, a sua escrita e posições políticas dão azo a paixões e reacções tão extremas como a própria sociedade turca. Odiado pelos republicanos radicais e pelos islamistas, ainda há dias surgiram notícias de um atentado gorado que tinha objectivo assassiná-lo. Ora, na obra de Pamuk, nenhum livro retrata tão fielmente as contradições da sociedade turca como Snow ("Neve"), ainda não publicado entre nós (mas certamente em vias de o ser). O livro narra a história de Ka, um poeta emigrado na Alemanha, que regressa à Turquia para investigar uma vaga de suicídios em Kars, uma cidade numa das zonas mais remotas do país. Sem dar por isso, aos poucos, Ka vê-se envolvido numa teia de tensões e contradições, em que as várias facções existentes na cidade (os islamitas, os moderados islâmicos, os republicanos, os extremistas seculares) se confrontam (em sentido literal e figurado) pelo controlo da cidade e do país. É igualmente neste livro que a questão do genocídio armeno ganha alguma relevância, ao ser denunciado por uma das personagens. Foi devido a esta cobertura da questão armena que Pamuk tem sido alvo de atentados.
Por tudo isto, este é um livro que vale a pena ler. Por tudo isto, esta é uma referência indispensável para percebermos a Turquia moderna. E se as primeiras páginas são mais densas e opacas do que, por exemplo, o celebrado "O Meu Nome é Vermelho" (publicado pela Presença), a acção torna-se decisivamente emocionante ao longo do livro. Uma obra difícil de esquecer.

18 janeiro 2008

LIVRO DA SEMANA (3)

Um dos livros mais badalados no mundo anglo-saxónico em 2007 foi "In the Country of Men" (com o título "Em Terra de Homens" entre nós), o romance de estreia de Hisham Matar, um exilado líbio no Reino Unido. O livro conta a história narrada por Suleiman, um menino de 9 anos, que passa pela traumática experiência de ver o pai "desaparecer" devido às suas convicções políticas (contra o regime ditatorial de Kadafi). O alcoolismo da sua mãe, bem como o calor intenso e a luz do deserto são bem retratadas por Matar e são imagens que ficam na memória. O romance retrata algumas das contradições e das tiranias mais comuns das ditaduras.
Não é um livro fantástico ou inesquecível, mas, mesmo assim, vale a pena ler. Nem que não seja para descobrirmos um pouco mais desse país distante e misterioso que é a Líbia.

12 janeiro 2008

LIVRO DA SEMANA (2)

Muitos despertaram para a literatura turca quando Orhan Pamuk ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 2006. Aqui estava uma janela para um mundo distante, um mundo cheio de contradições, um mundo em que o passado e o futuro se confundem, um mundo em que os secularistas não são necessariamente melhores que os islamistas, um mundo permeado por tensões religiosas e culturais. Se gostou de Pamuk, então é hora de conhecer Elif Shafak.
Shafak ficou conhecida no mundo ocidental pelas razões erradas. Depois de publicar o seu romance mais recente, "The Bastard of Istambul" (na foto), Shafak foi acusada de atacar a cultura turca ao caracterizar o massacre dos Arménios na Primeira Guerra Mundial como um genocídio. Como Pamuk, as acusações foram mais tarde retiradas.
Contrariamente aos seus cinco livros anteriores, The Bastard of Istambul foi escrito em inglês, provavelmente por razões comerciais e, quiçá, como um desafio pessoal da escritora que também é professora de literatura turca na Universidade de Arizona.
O livro relata a história de duas famílias. Uma vive em São Francisco e tem ascendência armena. A outra é a turca e reside em Istambul. No romance, o passado e o presente interagem constantemente, e o confronto entre as duas culturas é uma das características mais interessantes da história. No final percebemos que, afinal, as duas famílias e as duas culturas têm muito mais em comum do que parece à primeira vista.
Não sendo uma obra-prima, este é um livro que vale a pena ler. A escrita de Shafak é mais colorida, mas menos elaborada do que Pamuk. Não tendo as subtilezas dos romances de Pamuk, a escrita de Shafak dá-nos uma outra visão sobre esse mundo fascinante, onde tantas culturas e religiões confluem, que é a Turquia. A obra de Shafak merece ser conhecida pelo público português e, por isso, esperemos que surjam traduções dentro em breve.

05 janeiro 2008

LIVRO DA SEMANA (1)



Em 2007, um dos livros mais badalados no mundo anglo-saxónico foi The Road de Cormac McCarthy ("A Estrada" entre nós, publicado pela Relógio D'Água). Esta é a história da viagem de um pai e de um filho por entre os escombros e o que resta do mundo após um desastre nuclear. Do princípio ao fim, a paisagem é desoladora. Angustiante. Enervantemente real. Possível. Desta tragédia apocalíptica somente restam alguns humanos, que fazem tudo (tudo mesmo) para sobreviver. Pai e filho também tentam sobreviver, percorrendo uma estrada em direcção ao mar. No sentido da esperança. Uma fútil e vã esperança.
Nos últimos anos têm surgido bastantes visões trágicas sobre o nosso futuro comum, das quais se destacam o fabuloso Oryx and Crake da canadiana Margaret Atwood (uma das candidatas ao Nobel este ano), ainda não publicado entre nós (incompreensivelmente, digo eu). Este não é mais um romance sobre as consequências de um desastre nuclear. Este é o romance sobre as consequências de um desastre nuclear. O enredo é captivante. O ritmo de escrita é perfeito. Lento. Penoso. Doloroso.
Quem o ler certamente que nunca esquecera as paisagens de cinza e destruição relatadas por McCarthy. Um livro a comprar. Hoje, se possível.
Estrelas: 4 e meia