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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

A(s) image(ns) do dia



A primeira imagem deste post apareceu nesta sexta-feira no Twitter do Felipe Meira e de uma certa maneira, lembrou-me de outra foto e de outra cena de "Ferrari", que estreou esta quinta-feira nos cinemas brasileiros. E como estou a escrever para uma grande quantidade de leitores de lá, conto estas histórias, porque.. por um lado, valem a pena. E por outro, está tudo ligado. 

Como encontrei as fotos, falarei não do piloto, mas dela. Afinal de contas, foi uma atriz importante nos anos 50, com uma origem eclética, e com consequências em, pelo menos, três países. E as fotos tem pouco mais de três meses, ambos tirados em 1957.

Linda Christian chamava-se - na certidão de nascimento - Blanca Rosa Henrietta Stella Welter Vorhauer. Nascera a 13 de novembro de 1923 no México, e o seu pai era engenheiro na Royal Dutch Shell. O facto de ter um pai neerlandês e de uma mãe mexicana, mas com ancestrais vindos de Espanha, Alemanha e França a fez uma beleza exótica, não só no México, como nos Estados Unidos, onde tentou a sua sorte em Hollywood. Convenceu os executivos cinematográficos, mas quando Errol Flynn decidiu financiar uma cirurgia aos dentes, ela aproveitou dois dentes tortos a fez uma cirurgia geral. Claro, a conta foi mais alta, assustou o velho ator e quando a viu de novo, disse: "Sorri, garota. Quero ver como mordem, afinal, a primeira dentada foi comigo!"   

Casou-se com Tyrone Power em 1949, e foi espantoso, por causa da diferença de idades: nove anos. Ele era de uma linhagem de atores que tinha começado em meados do século 18, na Irlanda, e depois chegara ao Reino Unido e finalmente, na América. Tiveram duas filhas, Romina e Tayrin. 

Para a história que nos interessa, temos de ir a 1956. Linda Christian divorciara-se de Power - este iria morrer de ataque cardíaco em setembro de 1958, aos 44 anos, enquanto filmava uma cena de um filme bíblico, em Madrid - e ele conhece a apaixona-se pelo nobre e piloto de automóveis Alfonso de Portago. Nobre de nascimento - o seu nome completo é (respirem fundo...) Alfonso Antonio Vicente Eduardo Ángel Blas Francisco de Borja Cabeza de Vaca y Leighton. O seu padrinho foi o rei Alfonso XIII de Espanha, e ele, para além de ter sido piloto de automóveis, fora, aviador, esquiador, (fora quarto classificado no bobsleigh dos Jogos Olímpicos de Inverno de 1956, em Cortina D'Ampezzo) jogador de polo, golfista e claro, o XIº Marquês de Portago.

De olhos azuis e uma enorme cabeleireira negra, e uma personalidade desafiante, era claro que iria ter todas as mulheres do mundo. E começara a dar nas vistas quando, em adolescente, pediu um avião emprestado e meteu-o abaixo de uma ponte, só para ganhar uma aposta de 500 libras!  

Christian e De Portago tiveram uma relação ardente. E claro, ela apaixonou-se pelo automobilismo. Não era raro estar ao lado de um Ferrari, como se pode ver nas fotos. E a cena que se vê no "Ferrari", onde o Commendatore agarra nas nádegas dela porque elas tapam o símbolo icónico do Cavalino, se não é verdadeira, é bem verosímil.

Mas é a fotografia abaixo que se torna famosa. Foi em Roma, porque Christian tentava a sua sorte no cinema italiano, porque as suas chances de Hollywood tinham secado um pouco. E também para acompanhar a carreira do seu amado, ele que agora era piloto da Ferrari, a equipa mais prestigiada do mundo. E claro, foi durante as Mille Miglia de 1957, com o americano Eddie Nelson como navegador. Dois dias depois, De Portago, Nelson e mais nove espectadores estavam mortos, quando o pneus do seu Ferrari explodiu em Guidizzolo, acabando com as Mille Miglia como competição.

