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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mansfield Park - Jane Austen



Sinopse:
A tímida Fanny Price vive desde criança com parentes ricos em Mansfield Park, uma bela propriedade no interior da Inglaterra. Com o tempo, aproxima-se de Edmund, único entre seus primos que compartilha sua paixão pelos livros. A chegada dos irmãos Henry e Mary Crawford à vizinhança encanta todos os habitantes de Mansfield Park – exceto Fanny, a única capaz de perceber a imoralidade dos recém-chegados. Dotada de uma fantástica ironia e uma incrível capacidade de observação, Jane Austen retrata a sociedade inglesa do início do século XIX. Com sua trama repleta de conflitos sentimentais e personagens frívolas, sonhadoras e ambiciosas, este romance destaca o triunfo da verdadeira virtude sobre as aparências. Esta edição de bolso teve tradução de Mariana Menezes Neumann.

Comentário:
Não sendo eu um apreciador, nem sequer leitor dedicado de Jane Austen, decidi adquirir e ler este livro devido a uma afirmação que consta da contracapa, onde se diz que este é um dos livros menos admirados pelos apreciadores de Jane Austen. Se os apreciadores não gostam, talvez eu goste - foi a minha estranha perspectiva  Depois de ter saído francamente desiludido da leitura de Orgulho e Preconceito, tinha esperança de encontrar algo de diferente neste livro.
E, na verdade, este é um livro bem diferente. A crítica social está aqui bem patente; Austen vivia um pouco à frente do seu tempo, denunciando a escravatura, por exemplo (o pai adotivo de Fanny tinha negócios nas colónias que envolviam mão de obra escrava).
Mas são, acima de tudo, os casamentos de conveniência criticados pela autora. Fanny é vítima dessa mentalidade e recusa-se a aceitar esse tipo de casamento. Ela é uma voz rebelde na Inglaterra vitoriana conservadora. No entanto, a fragilidade da personagem deixa o leitor algo perplexo: por um lado ela rejeita a submissão mas, por outro, não tem a força que os leitores assíduos de Austen admiram nas suas principais personagens femininas; ela é rebelde mas a rebeldia permanece interiorizada e o que prevalece é a força do conservadorismo de Sir Thomas (o pai adotivo) ou da abjeta tia Mrs Norris.
A religião luterana é um dos alvos principais da crítica de Austen; por um lado, é dada liberdade de casamento aos sacerdotes, mas por outro eles são censurados por qualquer relação amorosa e a sua vida estará sempre condicionada pela permanente vigilância dos olhares conservadores.
Enfim, trata-se de um livro que se lê com muita facilidade, constituindo até uma leitura agradável mas em que falta algum fôlego  o mundo de Austen parece sempre demasiado pequeno para as suas personagens: a crítica social é a sua principal preocupação e esse propósito quase obsessivo limita bastante o âmbito dos seus romances.
Por outras palavras, ainda não foi desta vez que Jane Austen me convenceu.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Sensibilidade e Bom Senso - Jane Austen

Escrito em 1811, na fase mais conturbada das guerras napoleónicas, o enredo de Sensibilidade e Bom Senso desenrola-se no pacato e bucólico meio rural inglês, numa paisagem típica da literatura romântica, a fazer lembrar o nosso Júlio Dinis ou o dramatismo bucólico de Goethe.
A importância histórica desta obra é inegável: ela é precursora do romantismo literário que viria a marcar indelevelmente todo o século XIX.
A história baseia-se nos relacionamentos de Elinor e Marianne Dashwood, duas jovens órfãs de pai, que vivem com uma irmã mais nova, Margaret e a mãe, Mrs Dashwood. Trata-se de uma família da baixa burguesia rural inglesa que, quando o seu pai morre, fica com dificuldades económicas uma vez que a propriedade da família passa para John, o único filho homem. É nítido o contraste entre o carácter das irmãs, (Elinor mais racional e Mariane mais emotiva e romântica) que buscam o equilíbrio entre a razão e a sensibilidade na vida e no amor, como caminhos para a felicidade.
Pessoalmente, o aspecto que mais me marcou nesta obra foi a crítica de costumes: Austen denuncia, de forma cáustica e severa uma sociedade pequeno-burguesa obcecada com a estabilidade económica, com base nos laços matrimoniais. O casamento é visto como um simples trampolim para a estabilidade financeira e para o enriquecimento ou como meio de sobrevivência desta pequena burguesia pouco abastada. Esta denúncia é frontal e radical se atentarmos numa simples expressão como esta, a propósito de um noivo potencial para Elinor: “é um homem que vale quinhentas a seiscentas libras”. Frequentemente, os candidatos ao casamento são avaliados consoante as rendas que auferem.
Por outro lado, chega a ser chocante a forma como nos é descrita uma sociedade semi-aristocrática onde predomina o mexerico. Algumas das personagens parecem viver obcecadas com a intromissão na vida alheia, vivendo os problemas dos outros como se fossem seus, deixando emergir a inveja e o ciúme. É uma sociedade de aparências, onde se cultiva o exterior, onde, por exemplo, a profissão de sacerdote é vista como um remedeio para um homem arruinado, sem renda significativa.
Os sentimentos são sempre deixados em segundo plano, como se a alma humana tivesse de se adaptar à realidade concreta e não o inverso.
Em termos estilísticos, o livro constitui, na minha visão subjectiva de leitor comum, uma certa decepção. Fica-se com a impressão que um tema tão rico como este teria dado a azo a uma tremenda sátira de Eça de Queiroz, cheia de humor e sarcasmo. Mas Austen opta por um estilo severo, muitas vezes difícil e ainda prejudicado por uma tradução muito pouco conseguida, incluindo erros de ortografia e de construção frásica que dificultam imenso a leitura.
Em suma, um livro com uma importância notável em termos de História da Literatura mas que, a meu ver, não cumpre esse papel essencial que a leitura deve ter: o aspecto lúdico. Abundam diálogos por vezes fastidiosos, ilustrando o formalismo da época e a futilidade do meio social, deixando no leitor a sensação de que a história poderia ser contada de forma muito mais sucinta. Um livro, no entanto, valioso para os apreciadores da literatura romântica do século XIX.
Imagem retirada daqui