Mostrar mensagens com a etiqueta debates. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta debates. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Encruzilhadas da Democracia






Encruzilhadas da Democracia

Coordenação: Miguel Serras Pereira


Se todas as sociedades se criam a si próprias, através dos seus usos e costumes, das suas instituições que são representações e investimentos mais ou menos estabilizados do sentido da acção, dos fins que se propõem e/ou propõem aos indivíduos que (se) formam no seu interior, a originalidade da democracia, a sua novidade histórica e antropológica radical, está no reconhecimento de que as leis, no sentido mais amplo, as instituições e as diferentes cidades são criação humana, criações que não preexistem à acção que as cria, e na transformação deste reconhecimento no projecto da instituição de um corpo de cidadãos que igualitariamente governam e são ao mesmo tempo governados pelas leis que eles próprios se dão, sabendo-o e assumindo a responsabilidade das suas deliberações. Deste ponto de vista, a emergência social-histórica do projecto de autonomia política confunde-se com essa outra novidade antropológica que é o cidadão democrático, e este pressupõe a criação-formação de um tipo de indivíduo que a cidade ensine a pensar e agir por si próprio, a assumir-se como agente, co-autor responsavelmente participante na recriação quotidiana da cidade que o criou.

Foi pelo menos esta a concepção da democracia que presidiu à proposta do tema deste ciclo de debates - Encruzilhadas da Democracia - e que inspirou a série das questões a debater durante cada uma das suas sessões. Resta dizer que esta concepção estará ela própria em jogo a propósito de cada uma das seis encruzilhadas agora tomadas como ponto de partida, como de muitas outras, não menos importantes, que as questões presentes implicam. A democracia é também reflexão que interroga, imagina e compõe novas formas de si própria, e não pode deixar de incluir no funcionamento regular das suas instituições a recriação permanente das condições da sua criação.



Programa completo do ciclo

15 de Abril 2009 - 18h - no CNC
1- Democracia e Filosofia
Fernando Belo
Tito Cardoso e Cunha

29 de Abril 2009 - 18h - no CNC
2- Exercício e Concepções da Cidadania
Helena Roseta
Guilherme d'Oliveira Martins
José Neves

13 de Maio 2009 - 18h - no CNC
3- A Questão Religiosa
O Problema Político da Religião
Frei Bento Domingues
Joana Lopes
Luís Salgado de Matos

7 de Outubro 2009 - 18h - no CNC
4- Repolitização Democrática do Trabalho e da Economia?
Alan Stoleroff
José Maria Castro Caldas
António Brandão Moniz

21 de Outubro 2009 - 18h - no CNC
5- A Praça da Palavra
Comunicação e Espaço Público
José Rebelo
Diana Andringa

4 de Novembro 2009 - 18h - no CNC
6- As Dimensões Políticas da Criação
Silvina Rodrigues Lopes
Gastão Cruz
Maria Augusta Babo


Todas as sessões têm lugar na Galeria Fernando pessoa do Centro Nacional de Cultura
Largo do Picadeiro nº 10 (ao Chiado)
Mais informações - Tel. 21 346 67 22 - ttamen@cnc.pt


Apoio: Ministério da Cultura

____________


Fico contente por ser um amigo a organizar este ciclo e por ver vários amigos e/ou pessoas que muito admiro nele incluídas! Pena não estar em Lisboa...

domingo, 11 de outubro de 2009

A POLÍTICA PARA ALÉM DA POLÍTICA

A POLÍTICA PARA ALÉM DA POLÍTICA
Ciclo de debates organizado pela Unipop e pelo Teatro Maria Matos
De 13 de Outubro a 26 de Novembro
Às Terças-feiras, às 18h30
 
com manuel villaverde cabral, manuel loff, miguel vale de almeida, antónio figueira, paula godinho, fátima sá, josé bragança de miranda, ricardo noronha, antónio guerreiro, nuno nabais, bruno peixe, eduardo pellejero e lisete rodrigues
 
