Mostrar mensagens com a etiqueta Livraria Civilização Editora. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Livraria Civilização Editora. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Segredos de Família


Nome: “Segredos de Família”

Autora: Kim Edwards

Nº de Páginas: 414

Editora: Livraria Civilização Editora

Sinopse: “Numa noite de Inverno de 1964, quando uma tempestade de neve obriga o Dr. David Henry a fazer o parto dos seus filhos gémeos. O filho, o primogénito, é perfeitamente saudável, mas David apercebe-se de imediato de que a filha é portadora de síndrome de Down. Convencido de que está a fazer o que está correcto, David toma uma decisão precipitada que irá ensombrar as suas vidas para sempre. Pede a Caroline, a enfermeira, que leve a bebé para uma instituição, mas ela acaba por fugir para outra cidade, onde irá criar a bebé como sua própria filha.”

Opinião: Kim Edwards é uma escritora americana e professora assistente de Inglês na Universidade de Kentucky. A autora foi finalista do PEN/Hemingway Award em 1998 e galardoada com o Whiting Award e o Nelson Algren Award. “Segredos de Família”, editado inicialmente em 2005, foi seleccionado para o Barnes and Noble Discovery Award, venceu o Kentucky Literary Award for Fiction em 2005 e foi o número 1 no New York Times Bestseller.

David Henry, um conceituado médico adorado por todos os seus pacientes, encontra-se no início da narrativa a caminho do seu hospital, durante uma tempestade, porque a sua mulher se encontra em trabalho de parto. Entretanto o médico que deveria realizar o parto acaba por não conseguir comparecer, por ter um pequeno acidente, e é David quem tem de o fazer, juntamente com uma enfermeira, Caroline. Será durante este parto que David irá realizar uma escolha que o ligará para sempre a Caroline e a sua vida nunca mais será a mesma.

Um segredo pode corromper uma pessoa, enlouquecê-la e moldar a sua vida de tal forma que tudo se altera. Quando o mesmo ganha raízes será justo expô-lo e comprometer a vida de terceiros? Contar um segredo ou uma traição servirá somente para apaziguar a consciência e a culpa ou ajudará também os outros envolvidos?

“Segredos de Família” é uma história de segredos, sobre o modo como uma escolha nos pode perseguir ao longo da vida e como poderá comprometer a felicidade futura. Se tivermos um segredo que envolve outras pessoas, não lhes podendo contar o mesmo, compromete para sempre a relação, convivência e felicidade em conjunto. Esta é também uma história sobre escolhas entre o certo e o errado e o modo como essas decisões nos moldam, tanto naquilo que seremos futuramente, como na relação com outras pessoas. Sendo igualmente abordado os recomeços, a luta pela acção mais correcta e por quem se ama.

No que diz respeito às personagens, confesso que não consegui odiar David em nenhum momento, apesar das escolhas que comete, devido ao seu passado, de menino pobre, que perdeu a sua irmã muito cedo devido à mesma ter problemas cardíacos, ao jovem que batalhou muito por se tornar um médico reputado, ao homem que mais tarde depois do parto da mulher, se vê confrontado com a culpa, os remorsos, ao sofrimento e recriminação pela escolha tomada. Devido a este erro cometido, David começa a pensar que cada percalço, cada mal que lhe sucede, tem origem no seu segredo, levando-o a sofrer em silêncio, aceitando todos estes momentos. Por este conjunto de acontecimentos, não consegui de forma alguma sentir ódio por ele, mas sim até alguma compaixão por tudo aquilo que passa e por todos os sentimentos negativos que acarreta até ao fim.

A mulher de David foi outra personagem que me transmitiu sentimentos contraditórios. No início senti muita pena por ela, por tudo o que passa, por toda a sua mágoa, mas à medida que a narrativa avança e ela toma alguns comportamentos, comecei a sentir alguma tristeza por presenciar a dor que os seus actos causavam no seu marido e no filho de ambos. Embora perceba, em certa medida, estes seus comportamentos, não conseguir deixar de ficar triste e foi esta contrariedade de sentimentos que mais me fascinou na obra, colocando-me a pensar e confundindo-me os sentimentos do princípio ao fim. Como Kafka defendeu devemos ler aqueles livros que nos batem, que nos picam, pois são esses que verdadeiramente nos tocam e que perduram na nossa memória. “Segredos de Família é um bom exemplo desse género de livros, não me deixando, de forma alguma, indiferente.

Quanto a Caroline foi uma personagem de quem gostei muito, pela sua integridade, força, fidelidade e garra, portadora de uma humanidade incrível, que mostrou ser uma pessoa fantástica. Foi, sem dúvida, uma das minhas personagens preferidas, que me surpreendeu do princípio ao fim.

