Nome: “O Retrato de Dorian Gray”
Autor: Oscar Wilde
Nº de Páginas: 276
Editora: Relódio d’Água
Sinopse: “Em o Retrato de Dorian Gray revela-se-nos o esteticismo
de Oscar Wilde: a procura de sensações, a superação do verdadeiro artista sobre
as regras da sociedade ou da moral. Nesta obra, a personalidade dividida de
Dorian Gray é representada por uma inversão misteriosa da ordem natural,
através da qual a sua verdadeira face conserva a juventude inviolada enquanto o
retrato é macerado pelo passar dos anos, até ao dia em que a faca cravada na
tela reconduz à arte a sua serenidade impassível e ao ser vivo a sua transição
para a morte.”
Opinião: Oscar Wilde é um escritor irlandês, nascido em 1854, e é considerado
um dos mais importantes, quiçá o mais marcante, dramaturgos da época vitoriana. O
escritor foi o fundador do movimento dândi, que defendia a beleza e a sua
glorificação, como forma de superar os aspectos negativos recorrentes da
industrialização. Wilde publicou a sua primeira obra de Poemas, em 1881, e
seguidamente criou duas peças de teatro. Seis anos mais tarde, o escritor
produziu diversos contos, peças de teatro e também um romance. Em 1895 é
acusado de ser homossexual, o que leva a que a imprensa o ataque constantemente,
vendo-se mais tarde envolvido num processo que culmina em dois anos de prisão,
com trabalhos forçados, por “cometer actos imorais com diversos rapazes”. Dois
anos mais tarde é liberto e passa a morar em Paris, utilizando o pseudónimo
Sebastian Melmoth, onde passa a ter hábitos de vida mais simples e humildes. É
em Paris, que em 1900, falece, devido a um ataque violento de meningite,
agravado pelo álcool e pela sífilis.
“O Retrato de Dorian Gray” é o seu único
romance, considerado por muitos como uma obra-prima da literatura inglesa,
abordando temas como a vaidade, a arte e a forma como o Homem pode ser
manipulador. Foi publicado inicialmente em 1890, contudo um ano mais tarde foi
revisto e ampliado pelo autor. Neste volume somos apresentados a Dorian Gray,
Basil Hallward e Lorde Henry Wotton. Quando
o jovem pintor, Basil Hallward, conhece Dorian Gray fica encantado com a sua
beleza e pede-lhe para ser seu modelo num retracto, onde exprime toda a sua
admiração pelo jovem rapaz, que considera possuir uma grande beleza interior e
exterior. Contudo, Dorian acaba por mudar quando conhece Lorde Henry, que tem
uma visão da vida completamente distinta, e se tornam grandes amigos.
Quando momentos mais tarde Dorian
vê o quadro terminado, concebe um estranho desejo, que seja o quadro a
envelhecer e que ele possa preservar a sua beleza angelical para sempre. Qual
não é o seu espanto quando com o desenrolar do tempo ele permanece jovem e
belo, enquanto o quadro vai sofrendo as marcas incutidas pelo estilo de vida de
Dorian.
Quando um antigo professor meu de
faculdade mencionou numa das aulas esta obra, como sendo uma obra de interessante
leitura no contexto da cadeira, e após ter lido a cativante sinopse, fiquei
bastante curiosa com este volume, que prometia ser uma história original e tremendamente cativante. Contudo, apesar de ter ficado interessada e de
uma amiga minha me ter emprestado a obra, demorei imenso tempo a iniciar a sua leitura.
Quando finalmente ganhei coragem para começar a obra, demorei vários
meses a conclui-la, devido à linguagem erudita, mas essencialmente
devido aos ideais defendidos na obra, em que a mulher é encarada como fraca,
fútil e quase como sendo um objecto para o homem, em que é defendido que é
somente a beleza delas que as destacam, pois não sabem dar valor à vida, à
inteligência e à arte. Existem poucas coisas que me chateiem mais do que a mulher
ser encarada desta forma, pois dou muito valor aos nossos direitos e defendo-os
afincadamente. Tenho noção que a obra foi escrita no século XIX e que a mulher
era encarada deste modo, contudo são ideais discrepantes dos meus e tal facto
fez com que a leitura se visse adiada por diversas vezes. O mês passado decidi
então voltar a esta leitura e terminá-la, acabando por não dar muita relevância
a estes ideais.
Após o impacto inicial desfavorável,
a verdade é que a obra me surpreendeu pela positiva, pela sua originalidade e
pela forma como nos cativa com a sua história. Achei bastante original o cerne
da obra, especialmente se tivermos em conta a altura em que foi escrita, pelo
facto de ser o retracto a envelhecer em detrimento do seu modelo e o modo como
esta realidade acaba por moldar Dorian, que com esta ideia em mente e devido a
Lorde Henry, acaba por cometer diversos actos de vaidade e maldade.
No que se refere às personagens,
confesso que não gostei de Lorde Henry, pelos ideais que defendia, no que se
refere ao sexo feminino, e pela forma como acaba por levar a que Dorian cometa
inúmeros actos de malvadez e de egoísmo. Houve vários momentos em que me
agradou poder ler os seus ideais algo filosóficos sobre a vida e o que o
rodeava, contudo os aspectos que mencionei anteriormente não me permitiram
apreciar a personagem. Quanto a Dorian é um personagem que muda bastante ao
longo da narrativa, primeiramente temos um rapaz fantástico e inocente, para posteriormente,
após a confraternização com o Lorde Henry, se transformar num ser egoísta,
maldoso, acabando por cometer os actos mais despropositados. Com Dorian
acabamos por sentir inúmeros sentimentos, inicialmente alguma tristeza por
aquilo em que se está a tornar devido ao Lorde Henry, para posteriormente
sentirmos raiva por este se estar a moldar de modo ainda mais negativo, do que
aquilo que o Lorde Henry lhe incutiu, e por todos os actos que comete. Quanto a
Basil, embora tenha uma grande importância para a estruturação da obra, tenho
de confessar que não foi uma personagem que me tivesse marcado.
Numa escrita erudita, dando azos
a grandes descrições, com diálogos algo filosóficos, Oscar Wilde apresenta-nos
uma história original, com um final perfeito para esta obra, abordando temas
como a arte, a manipulação, a maldade, a vaidade e a forma como certos estilos
de vida podem moldar o indivíduo e transformá-lo em algo atroz.
Avaliação: 4/5 (Gostei Bastante!)