 
Política. Provavelmente, nas duas últimas décadas, não haverá palavra cuja crise tenha sido mais vezes anunciada. A simples enunciação do termo parece suscitar cansaço, fastio, ou na melhor das hipóteses um comentário irónico, céptico, cínico. E, contudo, não existe outro caminho que não o de voltar uma e outra vez a discutir política, a questão estando no que se entende por política. Por isso dizemos que este ciclo de sete debates propõe levar a política para além da política e a fórmula sinaliza a vontade de extravasar os debates que predominam na agenda da política institucional e que reúnem preferencialmente analistas políticos, ministros, jornalistas, deputados, técnicos de sondagens ou cientistas políticos. Decorrendo ao fim das tardes de terça-feira, no bar do teatro maria matos, este ciclo trata então de construir um mapa de problemas, da ideia de representação à questão do populismo, passando pela política da plebe ou da multidão, do conceito de biopolítica às políticas de identidade e abordando a relação entre política e polícia.
 
 
PROGRAMA
 
13 de Outubro
POLÍTICA, RAZÃO E EMOÇÃO
Com Manuel Villaverde Cabral e Manuel Loff
A frequente utilização da ideia de populismo tem levado à sua banalização, a ponto de ser legítimo perguntar se nos tempos que correm populismo não é apenas a forma mais rápida de desautorizar projectos políticos de que se discorda. Simultaneamente assistimos a uma crescente tecnicização do debate político, definindo-se a política enquanto assunto de especialistas que deverá privilegiar um tratamento preferencialmente racional, de acordo com o qual uma qualquer relação entre política e emoção reveste um sentido patológico.
 
20 de Outubro
POLÍTICAS DE IDENTIDADE
Com Miguel Vale de Almeida e António Figueira
Nas últimas décadas, a palavra identidade tornou-se um conceito recorrente no debate político. A nível dos movimentos sociais tem sido frequentemente defendida a necessidade de construir identidades que, fundindo dimensões políticas e culturais, permitam a várias figuras subalternas – colonizados, camponeses, indígenas, negros, mulheres, gays – forjar um poder de resistência e transformação que reaja às políticas de identidade dominantes, baseadas no colonialismo, no racismo, no machismo ou na homofobia. Entretanto, este identitarismo estratégico tem sido igualmente criticado pelo facto de ser incapaz de trabalhar uma alternativa que coloque em causa a própria ideia de uma política baseada na noção de identidade, deixando assim por problematizar categorias como nação, género ou família.
  
27 de Outubro
A POLÍTICA ‘A PARTIR DE BAIXO’
Com Fátima Sá e Paula Godinho
Quando falamos de política tendemos a conceber uma actividade profissional que ocupa o quotidiano de executivos governamentais e representantes parlamentares. Entretanto sabemos que esta limitação destitui de politicidade a actividade dos que estão à margem daqueles círculos institucionais. Importa por isso recolocar a relação entre política e grupos menos privilegiados num plano de debate que não esteja subordinado aos critérios definidos no quadro daqueles círculos institucionais, critérios estes que tendem a ignorar o que se poderia entender como experiências plebeias da política, experiências que remetem para conceitos como "economia moral da multidão" ou "armas dos fracos" e ecoam a história de inúmeros casos de resistência quotidiana e rebeldia popular.
  
3 de Novembro
A CRISE DA REPRESENTAÇÃO
Com José Bragança de Miranda e Ricardo Noronha
De forma a dar conta da distância entre uma elite de representantes e o conjunto dos representados, é amiúde referido que vivemos em plena crise da representação. Assim, os debates em torno da abstenção ou dos votos em branco, ou a referência ao enfraquecimento dos poderes dos Estados nacionais no quadro da globalização, alimentam a ideia de uma crescente crise da representação. Paralelamente, a problemática da representação convoca um debate cujo alcance supera a actualidade político-institucional. No quadro da política, mas não só aqui, o ideal de representação parece pressupor a possibilidade de uma relação incorruptível entre quem representa e aquilo que é representado. De tal modo assim seria que, na relação estabelecida entre governante e governado, o sujeito primeiro reflectiria transparentemente o objecto representado. Contudo, se não estivermos seguros desta transparência, o debate da representação deverá começar por perguntar se a representação é sempre um lugar de crise e, por outro lado, questionar se é possível pensar em política e em democracia além da representação.
  
