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15 janeiro 2014

A Pislner Urquell

Vista do pátio da cervejaria Plzensky Prazdroj. Fonte: http://www.prazdroj.cz/en

Uma salva de palmas ao mestre cervejeiro Josef Groll!

Ele merece!!!

Enquanto boa parte do Velho Mundo fabricava as famosas Ales – escuras, amargas, turvas e sem um padrão definido de características, dada à precariedade dos meios de produção, Josef Groll, mestre cervejeiro alemão foi contratado pela Cervejaria dos Cidadãos (Bürger Brauerei), na cidade de Pilsn, na Boêmia (atual República Tcheca) para desenvolver uma cerveja adaptada a estilo da Baviera (Alemanha), mas a partir de ingredientes tipicamente da região, especialmente o lúpulo Saaz (região de Zatec). Pra quem acompanha a cultura cervejeira, sabe que estamos falando de uma das melhores e mais utilizadas espécie de lúpulo.

O mestre Josef Groll. Fonte: http://www.prazdroj.cz/en

A cultura alemã de cerveja, conhecida por difundir uma nova espécie do santo líquido, as lagers (veja post anterior), não decepcionou. Em 1842, Josef Groll entregou a primeira “panelada” da Pilsner Urquell. Estava marcado ali, o nascimento da primeira Pilsen da história.

Já sei o que vão dizer – essa Pilsen (bem comum e comercial, porque “desce redondo”, ou porque “não estufa” ou porque sei lá mais o que...) que eu compro no mercado da esquina é a mesma da Pilsner Urquell? Não, não é! Por uma série de questões, especialmente pela (falta de) qualidade dos produtos utilizados na fabricação da cerveja do seu mercado preferido. Uma verdadeira Bohemian Pilsen não se parece, em nada, com aquilo que, por vezes, chamamos de “cerveja” por aqui.

Imagem: http://chewthedirt.com

Mas vamos ao que interessa.

Originariamente fermentada em barris revestidos de pixe, hoje é fabricada pela Plzensky Prazdroj, na República Tcheca, onde desfruta do que há de mais moderno na sua produção, inclusive tonéis de aço inoxidável e softwares de controle da temperatura de fermentação (baixa fermentação). A Pilsner Urquell (ou “original de Pilsn”) é uma cerveja dourada, límpida, brilhante.

No copo se vê boa formação de espuma, graças a um lúpulo de excelente qualidade, consistente, denso e duradouro.

Há um excelente equilíbrio entre o malte e o lúpulo, e na boca fica claro o adocicado (do malte) e um retrogosto amargo do lúpulo. Facilmente perceptível o “fermento, pão, massa”. Ao aroma, também não destoa – o pão se sobressai.

Média carbonatação, próprio das lagers.

Embora seja um convertido ao estilo Ale, confesso que tenho recaídas – e como tenho, pelas lagers, especialmente neste calor infernal de Uberlândia. Neste momento, sem titubear – uma Pilsen, por favor. Mas original, não estas “outras”.

Vai bem com petiscos diversos, especialmente carnes.


Pra quem, como eu, privilegia o mercado nacional, recomendo a Wälls Bohemian, que merece um capítulo à parte, por ser uma cerveja sensacional, na minha opinião. Já para os apreciadores da cerveja importada, recomendo a Staropramen, outra da mesma espécie que saboreei quando fui à República Tcheca em 2009 – só não sei se vamos encontra-la com facilidade no Brasil... confesso que só vi uma vez!

Saúde!!!


06 dezembro 2013

A cerveja Lager

Copo da Spiegelau criado especialmente para as cervejas lager.

