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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Hoje não estou para ninguém, sim?

Então e vocês perguntam: migas, Portugal perdeu e tal... Estás de trombinhas? Sim. Enormes trombas. Ontem deu-me para ir ver o jogo fora de casa e pasmem-se: ver-o-jogo. Sim, até agora, porque trabalho (wow, juras migas?) e pronto também não sou nenhuma doente pela bola, nem pela selecção nem por nada dessas coisas chamadas “desporto”, sobretudo relacionadas com gajos que correm atrás de uma bola, decidi que sair a meio da tarde para “ir ver o jogo” seria, no meu caso ir dormir para o sofá e fazer de conta que vi o jogo. Por isso, de modos que ontem, eu vi Portugal a jogar pela primeira vez. E, se me virem por aí a ver jogos da selecção ou entre clubes, (vá, o FCP sou capaz de ver sozinha uma vez por época), trata-se de uma coisa chamada “solidariedade feminina”. Mas, e agora perguntam: então e porquê de trombinhas??? Já que eu ligo “tanto” ao jogo da selecção. Porque pronto, vi uns cabrões a assaltarem-me o carro. Mesmo dentro do carro. Eu nem queria acreditar mas sim, era verdade. Estavam lá uns mafiosos que claro, para lá entrarem tiveram de fazer aquele truque espectacular* que é estragarem a fechadura para... tcharan... levarem... nada. Não tinha nada para roubar. É chato, eu sei. Fosse eu aparecer a entrar no meu carro naquela altura, e ainda levava um enxerto de porrada só para não me armar e não deixar algo aos homens que coitados, andam a trabalhar e precisam de receber um mambo qualquer. Vá lá que não lhes deu para cagar lá dentro, como uns que assaltaram a casa de um colega e que decidiram que era de bom tom, já que levavam umas cenitas dele, deixarem-lhe uma “lembrança”, no meio do chão da sala. Amorosos. E pronto, era isto. Agora já pedi para arranjarem a fechadura porque neste momento, a porta ficou mesmo fixe que nem fecha mas, baixou em mim uma dúvida, que me inquieta: e deixá-la assim? Era ou não era de mestre?

*Até eu fazia melhor com um cordão das sapatilhas. Sim, tenho cara de sonsa mas genes de MacGyver...

sábado, 26 de junho de 2010

Samuel ou, o Anselmo Ralph do Cazenga

Tenho vindo a tentar lembrar-me do apelido que lhe davam mas, não há forma de me lembrar. O nome era Samuel. Passado uns tempos quis que o chamassem de Anselmo. Como o Ralph, o cantor. Andava vestido à estrela e aparecia com óculos de sol igualmente... à estrela. Cheguei a mandá-lo apertar a camisa e tirar os óculos de sol pois o trabalho, não era nenhuma passerele. Mas ele, vaidoso e com a mania de que era gato, andava sempre no limite. Os colegas contavam-me que levava o envelope com o ordenado fechado e só o abria em frente à garota dele. Caso raro por estes lados. No entanto, chegava ao cúmulo de não ter dinheiro para o táxi, ter o ordenado dentro do envelope e pedir aos colegas dinheiro emprestado para o táxi, não fosse a garota dele perceber que faltava dinheiro no envelope. Caso mais raro ainda, por estes lados. Nunca conheci a garota dele e, depois de todas estas histórias não percebo se ela era uma Big Mama e ele corria o risco de levar duas chapadas e tombar com alguma coisa partida ou, sei lá, se ele era simplemente fofo com a sua amada. Certo dia, a discussão com os colegas era sobre a mobília da casa. Ela é que ia escolher. Os outros, contra, está claro. Onde já se viu a mulher escolher. Ele é que tem de ir comprar, já que ele é que vai pagar. Ele, com a teoria de que vão os dois escolher e que assim é que deve ser. Os outros, respondiam que assim ela ia habituar-se mal, ele é que pagava e escolhia. Caso arrumado. Tinham todos mais ou menos a mesma idade. Todos menos de 30 anos. Quando o Anselmo Ralph percebeu que não conseguia levar a melhor, pergunta-me. Como faria eu? Respondi que escolhia, junto com o meu querido. Assim é que eu achava correcto, já que viveríamos os dois na mesma casa. O Anselmo, radiante ouviu logo como resposta da oposição: mas ela é branca. A tua namorada não é branca. Por isso, não compara. Neste caso, como em tantos outros, à falta de argumentos, prevalece o sempre indiscutível e espectacular argumento da cor da pele.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Eu, descrente me confesso

Que não imaginava que ainda ia ver "tribos", em Angola que não falam português. Os homens, vestidos com panos da cintura para baixo (vá lá, podia ser mais "tribal" ainda). As mulheres igualmente semi-vestidas (e de mamocas ao léu). Os homens, à minha pergunta sobre a localização de um rio, olhavam de cajado na mão como se eu fosse um ser nunca antes visto. Sem sequer pestajenarem. Apenas um, velhinho, velhinho, dava uns toques de português e pediu boleia para o posto médico porque, depreendo pelo gesto da mão em círculos na barriga, que os intestinos não iam bem. Fotos, não há. Sou ainda demasiado tímida para pedir para tirar fotos destas situações. Mas para a próxima, fica prometido. E a boleia, foi dada, está claro.