Relativamente às restantes personagens, gostei muito de todos, mostraram ser personagens fortes, bem estruturadas, carismáticas, com bastante força de vontade por superar os problemas/limitações, tendo tornado esta obra ainda mais real.

Numa escrita envolvente e algo descritiva, alternando entre capítulos de David e Caroline, Kim Edwards destaca-se neste volume pela sua história real, cativante, que nos sensibiliza e que nos transmite um enorme role de sentimentos. Portadora de personagens reais, que poderiam ter efectivamente existido, esta obra não nos deixa indiferentes, colocando-nos a pensar de mil e uma maneiras, passando do ódio à compaixão com a rapidez de um pestanejar. Neste volume a autora defende que nunca é tarde para tentar remediar um erro cometido, que com força de vontade e perseverança somos capazes de tudo e de ultrapassar todas as barreiras que a vida possa hipoteticamente nos colocar, terminando com uma nota de esperança.


Avaliação: 4/5 (Gostei Bastante!)

sexta-feira, 29 de março de 2013

Em Troca de um Coração



Nome: “Em Troca de um Coração”

Autora: Jodi Picoult

Nº de Páginas: 436

Editora: Livraria Civilização Editora

Sinopse: “Aceitava realizar o último desejo de um condenado para salvar a vida de um filho? Com uma sensibilidade literária invulgar, Jodi Picoult conduz uma vez mais o leitor a uma encruzilhada moral. Como é que uma mãe concilia a trágica perda de um filho com a oportunidade de salvar a alma de um homem que odeia? Shay foi condenado à morte por matar a pequena Elizabeth Nealon e o padrasto. Onze anos mais tarde, a irmã de Elizabeth, Claire, precisa de um transplante de coração e Shay, que vai ser executado, oferece-se como dador. Este último desejo do condenado complica o plano de execução, pois uma injecção letal inutilizaria o órgão. Entretanto, a mãe da criança moribunda debate-se com a questão de pôr de parte o ódio para aceitar o coração do homem que matou a sua filha. Picoult hipnotiza o leitor com uma história de redenção, justiça e amor.”

Opinião: Jodi Picoult é uma escritora americana com 21 bestsellers editados, tendo a obra “Em Troca de Coração” sido lançada inicialmente em 2008. A 13 de Dezembro de 2011 a Paramount Pictures anunciou o seu interesse em realizar uma adaptação do romance, contudo embora alguns actores tivessem sido convidados, o projecto acabou por não ganhar forma.

June encontrava-se grávida de oitos meses, quando viu a sua vida ser ditada por um homem, que, de um dia para o outro, lhe tirou as duas pessoas que mais amava, o seu marido e a sua filha Elizabeth. Onze anos mais tarde a sua filha Claire necessita de um coração e Shay, o homem que lhe levou a sua família, encontra-se disposto a doar o seu coração à pequena Claire, depois de ser executado. Estará June disposta a abdicar da sua vingança em prole do amor que sente pela sua filha? Terá Shay o seu último desejo cumprido?

Após ter acompanhado várias opiniões que mencionavam a componente religiosa patente na obra, confesso que iniciei esta obra com algum receio do que iria encontrar. Sou uma pessoa bastante céptica, que muitas das vezes precisa de ver para querer e como agnóstica que sou, não creio nem descreio em Deus. Como a advogada de Shay menciona, numa das suas passagens, penso que a religião aparece quando o Homem necessita dela em alguma altura da sua vida, com o intuito de se sentir melhor e de encarar cada novo dia e provação com um sorriso. Tendo isto em conta e sabendo que na obra era bastante mencionada a crença em Deus e milagres, estava um pouco receosa, contudo acabei por apreciar a obra, mesmo tendo em conta esta componente.

Nesta obra somos confrontados com diversos temas, desde o assassinato de um homem e de uma menina, por um jovem adulto; a crença em Deus e também algumas das inconsistências da Igreja Católica; o arrependimento e a tentativa de redenção de um homem; a realidade da execução; o amor, o perdão e a certeza de que nem tudo o que parece ser à primeira vista o é verdadeiramente.

Através da perspectiva de June, do padre Michael, Lucius e Maggie temos a possibilidade de conhecer e acompanhar a vida, os ideais e percepções dos diferentes personagens. Um dos aspectos que mais me marcam e que mais valorizo na escritora é a forma fantástica como cria as suas personagens, de uma forma que invariavelmente nos toca e criam uma ligação connosco. Todas as personagens da obra conseguiram tocar-me e ensinar-me um pouco, tornando a obra ainda mais inesquecível. Esta sua forma de narrar a história a várias vozes define, sem dúvida, o estilo da autora.

