... Ontem, eu estava em casa e meu filho, Matheus (14), chegou da escola, bem chateado. Como já dissemos inúmeras vezes aqui, ele é um pequeno grande com um coração do tamanho do mundo e dono de uma inteligência tão à frente de seu pouco amadurecimento, que na maioria das vezes fica difícil entender as coisas da vida. Voltando ao assunto, ele estava chateado porque o livro de inglês dele, caríssimo, diga-se de passagem, sumiu na escola. No ano passado, foi um casaco de marca hiper-mega caro. Ele então, resolveu desabafar: “Mãe, você não fala sempre que a escola é continuação da nossa casa?? Como somem minhas coisas?? Mesmo que as tenha esquecido em algum lugar, elas não deveriam estar ali, onde as esqueci??” e prosseguiu com suas divagações: “Porque quando eu acho alguma coisa, eu levo até os “achados e perdidos” da escola e os outros não??” Tentei argumentar que cada um é cada um, mas ele logo foi me interrompendo: “As outras mães não ensinam o que você nos ensina??”, “Meus amigos não são mais meus amigos, não posso mais confiar neles??” “Do que adianta fazer tudo certinho???”.
Caramba, fui me encolhendo nas minhas convicções, murchando mesmo, e ele ainda disparou: “Pra mim chega, cansei de ser bonzinho, o que eu ganho com isso? O mundo é muito injusto até com quem é bom!”
Gente aquilo parecia um soco na boca do estomago. Meleca!, pensei. Fiquei passada, respirei fundo e já quase me entregando, lembrei das horas de análise que fizemos, eu e ele, há um tempo e comecei: “Cara, que coisa chata tudo isso!! Tem vezes que as coisas parecem fora de controle mesmo, a vida parece mesmo injusta, e as vezes é mesmo, mas você consegue ser diferente?? Consegue pegar algo que não seja seu?? Consegue fazer mal pra alguém com intenção de ser mau, ou só por diversão??” NÃO!, foi a resposta. Então um pouco mais aliviada, continuei: “Crescer tem dessas coisas, é difícil mesmo ver que alguns daqueles que cresceram com a gente, em algum momento, se transformaram em estranhos, que deixaram de acreditar nas mesmas coisas que a gente, mas a gente não está errado em querer ser bom e melhorar sempre, eles é que não servem mais para serem nossos amigos. Infelizmente, daqui pra frente, inevitavelmente, você irá se decepcionar com algumas situações e pessoas e terá que escolher quem merece estar ao seu lado. É difícil mesmo, mas você saberá escolher!! Não é você que tem que mudar. Vamos continuar acreditando que podemos viver num mundo melhor, com pessoas melhores, vamos continuar...”
Claro que ainda emendei um pequeno sermão por não tomar conta direito do que é dele, e vou morrer com o dinheiro pra comprar outro livro que já encomendei, mas resumindo acho que chegamos ao entendimento.
Duro mesmo é ver nossos pequenos descobrindo que a vida não é tão florida quanto mostrei, que as pessoas não são todas, tão boas, como as que sonhei para conviverem com eles, que decepções virão, que crescer é mesmo muito difícil, que daqui pra frente, não vai dar mais pra evitar situações como evitávamos acidentes quando eram pequenos.
Passado o choque, e a melancolia, resolvemos que não vamos desistir de melhorar sempre, de construir um mundo melhor fazendo cada um a sua parte, independentemente dos outros, e que ao nosso lado só estarão aqueles que mereçam.
Ufa, que saudades de alguns anos pra trás quando os problemas não passavam de um carrinho que quebrou a rodinha, ou um bonequinho que soltou o braço... nessa grande “brincadeira” de mãe e filhos, ainda não descobri quem é que aprende mais!!!
Beijos,
Cris João.
Fotos: criancas, amigos, caminho, coracao.