Mas enquanto faço isso, os muitos arquivos existentes sobre a Minardi mostraram que a equipa esteve no limiar da sobrevivência por muito tempo, apesar de bons acordos com a Ferrari e a Lamborghini para ter bons motores. Mas em 1995, uma situação que lhe poderia ter providenciado um salto de qualidade acabou por ser... uma ameaça à sua sobrevivência. E o maior envolvido foi... Flávio Briatore.
A história é bem interessante e claro, vale a pena ser contada.
Estamos a meio de 1994, numa das temporadas mais complicadas de sempre do automobilismo. A Minardi tinha fundido com a Scuderia Itália, que no final de 1993, ficou insustentável por causa dos pobres resultados com o chassis Lola. Eles tinham acabado de estrear o seu novo carro, o M194, com uma dupla italiana: Pierluigi Martini e Michele Alboreto. Giancarlo Minardi e Beppe Luchinni tinham 50 por cento da equipa cada um, e tentavam sustentar a operação, depois de uma temporada de 1993 também complicada.
Eles tinham o motor Cosworth HB V8, com dois anos de idade, mas nessa altura, parecia ter alcançado o “jackpot”: A Minardi tinha conseguido um acordo de motores com a Mugen-Honda, melhorado quando em setembro, a Lotus entra em insolvência. Melhor ainda: o acordo seria de fornecimento gratuito desses motores. Para uma equipa que contava cada tostão, parecia ser bom demais para ser verdade.
E era. Porque nos bastidores, outros se mexiam. Nomeadamente, Flávio Briatore, o patrão da Benetton. Nessa altura, ele queria os motores V10 da Renault, que tinha a Ligier, e em conjunto com Tom Walkinshaw, adquiriu ações suficientes para controlarem a equipa. Quando conseguiram, no final do verão de 1994, ficou nas mãos de Tom Walkinshaw, um dos seus adjuntos, e algum tempo depois, em Novembro de 1994, para continuar a ter um bom motor, perguntou se a Mugen-Honda poderia os ter. A preparadora deu sinal positivo.
Contudo, havia um problema: a Mugen não poderia fornecer duas equipas ao mesmo tempo, e preferiu o curto prazo, ou seja, a Ligier. Para além disso, a preparadora fez um acordo estranho, colocando... três pilotos na sua equipa, um deles japonês: Martin Brundle, Olivier Panis e Aguri Suzuki. E claro, o maior prejudicado foi a Minardi, que já projetava o novo chassis, o M195 com motor japonês, bem mais potente e mais competitivo que o V8 da Cosworth. Apesar de uma compensação de 3,5 milhões de dólares pelo sucedido, a equipa perdeu patrocinadores por causa desta troca e decidiu, em troca, meter uma ação em tribunal, pedindo 7,5 milhões de dólares em compensação.
E tudo indicava que Minardi tinha razão. Os tribunais estavam prestes a sentenciar a favor da equipa de Faenza quando Briatore os decidiu chantagear. E esse momento critico aconteceu no fim de semana do GP de França de 1995.
Na sexta-feira do Grande Prémio, uma ordem do tribunal de Nevers, em Magny-Cours, decidiu apreender material foi apreendido a pedido de Briatore. Ao longo das semanas, ele tinha adquirido algumas das letras em débito vindas da temporada de 1993. Usou isso como material para os encostar à parede e os obrigou a aceitar os 3,5 milhões de compensação que ele tinha dado, em troca das dívidas que tinha com ele e do qual os pagaria. Em troca, a Minardi desistiria do processo.
No mundo da Formula 1, isto foi visto como a vitória do mais forte sobre o mais justo.
Contudo, nem foi a última vez que Briatore e Minardi estiveram juntos. As dificuldades financeiras que a equipa passou, no final de 1996 fizeram que Giancarlo Minardi tenha pensado em abandonar a Formula 1, mas Bernie Ecclestone interveio para assegurar a sua sobrevivência, arranjando financiadores, que compraram até 85 por cento da equipa. Briatore conseguiu 15 por cento, enquanto arranjava outros financiadores como Beppe Luchinni, que entretanto tinha saído da equipa no final de 1995, o ex-piloto Alessandro Nannini (que tinha estado na Minardi entre 1986 e 87) e Gabriele Rumi, o dono da Fondmetal, marca italiana de jantes para automóveis.
Todos asseguraram a sobrevivência, e Briatore, enquanto lá esteve, fez "lobby" para que a equipa fosse vendida para a BAT, British American Tobacco, que nessa altura queria comprar uma equipa, em vez de construir uma de raiz. Os restantes sócios não quiseram, e a meio desse ano, decidiu vender a sua parte para Rumi, que acabaria por ficar com 50 por cento da equipa, em pé de igualdade com Minardi. Quando a Briatore, conseguiu o que queria com a Tyrrell, quem em 1999 virou BAR.