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sábado, 19 de outubro de 2013

Poemas para André Meyer (II)

|Cristiane Rodrigues de Souza

VI
Gosto quando seu calor possui meus arrepios.



VII
Estão no extrato do cartão de crédito
os encontros
as risadas
as mãos dadas – ou não –
as noites de amor
do mês.


VIII
Houvesse jeito
pediria ao tempo para guardar
ao menos
sua risada.


IX
Durmo nos braços dele
e confundo seus carinhos
com o barulho de minhas asas


X
Você parte sem maldade,
depois de ajeitar os cabelos pegar o celular as chaves a carteira os meus desejos
de suas costas de seu sono de seu beijo abraço mas
deixa-me
a mim só
pura ternura.


XI
Gosto mais da lua com você

luou
a noite
a lua sua
minha
os ares pálidos
noturnos
notívagos
azul acima
em volta
a rua rarefeita
mas
sem
você
a lua sua

chora
longamente branca
escura

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Poemas para André Meyer (I)

|Cristiane Rodrigues de Souza

I

Você é meu luar que abraço
como neblina.

II
De manhã,
a aparição súbita da sua beleza
na cozinha
despenteada
sem camisa sem defesa
com olhar de amor noturno
causa no ar o susto de asa
de passarinho
que irrompesse
pela janela
ou de um beijo
inesperado
que te dou.

III
você
me abraça leve leve
toque touch
de tela de
 kobo

IV

Descubro-me, André,
em ti.
E quando partes
leva-me.


V
Há essa palavra
– preciso –
para definir o amor.



quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Motivos que fizeram Joana terminar namoros

|Cristiane Rodrigues de Souza

– Ele estava dançando com outras meninas!
(no bailinho da escola)

-

Perguntou se esperaria se decidir
            entre a ex
            e ela.

-

Não conseguia se lembrar do rosto dele
no outro dia.

-

Joana desejava que morresse
para que ele nunca tivesse existido

-

Demorou muito para dizer que a amava.

-

Olhava Joana fixamente
como louco

-

Demorou muito para dizer que a desejava.

-

Enchia a vida de Joana de borboletas amarelas
mas demorava a aparecer.

-

Ela não entendia sua letra nas cartas de amor.

-

Era muito Dom Juan!
            apesar de trazer luas de presente

-

Seu cheiro de maconha com álcool
dava náuseas em Joana.

-

Era muito lindo,
mas a deixou esperando uma noite inteira uma vez.

-

Não colocava pontos de interrogação
nas mensagens do celular
(e parecia imperativo quando era interrogativo)

-

Quando viajava
ele parecia o anão de jardim de Amélie Poulain
em suas fotos do Face.

-

Falava com a boca cheia
ao fazer sexo

oral.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Estudos para um corpo masculino

|Cristiane Rodrigues de Souza

1.
boca

o limite da
mordida
e do
beijo


2.
Dejà vu

seus olhos são meu corpo devorado


3.
repouso em seus ombros como a lua
japonesa


4.
sempre agradeço aos seus joelhos


5.
meus quadris
se pudessem
descreveriam os seus


6.
amo as articulações
dos seus dedos
quando dentro
de mim
precedem


7.
não existe nada mais malicioso
do que as suas costas

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Pobre mão flagrada

|Cristiane Rodrigues de Souza

Fotografo
o de leve tremor
da minha mão
quando ela toma consciência
a meio caminho
do gesto vão.

Tiro foto
do very instante
em que indo
no momento mesmo de se ir
dando-se como oferta
ela hesita
porque não serve
disseram.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Depois do amor

|Cristiane Rodrigues de Souza

Depois do amor
nos meus braços ele dorme e sonha com a luz o sol o ar
o antigo dodge branco de seu pai
(a sua cabeça de menino no encosto do banco do dodge)
ouve na memória a música de deturpados cassetes
e ressente o carro trepidar por estradas
(Creedence).

Uma aurora confusa diz pra mim lá fora que é hora de despojar-se de despojar-se
e as árvores desapegam-se das flores das flores das luas
ignoradas no chão.

Mas meu corpo comovido em suas mãos cria nele ritmo de noite quente
ele me prende
e me enreda e me leva como as ondas de Creedence.

domingo, 13 de outubro de 2013

Cristiane Rodrigues de Souza



Cristiane Rodrigues de Souza nasceu em Adamantina, em 1975, e cresceu em Irapuru, pequenas cidades do interior do Brasil. Cursou Letras na UNESP, instituição em que concluiu o mestrado em Estudos Literários. O doutorado, sobre a poesia de Mário de Andrade, foi realizado na USP. Em 2006, publicou o livro de crítica literária Clã do jabuti: uma partitura de palavras.

Atualmente é professora de Literatura Brasileira e de Teoria da Literatura no ensino superior de Ribeirão Preto.