June perdeu o seu marido e filha às mãos de Shay Bourne e somente o facto de se encontrar grávida, a impulsionou a sair da letargia em que viveu durante os primeiros tempos. Quando confrontada com a possibilidade de salvar a vida da sua filha mais nova, fica reticente se deverá realmente fazê-lo, mesmo que isso signifique cumprir o último desejo da pessoa que mais odeia e que mais lhe tirou. June demonstra a dor de uma mãe, a impotência que se sente quando alguém que amamos se encontra a sofrer e as marcas deixadas pela morte de alguém que amamos.

Michael foi um dos jurados que levou à execução de Shay e que alguns anos depois se tornou padre, por se sentir de certa forma culpado por ter levado a que a execução fosse aprovada. Onze anos depois torna-se o conselheiro espiritual de Shay e encara esta missão como uma forma de salvar-se a si mesmo e Shay, tentando ao máximo que este encontre a paz e que consiga lutar pelos seus ideais.

Lucius é um dos companheiros de cadeia de Shay, que se encontra preso por ter morto o seu companheiro, que o havia traído. Um artista nato, capaz de criar tintas através dos mais variados alimentos, é também portador de Sida e irá ser uma das pessoas visadas com os supostos milagres que Shay é capaz de realizar.

Maggie é uma advogada com uma baixa auto-estima, que tem uma relação complicada com a sua mãe e que irá fazer de tudo para ajudar Shay a conseguir aquilo que ambiciona. Graças a este caso, Maggie irá ganhar mais do que um julgamento mediático, irá também ser capaz de ver para lá dos seus próprios olhos, irá perceber que pode e merece ser amada e que a justiça por vezes possui um sabor amargo.

No que se refere a Shay, embora seja um crime hediondo, aquele porque estava a ser acusado, confesso que não consegui, nem mesmo no início, odiá-lo. Viveu durante toda a sua infância e grande parte da sua juventude em lares de acolhimento, sem amor, sofrendo por vezes diversos abusos, o que acaba por se considerado como uma atenuante pelo seu crime. Tenho de admitir que a menos de metade da obra comecei a desconfiar o que realmente deveria ter sucedido no dia do assassinato, o que aliado aos supostos milagres de Shay, me levou a sentir somente curiosidade por esta misteriosa personagem, que se mostrou ser das mais ricas, interessantes e melhores personagens, já criadas pela escritora.

No que se refere ao tema da execução, que é um dos focos da obra, confesso que concordo muito com a ideia defendida pelo director da prisão. Penso que ninguém tem direito de ditar quando alguém deve viver ou morrer e que uma vida não pode substituir outra, pelo que executar um criminoso, mesmo essa pessoa tendo morto alguém, não me parece de todo certo.

Numa escrita bastante emotiva, compulsiva e fluída, Jodi Picoult apresenta-nos temas controversos como o assassinato, a execução, a religião, defendendo que nunca é tarde para perdoar, nem para nos arrependermos e que a vida não é “preto no branco”.

“Em Troca de um Coração” foi, desta feita, uma obra que me deu um prazer enorme de desfolhar, que me emocionou profundamente e que me fez pensar sobre os mais diversos temas. Jodi Picoult é, sem dúvida, a Rainha do Drama e esta obra só veio reforçar essa ideia.

Frases a Reter: “Quando somos diferentes, às vezes não vemos os milhões de pessoas que nos aceitam como somos. Só reparamos na única pessoa que não nos aceita.”

“Eis a minha opinião: não me parece que as religiões se baseiem em mentiras, mas também não me parece que se baseiem em verdades. Acho que surgem devido ao que as pessoas precisam na altura.”

Avaliação: 4/5 (Gostei Bastante!)


Outras obras da Escritora, com opinião no blogue:
  

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Ilusão Perfeita



Nome: “Ilusão Perfeita”

Autora: Jodi Picoult

Nº de Páginas: 448

Editora: Livraria Civilização Editora

Sinopse: “Uma mulher acorda num cemitério ferida e a sangrar, completamente amnésica. Não sabe quem é nem o que faz ali. É socorrida por um polícia que acabara de chegar a Los Angeles. Alguns dias mais tarde, é apanhada de surpresa ao ser finalmente identificada pelo marido, nada mais, nada menos do que Alex Rivers, o famoso actor de Hollywood. Cassie fica deslumbrada pelo conto de fadas que está a viver. Mas nem tudo parece correcto e algo obscuro e perturbador se esconde por detrás daquela fachada de glamour. E é só quando a sua memória começa gradualmente a regressar que a sua vida de cenário perfeito se desmorona e Cassie enfrenta a necessidade de fazer escolhas que nunca sonhou ter de fazer.”