domingo, 30 de maio de 2010

As palavras proibidas

Já todos sabemos que em Angola (e não só) há palavras proibidas. Quando vim para cá, ainda me lembro de ouvir alguém que viveu muitos anos em Moçambique: ah, não digas preto, é negro... ou escuro. Pfff, para mim, pura hipocrisia e, o termo escuro roça até o cómico mas, adiante. Eu sei que este post pode chocar muita gente e talvez, também só o publique agora que, me parece que a Casa tem menos audiência porque, em tempos, jamais me atreveria escrever algo com este tema. Ia sair polémica na certa. E porquê escrever? Logo agora que acabei de fazer umas pipoquinhas e estava a jiboiar pelo sofá, a fazer um update pelos blogs? Porque sim. E porque acabei de ler um comentário a um post, num blog duma garota - portuguesa - que cá está, a dizer que há certos termos que xiuuuu, não podem ser ditos assim. E eu, não concordo porque acho que a intenção e a maldade é que torna esses termos "proibidos". Em tempos, ao caminhar na rua e com um "cidadão angolano de raça negra" no meio do caminho, na conversa com uma zungueira, esta diz-lhe: deixa passar a pessoa. Ele vira-se e diz: esta? Esta não é pessoa. Ora, isto foi uma forma de racimo, de preconceito, do que lhe queiramos chamar. Óbvio que não gostei e nem respondi. Dei corda às sapatilhas e fui à minha vidinha que dali, não podia resultar boa coisa. É normal que, sendo os brancos, a minoria por cá, também sintamos na pele o facto de sermos diferentes. Tudo isto para dizer que, na minha opinião, preto ou negro é a mesma coisa. Se eu uso a palavra preto? Não. Porque sei que há almas deveras sensíveis e que acham que dizer preto é completamente diferente de dizer negro. E eu pronto, aceito mas não percebo. Porque para mim, tudo depende da intenção, da entoação que se dá à palavra (que por muitas cambalhotas que dê, num blog é difícil de explicar), do grupo com quem se conversa... enfim, uma infinidade de variáveis. Também já arrisquei a perguntar a uns colegas negros que trabalhavam comigo porque não gostavam que se usasse o termo preto. Disseram que não gostavam. Preto não. E, a justificação era tão boa que eu, já nem me lembro. E, eu respeito apesar de acreditar que a carga negativa nesta ou noutras palavras, depende de quem as usa. E pronto, aqui fica a minha opinião. Os angolanos (que segundo as minhas estatísticas serão 2 dos nossos 3 leitores) que nos lêem que opinem que a malta está cá para aprender e, quem sabe, não me fazem mudar de ideias sobre esta temática.
* Confesso que até tenho medo de clicar no Publish Post

quarta-feira, 19 de maio de 2010

No dia em que Luanda mudou para mim

Acabo de ler este post do Miguel. E ainda estou nervosa, só de o ler. Com aquela sensação que se tem quando se vê um filme de suspense ou, no meu caso, também antes dos testes na escola. Pela primeira vez aqui no blog decidi também falar da experiência que vivi, quase há um ano. Na altura, achei por bem não escrever nenhum post. Não por mim, por não querer recordar. Mas pelas vozes dos merdosos que eu sei que iam aparecer a perguntar se no meu país também não há assaltos e blá blá blá pardais ao ninho. E eu, sinceramente, não tenho pachorra para gente estúpida. Porque haver há. Eu é que em 30 anos de existência, nunca vivenciei nenhum. Em Portugal ou nos países para onde viajei. Nem ninguém da minha família ou amigos. E também não moro propriamente em Carrazeda de Ansiães. O mesmo já não posso dizer dos amigos/colegas que vivem em Luanda. Mas, adiante. Quando fui assaltada, ia sozinha. Ia ter com uns amigos para jantar. Estacionei ao lado do restaurante, também na ilha. A partir daí foi o inferno. Os parvalhões - dois - não iam armados. Ou pelo menos, eu não vi nada. Até porque, dois matulões, visivelmente alterados com álcool ou drogas, não precisam de grande ginástica para me assaltarem. O problema é que eles não disseram nada. Não pediram nada. Um avançou logo a enrolar-me o braço no pescoço, a tapar-me também a boca e o outro, a procurar pelo que podia. E eu, esperneei, gritei porque sinceramente não pensei que aquela merda fosse só um assalto. E resisti. Muito. Já no meio do chão, abri a mão e dei-lhes o telemóvel que levava. A perda foi só essa. "SÓ". Ainda perguntaram se eu tinha mais alguma coisa e eu, com um sangue-frio inimaginável disse que não, sentada no meio do chão, e com o dinheiro no bolso de trás. Fiquei toda dorida nos dias que se seguiram, pescoço e orelhas inchadíssimas e um pé arranhado. Os camaradas à volta, que acham que controlam os nossos carros, nada. Só olhavam, talvez tão assustados como eu, não fosse a seguir chover também para eles. E pronto, depois disto a minha vida em Luanda, nunca mais foi a mesma. E agora, quando me perguntam qual é, para mim, o pior problema de Luanda, eu respondo: a segurança. Esta não foi a única situação de perigo. Tive outra, há poucos meses. Outro parvalhão, desta vez com um faca. E eu, em pânico (e feita estúpida), voltei a resistir mesmo depois do primeiro episódio me ter mentalizado que jamais resistiria novamente. Mas não. Desta vez pirei-me virada de costas para ele. O que é sempre bom quando o gajo que vem atrás de nós tem uma faca na mão. O que me safou é que aquele era um bandido ingénuo, um baby-bandido, e seguiu a vida dele quando viu que eu ia dar trabalho. Não fui feita para ser assaltada, está visto. Esta última, ainda por cima, foi num fim de tarde no regresso a casa depois de ter tido um acidente de carro, também o mais violento nos meus 30 anos de existência (culpa do outro que bateu por trás a uns, sei lá, 80km/hora), naquela "autoestrada" ali para os lados da Corimba. Já em casa, lembrei-me do que um amigo me tinha dito depois do outro assalto. "Nunca acontecem dois azares no mesmo dia". Pois. Parece que em Luanda tudo pode acontecer.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Para o X: O padeiro que me queria criar

