Mostrar mensagens com a etiqueta Rosa Lobato de Faria. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Rosa Lobato de Faria. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O Prenúncio das Águas - Rosa Lobato de Faria

O caminho é em frente e só o amor tem a força de apartar as águas

Depois de ter lido três livros de Rosa Lobato Faria, fiquei impressionado com a sensibilidade extraordinária desta grande senhora da literatura portuguesa. Li em vários sítios que este é o melhor livro da autora. E parece que assim é. O Prenúncio das Águas é um texto riquíssimo e agradável. Acima de tudo, a escrita de RL Faria apela, na minha mente, a um único adjectivo: doce. Uma escrita leve, melodiosa que desperta o irresistível prazer da leitura.
Eugénio Lisboa adjectivou de “gótica” a imaginação da autora. Penso que é uma caracterização muito feliz, não no sentido histórico do termo mas como definição de um envolvimento místico e simbólico. A água surge ao longo da narrativa como símbolo da renovação mas também da destruição; da vida mas também da morte. O prenúncio das águas acaba por ser o destino dos mortos e dos vivos que se adivinha na subida da água do rio.
Note-se que este livro foi escrito em 1999, altura em que a barragem do Alqueva ganhava forma, obrigando à deslocalização da povoação da Aldeia da Luz, como acontece no romance com Rio do Anjo. Na aldeia que vive os seus últimos dias, Filomena, ex-emigrante desiludida da vida, procura as suas raízes e a partir delas uma espécie de renascimento. Aí conhece Ivo Durães, um professor reformado. Mas a paixão terá de ser repartida com Zé Nunes, um personagem peculiar. O drama do triângulo acentua-se ao longo da obra até ao inevitável fim trágico. Pelo meio está Pedro, o filho de Zé Nunes, uma criança sonhadora e genial que desperta em Filomena um comovente amor maternal.
A extraordinária caracterização psicológica das personagens atinge o seu expoente máximo, na minha opinião, com a figura de Zé Nunes, um personagem fortíssimo a fazer lembrar Heathcliff, do Monte dos Vendavais. Ele é uma força fruta, a fúria da natureza em forma humana. O sexo é a força natural avassaladora que, como o rio, destrói, devasta e desencadeia paixões. Uma personalidade brutal, puro instinto aliado a uma inteligência prática que o transforma num monstro ou num herói, conforme a perspectiva do leitor.
 Avaliação Pessoal: 9/10

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Trança de Inês - Rosa Lobato de Faria

A criatividade e a imaginação de Rosa Lobato de Faria parecem não ter limites. Este é um livro lindíssimo. Pedro é um empresário de sucesso que se perde de amores por Inês. Mas este amor está condenado à tragédia. O seu destino será o da loucura, como diria o comum dos mortais. Ele, o louco, é Pedro Rey no século XXII mas também Pedro o Cru no século XIV. Três tempos, três mundos, três destinos, um único amor. Universal. Sem tempo nem medida.
Com assinalável rigor histórico, Rosa L. Faria conta-nos a sempre apaixonante e trágica história de Pedro (Príncipe e depois Rei de Portugal) e Inês de Castro. Transpõe a história para a actualidade e também para o futuro para nos relembrar que o amor e o ódio são intemporais.
Por isso, este é um livro que nos pode fazer sonhar mas também chorar; é um testemunho das emoções mais extremas que um ser humano pode viver; é um testemunho também da maldade, da insensibilidade que assola alguns seres humanos, sempre prontos a defender a mais hipócritas concepções de moral e normalidade, fazendo do amor uma manifestação de loucura.
Se Dostoievski teorizou como ninguém o conceito literário de “loucura normal”, Rosa Lobato de Faria transporta-o para a realidade. Ao ler este livro somos forçados a ver e viver a tragédia. A sentir as emoções à flor da pele. A sofrer com Pedro, a chorar as suas lágrimas.
É um livro enternecedor. O estilo simples e objectivo é um dos grandes trunfos desta escritora; não há descrições inúteis nem reflexões supérfluas e maçadoras com que alguns escritores de sucesso gostam de adornar a prosa. Uma escrita arejada, desempoeirada, simples e bela como a vida.
Talvez por ter sido guionista para séries de televisão; talvez por ter começado bastante tarde a escrever romances; talvez por falta de divulgação, o certo é que Rosa Lobato de Faria ainda não tem a consagração pública que a sua obra merece. Os seus livros são curtos, incisivos, directos, mas tremendamente criativos. Penso que ela merece um lugar de destaque entre os melhores escritores portugueses de sempre. E é uma pena que as nossas televisões só se recordem dela como actriz de séries e telenovelas de qualidade muito duvidosa.
Imagem retirada daqui.