Opinião: Jodi Picoult, nascida em Long Island, estudou Inglês e Escrita Criativa na Universidade de Princeton, tendo tirado o seu mestrado em Educação na Universidade de Harvard. Enquanto ainda era estudante publicou dois contos na revista Seventeen e em 1992 lançou a sua primeira obra “À Procura do Amor”. Possuiu inúmeros empregos, como correctora, copywriter numa agência de publicação, numa editora e como professora, sendo autora de inúmeros bestsellers. Em 2003, foi galardoada com o New England Bookseller Award for Fiction.

“Ilusão perfeita” foi a terceira obra lançada pela escritora, em 1995, e apresenta-nos Cassandra Barrett, que se encontra num cemitério, ferida e sem qualquer memória de quem é ou do que fará naquele local. Após ser socorrida por um polícia, que acaba de chegar a Los Angels, descobre que é uma importante antropóloga e que se encontra casada com um dos mais conhecidos actores dos Estados Unidos, Alex Rivers. Quando retoma a casa tudo parece perfeito, proprietária de várias casas, portadora de um marido misterioso, mas aparentemente atencioso, lindo, o ideal da maioria das mulheres e com um trabalho de sonho. Contudo, quando as memórias começam a voltar, percebe que afinal a sua vida não é perfeita como idealizara e que no dia em que havia sido encontrada no cemitério, tinha sido uma vez mais agredida pelo marido. Depois de ter descoberto que se encontrava grávida, decide depois da agressão fugir, contudo antes de conseguir concretizar o seu objectivo, desmaia e perde a memória. Ao recorda-se de tudo isto, decide novamente abandonar o marido, até que o filho nasça e depois do seu nascimento, decide que voltará para junto dele, se o mesmo prometer mudar.

Jodi Picoult é uma das minhas escritoras preferidas, devido às suas histórias emotivas, reais, à capacidade que tem de me fazer pensar sobre os mais variados temas e de me questionar sobre como agiria no papel das personagens. Esta obra não foi de forma alguma excepção, abordando o tema da violência doméstica de forma bastante real e evidenciando que a violência doméstica não é uma realidade das classes menos instruídas, sendo uma realidade em qualquer classe social.

A autora mostra-nos o papel do agressor, o modo como são controladores; como tentam afastar todas as pessoas que circundam a vítima, de modo a que a mesma não tenha, além dos agressores, com quem possa contar. O modo como depois da agressão, se mostram arrependidos e tentam remediar a situação. Mas também aborda bastante bem o papel da vítima, o modo como as mesmas perdoam sempre porque ou consideram que a culpa é delas, por terem dado azos a discussões e consequentes agressões ou, como no caso de Alex, que tiveram infâncias problemáticas, onde a violência era uma realidade, e que em adultos se tornaram igualmente agressores, o que para as vítimas desculpa, em certa medida, as suas acções.

Confesso que este é daqueles temas que me são sensíveis. Considero que nenhum homem ou mulher tem direito de subjugar outra pessoa e a fazê-la passar por este género de provações. Alguém que utiliza o uso da força para se sentir superior sobre o seu companheiro ou por ter tido um dia mau, não pode, a meu ver, amar realmente essa pessoa. Quanto à vítima, tenho de admitir que sempre me questionei o que as levaria a perdoar sempre e a arranjar desculpas para as agressões. Tenho ideias bastante bem definidas sobre este tema, sempre defendi que se fosse comigo nunca toleraria algo deste género, que a partir do momento em que me fizessem algo semelhante  nunca perdoaria, contudo a autora faz-nos perceber as razões da vítima e os seus questionamentos constantes. Não posso afirmar que concorde, mas percebi o que motivou a Cassie sempre a lutar por aquele homem e a perdoar as inúmeras agressões. Sendo este facto que tanto me fascina na autora, pois consegue colocar-me quase no papel da personagem e leva-me, em certa medida, a questionar sobre os meus ideais, que até então considerava tão enraizados.

Além deste tema sensível, que tantos sentimentos nos transmite, também somos confrontados com uma comunidade de índios Sioux, onde compreendemos as condições em que vivem e o modo como se centram nas relações, nas poucas coisas que têm, dando valor a estas pequenas coisas. Foi nesta comunidade que Cassie se refugiou para fugir ao marido, com a ajuda do polícia que a encontrou no cemitério, e tornou a obra ainda mais interessante, até porque mostra que para sermos felizes, não são necessárias grandes coisas. Demonstrando também o que afirmei anteriormente, que as agressões não têm a ver com classes sociais, pois Cassie vai viver com os avós do polícia, que depois de tantos anos ainda se amam e respeitam como no primeiro dia.

