O Fernando Baião já falou sobre o óbito aqui nesta casa e eu, não pude adiar mais escrever sobre este tema. Não posso, porque esta manhã o óbito tinha direito a reportagem e eu não posso esquecer-me de recordar isto mais tarde. Passo a explicar. Quase todas as semanas, vejo sair do Hospital Josina Machel, alguns candongueiros com o falecido atrás, familiares e amigos sentados ao lado. Regra geral a porta das traseiras vai aberta e, depressa eu tento ultrapassar o hiace azul e branco porque, confesso que é coisa que não me agrada nada, logo às 6h da manhã. Mas eis que hoje, o óbito tinha direito a reportagem! Um dos “convidados” trazia uma câmara de filmar e, fazia o resgisto da manhã cizenta desse dia triste. A situação foi bem cómica! Depressa imaginei que, uns dias depois, a família reunia-se para ver o filme, obviamente com musiquinha triste de fundo e, recordariam aquele triste dia! My god! Eu juro que até sou uma garota compreensível e que entendo quase todas as tradições do angolano. Mas este tema é algo que me faz uma confusão tremenda e, não consigo encontrar o interesse em captar a imagem de um dia tão triste e que, qualquer um deles devia preferir apagar da sua memória. Mas será o óbito, nos dias de hoje, sinónimo de tristeza ou, motivo de festa?
Há quem diga que sim. O Alfredo, um dos moços que trabalhou comigo dizia que já existiam óbitos com DJ. Que eu já sabia que os óbitos eram locais para se rever familiares e amigos, comer e beber e, quem sabe, arranjar uma cara metade, isso eu sabia. Mas óbitos com DJ??? Ok, já é algo muito à frente para a minha cabeça.
Há também os que tentam mostrar que produzem um bom óbito. Assim parecido com os casamentos. Há quem se esforce (isso em todo o mundo) para produzir um grandioso casamento mesmo que isso, signifique uma dívida familiar. E nunca se pode deixar de fazer o tal casamento na quinta porque, a prima também o fez. Não pode ficar atrás, né? Pois bem, em Angola, esta “regra” também funciona com os óbitos. Certo dia, uma vizinha decide deitar a água de lavar a louça na rua. Mesmo ao lado, celebrava-se um óbito e, depressa os familiares do falecido discutiram com a vizinha “lavadora de louça” e acrescentaram: ela tem é inveja do nosso óbito. Quê??? Inveja? Não que eu seja uma garota invejosa mas, se há coisa que eu não invejo mesmo é, a morte nas famílias dos outros!!!
Tudo isto pode, ou não ter uma explicação. Há quem diga que, o angolano sofreu muito com a guerra e que, por as mortes serem tão frequentes, fazer do acontecimento uma pequena “festa”, traria talvez menos dor aos familires próximos. Sei que, para mim, a morte de alguém vai sempre significar tristeza e saudade. É sempre um golpe duro, mesmo que não seja familiar ou amigo próximo. Talvez a garota cresça e possa ver menos tristeza nestes momentos mas, sinceramente, prefiro continuar a pensar assim. Por agora.