Conquanto as cervejas possam ser classificadas por diferentes critérios, é mundialmente conhecida aquela que divide o santo líquido em LAGERS e ALES.
Num primeiro momento, cabe-nos falar um pouco das LAGERS, aquelas tradicionais cervejas que habitam, principalmente, a parte tropical do planeta e, de longe, o estilo que abriga as cervejas mais populares do mundo. Douradas, cremosas, leves, baixa carbonatação, cremosas. Mas também, fortes, robustas e, até mesmo, licorosas.
Tendo a Europa Central, especialmente a Alemanha como berço deste estilo, LAGER não é propriamente uma classificação. Em verdade, esta cerveja é conhecida pelos germânicos como hell ou helles – relação à palavra inglesa yellow (amarelo).
O termo LAGER é utilizado, na verdade, para remeter às cervejas de baixa fermentação. Isto deriva do processo de lagering, desenvolvido pelos alemães na fermentação da cerveja, ou seja, na sua fabricação o líquido é posto em descanso (lager, em alemão, significa “cama” ou “adega”, e também tem remissão a “armazém”, pois é um produto que, em determinado momento histórico, devia ser estocado, fermentando, para que pudesse maturar e, então, nascer a cerveja.
Tradicionalmente, as LAGERS são cervejas amarelo claro, límpido, cujo teor alcoólico varia entre 4,25% a 4,5% ABV. No aroma e paladar são facilmente perceptíveis a carga do malte (adocicado) e um lúpulo discreto (amargor), para dar equilíbrio e creme. Temas esmaecidos também são notados, com predominância de leveduras, pão, massa crua e até mesmo caramelo, café, tosta, dependendo da modalidade da LAGER.
Quando se diz que a LAGER é uma cerveja de baixa fermentação, isto se deve a dois fatores básicos. Primeiro, porque as leveduras utilizadas na fermentação são ativadas entre 4º C e 15º C, temperatura inferior à fermentação das cervejas tipo ALE (em média, em torno de 20º C). Além disso, as leveduras ficam estabilizadas no fundo dos tanques de fermentação, por isso, “cervejas de baixa fermentação”.
A levedura mais comumente usada na fermentação da cerveja LAGER é a Saccharomices Uvarum, e, em média, este processo dura por volta de oito a dez dias. Entretanto, o processo de maturação pode levar meses, dependendo do que se pretende.
Em razão das leveduras depositarem-se no fundo dos tanques, há um maior contato do mosto (líquido obtido pelo esmagamento e fervura do malte) com o oxigênio, ocorrendo então, reações oxidativas na fermentação da LAGER (às vezes, aquele gosto de “parafuso” na cerveja), ao contrário do que se observa na fermentação das ALES.
A Pilsner Urquell é produzida desde 1842 e considerada a primeira cerveja pilsner do mundo.

Para serem consumidas “mais geladas”, geralmente abaixo de 8º C, dependendo do tipo da LAGER, este estilo se popularizou com a invenção das câmaras frigoríficas e refrigeradores.
Embora possamos associar a LAGER ao amarelo ouro ou pálido (Pale), também temos variantes escuras, como as Schwarzbier  (cervejas escuras), a Dunkel (marron pálido) e as Bocks (bronze).
Dentro da família LAGER, por certo o estilo mais conhecido é o Pilsen, Pilsner ou Pilsener - estilo emoldurado pelas cervejas produzidas na região da Boêmia a partir de 1842, na cidade  de Pilsen (ou Plzeñ), hoje, República Tcheca, a qual tive oportunidade de visitar em 2009.
No entanto, também são LAGER: as Bock (Doppelbock, Maibock, Eisbock – remissão a Eisbeck, na Alemanha, e a tradicional Weinzebock), a Dunkel, a Märzen, as Pale Lager (lagers pálidas – Dortmunder, Pilsner, Helles, Dry Lager), a Schwarzbier, a Vienna Lager e a Kellerbier.
Por enquanto, é isso. Saúde!!!



11 outubro 2013

Um pouco da história da cerveja

The Brewer (O Cervejeiro) - concebido e gravado no século XVI,
por J. Amman. Fonte: Wikipedia

Primeiro, como não poderia deixar de ser, agradeço o honroso convite recebido deste blog para tecer algumas considerações sobre a cerveja, a mais antiga das bebidas fermentadas da história.

Oriunda, segundo registros, da região da Mesopotâmia, a cerveja nasceu pelas mãos das mulheres, há mais de 2.000 a.C., que maceravam cereais para a alimentação da família. Postos “ao tempo”, a água da chuva se acumulava com essa massa, fermentando e alegrando quem a consumia.

Disseminada na Europa pelo Império Romano (Júlio César era um admirador deste fermentado), a cerveja chegou até a região onde hoje é a França. Em homenagem à deusa da agricultura e fertilidade, Ceres, recebeu o nome de “cervisia”, muito próximo do que conhecemos hoje.

Segundo especulações, há a possibilidade de um dos milagres do Cristo haver sido a multiplicação da cerveja, e não do vinho. Isto porque naquela região onde habitava, a população era pobre, e o vinho, bebida dos nobres do Império Romano. Logo, a bebida multiplicada pelo Cristo, por certo, pode não ser o vinho, mas um fermentado de cereais, a cerveja.

Mistura de água, fermentação de materiais com amido (cereais maltados, tais como a cevada, arroz, trigo, etc) e acréscimo de lúpulo e leveduras (fermento) – esta é a cerveja em sua base. Aliás, esta é a cerveja universalmente degustada, que de tanta história tem, inclusive, uma Lei de Pureza própria, a Reinheitsgebot, editada em 1.516 pelo Duque da Baviera (região de Munique, na Alemanha), Guilherme IV, que apregoava que a cerveja só poderia ser composta de água pura, malte e lúpulo – o fermento foi acrescido mais tarde. Diz a história que os cervejeiros da época utilizavam-se de ingredientes nada pitorescos para dar sabor diferente à cerveja, inclusive “cal”, o que, por certo, deve ter proporcionado uma enorme “ressaca” ao Duque.

