quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Semana de Gastronomia na Casa de Luanda
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Petróleo, diamantes e musseques
terça-feira, 14 de julho de 2009
Angola explica a Queda da Bastilha?
Comício político no arredores de Luanda em 2008: marchon, marchon!
Hoje, como todo mundo sabe, comemora-se a queda da Bastilha, um marco histórico da humanidade na luta contra a desigualdade social – se bem que pouca coisa mudou na terra do fromage, marriage - e da fulerage - desde que Marie Antoniette teve o pescocinho separado do colar de pérolas .
Mas eu não consegui deixar de achar surreal essa notícia abaixo, lida hoje na Angop, sobre as comemorações do 14 Juillet nas ruas de Luanda. “Audácia pura”, como diria um personagem de TV no Brasil cujo nome não lembro mais, dos organizadores. Por muito menos deboche cabecinhas coroadas rolaram “em” Europa.
Segue a notícia.
Queda da bastilha representa início da igualdade entre os cidadãos
Luanda - A queda da bastilha de França representa para o povo francês o "início do princípio" da república, baseado em valores como a igualdade, fraternidade e liberdade, considerou hoje, em Luanda, o embaixador francês em Angola, Francis Blondet.
O diplomata falava à Angop a propósito do dia nacional da França, que se comemora hoje (14 de Julho), e assinala a queda da Bastilha (que serviu como prisão do estado absolutista francês), em 1789.
Segundo o embaixador, o 14 de Julho vem afastar em França a ditadura e a monarquia absoluta contra os homens e a vontade da colectividade.
"Essa data representa o dia da libertação do povo de Paris, de modo simbólico, pois foi a 4 de Agosto do mesmo ano que se pôs fim ao sistema político, no qual uma categoria de cidadãos superava as outras", explicou.
Para a França de hoje, adiantou, o 14 de Julho é uma festa militar, com desfile do exército, inclusive estrangeiro,e este ano terá como convidado especial o da Índia.
Disse que todos os anos a efeméride é comemorada com a presença de vários chefes de Estados convidados.
Em Luanda, a data vai ser celebrada com uma cerimónia oferecida pelo embaixador da França em Angola, durante a qual vai proferir um discurso.
A bastilha foi originalmente concebida apenas para um portal de entrada ao bairro parisiense de Saint-Antoine, motivo pelo qual era denominada bastilha de Saint-Antoine, mas ficou conhecida por ter sido uma prisão e funcionou desde o início do século 17 até o final do século18.
A mesma foi derrubada a 14 de Julho de 1789.
Actualmente o local foi transformado em praça pública, onde todos os anos é apresentado um desfile militar em saudação a data.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Lá vem polêmica
2009 chegou com uma debandada geral de amigos estrangeiros que moravam em Angola. Foram abatidos pelo "blue stamp". (Vamos deixar claro desde já, esse não é o meu caso. Parto por livre e espontânea vontade. Poderia inclusive renovar meu contrato, mas por razões pessoais que explico neste post, decidi voltar.)
Funciona assim: 0s vistos angolanos de trabalho concedidos a estrangeiros têm validade de um ano, com possibilidade de duas renovações. Na segunda, o expatriado ganha um carimbo azul. Significa que, ao final do terceiro ano de trabalho, a renovação do visto lhe será negada. Ele terá de ir embora do país. Está na lei.
O governo alega que assim protege os angolanos. As companhias estrangeiras devem empregar mão-de-obra nacional e o carimbo azul as forçaria a isso. Na prática, porém, as empresas trazem outro estrangeiro para o lugar porque, ao mesmo tempo em que dá o carimbo azul, o governo permite que as companhias descontem dos impostos todas as despesas com passagens aéreas, com aluguéis milionários, com seguranças, motoristas e toda a estrutura de saúde especial que criam para manter os seus empregados expatriados.