Algures na província do Kunene, em viagem profissional, paro para comprar pão. A cerca de 100km da cidade de Ondjiva, era o melhor pão da região, dizia o meu colega que vive lá. Entramos na padaria. Cá fora, um dos padeiros, velhote, conversava com uma garota. Falavam sobre mim e, nós ouvimos. Deliciados.
Padeiro: Não tenho dinheiro para criar uma branca destas.
Garota: Pois não.
Padeiro: Uma branca destas fica cara. E como é linda. Mas eu não tenho dinheiro para a criar.
Garota: Xé, cala a boca. Não vê que ela está acompanhada pelo marido?
Padeiro: Não é marido. É pai.
Tudo isto, sem qualquer pudor. Sem medo de ser ouvido. Com a ingenuidade característica de Angolano da província. Cá fora, ainda conversamos um pouco. Ele pergunta-me o nome e diz que tem um filho com o mesmo nome. Fiquei na dúvida. Que queria mesmo dizer ele com "criar"?

quarta-feira, 1 de abril de 2009

As voltas de Luanda

E se de repente, perdemos o que nos trouxe a outro país? Podia seguir caminho, levando Luanda como um pedaço de mim. E se o destino é contrariado e deixamo-nos ficar? Ficamos a ver a vida acontecer, procurando um outro rumo. Seguimos com passadas menos seguras mas, seguimos. O encanto de percorrer a Luanda sozinha, ainda está por descobrir. A Luanda que me fez rir, tantas vezes rouba-me o sorriso. Mas essa Luanda vai dar-me um final feliz. E enquanto as palavras fogem de mim, grito pelo colo do meu país. Porque quero contrariar a ideia de quem me diz que, em Luanda sobrevive-se. Eu quero um dia escrever que em Luanda, vivo feliz.

*Para a Kianda que acha bonita a “história de amor” que se transformou num amor diferente, pela sua Luanda.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Angola entrou na minha vida...

...muito antes de eu pisar em Luanda.

Tinha quase 10 anos de idade quando apareceu na minha sala de aula da quarta série uma aluna nova. Chamava-se Carla Patrícia e mais singular do que o nome, para nós, era o sotaque com que ela se expressava.

Usando a língua como no tempo de Camões, com todos os esses bem marcados e os pronomes nos lugares certos, Carla Patrícia nos contou que nascera em Angola em 1971. Mas que deixara o país quando este se tornara independente.

Na partida, ela se separara dos pais, que foram tentar a vida no Brasil; fora levada pelos avós para Portugal, onde vivera até entrar na minha sala de aula da quarta série.

O tempo passou e em algum momento mudei de escola e perdi o contato com Carla Patrícia. Nunca mais a vi, nem sei nada sobre o que se passou com ela depois da oitava série.

Provavelmente, nunca mais a encontrarei e jamais poderei contar a ela que agora já conheço aquele lugar chamado Angola, que ela nos apresentava em seu sotaque lisboeta como o melhor lugar para se viver em terras de África.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Hey!!!

