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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Três poemas

|Wellington Amâncio

Ulisses e seu Timoneiro

À noite do riso, a penumbra desce
É a vaga que traz a nau
E sabe o caminho até Ítaca.
Rumores, vozes abafadas e o remo
Algum vinho antigo
Ulisses acabara de sorver
O calor interior, ante o frio
Do infinito mar, é integridade
De poeta, de guerreiro, de sonhador.
O Timoneiro sustenta a flâmula
Na outra mão a lâmpada pende
Às lembranças de amigos que jazeram.
Ulisses, o que vale o navegar?
- talvez, apenas o Retorno.
E o que não vale?
- o chão, onde nenhum homem tombou
Essa terra virgem.

*

O rito da eterna procura

Algo em si já é dado
Completo e acabado
Não tem mais razão de ser (feliz)
Como  de um ponto de fuga
É preciso que dele saia
Uma linha de seu Carretel
Para um Ponto Infinito
Onde as vistas não alcançam
Para enfim estar eternamente
Em busca de Fio de Meada

*

Anjos

Anjos nascem frágeis
E sempre aos sete meses
E decerto desnutridos
Mal escapam dos reveses
Anjos são analfabetos
Sentimentais demasiados
Demonstram-nos o que sofrem
No semblante, estampado
Anjos não negam ajuda
Mas isso lhes é sempre negado
Vivem nas margens das margens
A injustiça é seu fado
Socialmente reprimidos
Choram em longos soluços
Presos neste mundo fingido
Morrem em sonhos avulsos


Wellington Amancio, 48 anos, graduado em Docência e Gestão de Processos Educativos UNEB, especializado em Ensino de Filosofia, atualmente cursa mestrado em Ecologia Humana pela UNEB/PPGEcoH. Publicou em 2011 o livro de poemas "A Fisionomia das Pedras" e “Baragundaia”, em 2012.

http://lattes.cnpq.br/1092766680924156