Mas por que o governo de Angola permite isso? Eu não sei a resposta. Só sei que essa isenção é uma das responsáveis pela loucura dos preços em Angola. Como o dinheiro não sairá do orçamento delas, e sim dos impostos angolanos, as petrolíferas pagam qualquer preço que lhes peçam por aluguéis, empesas de seguranca, etc. etc. etc.
Quem ganha com essa isenção? Todos os generais que possuem empresas de proteção, pousadas, e hotéis, todos os políticos, ministros e pessoas influentes que são donos das casas do Miramar, do Alvalade e da Sagrada Família, cujos aluguéis chegam a custar 30 mil dólares por mês. Todos os angolanos ricos que são obrigatoriamente sócios dos estrangeiros em clínicas particulares de saúde, etc. etc. etc. Eles cobram o preço que lhes vem à cabeça, as petrolíferas aceitam e quem paga a conta é o erário angolano.
Em outras palavras, o carimbo azul é uma hipocrisia. A isenção é uma farra tributária e existe porque quem manda neste país ganha muito dinheiro com a presença de expatriados em Angola.
Se o governo quer mesmo estimular a contratação de quadros angolanos, pode começar por mudar a isenção de impostos. Em lugar de descontar despesas com expatriados, que tal permitir apenas a dedução nos impostos do dinheiro gasto em treinamento e formação de funcionários angolanos? Seria uma forma direta de incentivar a qualificação do trabalhador nacional para que ele tivesse condições de assumir os melhores cargos nas empresas estrangeiras.
Com o tempo, as companhias teriam quadros angolanos suficientes para os melhores cargos e parariam de gastar fortunas com expatriados. Mas aí os preços dos aluguéis, o lucro das empresas de segurança, das locadoras de veículos, tudo isso despencaria. Se não puderem deduzir esses gastos dos impostos, as companhias não aceitarão pagar qualquer preço que lhes peçam, como acontece hoje.
Será que isso interessa a alguém?
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
A emancipação da nossa angolana de fibra
- Ela ficou diabética, engordou muito, não podia mais trabalhar. Estava já separada do meu pai e eu assumi essa responsabilidade de cuidar dela também.
Nina foi bater no Miramar, bairro nobre onde ficam as embaixadas em Luanda, a procura de um emprego como doméstica na casa do embaixador americano. Os seguranças avisaram que ali era impossível. Mas mostraram outra casa onde, naquele exato momento, dois brancos faziam uma visita. Provavelmente alugariam a vivenda.
Ela foi lá bater lá e conversou com a senhora estrangeira que mal falava português. Estavam a alugar a casa para estabelecer uma embaixada. Mas ainda demoraria algum tempo até que tudo fosse resolvido e eles realmente precisassem de uma empregada. A senhora quis guardar um contato, mas Nina não tinha telemóvel na época.
- Ficou combinado que o policial que trabalha na embaixada americana ia mandar me avisar. Ele sabia a rua onde eu estava morando. Mas como o aviso estava demorando muito e eu precisava sustentar meus filhos, comecei a vender pedras.
Nina fez contatos nas diversas obras que começavam a surgir em Luanda com o fim da guerra civil. Ficou amiga dos pedreiros e eles a chamavam quando precisavam de cascalho. Ela alugava um caminhão, ia até Viana buscar pedras e as entregava nas obras, cobrando por isso.
- Estava a dar algum dinheiro, o suficiente para o aluguel e o sustento das crianças. Foi quando o policial apareceu lá em casa, dizendo que aquela senhora estava mandando me chamar.
Nina voltou ao Miramar e conseguiu o emprego no mesmo dia. Trabalharia como doméstica para a embaixada das 9h às 13h, ganhando USD 250 por mês.
Amanhã, no último capítulo: Nina não se acomoda com o emprego novo e parte em busca melhores dias.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
A rebeldia bate à porta da nossa angolana de fibra
No Kalemba apanhou uma gripe e foi ao posto de saúde se tratar. Lá o médico recomendou algumas injeções e foi assim que conheceu seu marido.
