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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O Retrato de Dorian Gray


Nome: “O Retrato de Dorian Gray”

Autor: Oscar Wilde

Nº de Páginas: 276

Editora: Relódio d’Água

Sinopse: “Em o Retrato de Dorian Gray revela-se-nos o esteticismo de Oscar Wilde: a procura de sensações, a superação do verdadeiro artista sobre as regras da sociedade ou da moral. Nesta obra, a personalidade dividida de Dorian Gray é representada por uma inversão misteriosa da ordem natural, através da qual a sua verdadeira face conserva a juventude inviolada enquanto o retrato é macerado pelo passar dos anos, até ao dia em que a faca cravada na tela reconduz à arte a sua serenidade impassível e ao ser vivo a sua transição para a morte.”

Opinião: Oscar Wilde é um escritor irlandês, nascido em 1854, e é considerado um dos mais importantes, quiçá o mais marcante, dramaturgos da época vitoriana. O escritor foi o fundador do movimento dândi, que defendia a beleza e a sua glorificação, como forma de superar os aspectos negativos recorrentes da industrialização. Wilde publicou a sua primeira obra de Poemas, em 1881, e seguidamente criou duas peças de teatro. Seis anos mais tarde, o escritor produziu diversos contos, peças de teatro e também um romance. Em 1895 é acusado de ser homossexual, o que leva a que a imprensa o ataque constantemente, vendo-se mais tarde envolvido num processo que culmina em dois anos de prisão, com trabalhos forçados, por “cometer actos imorais com diversos rapazes”. Dois anos mais tarde é liberto e passa a morar em Paris, utilizando o pseudónimo Sebastian Melmoth, onde passa a ter hábitos de vida mais simples e humildes. É em Paris, que em 1900, falece, devido a um ataque violento de meningite, agravado pelo álcool e pela sífilis.

 “O Retrato de Dorian Gray” é o seu único romance, considerado por muitos como uma obra-prima da literatura inglesa, abordando temas como a vaidade, a arte e a forma como o Homem pode ser manipulador. Foi publicado inicialmente em 1890, contudo um ano mais tarde foi revisto e ampliado pelo autor. Neste volume somos apresentados a Dorian Gray, Basil Hallward e Lorde Henry Wotton.  Quando o jovem pintor, Basil Hallward, conhece Dorian Gray fica encantado com a sua beleza e pede-lhe para ser seu modelo num retracto, onde exprime toda a sua admiração pelo jovem rapaz, que considera possuir uma grande beleza interior e exterior. Contudo, Dorian acaba por mudar quando conhece Lorde Henry, que tem uma visão da vida completamente distinta, e se tornam grandes amigos.

Quando momentos mais tarde Dorian vê o quadro terminado, concebe um estranho desejo, que seja o quadro a envelhecer e que ele possa preservar a sua beleza angelical para sempre. Qual não é o seu espanto quando com o desenrolar do tempo ele permanece jovem e belo, enquanto o quadro vai sofrendo as marcas incutidas pelo estilo de vida de Dorian.

Quando um antigo professor meu de faculdade mencionou numa das aulas esta obra, como sendo uma obra de interessante leitura no contexto da cadeira, e após ter lido a cativante sinopse, fiquei bastante curiosa com este volume, que prometia ser uma história original e tremendamente cativante. Contudo, apesar de ter ficado interessada e de uma amiga minha me ter emprestado a obra, demorei imenso tempo a iniciar a sua leitura. Quando finalmente ganhei coragem para começar a obra, demorei vários meses a conclui-la, devido à linguagem erudita, mas essencialmente devido aos ideais defendidos na obra, em que a mulher é encarada como fraca, fútil e quase como sendo um objecto para o homem, em que é defendido que é somente a beleza delas que as destacam, pois não sabem dar valor à vida, à inteligência e à arte. Existem poucas coisas que me chateiem mais do que a mulher ser encarada desta forma, pois dou muito valor aos nossos direitos e defendo-os afincadamente. Tenho noção que a obra foi escrita no século XIX e que a mulher era encarada deste modo, contudo são ideais discrepantes dos meus e tal facto fez com que a leitura se visse adiada por diversas vezes. O mês passado decidi então voltar a esta leitura e terminá-la, acabando por não dar muita relevância a estes ideais.

Após o impacto inicial desfavorável, a verdade é que a obra me surpreendeu pela positiva, pela sua originalidade e pela forma como nos cativa com a sua história. Achei bastante original o cerne da obra, especialmente se tivermos em conta a altura em que foi escrita, pelo facto de ser o retracto a envelhecer em detrimento do seu modelo e o modo como esta realidade acaba por moldar Dorian, que com esta ideia em mente e devido a Lorde Henry, acaba por cometer diversos actos de vaidade e maldade.

No que se refere às personagens, confesso que não gostei de Lorde Henry, pelos ideais que defendia, no que se refere ao sexo feminino, e pela forma como acaba por levar a que Dorian cometa inúmeros actos de malvadez e de egoísmo. Houve vários momentos em que me agradou poder ler os seus ideais algo filosóficos sobre a vida e o que o rodeava, contudo os aspectos que mencionei anteriormente não me permitiram apreciar a personagem. Quanto a Dorian é um personagem que muda bastante ao longo da narrativa, primeiramente temos um rapaz fantástico e inocente, para posteriormente, após a confraternização com o Lorde Henry, se transformar num ser egoísta, maldoso, acabando por cometer os actos mais despropositados. Com Dorian acabamos por sentir inúmeros sentimentos, inicialmente alguma tristeza por aquilo em que se está a tornar devido ao Lorde Henry, para posteriormente sentirmos raiva por este se estar a moldar de modo ainda mais negativo, do que aquilo que o Lorde Henry lhe incutiu, e por todos os actos que comete. Quanto a Basil, embora tenha uma grande importância para a estruturação da obra, tenho de confessar que não foi uma personagem que me tivesse marcado.

Numa escrita erudita, dando azos a grandes descrições, com diálogos algo filosóficos, Oscar Wilde apresenta-nos uma história original, com um final perfeito para esta obra, abordando temas como a arte, a manipulação, a maldade, a vaidade e a forma como certos estilos de vida podem moldar o indivíduo e transformá-lo em algo atroz.


Avaliação: 4/5 (Gostei Bastante!)