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terça-feira, 6 de outubro de 2009

Petróleo, diamantes e musseques

A agência Habitat, das Nações Unidas, divulgou ontem o relatório "Planejando Cidades Sustentáveis", no qual sustenta que 200 mil pessoas no mundo deixam o campo todos os dias para viver em cidades - que obviamente não estão preparadas para recebê-las. O resultado disso é o crescimento assustador do número de pessoas a viver em moradias precárias - as favelas brasileiras, os musseques angolanos.

Em África estão os cinco países com os maiores percentuais mundiais de habitantes vivendo nessas condições. Serra Leoa, onde 97% da população é favelada, lidera o ranking.

Angola, o segundo maior produtor de petróleo de África, o terceiro maior produtor de diamantes do mundo, ocupa o 4o lugar da lista: 86,5% da população vive em musseques.

Antes que saiam já a criticar o brasileiro, de que só fala mal de Angola e esquece os seu país, coisas que cansei de ler por aqui: no Brasil, 29% da população é favelada. O que não é nenhum alívio, já que em números absolutos dá pouco mais de 55 milhões de pessoas - o equivalente a mais de quatro vezes a população total de Angola.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Era uma casa muito engraçada

Província Uíge - Outubro 2008

"Era uma casa muito engraçada
Não tinha tecto, não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos Bôbos, número zero.”

Vinicius de Moraes

domingo, 30 de março de 2008

Despedida da Musseque

Como despedida da travessa da Saudade (que descobrimos outro dia que oficialmente se chama "Pezinhos na água"), uma galeria de fotos da vizinhança:

A rua de casa:


A mulherada na porta (o salão de beleza da rua...):

O mercado da esquina:


Nossos vizinhos do lado esquerdo (Nanda e Teddy) brincando,



estudando,


e posando pra foto!

Crianças da rua brincando de carrinho...

e de carrão...

Divertindo-se com a câmera!

Pra fugir do calor, bacia vira piscina...
...e quintal vira quarto!

Da janela do quarto, o mar de telhados de zinco...

E varais de roupa!

E finalmente, pra compensar, a vista do terraço!

sábado, 22 de março de 2008

Tranças de Luanda

Antes de sair do Brasil, procurei uma transportadora para enviar alguns itens pessoais.

– É cabelo ou mercadoria normal? - perguntou o agente.
– Como assim? - espantei-me.
– É que o preço é diferente. E como é muito comum exportarem cabelo pra lá...

Só agora, chegando a Luanda, entendi a conversa non-sense. Vende-se cabelo (de verdade e sintético) em todo canto, dos supermercados aos camelôs. E é este um dos grandes sonhos de consumo da mulher angolana.

Paga-se um dólar e meio pela cabeleira nacional da marca Maria (a mais popular). Depois é só escolher uma das cabeleireiras de rua, que cobram outros dez dólares para fazer o penteado (que dura um mês), amarrando e trançando o cabelo comprado no cabelo original. Só aqui, na Travessa da Vaidade, tem umas três, uma delas bem na frente da nossa porta (enchendo de chumaços de cabelo a soleira da porta!).

As clientes são de todas as idades. De jovens vaidosas com suas longas tranças a miúdas (crianças) com suas trancinhas enfeitadas por fivelinhas coloridas. Dizem que a tradição é antiga, mas antes era feita com o cabelo de verdade. A arte das tranças é hoje um patrimônio da mulher africana. Em homenagem a elas, fizemos nosso primeiro vídeo aqui em Luanda:




If you want to see an english version of this film, click here

sexta-feira, 14 de março de 2008

Contradições da musseque

O Humvee é um carro de transporte padrão dos exército dos Estados Unidos. Um jipe desses, todo equipado, pode custar até 200 mil dólares. Ele é uma variação do Hummer, o jipe militar usado na primeira guerra do Golfo. É um carro tão exclusivo que, quando a versão comercial foi lançada, um dos poucos brasileiros que se aventurou a comprá-lo foi o atacante Romário. Pois esta tarde, quando chegávamos à nossa casa na musseque, demos de cara com um Humvee saindo da estreita rua de barro. Na mesma musseque onde estamos há dois dias sem energia suficiente para movimentar a bomba que garante água nos encanamentos.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Nosso castelo na musseque




A vizinhança da casa em que estamos, na Ilha, é das mais animadas. Moramos numa travessa da Avenida Mutala Mohamed – a única da Ilha de Luanda –, numa área que os angolanos chamam de Vaidade. Aqui moram muitas famílias cheias de filhos e todos saem às ruas, mal amanhece o dia. Como as casas são muito pequenas, aproveitam o espaço público da rua para se divertir e fazer negócios.
Na frente de cada casa, as mulheres vendem frutas, verduras, doces, pães e toda sorte de mercadorias, expostas em tabuleiros de madeira. Quando escurece, os vendedores fazem brasa com carvão em latões e fritam galinha, assam espetinhos de carne, tudo para levantar algum dinheiro a mais. Todo mundo fala bem alto o tempo todo.
A rua é de terra e vive constantemente molhada. Minha intuição diz que é esgoto, mas também pode ser uma estratégia das donas das casas para evitar o poeirão que os carros levantariam na terra seca. Sim, passam muitos carros o tempo todo, apesar de a rua ser estreita. As casas na musseque podem ser simples, cubatas, como eles chamam aqui, mas todos têm o seu carrinho – e muitas vezes, um carrão. Não deixa de ser engraçado ver todos esses barracos com antena de TV a cabo e aparelhos de ar-condicionado nos telhados de folhas de zinco.
A musseque, pra quem ainda não sabe, é o nome local para o que, no Brasil, chamamos de favela. Mas ninguém precisa ficar alarmado. Nossa musseque não tem crime organizado, malaco de fuzil, nada disso. Aqui moram famílias de bem, muitas delas com dinheiro. Com a inflação do mercado imobiliário, é muito comum uma família que tem um apartamento na cidade alugá-lo por preços altíssimos e se mudar para uma cubata. Ganha assim o dinheiro do aluguel. Por isso, nossa musseque é bem segura, sem problema algum.