Numa escrita fluída, emotiva e verdadeira, Jodi Picoult apresenta-nos, desta forma, o tema sensível que é a violência doméstica, o papel da vítima e do agressor. Salientando que as amizades são o nosso alicerce, quando tudo parece desmoronar-se e que nunca nos devemos acomodar, nem pensar que merecemos menos do que a felicidade plena.

Em suma, "Ilusão Perfeita", embora não seja das minhas obras preferidas da autora, deu-me bastante prazer de desfolhar e voltou a trazer-me os vários ingredientes que tanto me fascinam nas suas obras.

Avaliação: 3.5/5 (Gostei!)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

À Procura do Amor


Nome: “À Procura do Amor”

Autora: Jodi Picoult

Nº de Páginas: 376

Editora: Livraria Civilização Editora

Sinopse: "Durante anos, Jane Jones viveu na sombra do marido, Oliver Jones, um conhecido oceanógrafo de San Diego. Mas na sequência de uma acesa discussão, Jane parte com a filha adolescente, Rebecca, numa odisseia pelo país, orientada pelas cartas do irmão Joley, que as guia até ao seu pomar de macieiras em Massachusetts, onde a esperam algumas revelações surpreendentes sobre si própria. Oliver, especializado em seguir baleias-de-bossa pelos vastos oceanos, irá agora seguir a mulher através de um continente e descobrir uma nova forma de ver o mundo, a família e a si próprio: através dos olhos de Jane."

Opinião: “À Procura do Amor”, obra de estreia da autora Jodi Picoult, lançado inicialmente em 1992, retracta a cinco vozes os acontecimentos de pessoas muito diferentes entre si, contudo tendo em comum laços de amor, amizade e acontecimentos que os modificará para sempre.

A partida de Jane Jones e da sua filha Rebecca, depois de uma discussão acesa por parte da primeira com o seu marido, leva-as aos pomares de macieiras de Massachusetts, onde ambas irão descobrir o verdadeiro significado do amor, o que é necessário para o alcançar, o que pode dar e tirar.

Como grande fã que sou desta escritora, parto sempre as leituras das suas obras cheia de expectativa e de vontade de embrenhar nas suas narrativas. Adoro o aspecto de nos demonstrar as histórias com diversas perspectivas, o que além de enriquecer a história e a percepção que temos sobre determinados acontecimentos, permite-nos compreender o modo como cada uma das personagens dá importância ou percepciona determinado acontecimento, o que é bastante interessante.

Embora não acredite em almas gémeas, nem tão pouco em amor à primeira vista, pois acredito que para podermos amar alguém, é necessário que nos conheçamos atempadamente e que se partilhe uma história de vida, esta história não me deixou de forma alguma indiferente. Fez-me reflectir que quando amamos alguém verdadeiramente, de modo puro e genuíno, nos sentimos completos com essa pessoa, mas que nem sempre chegamos a encontrar a pessoa certa, se é que ela realmente existe. Com esta leitura compreendemos também que por vezes não chega amar alguém, pois a vida é uma colectânea de sentimentos e acontecimentos, que podem impedir uma paixão de vingar. Mostra-nos também que não nos devemos resignar e que devemos procurar sempre o amor, mesmo que nos faça sofrer, e fará certamente, pois o amor poderá estar nos lugares e nas pessoas mais improváveis.

As personagens encontram-se bastante bem retratadas, tal como é característico da autora. Jane Jones acabou por ser a personagem que mais me marcou, pela sua história de vida, por tudo o que atravessou na sua infância, pela sua força, perseverança e altruísmo. A sua filha, Rebecca, faz-nos recordar o que era ser adolescente, as paixões que tivemos e que jurámos ser para sempre, aos desgostos amorosos. Dos três personagens masculinos, Sam, Joley e Oliver, confesso que gostei mais do Sam. Embora tenha sido uma personagem que no início nos afasta um pouco porque tinha alguma animosidade com Jane, sentimos e sabemos que no fundo é uma pessoa fantástica, levando-nos a gostar dele por tudo o que faz por Jane. Joley, irmão de Jane, sempre foi o porto de abrigo de Jane, tal como ele sempre soube que poderia contar sempre com a irmã, mesmo que errasse ou não conseguisse alcançar o que se propunha a conquistar, ela estaria sempre lá. Oliver, confesso que não me foi simples gostar dele, por tudo o que se passou durante a discussão com Jane, por ser demasiado ligado ao trabalho e muito pouco à família, contudo à medida que a narrativa avançou, acabei por mudar um pouco de ideias e desejar que ele mudasse realmente.