Christian continuou a atuar até 1988, casou-se mais uma vez e acabou por morrer em 2011, aos 87 anos. Mas não sem mais alguns dramas. A sua filha mais velha, Romina Power, nascida em 1951, tentou a sua sorte como atriz aos 12 anos, e na adolescência, assentou-se em Itália, onde deu nas vistas quando fez um filme chamado "Como Aprendi a Amar As Mulheres". Ela tinha 16 anos e a sua aparência passou a ideia de "Lolita", causando escândalo na Igreja Católica e tudo. E tudo nem altura em que ela já estava... noiva de Stanislas "Stash" Klossowski de Rola, o filho mais velho do pintor suíço Balthus. Mas o casamento acabou por não acontecer.  

Passado o escândalo, no anos 70 teve sucesso como cantora, casando com Albano Carrisi. Al Bano e Romina tornou-se no dueto mais famoso de Itália nos 20 anos seguintes, com dezenas de musicas de sucesso, incluindo vitórias do Festival de Sanremo, e duas passagens pelo Festival da Eurovisão, uma em 1976 e outra em 1985. Al Bano chegou a cantar o hino italiano no GP de Itália de 2022, no circuito de Monza.

Ambos tiveram quatro filhos, a mais velha chamava-se Yelenia. Nascida em 1970, quando Romina tinha 19 anos, desapareceu em janeiro de 1994, quando estava de férias em Nova Orleães, causando comoção em Itália. Tinha 23 anos, e o seu corpo nunca foi encontrado, ao ponto de ser declarada morta "in absentia" vinte anos depois, em 2014.

Romina regressou em 2007 aos Estados Unidos para cuidar da sua mãe, porque ela lutava contra um cancro no colon, e quando ela morreu, em 2011, divorciou-se de Al Bano e radicou-se nos Estados Unidos. O dueto ainda continua a cantar, com o seu mais recente álbum a sair em 2020.   

domingo, 12 de agosto de 2018

Youtube Motorsing Show: Os carros de Cuba


Cuba é um mundo à parte em termos de automóveis e de engenharia - ou ingenuidade - mecânica. Sujeitos a um embargo desde 1960 por parte da administração americana - apesar de ter sido levantado em 2016 por Barack Obama - os automóveis são uma estranha combinação de carros americanos dos anos 50 preservados, com mecânicas bem diferentes, autênticos "frankensteins", e com carros dos tempos soviéticos, importações como Ladas ou os "Polski Fiat", modelos 126, conhecidos como "Maluch" (ou pequeno, em polaco)

Os australianos dos Mighty Car Mods foram a Havana para os ver ao vivo, ver como é que estes carros são reparados, como é que os modificam para todo o tipo de propósitos, e também foram experimentar verdadeiras sucatas que se aguentam com... fita-cola. Juro, não é mentira.

Se quiserem ver o episódio, coloco aqui na sua íntegra. Vale a pena ver.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Youtube Motorsport Movies: Operação Fangio


Passam agora mesmo sessenta anos que, em Havana, revolucionários do Movimento 26 de julho, ligados a Fidel Castro e aos revolucionários de Sierra Maestra, raptaram Juan Manuel Fangio para impedir que ele corresse no GP de Cuba, organizado pelo ditador Fulgêncio Batista para mostrar a imagem do país ao mundo.

O rapto do pentacampeão do mundo de Formula 1 agitou o mundo e durante um dia e meio, nada se soube sobre o piloto argentino, numa corrida que acabou à sexta volta, quando um piloto local, Armando Garcia Cinfuentes, mergulhou o seu carro contra a multidão, matando sete pessoas. No final, Fangio foi levado para a embaixada argentina sem ser beliscado pelos raptores, deteriorando ainda mais a imagem internacional de Batista. Menos de um ano depois, o ditador fugiu do país, para não mais voltar.

No ano 2000, um filme sobre esse rapto foi feito, "Operacion Fangio", uma co-produção cubano-argentina. Filmado em Havana, conta a história desse rapto e de como um herói automobilístico foi usado para fins politicos. Quer de um lado, quer do outro.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

No Top Gear desta semana...