O meu último post, pode ter passado a ideia de que andava triste ou deprimida com a "nossa" Luanda. Errado. Nada mais errado. Explicando: afinal, porque escrevemos em blogs? Inicialmente, por puro passatempo ou diversão. Ao fim de algum tempo, para além do prazer de contar as nossas histórias, consegue até encontrar-se ligações interessantes com alguns leitores que passam de desconhecidos, a amigos. Já me aconteceu. Ora, para mim, deixa de fazer sentido quando eu me irrito com os MEUS passatempos. Sou, regra geral, muito prática. Não gosto, não como. Quer dizer, eu até gosto e como de tudo. Sou a chamada "boa boca" no que se refere a comidinha. Só não "como" parvoíces. Faz-me uma certa azia, confesso. Não estou para viver o MEU passatempo, de pantufas, se é que me entendem. Por tudo isso, e porque a migas não está triste nem desanimada e, muito menos vai embora, deixo mais um texto, escrito à uns mesitos. Como desta vez, não vou criticar "pretinhos" mas sim, "branquinhos", peço a vossa licença. Sim, sim. A migas, anda impossível com o seu humor corrosivo de espanta espíritos maus...


Sabem aquelas conversas que começam: o irmão do meu amigo, blá blá blá... e se está mesmo a ver que se passou com a pessoa que nos conta? Pois bem, a irmã do meu amigo, ia a entrar em casa e as garotas vizinhas pararam à porta, ao lado dela, reparando em todos os gestos que fazia. De repente, uma diz:
Garota: moooçã...
Irmã do amigo: sim, diz.
Garota: moooçã, és bonita.
Irmã do amigo (sem jeito): ah, obrigada mas, tu é que és muito bonita.
Garota (para a coleguinha do lado): nunca tinha visto uma branca de rabo grande.

O que dizer à irmã do amigo? Que não sei se o “grande” é grande de bonito, jeitoso ou de GIGANTE. Ou então, que o “grande” da garota, pode não ser o “grande”, de “grande” à portuguesa mas sim, o “grande” ã angolana. Eh pá, não sei. Só sei que, as crianças não mentem.

*Voltarei, para chorar a despedida daqueles que um dia, acharam que eu podia ser uma boa companhia para partilhar esta CASA DE LUANDA. Prometo muita choraminguice, na festa de despedida! Oh, se prometo!!!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

As manhas da Dorotéia

Dorotéia visita a uma comunidade do Kwanza Sul: dias felizes


Bastou perceber que seria deixada para trás para Dorotéia começar a resmungar. Logo ela, que enfrentou longas estradas até o Kwanza Sul e Huambo sem jamais criar um único problema, agora decidiu que só dá na partida quando bem lhe entende.

Todas as manhãs desde que voltamos da Namíbia é assim. Dorotéia só pega depois de uma conversa, um carinho no volante, e algumas tentativas na chave.

Incrível como é apegada essa menina...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Dias contados

Há muito deixou de ser segredo para os mais próximos. Agora chegou a hora de anunciar aos leitores e também aos detratores (que poderão comemorar à solta): dez meses e mais de 38 mil visitas depois, a Casa de Luanda vai fechar as portas.

Não por falta de histórias para contar, não por causa das críticas ferozes. Simplesmente porque as malas estão quase prontas, as passagens estão compradas. Em poucos dias, Luanda ficará para trás na janelinha de um Boeing.

Não realizamos tudo o que queríamos, nas cumprimos um ciclo em Angola. Chegou a hora de partir. Cedo demais? Talvez. Mas quem, afinal, consegue colocar em prática tudo o que sonha?

Eu tinha idealizado esta Casa para que ela pudesse continuar depois que partíssemos. O primeiro passo era criá-la, o segundo era abri-la às idéias dos leitores mais fiéis, o terceiro era transferi-la para aqueles que nela mais se sentissem em casa. Os dois primeiros passos correram conforme o imaginado, o terceiro falhou.

O entusiamo da querida Migas, em quem mais apostávamos como sucessora, foi abatido a golpes de grosserias por alguns comentaristas. Não a culpo. É mesmo dura a vida de quem diz o que pensa e o que sente a quem não quer ouvir.

Ainda não vou me despedir de todos hoje. Continuarei publicando textos nos próximos dias. Também ainda não tenho nosso novo endereço virtual, mas o publicarei aqui, assim que for possível, para aqueles que quiserem continuar nos acompanhando.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Para um 2009 mais tranquilo