- O Dioli estudava para enfermeiro e fazia a prática lá. O conheci quando preparava as picas que eu tinha de apanhar. Todos os dias eu voltava e era ela quem me injetava. Fomos ficando amigos e começamos a namorar.
A gravidez foi uma questão de tempo e ela mesma admite que viu, na barriga, uma fuga para a situação na casa dos tios.
- Quando apanhei meu primeiro filho, fui morar na casa dos pais do Dioli, na Samba. Eles me queriam muito bem, me tratavam como uma filha e davam amor ao neto. O problema era o Dioli, que não ligava muito pra gente. Ele continuava a viver na Kalemba e eu na casa dos pais dele.
Dioli vivia distante, mas ainda assim Nina engravidou do segundo filho, antes que se separassem de vez.
- O problema é que ele quer curtir, desbundar, arrumar mulheres. Não ajuda em nada com o sustento das crianças, está sempre a aldrabar, dizer que vai ajudar, mas que nada. Eu é que seguro tudo sozinha.
Dioli hoje é taxista. Ele e Nina não se dão bem. Os filhos raramente vêem os pais.
Amanhã: com o fim do casamento, Nina tem de deixar a casa dos sogros.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Uma angolana de fibra
Estranhou porque na embaixada onde trabalha, duas casas depois da nossa, o embaixador nunca conseguiu comprar um caminhão de 10 mil litros por menos de USD 300. Esperta como só, ela anotou o telefone do motorista. Quando a embaixada precisou de água, Nina deu o número ao embaixador. O diplomata ficou admirado com a esperteza da empregada doméstica.
Nina é assim. Inteligente, honesta, batalhadora e cheia de iniciativas. Se tivesse tido oportunidades, teria ido longe. Mas a vida, a guerra, a separação ainda muito jovem da família lhe sabotaram o futuro. Nina nunca frequentou uma escola regular e hoje trabalha em dois empregos como doméstica para sustentar os dois filhos e a mãe, diabética, de 72 anos.
Nos próximos dias, sempre às 20h, vocês conhecerão em capítulos a história de vida da Nina, uma angolana de fibra.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Era uma casa muito engraçada
"Era uma casa muito engraçada
Não tinha tecto, não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos Bôbos, número zero.”
Vinicius de Moraes
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Coisas para lembrar
J., o mesmo do post abaixo, viveu o comunismo na infância e tem uma visão bem diferente do que foi aquilo:
"As pessoas eram mais humanas, havia mais afeto mesmo, entre os estranhos. Se eu parasse na estrada, a caminho da escola, logo parava uma viatura e me oferecia uma boléia. Hoje? Iam é me atropelar. Só vais no carro se der algum dinheiro. As pessoas pensam só em si. Naquela altura, tínhamos os sábados vermelhos, onde todos se uniam para fazer a limpeza dos bairros, das ruas, eram momentos em que as pessoas se ajudavam umas às outras. Quase não existiam gatunos, você podia deixar a viatura aberta na rua. Mas, agora que somos uma economia de mercado, todo mundo só pensa em si próprio, em acumular riqueza passando por cima dos outros. Não estou a dizer que aquele modelo económico era melhor, tinha muitas falhas. Mas, do ponto de vista da união entre as pessoas, epá, isto aqui era outro país."
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Vida de Proteção
Agora pouco, já depois das 8h - hora em que deveria ter chegado outra rendição - António continuava lá. A P. fez uma sandes de queijo e foi perguntar a ele, afinal, quando seria substituído.
Ele não sabia. E estava a receber as refeições pelas quais, conforme reza o contrato, a empresa que o contrata é responsável?
Não. A empresa dá dinheiro para que eles comprem as refeições. Como ele achou que ia passar apenas o dia de domingo no posto, não levou dinheiro, porque poderia comer à noite em casa.
Aí a rendição não apareceu e ele ficou 24 horas sem comer e sem nos dizer nada.
É dura a vida de Proteção.
