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quarta-feira, 13 de abril de 2016

Os Piores Contos dos Irmãos Grim - Luis Sepúlveda, Mario Delgado Aparaín

Comentário:
Raramente arrisco o meu tempo num livro desconhecido e sem referências. Normalmente, um critério que uso é o de optar por escritores reconhecidos pela sua qualidade. Pois desta vez enganei-me. Este livro é um fiasco. Quando vi o nome de Luís Sepúlveda não hesitei em comprar o livro, até porque estava em promoção e a contracapa prometia que a obra seria extremamente divertida. Por outro lado já li muitos livros de Sepúlveda e nunca me desiludiram. Este desiludiu mesmo.
A ideia original até é interessante: reinventar os irmãos Grimm, transportando-os para o início do século XX e colocando-os na pele de Caim e Abel Grim, payadores de profissão. Os “payadores” (pessoas que pagavam com cantigas a comida e o alojamento) são uma espécie de trovadores que se deslocam de região em região cantando e tocando numa atividade que se pode comparar aos nossos “cantares ao desafio”. Portanto, os verdadeiros irmãos Grimm (com duplo ‘m’) nada têm a ver com isto.
O livro está escrito em formato de cartas entre dois estudiosos que, no final do século XX vasculham a vida e aventuras dos irmãos Grim. Os estudiosos, a fazer lembrar quaisquer académicos em final de carreira e de juízo deformado dão pelos nomes de Orson C. Castellanos e Segismundo Ramiro von Klatsch, Professores.
A correspondência trocada versa sobre as descobertas que cada um vai fazendo sobre as aventuras dos desventurados irmãos Grim bem como de outros assuntos laterais. A brincadeira pretende fazer rir o leitor. Mais nada. E isso é naturalmente pouco para um bom livro; o humor é muitas vezes fácil e artificial, sem contexto, recorrendo muitas vezes ao palavrão ou então ao trocadilho fácil. O grande problema deste livro é não ter enredo; chegamos ao final do livro sabendo muito pouco dos trovadores, a não ser as suas desastradas atuações e a forma exagerada como eram maltratados pelos ouvintes. Pode haver até alguma qualidade na ironia com que se critica o regime de Bush, com alusões muito sérias aos problemas ambientais ou com “farpas” políticas bem dirigidas mas tudo isso se perde numa leitura monótona e maçadora.
Em suma, um ato falhado do grande Luís Sepúlveda que nem por isso deixa de ser grande. Um dos maiores. Mas o livro, esse, é de fugir.

Sinopse:
Um livro inclassificável, uma brincadeira delirante, um atentado à seriedade dos leitores. Trata-se de uma obra séria, tão séria que, assim esperam os seus autores, só pode levar o infeliz leitor a desfazer-se às gargalhadas.
Os Irmãos Grim - gémeos, na realidade - terão sido dois tipos que passaram pelo Chile e pelo Urugai sem que deles restasse mais do que retalhos aleatórios das suas vidas e obras, num todo confuso e até boateiro, que os reduziu aos seus piores contos. Por sorte, para os amantes das sagas "gauchescas" e da poesia a cavalo, Luis Sepúlveda e Mario Delgado Aparaín conseguiram- com a inestimável colaboração dos Professores Orson C. Castellanos , Segismundo Ramiro von Klatsch e José Sarajevo - assinar a tempo esta crónica temporal que retrata as misteriosas origens e a efémera passagem pelas terras do Sul do mundo dos gémeos Grim, trovadores crioulos, músicos iconoclastas, poetas autodidactas e cantores de uma realidade que, devido à escassa transcendência do seu legado, continua hoje a ser um mistério que subjuga os viajantes.
Trata-se, pois, de uma obra séria - tão séria que, assim esperam os seus autores, só pode levar o infeliz leitor a desfazer-se às gargalhadas.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Palavras em tempos de crise - Luis Sepúlveda


