Pela manhã - e ainda por pouco, fresca -, imprevistamente, junto aos contentores de lixo devassados pelo casal dos sem-abrigo, que cedo os costumam triar, estava um pequeno ursinho vermelho, de peluche (não, não é o da imagem, mas era semelhante), desamparado, ao abandono. E porque me lembrou o meu Tinzinho dos pés rombos, acastanhado, tive ainda a tentação de lhe pegar e levantar do chão, para o colocar em posição mais digna, mas desisti da ideia e lá segui o meu caminho, para ir comprar o jornal.
Na esplanada do café, na mesa do canto, lá estava a ex-professora de cabelo crespo, desgrenhada, que, como sempre perorava para outras duas, mais jovens e no activo, que tomavam o seu café matinal antes de pegarem ao serviço, na Escola próxima. A veterana e aposentada professora sempre me pareceu passada... E, ao contactar as mais novas, julgo que procura a ilusão de dar conselhos, de forma atabalhoada, para se sentir ainda activa e útil. Penso que os anos, que passou em Timor, lhe fizeram mal e foram fatais...
Serão duas formas de solidão matinal. O ursinho imprestável, orfão e descartado pela criança que cresceu de forma ingrata; e a professora que procura integrar um diálogo profissional desajustado, com as mais novas, que quase sempre sorriem para ela, de forma compassiva.
Quando regressei a casa, o ursinho vermelho de peluche ainda lá estava, abandonado. E quase tive pena dele, no seu desemprego de afectos...