De outro lado, as cervejas, além da fórmula base, podem receber aditivos, como cravo, canela, guaraná, ervas, frutas e outros vegetais diversos, como fonte de sabor ímpar.

O Café Concerto (1878), do pintor francês Édouard Manet (1832-1883). Fonte: Wikipedia


As cervejas podem ser classificadas segundo critérios diversos de fabricação, aroma, fórmula, sabor, receita e até mesmo, da história. Basicamente, podem ser classificadas em Lagers – as mais vendidas no Brasil e que são as mais consumidas no mundo, onde se destacam as cervejas Pilsen – uma remissão à cidade de Pilsner, na República Tcheca onde fora criada (e onde se degusta as Cervejas “Bohemian Style” – vale a pena experimentar). São cervejas de baixa fermentação e com graduação alcoólica entre 4% e 5%. Nesta “família” de cervejas, há muitos subtipos, mas que comentaremos algum dia.

Há, ainda, a “família” das Ales, muito consumidas no Reino Unido, por exemplo. São cervejas de alta fermentação e datam muito antes das Lagers. Trazem sabores complexos, encorpados, onde se identifica, com facilidade, traços marcantes de lúpulo e malte. Ao paladar, são mais “secas” e amargas que as Lagers. E, como as Lagers, tem vários subtipos, destacando-se, à guisa de exemplo, as “Pale Ales”, as “Strong Ales (as belgas Dubbel, Tripel e Quadrupel), as IPAS, a Weissbier (Cervejas de trigo...) e as famosas e saborosas Trappists.

Há, por fim, a família das Lambics, cervejas de fermentação não induzida ou espontânea, fabricadas a partir de trigo. São produzidas, em regra, nos arredores de Bruxelas, na Bélgica (terra mater da cerveja).

Por enquanto, é isso.



10 outubro 2013

Blog de vinho pode falar de cerveja?

Foto: http://www.wallsave.com

Manter um blog de vinhos por tanto tempo (desde 2006) não é fácil. Gasta-se dinheiro e tempo. Em alguns momentos dá vontade de jogar tudo pra cima e só beber vinho por absoluto prazer e diversão, sem fazer nenhuma anotação ou tirar fotos. 

Já brinquei com os mais próximos que vou "suicidar" o blog quando ele completar 10 anos, ou quando completar 1.000 vinhos, ou quando o CRAC, de Catalão, for novamente campeão goiano, sei lá... às vezes fico criando motivos pra justificar uma atitude assim. 

Mas tudo isso acontece, penso eu, porque renovar é uma necessidade constante. Nenhum site, seja ele de uma empresa, veículo de comunicação ou um blog pessoal sobrevive ou se aprimora sem novidades. Por isso, fico sempre pensando em mudar alguma coisa, mas sempre com cautela porque qualquer mudança que implique em mais trabalho, mais dedicação, tiraria do blog o caráter de hobby. Afinal, não sou blogueiro profissional.

Uma das mudanças que coloco em prática a partir de amanhã é contar com a presença de colaboradores em novos textos, com assuntos e modelos diferentes dos que já temos por aqui. É claro que continuarei com as postagens sobre os vinhos que provamos, a Érika continuará sendo minha parceira em tudo e as receitas que fazemos em casa estarão por aqui, mas outros autores virão para o blog. 

O primeiro a fazer parte do VPT é nosso amigo Paulo Rabelo, que também é advogado e professor universitário como eu, mas é acima de tudo um apaixonado por cervejas e que irá a partir de amanhã colaborar com uma coluna aqui. Nosso combinado é que seja pelo menos uma coluna por mês, mas já o deixei à vontade para escrever quando quiser. Tenho certeza de que será sucesso. 

E, respondendo à pergunta que foi título desse post, digo que SIM, um blog de vinho pode falar de cerveja. Digo isso porque também sou apreciador dessa milenar bebida e todos os apaixonados por vinho que conheço também gostam de apreciar uma boa cerveja. 

Além disso, a história em torno dela, a grande diversidade de rótulos, estilos, países produtores, a crescente mania nacional pelas cervejas artesanais e a dificuldade que temos de compreender o que gira em torno dessa bebida torna o assunto inesgotável, assim como é o vinho. 

Contar aqui com a colaboração do Paulo será uma honra e tenho certeza de que os leitores terão no Vinho para Todos uma fonte confiável e independente de informações sobre cervejas!

Saúde a todos!