Sinopse:
Um grito de revolta contra os tempos conturbados que vivemos.
A escrita, o compromisso político, as amizades, o exílio e as viagens são elementos indissociáveis numa vida fascinante como a de Luis Sepúlveda.
Nestas páginas, entrelaçam-se histórias pessoais, histórias dos trabalhadores e suas lutas, gritos de dor perante a exploração criminosa do meio ambiente, reflexões pungentes sobre a crise económica que atingiu a Europa e encenações de momentos partilhados com amigos, entre eles Pablo Neruda, José Saramago e Tonino Guerra. E emerge, acima de tudo, o Luis Sepúlveda homem: as lembranças do difícil passado no Chile, o destino dos seus companheiros dispersos no exílio e o seu reencontro numa pequena baía do Pacífico, uma viagem pelo deserto de Atacama, mas também alguns vislumbres da vida pessoal, as memórias de um fiel amigo de quatro patas, a alegria de se sentar a uma mesa de refeições com a família alargada e receber o epíteto de «velho». E, sobretudo, a certeza de ter vivido «uma vida de formidáveis paixões».
Comentário:
Há pessoas cuja passagem pela vida deixa marcas profundas e indeléveis. Uma dessas pessoas é Luís Sepúlveda. O desassossego deste homem, a inquietação perante a infelicidade dos outros e a injustiça fazem dele um ser humano magnífico, que sempre soube utilizar o seu imenso talento literário para defender os esquecidos e os injustiçados.
Foi assim durante a ditadura de Pinochet, esse assassino amigo de Salazar que deixou o Chile marcado pelo sangue de milhares de resistentes, fieis a esse outro mito da resistência, Salvador Allende, também ele assassinado por Pinochet.
Este livro é uma pequena coleção de textos ou crónicas que têm como denominador comum a palavra crise. A crise atual é vista por Sepúlveda de uma forma crítica e bem informada mas, acima de tudo, numa abordagem humanista. É o caso da sua descrição da luta dos mineiros asturianos (Sepúlveda vive nas Astúrias), uma luta nascida da injustiça, da exploração do trabalho honesto pro parte dessa minoria de 1% da humanidade que detém 99% da riqueza. Ora essa riqueza é produzida pela maioria e quem dela usufrui é essa minoria privilegiada e exploradora. Pior ainda, quando os rendimentos diminuem é ainda a essa minoria que se vai buscar mais riqueza, espremendo, esmagando por completo aqueles que produzem.
O esmagamento dos salários, não e, como dizem, destinado a obter uma competitividade maior, em nome do acesso aos mercados; é, isso sim, uma forma de obter lucros cada vez maiores e a crise, construída por alguns, é um pretexto para esse esmagamento.
Muitos dos que falam da crise, muitos iluminados que continuam a apoiar as estratégias egoístas dos agentes políticos do neoliberalismo, deveriam ler este livro. Poucas vezes se demonstrou de forma tão clara que a crise convém a determinadas pessoas, os donos da economia mundial. O seu poder e a sua riqueza fundam-se sobre a miséria da maioria. Mas esta, tantas vezes cega, deixa-se conduzir rumo à exploração total.
Esta realidade dramática, tantas vezes ocultada pelos poderosos e alimentada pela cegueira voluntária de milhões, deixa, no entanto, muito espaço livre neste livro para que o autor nos delicie com episódios deliciosos de momentos passados com grandes nomes da Literatura, como José Saramago, Pablo Neruda, etc.
Mas o que fica deste livro é a ideia de que as palavras de Sepúlveda não são só as palavras da arte de bem escrever; são, acima de tudo, as palavras da resistência e da luta por um mundo mais justo; são as palavras de Allende, de Neruda, de Saramago.

domingo, 4 de março de 2012

As Rosas de Atacama - Luís Sepúlveda


Que Luís Sepúlveda é um homem de causas já todos nós sabemos. Nem é preciso ter lido qualquer livro dele; Sepúlveda é reconhecido internacionalmente como um dos mais activos e acérrimos defensores das causas ecológicas. A defesa do planeta face à inclemente devastação causada pelos avanços do capitalismo selvagem em que vivemos, é a sua causa de eleição. Mas o que cada livro dele revela sempre com enfase cada vez mais vincado é a sua tremenda sensibilidade humana. Pessoalmente sinto-me sempre surpreendido em cada leitura que faço deste autor, pela sua capacidade quase única de descrever e apontar o dedo a todas as injustiças de que são vítimas os seres humanos mais desprotegidos.
Neste livro, publicado pela primeira vez em 2000 e, estranhamente, só agora publicado em Portugal, Luís Sepúlveda dá-nos conta de uma espécie de diário de viagens. Um pouco por todo o mundo, o autor testemunha diversas situações de injustiça mas relata-nos também episódios de beleza irresistível; na verdade, sendo um homem de causas, ele não se limita a relatar situações negativas. Por outras palavras, não é um livro de lamentos; por vezes presenteia-nos com descrições encantadoras como as das paisagens da Lapónia ou da Patagónia.
Um episódio que revela bem a sensibilidade humana deste genial escritor chileno é um episódio que se refere ao famoso mármore de Carrara. Este é considerado o melhor mármore do mundo e das suas pedreiras foram extraídos os blocos que originaram as obras primas de Miguel Ângelo, como o Moisés ou David. No entanto, nessas pedreiras de mármore brilhante
“a região de Carrara cobra entre seis a oito vidas de cavatori por ano. Durante o funeral, o único artista presente disse que aqueles dois cavatori eram mártires que tinham morrido pela arte. Mas outro daqueles trabalhadores cuspiu o charuto barato que lhe pendia dos lábios e precisou: não, morreram porque falta segurança, morreram por um salário de merda.”

