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terça-feira, 22 de junho de 2010

O Kudoro chegou à Bahia

O Kuduro, ritmo angolano por excelência, atravessou o Atlántico (como menos intensidade com que chegou à Lisboa, é verdade) e domina Salvador. Vejam que gracinha esse bailarinho mirim.Te cuidam, kuduristas da Chicala ou Sambizanga ou ainda do Prenda.

sábado, 4 de outubro de 2008

Uma história triste

Quando criamos esta Casa, nossa intenção era publicar centenas de pequenos web documentários sobre a vida em Luanda. A sensação de insegurança em Luanda, porém, nos impediu circular livremente com a filmadora. Até hoje, publicamos praticamente um único filminho feito por nós, sobre as Tranças de Luanda.

Em Benguela, essa sensação de insegurança não existe. Portanto, a filmadora voltou a funcionar.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Você já teve malária?

Fazer uma pergunta dessas a um angolano equivaleria a perguntar para alguém, em São Paulo, se já ficou gripado alguma vez na vida. A malária ainda é endêmica por aqui. No ano passado, 2 milhões de pacientes foram internados nos hospitais de Angola com paludismo (vide o Grande Dicionário).

Essa é uma boa notícia.

Em 2003, o número de internados havia sido de 3 milhões, tempo em que a maioria dos doentes sequer procurava ajuda. O tratamento era pago, custava caro e só ia parar nos hospitais quem entrava em coma.

Em 2006, o governo de Angola decidiu fazer o que o Brasil até hoje não fez em relação à dengue: atacar o problema com seriedade.

Aprovou uma lei tornando o tratamento gratuito para todos, passou a usar o Coartem, o medicamento mais eficiente contra a malária no momento, e buscou apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, para trabalhar a prevenção.

Desde então o Unicef já distribuiu 1,8 milhão de mosquiteiros impregnados no país. No ano passado, 215.500 crianças com menos de 5 anos e 27.300 mulheres grávidas foram curadas com Coartem.

Resultado: o número de mortos caiu de 30 mil, em 2003, para 7 mil no ano passado. E a malária deixou de ser a primeira causa de mortalidade infantil nas maternidades de Luanda.

A seguir, a Casa de Luanda apresenta gente comum que está ajudando Angola a vencer essa guerra:

O vigilante Tomás
Laurindo Tomás se orgulha de ser vigilante da Saúde. O programa foi implantado no ano passado pelo governo provincial de Luanda, que se baseou no modelo brasileiro de agentes comunitários. Tomás ganha 4 mil kwanzas por mês (US$ 53) para visitar 100 famílias perto da casa onde mora, no Bairro Boa Esperança, em Cacuaco. Ensina noções básicas de saúde, encaminha doentes ao posto médico, consegue mosquiteiro para as grávidas e garante que os bebês recebam as vacinas. Soma-se a outros 1.669 vigilantes em seis municípios.
O médico Pascoal
Domingos Pascoal dirige a Unidade Sanitária de Cacuaco, posto de saúde para onde correm todos os doentes em busca de tratamento. Antes, vivia uma rotina de emergência, pois os infectados por malária só chegavam ali em estado crítico. Hoje, graças aos agentes de saúde e à gratuidade do tratamento, o posto vive mais cheio. Mas Pascoal não se queixa. Agora, pelo menos, ele consegue curar mais gente.

A mãe Maria
Mãe de sete filhos, Maria Cecília João Miguel teve malária na última gravidez. Foi encaminhada por Tomás para o posto de saúde dirigido por Pascoal e recebeu o tratamento. Tomou religiosamente os 15 comprimidos e livrou seu filho contrair a malária congênita – transmitidas da mãe para o bebê, as toxinas do plasmódio falcíparo impedem o desenvolvimento do feto e provocam sua morte no nascimento. O bebê de Maria nasceu saudável, há cinco meses, e hoje eles dormem sob um mosquiteiro impregnado doado pelo Unicef.

A médica Alexandra

É uma das coordenadoras do programa na Direção Provincial de Saúde de Luanda, interface do governo com o Unicef. Luta para que as direções municipais entendam a importância dessa guerra contra a Malária.