A escrita emotiva que tão bem caracteriza a autora, recheada com a carga psicológica certa e de tal forma bem retratada, que à medida que as personagens se questionam de qual o caminho a seguir, também nos perguntamos qual será a melhor solução. Que nos faz pensar sobre os mais variados temas e que nos transmite toda a empatia e compreensão pelas personagens. Uma obra bastante agradável, contendo vários temas que nos fazem reflectir e que invariavelmente nos transmitem algumas lições.

Frases a reter: "Deixa-me dizer-te uma coisa sobre o amor. É sempre diferente.Não passa de uma reacção química, uma seta por cima de uma equação, mas os elementos mudam. O amor mais frágil é aquele entre um homem e uma mulher. Novamente a química: quando introduzimos um novo elemento, nunca sabemos qual será a força da ligação original. Pode acabar por se formar uma nova união, deixando algo para trás. Acredito que podemos apaixonar-nos muitas vezes por muitas pessoas diferentes. Mas não acho que seja possível apaixonarmo-nos duas vezes da mesma maneira. Uma relação pode ser estável. Outra pode ser um inferno. Quem poderá dizer que uma é melhor que a outra? O factor decisivo é a forma como tudo se encaixa. Isto é o amor e a vida."

Avaliação: 4/5 (Gostei Bastante!)

sábado, 15 de outubro de 2011

A Caixa em Forma de Coração



Nome: "A Caixa em Forma de Coração"

Autor: Joe Hill

Nº de Páginas: 324

Editor: Livraria Civilização Editora


Sinopse: "Judas Coyne colecciona o macabro: um livro de receitas para canibais… uma corda usada num enforcamento… um filme snuff. Uma lenda do death metal de meia-idade, o seu gosto pelo bizarro é tão conhecido entre a sua legião de fãs como os excessos da sua juventude. Mas nada do que ele possui é tão inverosímil ou tão medonho como a sua última descoberta…

Um artigo à venda na Internet, uma coisa tão estranha que Jude não consegue resistir a pegar na carteira. "Vendo" o fantasma do meu padrasto a quem fizer a licitação mais alta. Por mil dólares, Jude tornar-se-á o orgulhoso dono do fato de um homem morto que se diz estar assombrado por um espírito inquieto. Ele não tem medo. Passara a vida a lidar com fantasmas - o fantasma de um pai violento, o fantasma das amantes que abandonara sem compaixão, o fantasma dos companheiros de banda que traíra. Que importância teria mais um? Mas o que a transportadora entrega à sua porta numa caixa preta em forma de coração não é um fantasma imaginário ou metafórico, não é um benigno motivo de conversa. É real."



Opinião: “A caixa em forma de coração” inicia-se quando o assistente pessoal do vocalista de Rock, Jude, recebe uma notificação relativamente a um leilão online, onde se encontra à venda um fato assombrado pelo seu antigo proprietário. Jude, como coleccionador que é, decide desde logo aproveitar a oportunidade. Quando o fato chega a casa do vocalista, vem dobrado dentro de uma caixa em forma de coração e irá ser o causador de um enorme role de problemas para as personagens principais.

Já possuía este livro há muito tempo e finalmente surgiu a oportunidade para o fazer, graças ao grupo do goodreads, Diz-me o que lês,dir-te-ei quem és, em leitura conjunta.

As primeiras cenas penso que se encontram imensamente bem conseguidas, um tema interessante, personagens fortes e até misteriosas, uma atmosfera assustadora, que poderia realmente acontecer, mas que à medida que vai avançando se sente uma quebra de ritmo, pois tanto tem momentos fantásticos, enquanto outros ou são um tanto ou quanto anti-climáticos ou previsíveis, o que é uma pena.

Gostei bastante das duas personagens principais. De Jude, que aprendi a gostar aos poucos. Inicialmente não sentia grande empatia por ele, contudo à medida que a narrativa evoluiu passei a compreendê-lo um pouco melhor e a perceber o porquê de ele não se querer envolver demasia e a dar o seu coração, com medo de sofrer. Houve alguns momentos bastante carinhosos entre ele e a sua cara-metade, onde sentimos que ele se começa a entregar finalmente a alguém e a dar uma oportunidade a si mesmo de ser feliz. De Georgia porque embora fosse 30 anos mais nova que Jude, era madura e que sabia bem o que queria, estando disposta a fazer tudo para ajudá-lo.

Os aspectos positivos para mim são a escrita que acho bastante fluida; as personagens que vamos aprendendo a gostar aos poucos; o tema que é deveras interessante. O papel dos cães de Jude, que como adoro animais, fiquei contente por possuírem um papel preponderante ao longo da maioria da narrativa. A maioria das cenas onde entravam os fantasmas foram bem conseguidas, em especial quando se falava de Anna, pois tanto me faziam ler a uma velocidade inebriante, como até me arrepiavam um pouco no início.