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Ensinar a pescar
Na universidade ensinaram-me que isso chamava-se assistencialismo e não era bom. Havíamos antes de "ensinar a pescar" e esses blábláblás que cabem bem na frente da sala de aula.
Ontem, quando postei os números da fome no mundo, descobri este sítio da Moira que, por uma dessas coincidências, também tratava do assunto. E lá fiquei sabendo que ela, ainda hoje, faz a mesma coisa que a minha avó fazia: alimenta pessoas pobres. Com a diferença que ela mora em Portugal, na rica Comunidade Européia dos euros com que tantos brasileiros sonham.
Quatro gerações se passaram desde que a fome expulsou minha avó da terra dela; e a fome continua a matar, a excluir, a destruir o futuro das crianças em todo o mundo.
Olho agora para todas as varas, linhadas e anzóis com que aportei em África para "ensinar a pescar" e me ponho a pensar: não seria melhor seguir o exemplo da Moira e da minha avó? Não tiraria pelo menos uma alma da tal lista macabra?
Não sei a resposta. Se é que há uma resposta.
Enquanto isso, outras 25 mil pessoas morrerão hoje no mundo por falta do que comer.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Números para pensar
- 25 mil pessoas morrerão hoje de fome em todo o mundo.
- 100 milhões de seres humanos vão entrar para o clube dos famintos por causa do aumento dos preços dos alimentos em todo o mundo
- Eles se somarão aos 830 milhões que hoje já não têm o que comer todos os dias, chegando a quase 1 bilhão de pessoas passando fome.
- 755 milhões de dólares é o valor extra que o World Food Programm das Nações Unidas precisa para manter sua operações atuais.
Enquanto isso, nos países ricos...
- 10,9 bilhões de dólares foi o lucro líquido, nos três primeiros meses do ano, apenas da ExxonMobil, a maior empresa petrolífera do mundo.
- 45 bilhões de dólares é o orçamento do Exército chinês para este ano.
- 70 bilhões de dólares é o preço da guerra do Iraque no período de setembro deste ano a outubro de 2009.
- 3,1 trilhões de dólares serão gastos pelos Estados Unidos só com o Departamento de Defesa no mesmo período.
terça-feira, 15 de abril de 2008
Algumas palavras
O governo finge que está tudo bem, afinal, quem joga esse lixo todo nas ruas e entope os esgotos é o povo.
Os ambulantes fingem que está tudo bem, pois dali tiram seu sustento em notas amarrotadas de kwanzas.
Os milhares de compradores fingem que está tudo bem, basta enfiar os pés em sacolas plásticas e prender a respiração para pagar os preços mais baratos da cidade.
E as senhoras seguem fritando coxas de frango em panelas aquecidas por carvão a poucos centímetros do lixo; os adolescentes oferecem livremente bugigangas eletrônicas feitas por trabalhadores escravos na China; os negociantes vietnamitas vendem cama, mesa e banho nos armazéns por um terço do que se cobra nas lojas da cidade.
O sol torra as cabeças, o fedor aumenta, as crianças enchem as barrigas de vermes em mais um dia no meio do lodo, do esgoto e do lixo que a natureza nem sabe se um dia vai decompor.
Mas tudo está bem. No final do dia, algumas cervejas abertas e algumas lingüiças no churrasquinho bastam para estampar sorrisos banguelas nas caras sujas.
Alguns goles depois, todos já terão esquecido a miséria desgraçada em que vivem no país do petróleo e dos diamantes.
domingo, 13 de abril de 2008
Faltam palavras
Voltei pra casa querendo escrever sobre tudo aquilo. Mas como? Se fosse há 20 anos, escreveria um poema cheio de adjetivos. Há 15 anos, provavelmente comporia uma música estilo "we are the world" e mandaria por correio para a sede das Nações Unidas (hehehe...). Há 10, sairia com um manifesto pseudo-revolucionário e espalharia pela faculdade. Há 5, produziria uma reportagem cheia de números e aspas.