Os cearenses Carlile e Miria

O médico cearense Antonio Carlile Lavor e sua mulher, a assistente social Miria Lavor, se mudaram para Angola para treinar os vigilantes de saúde de Luanda. Eles são os pais do programa brasileiro, cujo primeiro piloto Carlile implantou em Planaltina (DF) em 1975. Depois disso ele voltou para Jucás, sua terra natal, levando a idéia no bolso do jaleco. De lá ela foi ampliada para o Ceará, depois para o Nordeste Brasileiro (já com a chancela do Unicef) e finalmente para todo o país. Hoje o Brasil tem 220 mil agentes de saúde. Os dois foram contratados pelo Unicef como consultores do programa em Luanda.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A riqueza de Cacuaco

Boa Esperança é um ótimo nome para o bairro na periferia de Cacuaco, a 25 quilômetros de Luanda. O que me levou até lá foi a malária. No rastro das ações governamentais para combater essa doença endêmica em Angola, que mata dois milhões de crianças por ano no mundo, fui parar na comunidade empoleirada nas encostas dos morros de terra rachada pelo sol.

Boa Esperança é pobre, não miserável. Tem lá seus problemas com violência, mas nem chega perto das periferias das grandes cidades brasileiras. O maior drama é mesmo a chuva. Ela transforma o chão em lama e os seus 50 mil moradores saem de casa descalços. De sapato, ninguém pára em pé.

Pode faltar dinheiro em Boa Esperança, mas não falta riqueza. É justamente o seu maior tesouro que o projeto de prevenção e combate à malária tenta proteger: as crianças. A espontaneidade e a alegria no olhar delas chama atenção através das lentes.

Elas se divertem com tudo. Com a cobra que acabaram de matar, com o “pula” atrás da câmera que nunca viram, e escancaram-se em sorrisos generosos, para que todos vocês possam experimentar um pouco dessa alegria sincera.

Mas nem todas as crianças que encontrei lá estavam felizes.
O Domingos, por exemplo, não estava sorrindo. Ele tem 5 anos e perde peso inexplicavelmente há um mês. Ninguém consegue saber o que ele tem. Estava na fila com a mãe, Francisca, para passar por um médico do Centro de Saúde.

O Felipe, de 8 anos, estava isolado no compound para tratamento de pacientes com cólera. Era o desânimo em pessoa. Nada do que eu disse, das brincadeiras que fiz, foi capaz de fazê-lo sorrir.

domingo, 30 de março de 2008

Despedida da Musseque

Como despedida da travessa da Saudade (que descobrimos outro dia que oficialmente se chama "Pezinhos na água"), uma galeria de fotos da vizinhança:

A rua de casa:


A mulherada na porta (o salão de beleza da rua...):

O mercado da esquina:


Nossos vizinhos do lado esquerdo (Nanda e Teddy) brincando,



estudando,


e posando pra foto!

Crianças da rua brincando de carrinho...

e de carrão...

Divertindo-se com a câmera!

Pra fugir do calor, bacia vira piscina...
...e quintal vira quarto!

Da janela do quarto, o mar de telhados de zinco...

E varais de roupa!

E finalmente, pra compensar, a vista do terraço!

terça-feira, 25 de março de 2008

O leite de cada dia

Andando por Luanda lembro-me sempre da transformação que as mulheres que conheço sofrem na maternidade. Os cuidados com que cercam os bebês, as precauções para evitar a exposição a bactérias e vírus nas primeiras semanas de vida, o ritual da amamentação, com o sofrimento das dores no peito.

Tudo isso me volta à lembrança porque, a todo momento, encontro mulheres angolanas amamentando seus bebês nas condições mais impróprias. Elas os amamentam nas calçadas cheias de lixo, com o esgoto correndo ao lado, enquanto fazem tranças nos cabelos umas das outras, vendendo mercadorias em bacias encardidas. E não param para observar o bebê mamando. Movimentam-se com o filho grudado ao peito como se tivessem um pacote no colo.

Nunca vi nenhuma delas limpando o bico do seio antes de enfiá-lo na boca do inocente. Vão logo tirando da camiseta, totalmente suadas com o calor infernal desta cidade. Fazer a criatura arrotar, então, nem pensar.

Talvez seja um comportamento cultural, coisa de quem tem um filho atrás do outro. Talvez seja apenas falta de tempo. Bem ou mal, o filho já está se alimentando; elas, na maioria dos casos, ainda precisam batalhar a refeição daquele dia.