Os aspectos negativos são o facto de ser previsível em vários aspectos; de não ser regular, porque tanto tinha momentos muito bons, como outros que deixam um pouco desejar e o final, que embora não tenha desgostado, esperava que fosse mais surpreendente e marcante.

Em suma, foi um livro agradável, que se leu muito bem, mas que não me marcou sobremaneira.

Avaliação: 3/5 (Gostei!)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Antes de Adormecer


Nome: "Antes de Adormecer"

Autor: S. J. Watson

Nº de Páginas: 344

Editor: Livraria Civilização Editora


Sinopse: "Durante o sono, a minha mente apagará tudo o que fiz hoje. Amanhã acordarei como acordei hoje de manhã.

A pensar que ainda sou uma criança. A pensar que tenho toda uma vida de escolhas pela frente… As memórias definem-nos. O que acontece se perdemos as nossas memórias cada vez que adormecermos? O nosso nome, a nossa identidade, o nosso passado, até mesmo as pessoas de quem gostamos – tudo perdido numa noite. E a única pessoa em quem confiamos poderá estar a contar-nos apenas metade da história.
Bem-vindos à vida de Christine."



Opinião: Christine, de 47 anos, sofre de uma amnésia rara que a impossibilita de armazenar memórias por mais do que 24 horas. Assim, todas as manhãs desperta julgando, na maioria das vezes, possuir somente 20 anos, altura em que teve o acidente que a deixou em tal estado. Todos os dias da sua vida acorda junto de um desconhecido que diz ser seu marido e reaprende novamente a sua estória e o que perdeu nos últimos anos.

Christine é contactada por um médico, Dr. Nash, que pretende realizar um estudo sobre ela e consequentemente ajudá-la a restituir a sua memória. Desta forma, sugere-lhe que comece a escrever um diário onde possa registar o que faz ao longo dos seus dias e o que descobre ou se lembra ao longo dos mesmos.

Desde que ouvi falar acerca deste livro soube que teria de o ler, muito porque sou uma apreciadora da área da psicologia e este livro, tendo como tema central a memória, suscitou-me desde logo interesse e posso adiantar desde já que não desiludiu de forma alguma.

Gostei bastante da estória, desde o primeiro instante, em que constatamos a angústia da Christine por se ver num corpo que desconhece, por viver num mundo que lhe estranho, até ao momento em que começa a escrever os seus dias. Senti uma grande ligação com ela, não só por ser um livro escrito na primeira pessoa, mas também porque ficava contente com as suas vitórias, pelo facto de ela conseguir dia para dia, descobrir um pouco mais sobre si mesma. Senti por diversas vezes pena dela porque certamente não é fácil acordar todos os dias a sentir que anos da nossa vida foram roubados e que não nos lembramos das pessoas que mais deveríamos amar. Achei-a uma personagem interessantíssima, não só pela sua condição, mas pela forma como encarava a vida e as pessoas que a rodeavam, pois nunca sabia em quem podia ou não confiar.

Quanto às restantes personagens, o Ben, marido de Christine, foi alguém que me deixou sempre entre a sensação de empatia, pois era extremamente cordial e dedicado à mulher que amava e por sintir que não era qualquer pessoa que estaria junto do seu companheiro numa altura com esta, mas também alguma sensação de desconfiança, por nos transmitir que não queria que a mulher descobrisse o seu passado.

O Dr. Nash que sendo um médico, ainda que jovem, extremamente profissional e dedicado à sua paciente, foi fundamental para a Christine, quando lhe sugere que escreva um diário e quando a ajuda ao máximo para que ela possa ter uma vida melhor.

E, por fim, a Claire, que era a melhor amiga da Christine, até ao momento em que perdeu a memória. Embora esta personagem não tenha tanto destaque como as outras duas que mencionei anteriormente, merecia também ela ser ressalvada, porque foi essencial para a vida e melhoras da amiga.

O facto de o livro ser escrito, na sua maioria, em forma de diário tornou-o ainda mais interessante porque faz-nos quase sentir como se tivéssemos na pele da personagem principal e sentirmos as suas vitórias, medos e descobertas quase como nossas. A escrita é simples, sem grandes floreados, mas extremamente viciante, sendo quase de leitura compulsiva. Gostaria também de ressalvar o facto de o autor, mesmo sendo do sexo masculino, conseguir escrever de forma incrível no sexo oposto, exceptuando a forma como a Christine falava nas relações sexuais, que, como mulher, acho que era demasiado dura ou fria.