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Diário de Um Killer Sentimental - Luís Sepúlveda

O Diário de Um Killer Sentimental é mais uma prova da versatilidade deste magnífico escritor.
Já tinha lido em vários sítios que este é um dos escritores mais versáteis da actualidade. Cada livro que vou lendo dele, na verdade, é uma novidade. Nenhum é igual ou idêntico ao anterior.
Neste caso trata-se, ao mesmo tempo, de uma sátira às estórias de gangsters e de um livro sobre como o amor é capaz de modificar o coração mais empedernido.
O herói da narrativa é um homem duro. Um matador profissional, frio e implacável. Ele nunca falha; o gatilho, para ele, é como a escova de dentes para um comum dos mortais. Ele não faz perguntas sobre quem vai matar; nem quer saber de quem se trata nem porque vai morrer. Sabe apenas que tem de matar, mata sem piedade nem qualquer sentimentalismo… até ao dia em que conhece uma jovem francesa por quem se apaixona.
Tudo se modificará na vida deste killer, agora sentimental. Começa a desleixar-se, a cometer erros, a compadecer-se de algumas vítimas. Não deixará de ser um profissional, continuará a matar, mas como dirimamos em linguagem corrente, o seu coração amoleceu.
Terá sido a paixão a trazer-lhe um pouco de humanidade. No entanto, nem tudo é simples; aos erros cometidos acrescenta-se o ciúme (outro sentimento que nunca experimentara) e, de repente, o trabalho misturou-se com a sua vida pessoal. É o primeiro passo para o descalabro.
O final, surpreendente, deixa-nos, como sempre acontece nos livros de Sepúlveda, como um gosto amargo na boca: queríamos mais! Na verdade, a escrita deste chileno, precisa e cuidada, tem esta qualidade que por vezes se transforma num problema: os seus livros são pequenos, causando uma certa decepção ao leitor…
Avaliação pessoal: 8.5/10

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Patagónia Express - Luís Sepúlveda

Tipicamente sul-americana, com traços que fazem lembrar Garcia Marquez, a escrita de Sepúlveda tem também a singeleza que encontramos em Isabel Allende e a leveza de um Jorge Amado.
Este livro é uma crónica de viagens com a marca indelével da biografia do autor, um idealista sonhador, um homem de causas, um moderno Che Guevara que assume as ideias políticas socialistas a par do intenso combate pela ecologia que Sepúlveda sempre assumiu.
É um livro, também, de combate político. Sepúlveda foi uma das vítimas do horrendo regime de Pinochet que transformou o Chile numa pátria de assassinos. Fala-se, assim, das suas memórias do cárcere, das perseguições, do terror de um país assolado pelo obscurantismo e pela injustiça.
Mas é muito mais que isso; é o elogio das maravilhosas paisagens do sul do continente americano, a Patagónia, com as suas gentes simples e honestas, em que de demonstra todo o humanismo que caracteriza a obra de Sepúlveda.
É com um humor refinado que Sepúlveda, na primeira parte da obra descreve as ideias do Avô, o seu ódio à igreja e aos proprietários de terras, num mundo de injustiças que foi terra fértil para as ideias socialistas; é esse Avô, com as suas ideias libertárias que levavam o neto a urinar em todas as portas de igreja que encontrava, que moldará a personalidade do jovem, alter-ego de Sepúlveda.
A segunda parte do livro descreve as viagens de Sepulveda por diversos países sul-americanos, bem ao jeito de Che Guevara: descrevem-se as suas aventuras na Bolívia, Argentina, Panamá e Equador, finalizando com uma breve mas belíssima incursão pela Amazónia.
Trata-se de um livro de leitura muito fácil, numa escrita cristalina, pura e intensa do ponto de vista das ideias. Um livro que acaba por ser uma bela biografia de um homem que tem sido um combatente pela justiça, pela paz e pelos ideias ecológicos. Um livro indispensável.
Avaliação Pessoal: 9/10

sexta-feira, 19 de março de 2010

História de Uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar - Luís Sepúlveda