10 de Novembro
POLÍCIA E POLÍTICA
Com Manuel Deniz Silva e Tiago Pires Marques
Em vários países do século XX, a memória da polícia política remete necessariamente para os tempos da ditadura e sabemos que a crítica desses tempos cria uma oposição radical entre a ideia de polícia e a ideia de política. E hoje ainda, quando se trata de debater a relação entre política e polícia, é de um exercício físico e violento do poder de Estado que estamos muitas vezes a falar. Entretanto, polizei, policy, política, polícia, são palavras que percorrem um mesmo universo histórico, num quadro de continuidade e de ruptura que envolve a administração interna, a ordem pública, o direito, a estatística. Neste contexto, e partindo das aproximações de Michel Foucault e Jacques Rancière, esta sessão procura situar o debate político à luz de um mais amplo entendimento da relação entre polícia e política.
  
17 de Novembro
A BIOPOLÍTICA
Com António Guerreiro e Nuno Nabais
Nos últimos anos, a biopolítica de Michel Foucault tornou-se um sugestivo lugar de debate. O recurso ao conceito parece anunciar que a discussão da política terá que decorrer num plano que extravasa largamente o domínio do institucional, alastrando-se a todas as esferas da vida, no momento em que emergem novas técnicas de governo da população. Entretanto, e a partir da obra de autores como Giorgio Agamben, Roberto Esposito ou Antonio Negri, a noção de biopolítica tem sido objecto de interpretações diversas, por vezes até contraditórias, nuns casos apresentando o conceito como "grito de alerta" contra o actual estado das coisas, noutros interpretando-o como gesto de abertura de novos campos de poder político.
 
24 de Novembro
DA CIÊNCIA POLÍTICA À FILOSOFIA
Com Bruno Peixe, Lisete Rodrigues e Eduardo Pellejero
Ao longo dos últimos anos, os cientistas políticos assumiram um lugar proeminente no comentário e na análise política. Assumindo frequentemente a figura do especialista e do perito, os seus comentários tendem a focar preferencialmente dinâmicas eleitorais e institucionais e, de forma visível em Portugal, a ciência política tem conhecido assinalável desenvolvimento académico, demarcando-se da História, da Antropologia ou da Economia Política. Entretanto, nos últimos anos também assistimos a uma recuperação da filosofia enquanto discurso que é condição da política – e vice-versa – e que em certos casos vem mesmo rejeitar a própria ideia de uma articulação entre ciência e política. Esta sessão procura debater o lugar do conhecimento e das ideias na vida política.
 
 
 
SUGESTÕES DE LEITURA
 
No jornal do Teatro Maria Matos, que é possível encontrar aqui , deixámos uma sugestão de leitura para cada um dos debates. Está tudo entre as páginas páginas 23 e 27. A selecção dos textos é da exclusiva responsabilidade da unipop. Eis a lista:
 
Para o debate do dia 13 de Outubro…
O POPULISMO SEGUNDO ERNESTO LACLAU
 
Para o debate de dia 20 de Outubro…
ERIC HOBSBAWM E AS POLÍTICAS DE IDENTIDADE
 
Para o debate de dia 27 de Outubro…
A MULTIDÃO DE E.P.THOMPSON
 
Para o debate de dia 3 de Novembro…
PIERRE BOURDIEU E O MISTÉRIO DO MINISTÉRIO
 
Para o debate de dia 10 de Novembro…
POLÍCIA, POLÍTICA, FOUCAULT E RANCIÈRE
 
Para o debate de dia 17 de Novembro…
PETER PÀL PELBART, BIOPOLÍTICA E BIOPOTÊNCIA NO CORAÇÃO DO IMPÉRIO
 