As palavras continuam a fazer parte de mim. Escrevo e guardo para um dia não esquecer tudo aquilo que eu quero recordar. Da Luanda que não pára. Da Luanda que acorda cedo e dorme tarde. Da Luanda que, a cada dia que passa me dá coisas boas e más. E é dessas coisas boas e más que vou escrevendo por aqui. Das viagens, das pessoas que, de certo modo me marcam, dos momentos de solidão, de saudade, das mudanças em mim. E quando escrevo das coisas más, que me revoltam, não significa que Luanda seja má ou que as pessoas sejam más. E eu compreendo que muitos não gostem de ler. Porque os meus olhos vêm coisas que outros olhos não vêm. Sobretudo aqueles que vivem fechados neste seu mundo, só deles, que querem só para eles e, que se recusam a partilhar com os novos que chegam ao seu país, à sua cidade. Que comem da sua comida, que se enamoram pelas suas mulheres, que ouvem a sua música, que vivem no seu país como se fosse um pouco deles também. Mas eis que, mesmo quando se fala do bom que Luanda tem, da música que se pode ouvir, das praias onde se pode ser feliz, as vozes revoltadas continuam a aparecer. Porque enquanto os ricos ouvem a música e nadam no mar quente, os pobres continuam a comer restos, os pobres continuam doentes, os pobres continuam sem futuro. E afinal, o que é suposto escrever sobre Luanda? Nada? Sim. Acho que nada. Porque de alguma forma, as palavras que se escrevem continuam a revoltar. A nossa realidade é sempre a realidade dos olhos de quem não é desta terra. E por isso, a vontade de escrever e partilhar, desaparece. Desaparece a cada dia que passa. A paciência, desaparece também. Porque Luanda não está preparada para admitir que não tem muita coisa. Porque Luanda não está preparada para admitir que tem muita coisa para dar. A todos. Não só aos ricos como muitos insistem em chamar-nos. Não vou justificar a minha vida, ou a vida de todos os que aqui escrevem. Não vou justificar porque somos infelizes e felizes nesta Luanda. Vou apenas justificar porque as minhas palavras fogem desta Casa. Porque nenhum de nós veio com a missão de mudar a realidade. Nenhum, isoladamente, tem a missão de mudar Luanda. Aos que gostam de nos ler, mesmo que não concordem sempre, obrigada. Aos que se riem connosco, obrigada. Aos que relebram um passado presente na memória retalhada, obrigada. A todos, os votos de um 2009 diferente. Melhor. Sempre melhor. Mesmo que o melhor seja pouco. Mesmo que o melhor seja quase nada, para mim ou para todos os de Luanda. Aos que são a pedra no sapato para quem escreve sobre a realidade que vive, um abraço e um queijo e até mais logo. Porque a sua existência mais lembra a de um velho, amargurado pela sua infeliz vida, que lhe foge, mas que nunca nada fez para a mudar. E vive assim. Infeliz. A maldizer a sua sorte e a dos que o rodeiam. Luanda precisa de pensamentos positivos. Não de velhos deprimidos e amargurados com o destino da sua Luanda. Não é um adeus ou um até já. Porque não sei se realmente vou voltar a querer escrever.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Só mesmo Luanda pra fazer o F. vestir este modelito...


A tarefa parecia simples: ir até o Ministério das Finanças pegar um documento. O F. me levou, porque é praticamente impossível estacionar por ali.

Na entrada, o segurança me barra:
-Moça, tem que meter o cachecol!
-Cachecol? Com esse calor?
-É, madrinha. Não se pode entrar de ombro de fora.
-Mas moço, só vou ali pegar um papel. E minha blusa é bem fechada, nem tem decote. Qual o problema do ombro de fora?
-Decote pode, mas ombro de fora não. Tem que meter o cachecol, madrinha...
-Mas eu não tenho cachecol! O senhor acha que eu vou andar de cachecol com esse calor?
-Então tem que voltar outro dia...

Já tínhamos perdido uma hora de trânsito pra chegar até lá. Voltar outro dia, nem pensar. Fui então atrás do F., que já estava dando a volta na quadra. "Fico no carro e ele entra", pensei eu.

Mas logo me dou conta que o F. está de... bermudas! Se não pode ombro de fora, perna também não deve poder, né? Olho pra blusa dele. Uma pólo surradinha...

Eu: -Hmmmm... E se eu vestisse a sua blusa? Não é muito fashion mas pelo menos cobre os ombros...
F.: -Tá, mas e aí como eu faço? Também não posso dirigir sem camisa.

Olhamos ao mesmo tempo para a minha blusinha... E é aí que surge, nas duas cabecinhas, o plano perfeito...

Eu proponho:
-E se...
F., captando a mensagem:
-Não, esquece. Não vou vestir sua blusa de alcinha.
Eu: -Mas já perdemos tanto tempo vindo até aqui... E além do mais ninguém vai te notar assim dentro do carro.
F.: -Sem chances. Vou tentar estacionar, te dou minha blusa e fico sem, esperando no carro.

Depois de 40 minutos tentando encontrar um vaga, sem sucesso, F. entrega os pontos:
-Dá logo essa blusa aí que eu vou vestir. O máximo que vai acontecer é o policial me multar por boiolice...

Visto a pólo surradinha, mas o F. se atrapalha todo com as alcinhas. O sinal vai abrir, ele tem que acelerar, mas a alcinha do ombro direito não passa no bracinho de nadador. F. força um pouquinho e... a alça arrebenta!

Fazer o quê? Encostamos no Ministério, eu subo as escadas de mármore rindo sozinha e a secretária não tira os olhos da minha blusa. Explico: -Não tinha cachecol, improvisei com a blusa do meu marido. E ela: -Ah... Achei que a senhora fosse alemã! Elas é que costumam se vestir assim! (vai entender...)

