Mostrar mensagens com a etiqueta Truman Capote. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Truman Capote. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A Harpa de Ervas - Truman Capote


Comentário:
Há muito tempo não lia uma obra de prosa tão poética. A escrita de Capote, servida por uma boa tradução nesta edição Sextante, revela uma musicalidade impressionante e o título da obra dá bem o tom dessa música: o vento inclina a erva, fazendo-a soltar uma espécie de zumbido, um conjunto de ecos que parecem sintetizar vozes humanas que cantam em uníssono.
Está dado o mote para um magnífico livro, bem típico da época em que foi escrito, o início dos anos 50 do século passado; época de ilusão e de esperança para muitos mas de pessimismo para outros. Entre esses descrentes, alarmados pelo império do capitalismo, pelo macartismo cada vez mais violento, pelo racismo e injustiças sociais, encontramos os escritores do movimento “Beat”, como são os casos de Capote e Kerouac.
Neste contexto, este livro é um intenso apelo à liberdade; ao direito que cada um deveria ter à diferença, a comportamentos socialmente atípicos e a todo um conjunto de pensamentos e comportamentos que devem ser respeitados. Assim, as personagens principais deste livro são seres antissociais, pessoas renegadas pela sociedade, perseguidos pela cor da pele, pela “deficiência” ou, como é o caso do narrador, por ter sido abandonado pelos pais. É neste aspeto que o livro é bastante autobiográfico – também Capote foi um jovem rejeitado pelas sociedade, um desenraizado, abandonado pelos pais.
Trata-se então de um livro típico desta época da escrita norte-americana, num belo estilo poético. Não é um livro grande; não é um livro com um grande enredo; mas é uma obra que prima pela beleza da própria escrita e por um belíssima mensagem de liberdade.

Sinopse (in wook.pt)
«Quando é que ouvi falar pela primeira vez da harpa de ervas? Muito antes do outono que passámos na amargoseira; num outono anterior, portanto; e, como não podia deixar de ser, foi Dolly quem me contou, pois mais ninguém se lembraria de lhe chamar isso, uma harpa de ervas.»
O narrador e protagonista desta maravilhosa história, Collin Fenwick, é órfão e tem onze anos quando vai viver para a casa das duas irmãs Talbo. História emocionante de desadaptados, inspirada numa memória de infância, A harpa de ervas é o terceiro romance de Truman Capote, originalmente publicado em 1951.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Boneca de Luxo - Truman Capote

“Boneca de Luxo” é a história de uma jovem actriz, Holly Golightly (Lulamae de seu nome verdadeiro), que foge de um passado sofrido para o luxo e a luxúria de Nova Iorque. “Em viagem” é a frase que coloca na sua caixa de correio; de facto, ela procura na vida uma eterna viagem que a leve até ao âmago da existência, por caminhos incertos mas iluminada por um objectivo: a realização pessoal, a sua afirmação como pessoa.
Boémia e mundana, Holly envolve-se numa existência povoada de vícios, com uma conduta que a sociedade carimba de devassa e imoral. No entanto, ela nunca deixa de expressar os seus valores morais. Ao longo da narrativa, é visível a superficialidade das relações humanas na grande cidade e a futilidade daqueles que a procuram em nome do corpo e da satisfação do prazer.
No entanto, Joe Bell e George Peppard, o escritor fracassado, são diferentes. Eles alimentam por Holly uma amizade profunda e verdadeira, talvez aquele amor que a cidade lhe recusa. Este amor, que nada tem de carnal, dispensa qualquer erotismo e mesmo a própria presença física. É Joe Bell quem define este amor, de forma eloquente e terrivelmente bela:
“Podemos amar uma pessoa sem ser dessa maneira. Mantemos as distâncias, é uma pessoa amiga que não deixa de nos ser estranha.”
Peppard segue os passos de Holly e caminha sempre ao seu lado, ao contrário da grande cidade que apenas a admira e utiliza nos seus desejos fúteis. No entanto, Holly permanece fiel ao seu passado; Doc, o ex-marido resgatara-a da miséria e a ele se unira com tenra idade. Para Holly, ele mantém-se o verdadeiro dono do seu afecto. Neste aspecto, as amarras do passado são intransponíveis.
“Mas, Doc, eu já não tenho catorze anos nem sou a Lulamae. (…) Mas o pior é que sou mesmo”.
Nessa quase infância, Doc libertara-a da miséria mas aprisionara-lhe os sentimentos; e Holly era como um animal selvagem que ele pretendeu enclausurar. Na grande cidade, procurou libertar-se desses grilhões, no entanto, apenas encontrou o desprezo vil da soma de egoísmos a que chamamos sociedade ou civilização.
Para Holly restou a necessidade de continuar “em viagem”.