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domingo, 20 de novembro de 2011

"Tu que desgraçaste", de Czesław Miłosz

Tu que um homem humilde desgraçaste,
rindo-te da sua desgraça,
tu que cercado por um bando de palhaços,
o bem com o mal misturaste.

Embora, perante ti, todos se inclinassem
atribuindo-te virtude e sabedoria,
e medalhas de ouro em tua homenagem cunhassem,
contentes por terem vivido mais um dia.

Não estejas seguro. O poeta lembrar-se-á.
Podes matá-lo, outro nascerá.
Actos e conversas assentes por escrito ficarão.

Melhor te seria a alvorada invernosa,
a corda e o ramo curvado pelo peso.

(in Alguns gostam de poesia. Antologia; trad. Elżbieta Milewska e Sérgio das Neves; ed. Cavalo de Ferro, 2004)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

"Esperança", de Czesław Miłosz

Esperança surge, quando se acredita
Que a Terra não é um sonho, mas um corpo vivo,
Que não mentem o ouvido, o tacto, a visão
E que todas as coisas que aqui conhecias
São como um jardim visto do portão.

Entrar lá não se pode. Mas ele existe com rigor.
Se melhor olhássemos e com mais sabedoria,
No jardim do mundo uma nova flor
E mais do que uma estrela se avistaria.
Há quem diga que os olhos nos iludem
E que nada existe, apenas apresenta,
Mas justamente esses não têm esperança.
Pensam que ao virar as costas
O mundo desaparecerá de repente
Como que roubado por um delinquente.

(in Alguns gostam de poesia. Antologia; trad. Elżbieta Milewska e Sérgio das Neves; ed. Cavalo de Ferro, 2004)