Em 5 minutos estou de volta e logo reconheço a Dorotéia parada no semáforo, com o F. em estado de graça com seu modelito tomara-que-caia!

Moral da história: Em Luanda, algo muito simples pode facilmente transformar-se numa grande aventura. E para que ela tenha final feliz é preciso muito bom humor e muito jogo de cintura! (e se possível um marido disposto a mudar de estilo!)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Roque Santeiro Voador

Os auto-falantes da cabine anunciaram, logo depois do anódino almoço servido pelos tripulantes, que estava aberto o período de compras de free shopping do vôo 172 da Air Namíbia entre Windhoek e Luanda. A partir daquele momento, os passageiros que assim o desejassem, poderiam procurar os hospedeiros... A explicação nem terminou e os comissários já estavam cercados por angolanos, revista com as ofertas de produtos numa mão, notas de dólares americanos na outra.

Uma dessas "banquinhas" estacionou bem ao nosso lado. E começaram as negociações de produtos. Uma passageira mais afoita pedia em português mesmo:

- Eu quero três diquinay. Três diquinay pra mim.

Fiquei a imaginar o que seria o tal produto, dúvida que sequer passou pela cabeça do comissário de bordo, pois que imediatamente saiu-se com três frascos de perfume DKNY.

- It is 135 american dólars - ele disse em inglês.
- Tem aqui 200 dólares - respondeu a passageira em português.

O hospedeiro devolveu 50 dólares e pediu a ela que esperasse, pois não tinha mais troco. Ela continuou ao lado, a revista na mão. Outros passageiros chegavam comprando, um tentando ser mais rápido que o outro. A passageira diquinay pediu mais alguns produtos, deu mais algum dinheiro, no fim das contas, o hospedeiro continuava a lhe dever USD 20. Pelas contas dele. Pelas dela, eram 30 USD.

- Me dá mais um diquinay e fica certo.
- You have 20 dolars back, this costs 45 dolars.
- Não, me dá só mais um diquinay e tá certo.

Começaram a debater os valores, tentando um acerto de contas. Nisso chega a tia da "diquinay", gritando do outro corredor.

- Oh minha sobrinha, dá só 20 dólares à tia.
- Eu não tenho 20. Só 100. O troco aqui não chega.

Pelo auto-falante, outra comissária começa a anunciar que o vôo está se preparando para aterrisar em Luanda. O Free Shopping vai ser encerrado... O quê? Encerrado? Bateu o desespero nos outros passageiros que ainda não estavam satisfeitos com suas compras. E a banquinha do hospedeiro foi cercada por mão cheias de notas de dólares que pediam mais um perfume, mais um uísque, mais não sei quê. Nossa fileira, àquela altura, já era uma sucursal voadora do Roque Santeiro.

A passageira diquinay finalmente chegou a um acordo com o hospedeiro. Foi pedindo mais um diquinay, e mais outro, e mais outro, até que a conta chegasse a um número inteiro e ele não precisasse lhe dar troco. Quando parei de contar, ela já tinha seis fracos de perfume na sacola, mas é possível que tenha levado mais.

Foi a primeira vez na vida que vi uma tripulação ter de implorar para que as vendas fossem encerradas. Depois de várias tentativas pelo sistema de som, a comissária chefe decidiu meter ordem na confusão, com o Airbus 340 já apontado para a pista, na reta final de aterragem. Mandou o carrinho de volta para o fundo do corredor, no que foi prontamente seguido por um senhor gordinho, de terno, que não terminara as compras.

O auto-falante continuava anunciando a chegada, pedindo a todos que voltassem aos seus assentos, mas o senhor gordinho só passou de volta segundos antes da aeronave tocar a pista, com um sacola que mais lembrava a do Pai Natal.

Com o avião já aterrado e as portas abertas, os sinais da guerra de consumo podiam ser vistos por todos os lados. Restos de plásticos das embalagens, de caixas de papelão, de revistas do free shopping picotadas, além de latas de bebidas, copinhos, guardanapos e lixo de todo o tipo espalhado pelos corredores e entre as poltronas.

Parecia mesmo o Roque Santeiro depois de um dia de comércio intenso.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Hainavasias, as ilegítimas


Não é nenhuma novidade que o sucesso das sandálias Havaianas pelo mundo é motivo de orgulho para os brasileiros. De tão cobiçadas na Europa e nos Estados Unidos, onde chegam a custar mais de 30 dólares, as sandálias atraíram a atenção dos chineses, que já a imitam e distribuem em vários países – inclusive em Angola.

Um antigo comercial de tevê dizia que as Havaianas, as legítimas, não deformam, não têm cheiro e não soltam as tiras. Bem, não é exatamente assim. O pé direito do par de chinelas que eu trouxe para Angola soltou as tiras irremediavelmente em Benguela, há uns meses atrás. Comprei outro par, que resolveu ganhar o mundo no balanço das ondas na semana passada, numa visita à Cabo Ledo.