Para o debate de dia 26 de Novembro…
BADIOU, FILOSOFIA & POLÍTICA
 

 
 
BREVE APRESENTAÇÃO DOS CONFERENCISTAS
 
Manuel Villaverde Cabral é historiador e sociólogo, autor de várias obras, de O Operariado nas Vésperas da República a Cidadania e Equidade Política em Portugal. É investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Lisboa, sendo actualmente Vice-Reitor da Universidade de Lisboa.
 
Manuel Loff é historiador, professor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e tem vários trabalhos na área da História. Publicou recentemente O Nosso Século é Fascista! - O mundo visto por Salazar e Franco (1936-1945).

Miguel Vale de Almeida é antropólogo e professor no ISCTE. É também activista em movimentos lgbt. Tem várias obras publicadas sobre corpo, “raça” e género. Publicou recentemente A Chave do Armário – Homossexualidade, Casamento e Família.
 
António Figueira doutorou-se em História Contemporânea das Relações Internacionais pelo ISCTE, com uma tese intitulada A Invenção das Minorias? A definição de “minoria nacional” no âmbito da aplicação da convenção-quadro de 1998 e a evolução do regime de protecção das minorias nacionais na Europa. Foi professor de assuntos europeus, nomeadamente na Universidade Autónoma de Lisboa e no ISCTE.
 
Fátima Sá é historiadora, professora no ISCTE. Tem trabalhado sobre história dos movimentos sociais, história da cultura popular e história conceptual. Entre outros, publicou Rebeldes e Insubmissos – Resistências Populares ao Liberalismo (1834-1844).
 
Paula Godinho é antropóloga, leccionando na FCSH-UNL. Tem desenvolvido pesquisa, entre outros temas, em torno de movimentos sociais e contextos de fronteira. Publicou, entre outras obras, Memórias da Resistência Rural no Sul – Couço (1958-1962).
 
José Bragança de Miranda é professor de Ciências da Comunicação na FCSH-UNL e professor convidado na Universidade Lusófona. Entre outros, publicou Queda sem fim, Teoria da Cultura e mais recentemente Corpo e Imagem.
 
Ricardo Noronha é historiador, investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, onde realiza o seu doutoramento acerca da nacionalização da banca no pós-25 de Abril.
 
Manuel Deniz Silva é investigador do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos de Música e Dança, da FCSH-UNL. Realizou doutoramento em Paris sobre a História da Música em Portugal e trabalha actualmente sobre música e cinema.
 
Tiago Pires Marques é historiador, investigador na Universidade de Paris I. A sua investigação tem incidido sobre a história do direito penal, do sistema prisional e da criminologia. Publicou, entre outros, Crime e Castigo no Liberalismo em Portugal.
 
António Guerreiro é crítico no jornal Expresso, tradutor e ensaísta. Tem trabalhado particularmente autores como Walter Benjamin e Giorgio Agamben.
 
Nuno Nabais é professor de filosofia na Universidade de Lisboa e autor, entre outros, de A Metafísica do Trágico. Estudos sobre Nietzsche. É ainda coordenador da Fábrica de Braço de Prata.
 
Bruno Peixe é investigador da NUMENA. Economista de formação, realiza mestrado em filosofia e tem-se interessado particularmente pela obra de Alain Badiou.
 
Lisete Rodrigues é doutoranda em filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde desenvolve uma tese acerca do pensamento político de Espinosa, Hannah Arendt e Alain Badiou.
 
Eduardo Pellejero realiza actualmente pós-doutoramento em Filosofia, na FCT-UTL. Tem vários trabalhos publicados, nomeadamente acerca de Gilles Deleuze.