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terça-feira, 25 de junho de 2013

[Eu amo agora], de Casimiro de Brito


Eu amo agora
eu amo a linguagem eu amo
a boca materna
mas o que eu mais amo
é o caos a nudez
o corpo original o
animal que devora
o outro animal
que se deixa comer
pelo seu desigual

Amo a língua
porque só ela
a língua de carne
a carne incendiada
pode inventar
o canto e a voz
da fonte muda

(in Amo Agora; ed. 4águas, 2009)

terça-feira, 30 de abril de 2013

(A generosidade de Casimiro de Brito)

(Uma generosa oferta de um poeta que muito admiro. A explorar muito em breve.)

segunda-feira, 22 de abril de 2013

E ainda mais um poema de Casimiro de Brito

Vou comendo bago a bago
as uvas do teu corpo.
Jamais
saciado.
Dentro de mim és um vinho raro
que te devolvo
embriagado.

(in Amar a Vida Inteira; ed. Roma Editora, 2011)

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Poema de Casimiro de Brito

Respiro. Ar leve. Até parece
que não estou a morrer. A paisagem
precede o caos
por caminhos que ninguém sabe
se são inóspitos ou
hospitaleiros. Vou
na via do amor verdadeiro:
esse que se compara ao salto do mergulhador
que da rocha se lança ao mar. Quem o pode
travar?
Uns dirão: estás entre o chão e a água.
Outros diriam: entre nascer e morrer.
Intranquilo, o corpo respira.
A chuva que vai caindo
talvez conheça um pouco melhor
o caminho, o único caminho.

(in Amar a Vida Inteira; ed. Roma Editora, 2011)

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Um punhado mais de versos de Casimiro de Brito

Do amor, da sua página em branco,
sempre vivi, umas vezes da luz
que dele emana, e tanto me cegou,
outras vezes das penas escuras
que depois amanhecem,
e até cantei.
Caindo e cantando vou morrendo,
em arco me vou dobrando tão devagar
quanto posso: há um lume que me consome
e só em ti me perco e só ela,
a página branca do amor,
me salva.

(in Amar a Vida Inteira; ed. Roma Editora, 2011)

sexta-feira, 12 de abril de 2013

"A minha língua já não brilha", de Casimiro de Brito

A minha língua já não brilha
na tua boca. Afastas-te nas fendas
do silêncio, refugio-me no mosto de palavras
cansadas. Fomos surpreendidos por pequenos nadas
que nos esmagaram - os dorsos que foram felizes
deitam-se na sombra. Os joelhos secaram.
Os ossos desfazem-se em pó, ah como doem
as pequenas transformações, a origem do vento
que nos separa. A boca morre-me de sede.
Escondes os seios, que foram floridos,
na dobra do lençol. Também eu tenho os olhos abertos
na cama desta noite que nunca mais acaba.
Fechas a porta, apagas a luz e pedes-me
que adormeça a teu lado.

(in Amar a Vida Inteira; ed. Roma Editora, 2011)

quarta-feira, 10 de abril de 2013

"Está um triste amante esquecendo", de Casimiro de Brito

Está um triste amante esquecendo
os dias que passou com aquela
que tanto ama. Mas como esquecê-la
se toda a sua vida foi feita
de bem querê-la? Ao frágil amante
só lhe resta partir com as águas
e as folhas caídas. Memória
será jangada bastante - e o vento
que a todos sopra.

(in Amar a Vida Inteira; ed. Roma Editora, 2011)

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Poema de Casimiro de Brito

Arrefece triste o sol que me incendiou
os ossos. Entre os amantes
que foram leves e quase luminosos
cai subitamente uma pedra
que num vidro invisível havia.
Ao peso do silêncio
os amantes sangram,
sangram as palavras que não disseram
quando, longe dos pequenos sismos do corpo,
em fragmentos de pó
explodiam.

(in Amar a Vida Inteira; ed. Roma Editora, 2011)

domingo, 16 de janeiro de 2011

Um punhado mais de versos de Casimiro de Brito

Há dois anos que dormimos
na minha cama de homem
só. Não sobra
um palmo. Como se fôssemos
um corpo estreito e cheio de
cumplicidade. Talvez
sejamos. Quando viajamos
há sempre duas camas nos quartos
de hotel. E sempre deixámos
uma delas
intacta.

(in Arte Pobre)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Mais dois poemas de Casimiro de Brito

Há quantos anos me sento
a ver o mar? Amor
sem falhas.

* * *

Cidade caótica -
a borboleta atravessa a rua
com o sinal vermelho.

(in Arte Pobre)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

(O primeiro poema do ano pôs-me a pensar em ti)

Esta manhã esqueci-me
de tomar chá. Sinto ainda
a boca perfumada
dos teus beijos.

Casimiro de Brito
(in Arte Pobre)

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Haikus de Casimiro de Brito

O mundo não posso mudar -
deixa-me sacudir a areia
das tuas sandálias

* * *

Não te esqueças de mim,
dizem os homens uns aos outros,
afastando-se

(in Através do Ar)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

(Na via de Casimiro de Brito)

"Trabalho na Arte Pobre, reunião de poemas cada vez mais limpos e nus em que procuro concentrar o "todo" no mínimo. Pobre é de facto a arte do homem, mas não tão pobre como ele próprio - nem tão nefasta. Uma arte, essa busco, onde escavar seja mais relevante que desenvolver, reproduzir. Mais umas noites brancas e o livro, ofício de oleiro, ficará reduzido ao osso. Como convém".

(in Casimiro de Brito, Na Barca do Coração)

["Beijo-a no sono"], de Casimiro de Brito

Beijo-a no sono - beijo-a
mentalmente não vá eu acordar
a luz dos meus dias.

(in Arte Pobre)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Dois haikus - Casimiro de Brito e Ban'ya Natsuishi


Uma cidade! Um grão
de areia! Fragmentos
da Via Láctea

Casimiro de Brito

* * *

Também a Terra, um grão -
e dele germinou, solar,
um haiku

Ban'ya Natsuishi

(in Através do Ar)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Versos de Casimiro de Brito

Quando livros já não tiver
lerei as estrelas -
quando elas se cansarem
da minha solidão
lerei a palma
da mão.

(in Arte Pobre)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Um poema mais de Casimiro de Brito

Apresso-me. O dia
está no fim
mas vou fazer ainda
isto e aquilo. A noite
breve
como a sombra de uma ave
que passa. Apresso-me.
Porquê,
se tudo é nada?

(in Arte Pobre)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Versos de Casimiro de Brito


Como sou frágil - penso,
olhando o rio.

Volátil o meu sangue,
um fio.

E regresso ao corpo (apenas
sangue) do rio.

(in Arte Pobre)