Foi assim que cheguei descalço à véspera de Natal. E estava eu dando tratos ao peru ontem pela manhã quando bateu à porta o Aguinaldo, motorista de uns amigos nossos, que nos foi cedido para nos ajudar nos últimos preparativos da ceia.

- Senhor F., estão aqui as chinelas. Não sei se vão servir.
- Chinelas, Aguinaldo? Como assim?
- A dona P. me deu dinheiro e recomendou que lhe comprasse umas chinelas.

Ele me estendeu um maravilhoso par de hainavasias, as ilegítimas, que havia custado 200 kwanzas (2,80 USD) nas zungueiras. Ainda não sei sobre as tiras, mas em 12 horas de utilização as chinelas já demonstraram que soltam as cores. O que não chega a ser um defeito assim tão grande, já que o par comprado pelo Aguinaldo fazia uma improvável combinação de azul, marron, branco e dourado. As tiras são de um dourado brilhante.

Quando a P. chegou de volta, eu quis saber:

- Que instruções destes ao Aguinaldo sobre as chinelas?
- Eu disse a ele que você não gostava de nada muito colorido. Pedi para comprar umas chinelas pretas, ou azuis.

Não preciso nem dizer que as minhas hainavasias foram os sucesso da noite na ceia de Natal em casa. Todos ficaram maravilhados com a criatividade cromática.

É como dizia o slogan: Hainavásias, as ilegítimas. Não aceite imitações.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O cabaz de Natal

O cabaz é uma instituição no Natal em vários lugares do mundo. Por isso, decidimos montar lá em casa um para cada proteção - eles são três, que se revezam em turnos de 24 horas - e um para a Nina. Com toda a correria de fim de ano, só consegui terminar as compras hoje. Coloquei todos os produtos dentro da caixa, embrulhei com papel de presente com motivos natalinos e levei a caixa para fora. Coloquei sobre a mesa e deixei lá.

Cinco minutos depois, quando voltei, Toni, o proteção do dia, estava parado diante do pacote. Olhava intrigado para aquela caixa decorada. Eu me aproximei e lhe disse que era um cabaz de Natal que tínhamos feito para ele. O rosto dele se iluminou:

- Para nós, chefe? Muito obrigado! Vou dividir com os outros dois.
- Não Toni, esse é só seu. Nós temos cabazes para os outros dois também.
- Só meu, chefe?!?!?! Só meu mesmo? Muito, muito obrigado, chefe. Nem sei como agradecer.

Tive a impressão de que os olhos dele se encheram de lágrimas. Claro que os alimentos dentro da cesta serão importantes para o Natal dele, mas fiquei com a impressão de que a alegria maior era por receber um presente sem que tivesse pedido nada. A cesta era uma demonstração de que alguém se preocupara com ele.

- Não precisa agradecer, Toni. Um Feliz Natal pra você e para a sua família.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O anjo do Paludismo

A dor de cabeça começou leve, no final da tarde. Mas como ontem eu havia feito uma caminhada pela manhã do Miramar à Ilha (ida e volta), logo a atribui ao excesso de sol que havia tomado.

Depois do jantar, a dor aumentou. Mas em velocidade e intensidade inéditas. Tentei deitar, a dor piorou. Fiquei sentado na cama, comecei a sentir a pele arrepiar, o estômago a enjoar. Quis vomitar, mas não consegui.

Como todo expatriado está para o diabo assim como a malária está para a cruz, já logo achei que havia recebido a visita do anjo do paludismo. Crença nem tão infundada, haja vista que o Miramar tem mosquito que baste e, devo confessar, sou bem descuidado com isso.

Odeio o cheiro dos repelentes, a consistência, a ardência que provocam na pele e a sensação de estar todo melado depois de usá-los. Entendo perfeitamente o asco dos pobres seres alados quando se deparam com uma pele pálida de expatriado cheia dessa gosma. Melhor passar longe.

Bom, lá fui eu bater à clinica no meio da noite requisitando uma gota espessa. Não custa nada, só 1400 kwanzas (19 dólares). Exagero? Atire a primeira pedra o expatriado com mais de seis meses em Angola que nunca fez um desses para descobrir que tinha uma gripe. É mesmo assim. O terror que os estrangeiros têm da malária a transforma na suspeita número 1 para todo tipo de enfermidade, de espinhela caída à unha encravada.

No meu caso, posso dizer orgulhoso, é a segunda vez que faço o exame em nove meses. Mas isso porque eu sou relaxado, tenho convicção de que passarei por Angola sem viver a experiência das febres terçãs. Mas conheço expatriado que faz um teste por mês, em média, e sempre sai do hospital com o bolso cheio de Coartem, por via das dúvidas.

Na hora que leva para o sair o resultado, já comecei a me sentir melhor. A dor diminuiu enquanto eu dava umas boas risadas com o Casseta&Planeta da semana passada (sim, aqui passa com uma semana de atraso), o sono bateu e, quando a P. ligou para a clínica para saber o resultado, eu já estava quase dormindo.