Em suma, “Antes de adormecer” é um thriller psicológico, extremamente cativante e portador de um final que me arrebatou e me deixou a ansiar por mais.

Avaliação: 5/5 (Adorei!)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Tudo por Amor


Nome: "Tudo por amor"

Autora: Jodi Picoult

Páginas: 372 

Editora: Livraria Civilização Editora


Sinopse: "Nina Frost é delegada adjunta do Ministério Público, acusa pedófilos e todo o tipo de criminosos que destroem famílias. Nina ajuda os seus clientes a ultrapassar o pesadelo, garantindo que um sistema criminal com várias falhas mantenha os criminosos atrás das grades. Ela sabe que a melhor maneira de avançar através deste campo de batalha vezes sem conta, é ter compaixão, lutar afincadamente pela justiça e manter a distância emocional.
Mas quando Nina e o marido descobrem que o seu filho de 5 anos foi vítima de abuso sexual, essa distância é impossível de manter e sente-se impotente perante um sistema legal ineficiente que conhece demasiado bem. De um dia para o outro o seu mundo desmorona-se e a linha que separa a vida pessoal da vida profissional desaparece. As respostas que Nina julgava ter já não são fáceis de encontrar. Tomada pela raiva e pela sede de vingança, lança-se num plano para fazer justiça pelas próprias mãos e que a pode levar a perder tudo aquilo por que sempre lutou."

Opinião: “Tudo por amor” representa o que uma mãe e um pai são capazes de fazer por amor a um filho e quão longe são capazes de ir, quando sentem o que mesmo pode estar, de alguma forma, em perigo.

Nina Frost é uma promotora pública que ganha a vida a lutar pelos direitos de crianças violadas e que conhece, melhor que ninguém, as limitações do sistema judicial, pois embora sejam muitos os casos, poucos são os que conseguem ir em frente e até que conseguem que os agressores recebam a sua punição. Ao longo da sua carreira viu o que este sistema fez a muitas destas crianças, o facto de terem de depor e reviver tudo o que haviam passado era algo traumatizante e que as impossibilitava, de certa forma, de “dar a volta por cima”.
Quando o Nathaniel, filho de Nina, deixa de falar e passa a agir de forma estranha, Nina é chamada à escola. Ao sentir falta da alegria e de todo o role de perguntas, característico de uma criança de 5 anos, Nina leva-o a uma Psicóloga e é aí que descobre que o mesmo sofreu abusos sexuais.
A partir deste momento é o começo de toda uma luta. Primeiro para que Nathaniel volte a falar e quando tal não acontece, para que a pessoa que lhe fez passar por tal coisa, possa pagar pelo crime cometido. Contudo, nada é certo e aquilo que pode parecer um dado adquirido, em determinada altura, pode não o ser na realidade.
As personagens e as descrições são, para mim, o melhor e mais forte ponto desta autora, sendo nesta obra incríveis.
Penso que a dor de uma mãe e o amor incondicional da mesma se encontra imensamente bem retratado; a representação da criança que sofreu abusos sexuais, tal como todo o processo que enfrentou para voltar a falar e conseguir estar novamente junto de alguém sem se sentir intimidado.
Em relação às descrições são algo que gosto muito porque nos fazem sorrir com a ternura subjacente nelas, por exemplo, quando a Nina fala de Nathaniel, a forma como emprega tanta ternura e amor às mesmas é incrível, tal como todo o suspense criado pela autora.
Para dar um exemplo da ternura desta mãe, poderiam ser mencionadas enumeras citações, deixo-vos um exemplo de uma: “Tentar encontrar a melhor maneira de descrever Nathaniel. É como tentar deitar o oceano numa chávena de café. Como explico um rapaz que come a comida por cores; que me acorda a meio da noite com uma necessidade premente de saber porque respiramos oxigénio, em vez de água; que desmontou um gravador de micro cassetes para encontrar a sua voz, presa lá dentro? Conheço tão bem o meu filho que me surpreendo – há demasiadas palavras para escolher.”
Se tivesse de mencionar um aspecto negativo do livro seria, para mim, o facto de ser um pouco previsível, pois senti que as coisas não eram bem como estavam a ser dadas e, por diversas vezes. suspeitei das revelações feitas mais tarde. Não sei se por estar mais atenta aos pormenores ou se por saber que a autora tem sempre uma nova revelação a dar-nos...
Em suma, foi muito bom poder novamente ler algo desta incrível escritora, ou não fosse ela a minha escritora preferida, pois sempre que leio algo seu, é impossível não me tocar com o tema, não ponderar que comportamento tomaria, tal como é impossível não reflectir sobre a temática que aborda a obra.

Avaliação: 4/5 (Gostei bastante!)