A vizinhança da casa em que estamos, na Ilha, é das mais animadas. Moramos numa travessa da Avenida Mutala Mohamed – a única da Ilha de Luanda –, numa área que os angolanos chamam de Vaidade. Aqui moram muitas famílias cheias de filhos e todos saem às ruas, mal amanhece o dia. Como as casas são muito pequenas, aproveitam o espaço público da rua para se divertir e fazer negócios.
Na frente de cada casa, as mulheres vendem frutas, verduras, doces, pães e toda sorte de mercadorias, expostas em tabuleiros de madeira. Quando escurece, os vendedores fazem brasa com carvão em latões e fritam galinha, assam espetinhos de carne, tudo para levantar algum dinheiro a mais. Todo mundo fala bem alto o tempo todo.
A rua é de terra e vive constantemente molhada. Minha intuição diz que é esgoto, mas também pode ser uma estratégia das donas das casas para evitar o poeirão que os carros levantariam na terra seca. Sim, passam muitos carros o tempo todo, apesar de a rua ser estreita. As casas na musseque podem ser simples, cubatas, como eles chamam aqui, mas todos têm o seu carrinho – e muitas vezes, um carrão. Não deixa de ser engraçado ver todos esses barracos com antena de TV a cabo e aparelhos de ar-condicionado nos telhados de folhas de zinco.
A musseque, pra quem ainda não sabe, é o nome local para o que, no Brasil, chamamos de favela. Mas ninguém precisa ficar alarmado. Nossa musseque não tem crime organizado, malaco de fuzil, nada disso. Aqui moram famílias de bem, muitas delas com dinheiro. Com a inflação do mercado imobiliário, é muito comum uma família que tem um apartamento na cidade alugá-lo por preços altíssimos e se mudar para uma cubata. Ganha assim o dinheiro do aluguel. Por isso, nossa musseque é bem segura, sem problema algum.