Claro que não era paludismo. E peguei num sono profundo sem saber, afinal, que raio de surto foi aquele.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O que é que África tem?

O F. já referiu neste bonito post, o quanto Angola o mudou. Não sei ainda se, para o bem ou para o mal, mas muda sim. Também posso confirmar. Já na minha última viagem a Portugal eu senti isso. Perdida no meio de lojas com coisas e coisinhas que outrora eu talvez perdesse algum tempo a apreciar, neste momento, eu fico é com vontade de ir à minha vida. Sozinha, parei até durante uns segundos e senti-me uma estrangeira que não reconhece aquele espaço como seu. A confusão de pessoas, a música nas lojas, as escolhas entre o azul clarinho, o azul turquesa e o azul marinho. Simplesmente não dá. As depressões dos amigos (mais das amigas, confesso) porque os amores vão mal, porque o emprego vai mal, porque a vida vai mal. E, no meio das minhas conversas com um amigo Moçambicano a estudar em Portugal, percebo que afinal em África, somos muito mais felizes. E ele agradece-me por perceber isso. Percebo que afinal, apesar dos amores irem mal, dos empregos irem mal, da vida ir muito mal, aqui não sabem o que é ficar dias sem água, sem luz, sem palavras para descrever a miséria de alguns sítios do Mundo. Eu também me queixo e esperneio e digo mal da minha sorte. Agora menos vezes, curiosamente. E encaro as dificuldades com outra calma, com outro optimismo. Esqueço-me onde deixei o carro num shopping, ando uma hora à procura e nenhum dos parvalhões do parque me ajuda? A migas segue calma. Calminha. É doce para meninos.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Então é Natal

Árvore de Natal ao lado do Prédio Livro, no Bairro Operário, em Luanda
Então o Natal chegou, as ruas estão mais cheias, as praças dos mercados estão apinhadas de gente a procurar dos melhores preços e o trânsito está pior.
Os candongueiros buscam melhorar os lucros. Encurtam as distâncias e dobraram o preço da passagem para 100 kwanzas.
As empresas estão a anunciar na TV, com vendedores travestidos de Pai Natal, preços exagerados como se fossem a última pechincha da terra, corre já antes que acabe.
Algumas árvores gigantes apareceram enfeitadas, como a da foto no início do post, logo ali ao lado do Prédio Livro do Bairro Operário, no São Paulo.
E eu estou quebrando a minha cabeça pra saber qual vai ser afinal a surpresa que este ano vou fazer ao meu amor na noite feliz. Mas isso já não tem novidade nenhuma.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Uma questão de coerência

Diabo seja surdo, cego e mudo pois, as frases que se seguem vão brincar com fogo. Ora, em 2 anos, nunca tive cuidados especiais com a minha saúde em Angola. Nunca tomei mephaquin porque não evita a malária e tem uns efeitos secundários a atirar para o mau. E eu sou fraquinha. Também nunca lavei os dentes com água mineral porque nunca senti essa necessidade e também não ando propriamente a engolir pirulitos enquanto lavo os dentes ou tomo banhoca. Não uso mosquiteiro na cama porque até ao momento, nunca achei necessário. O caso mudaria de figura, se sentisse essa necessidade ou, se vivesse em certas províncias mas como até à data me arrasto por Luanda, tenho resolvido bem a questão sem a rede mosquiteira. Não como saladas fora de casa e, se fizer em casa, não deixo de colocar umas mini-mini gotinhas de lixívia (sim, lixívia... leram bem) ou vinagre. Ora, tirando isto, e por razões de saúde, só mesmo o ginzinho ao Sábado à noite. Diz que tem água tónica e quinino, inimigo da malária. E a malta acredita porque até gosta. Não fugi a uns “males” da barriga mas, nada que eu não soubesse resolver. Porém, e sem querer ferir susceptibilidades, mas já ferindo porque como é óbvio, vai seguir-se crítica da grossa, acho um piadão a certos expatriados que, para além de fazerem tudo ao contrário de mim: mephaquin + rede mosquiteira + água mineral, ainda dizem que não comem natas porque ai, e tal podem fazer mal e, gastam um roll-on de repelente por semana, para dar um chega-para-lá às “mosquitas”. E depois, tcharan... fumam um maço de cigarros por dia!!! Oras, oras... Nada contra quem fuma. Mas agora, armarem-se em caguinchas com a malária quando sabem muito bem que a probabilidade de morrerem com um cancrozinho ou outra coisinha má é mais certa do que a safada de uma “mosquita” andar a morder onde não deve, façam-me um favor! Olhem, é como os que deixam de comer frango porque parece que andam por aí com gripe ou a carne de vaca porque diz-se que as mimosas andam loucas. E depois, no final da refeiçãozita de peixinho grelhado com uns legumezitos no vapor, vamos lá fumar um cigarrete. Não tenho paciência para estes caguinchas. Pronto, não tenho.