domingo, 18 de abril de 2010

A Alma Trocada - Rosa Lobato de Faria

Ler Rosa Lobato Faria é como receber na face uma brisa fresca em pleno Verão. É um presente que damos à alma quando o cansaço ou a tristeza nos invadem. Que leveza, que aragem suave, que fluidez de palavras!
Este livro não é uma obra-prima, não é um clássico, não é um tratado de coisa nenhuma. É apenas isso: uma aragem talvez do Monte Alentejano onde decorre parte da acção. É um livro que se lê sem o mais pequeno esforço, sem necessidade de reflectir em mensagens complicadas e profundas.
A enorme experiência de Rosa Lobato Faria a escrever guiões para televisão talvez tenha contribuído para esta facilidade em contar histórias sem maçar, sem cansar.
Trata-se da história de Teo, um jovem professor de francês que se define como “o gajo mais chorão de toda a comunidade gay”. Desde logo é evidente a luta pela afirmação do direito à diferença mas o livro vai bem mais longe: os problemas de relacionamento entre Teo e Hugo ou a busca desesperada da sua identidade não são problemas específicos de um homossexual; são problemas humanos. Tão só.
Teo tem a alma trocada. Aparente e provisoriamente, só. Ao longo do enredo, Teo vai descobrindo que a sua alma é una e única. Ele não é o professor de francês que tem uma vida paralela como homossexual. Ele é um e único. Sem esta descoberta nunca seria feliz, nunca encontraria a sua identidade. Teo é, como todos os seres humanos, um homem que sofre porque ama embora não saiba o que é o amor. É um homem indeciso como qualquer outro, forçado pela vida a fazer opções e a sofrer as devidas consequências.
Como qualquer um de nós, Teo procura a liberdade como condição essencial à vida. Procura oxálida, plátano, miligrã, palavras que inventa porque elas são liberdade, são criação, são aventura. Porque não é preciso saber o significado das palavras; é preciso procurá-las. Basta procurá-las…
Um livro cheio de sensibilidade, de leveza de espírito, essa leveza sem a qual ninguém consegue libertar-se das amarras da opressão, sejam elas do nosso próprio espírito ou da sociedade que nos inserimos. Um livro que deveria ser de leitura obrigatória para determinadas mentes… um livro onde se respira liberdade, amor, ternura… (ia escrever xarel, hidranja, phisalis mas não quero exagerar).

* Quadro reproduzido na capa do livro (edição ASA)
imagem retirada daqui 

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

A Estrela de Gonçalo Enes - Rosa Lobato Faria

Trata-se de uma obra leve e descontraída sobre a vida e aventuras de dois personagens quase esquecidos da História de Portugal, mais especificamente da época das descobertas. São personagens reais se bem que quase todo o enredo seja ficcionado. Gonçalo Enes ficou na História pela descoberta das grutas de Tassili N’Ajjer. Trata-se de um jovem órfão de pai nascido e criado na aldeia algarvia de Bensafrim. Encantado pela estrela Sirius, que o ilumina e encanta durante toda a vida, o jovem Gonçalo, desiludido por um amor impossível, abre o seu destino às incríveis aventuras do Império que El-rei D. Afonso sonhava construir. Pelas aldeis indígenas de àfrica, pelas cidades encantadas de Marrocos, pelas areias misteriosas do deserto, Gonçalo leva consigo o espírito de aventura e coragem que transformou este pequeno país num mundo inteiro de esperança e riqueza. Fica, desta “estória”, o encanto de um tempo ido, em que a pobreza se enganava com sonhos grandes, do tamanho do Império. Um liuvro belo e fresco, descontraído, sem ambições mas que encanta pela extraordinária simplicidade e singeleza da escrita de Rosa Lobato Faria; uma escritora que tem o dom de encantar pela sua escrita simples e pura. Gonçalo, mal-amado e desprezado, vive no sonho, mas um sonho que o faz feliz. A amizade, a camaradagem, a fidelidade ao sonho são valores que fazem dele um herói, mesmo que esquecido pela História, como tantos outros que, anonimamente, construíram as páginas mais brilhantes da nossa história.