Mas hoje as palavras me faltaram. Pareciam todas ocas, sem força, sem cheiro. Tentei fazê-las pisar aquele esgoto, apertar-se naquela multidão, refletir os olhos amarelados daquela gente. Não deu.
Para quem vive aqui, uma sugestão: uma manhã no mercado de São Paulo é uma aula sobre este país (e sobre a humanidade!), uma pontada no coração, e uma saudável chacoalhada no espírito. Mas saia da rua principal, vista um plástico nos pés e entre pelas travessas cobertas de lixo.
Para quem está longe, deixo algumas imagens para ilustrar um pouco (ainda que bem pouco...) este mundo do absurdo.
Nosso agradecimento à doce e sorridente Anabela, que nos acolheu na sua barraca de sandálias de plástico para tirar essas fotos escondidas.
domingo, 30 de março de 2008
Do lado de lá... e de cá
Esta foto roubada discretamente na rua onde trabalho simboliza bem a desigualdade deste país de que F. falou no post abaixo...
Do lado de lá, um prédio ocupado, paredes quase despencando, residência ou local de trabalho de boa parte dos luandenses. Do lado de cá, uma loja de roupas importadas, com vitrines luxuosas, que só a elite montada em Toyotas pode vestir.
Entre os dois mundos, um segurança sonolento, garantindo que os que vivem do lado de lá não atravessem para o de cá.
quinta-feira, 27 de março de 2008
Pobre país rico
Por causa de fatos como esse, o Japão considera Angola um país rico. E o governo japonês teria inclusive anunciado o fechamento de linhas de financiamento a fundo perdido para cá. Os países europeus também já estariam revendo suas doações.
Angola produz 2 milhões de barris de petróleo por dia - em 2006 arrecadou mais de 30 bilhões de dólares com exportações do óleo - e a taxa de crescimento projetada para este ano é de 27,2%. A renda per capita é de quase 3 mil dólares e os investimentos estrangeiros estão estimados em 20 bilhõesde dólares em 2008.
É riqueza que não acaba mais, mas que também não chega à mesa de 70% da população. Esses cerca de 11,4 milhões de angolanos excluídos da farra do petróleo continuam vivendo abaixo da linha da pobreza. O que mantém este rico país em 162º lugar na lista de 177 países classificados pelo Índice de Desenvolvimento Humano do PNUD.
sábado, 15 de março de 2008
Apocalipse Now
O “Apocalipse Now” africano, como observou a P. Bem ali, na Praça dos Congoleses, a cerca de dez quilômetros dos arranha-céus moderníssimos que estão a subir na Baixa de Luanda. Um mundo que jamais se diria pertencer a um país tão rico em petróleo e diamantes.
A quem achava que Luanda era uma das piores cidades do mundo para se viver, a Praça dos Congoleses veio lembrar que o poço nunca tem fundo.
sexta-feira, 14 de março de 2008
Contradições da musseque
quinta-feira, 13 de março de 2008
A superpopulação
Em algum lugar eles tinham que morar. E assim foram ocupando todos os espaços que estavam dando sopa. Terrenos, parques, calçadas, prédios em construção e até, pasmem, a praia! Fizeram seus acampamentos e aos poucos foram erguendo paredes, abrindo portas e janelas, instalando suas parabólicas, delimitando seu pedacinho privado no espaço público. E assim vivemos hoje em meio a um mar de telhados de zinco, chamados de musseques. Não tem por onde escapar. Como diz o F., favela na praia é algo que não deve existir em nenhum outro lugar do mundo.
Dizem que muitos aguardam as eleições (previstas para setembro) para ver se a paz é mesmo de verdade e voltar para suas províncias. Eu pessoalmente acho difícil... A capital pulsa freneticamente, impulsionada por um crescimento desembestado. E seduz a todos com os luxos e os lixos do mundo globalizado que desembarcam diariamente na sua baía sedenta.