Tudo começa com uma maré negra: os humanos, essa espécie estranha, absurda, com quem é perigoso, até, miar. Zorbas, o gato grande, preto e gordo, assim como os seus camaradas, sabe miar a linguagem dos humanos mas só o faz em situações de emergência, porque os humanos são muito perigosos…
Este livrinho de Sepúlveda é uma pequena maravilha! Ao lê-lo sentimos a magia de ser criança e também o encantamento que só os animais nos sabem oferecer. Eles, os gatos, dão-nos aqui um exemplo que teimamos em esquecer: que a união faz a força; que a solidariedade nos pode fazer felizes.
Todos achamos estranho que um gato possa ensinar uma gaivota a voar. E achamos estranho porquê? Porque não percebemos nada da verdadeira fantasia; porque não temos imaginação suficiente para ver a verdade que há na fantasia; porque temos uma aversão natural a tudo o que é diferente – porque somos humanos, horrivelmente normais!
Só nós, os humanos não conseguiremos, nunca, voar. Porque nunca entenderemos que “só voa quem se atreve a fazê-lo”. Só voaremos quando perdermos o medo de tirar os pés do chão. E às vezes bastava fechar os olhos e sonhar. Mas não, temos medo! E ficámos tão presos como aquela gaivota com as asas cobertas de petróleo…
Ler este livrinho é um exercício de libertação e de regresso ao mundo maravilhoso da imaginação. Este livro é um imenso sorriso…
Uma opinião diferente sobre este livro: AQUI

terça-feira, 28 de agosto de 2007

O Velho que lia Romances de Amor - Luis Sepúlveda

Não se trata de uma obra de grande fôlego, a julgar até pela sua brevidade: 121 páginas que o Circulo de Leitores complementou, nesta antiga edição, com o conto “Mundo do Fim do Mundo”. Mas as limitações da obra não se reduzem ao factor “quantidade”. Não há aqui um propósito de escrever um romance mas apenas um conto ilustrativo da importância da preservação da floresta amazónica. O livro, dedicado a Chico Mendes não tem grande mérito em termos de criação literária. Tem, isso sim, uma mensagem importantíssima: ninguém consegue vencer a natureza. Podemos e devemos viver com ela mas nunca contra ela. Os animais e os elementos, ao oongo do livro, como que “troçam” dos homens, brincam sadicamente com eles antes de, invariavelmente, desferirem o golpe final. O convívio com a floresta, protagonizado pelo velho José Bolívar Proaño, é visto como um acto de submissão do homem à natureza. Proaño não tem medo da floresta. Tem-lhe, isso sim, um imenso respeito. E só esse respeito lhe permite viver feliz e em comunhão com animais ferozes e todo o tipo de perigos. Mau grado as contínuas ameaças dos exploradores americanos e das autoridades políticas sul-americanas, os bichos e os índios sobrevivem e triunfam. A escrita é simples e muito bem-humorada. Um estilo delicado e fácil que permite uma leitura rápida e agradável. As personagens, tipicamente sul-americanas, permitem ao autor introduzir deliciosas rábulas de humor quando confrontadas com a civilização distante que só conhecem por testemunhos indirectos. É o caso das deliciosas interpretações que os habitantes de El Idílio fazem de uma descrição da cidade de Veneza. Proaño, um velho viúvo solitário lê romances de amor para enganar a solidão mas também porque prefere a distância em relação a esse mundo “civilizado” que ele não gostaria de conhecer. O sonho é sempre preferível à realidade. Os índios (os Xuares, com quem Sepúlveda chegou a viver) são descritos de uma maneira muito simpática, seguindo o velho padrão do bom selvagem que vive feliz em comunhão com a natureza. Em suma, um livrinho muito agradável que compensa a falta de riqueza literária com a ludicidade da escrita e o valor de uma mensagem que, cada vez mais, devemos ter presente.