Top Gear S24-E06 por dailyTubeTV
Depois de uma semana de ausência, os meninos (e menina) do Top Gear estão de volta para falar sobre o Mercedes AMG GT R e... uma viagem a Cuba, onde Chris Harris e Rory Reid trouxeram carros dos anos 80 a um sitio onde os locais nunca os viram senão nos filmes... 

sábado, 26 de novembro de 2016

A imagem do dia

Juan Manuel Fangio a ser cumprimentado por Fulgêncio Batista durante o fim de semana do GP de Cuba, em 1958, numa fotografia tirada por Bernard Cahier, dias antes do seu rapto pelos revolucionários castristas. Curiosamente, ao fundo desta foto, está outro piloto, o alemão Wolfgang Von Trips.

Fidel Castro morreu este sábado de manhã, aos 90 anos de idade, em Havana, depois de 47 anos de poder e praticamente 60 anos depois de ter desembarcado em Cuba, a bordo do iate "Granma", com Ernesto "Che" Guevara e outros revolucionários, para iniciar a guerrilha que iria derrubar Fulgêncio Batista, outro ditador cubano.

Contudo, o envolvimento de Fidel no automobilismo tem a ver com um dos episódios mais espectaculares da história da guerrilha: o sequestro de Juan Manuel Fangio, em 1958, quando ele participava no GP de Cuba, em Havana. Fulgêncio Batista tinha ideias de atrair dinheiro americano ao seu país, propagandeando-o como se fosse um destino turistico, com praias de areia branca e casinos, fazendo concorrência com Las Vegas. O GP de Cuba existia desde 1957, com a sua primeira edição a ser um sucesso, e onde Fangio tinha sido dado sete mil dólares - uma soma considerável para a época - para correr a bordo de um Maserati, contra Stirling Moss e Eugenio Castelloti, entre outros.

Em 1958, as atividades da guerrilha estavam cada vez mais fortes e ousadas. Duas pessoas, Faustino Perez e Oscar Lucero Moya, arquitectaram um plano para estragar os planos de Fulgêncio Batista para lucrar com o Grande Prémio. E qual era? Sequestrar Fangio. Com a anuência de Fidel.

Fangio estava em Havana desde o dia 21 de fevereiro, e dois dias depois, a 23, no átrio do Hotel Lincoln, Fangio juntara-se a outros amigos, como Alejandro de Tomaso (sim, esse mesmo De Tomaso!), o mecânico Guarino Bertochi e o "manager" Marcelo Giambertone, entre outros.

E de repente... “Estavamos a ter uma conversa quando de repente um homem com um casaco de cabedal nos aproximou", recordou Fangio. "Tinha uma pistola automática na sua mão e disse, de modo firme e decisivo que não nos deveriamos mexer ou nos mataria". O homem com a pistola na mão era Oscar Lucero, e os seus cumplices estavam espalhados na sala. A principio, Fangio pensava que era uma brincadeira, mas quando viu que não era, perguntou-lhe onde o levaria. Disse que o levaria para um sitio seguro e não tinham intenções de o fazer mal.

Descobri depois que haviam três carros envolvidos,” disse Fangio. “Eles guiavam devagar para não atrair as atenções. As pessoas que viajavam comigo pediram-me desculpas por aquilo que estavam a fazer, mas o que queriam era atrair a atenção do mundo para a sua causa".

Chegados a uma casa segura, informaram ao mundo que Fangio estava nas suas mãos. Como seria de esperar, a noticia correu mundo e eles informaram que só libertariam após a corrida. O governo de Batista, enfurecido e humilhado, entrou numa caça ao homem para apanhar os seus raptores, mas sem sucesso.

A corrida começou com hora e meia de atraso, e Maurice Trintignant iria correr no lugar de Fangio no seu Maserati. A corrida começou com um duelo entre o americano Masten Gregory e o britânico Stirling Moss, mas na oitava volta, o Ferrari de dois litros conduzido pelo cubano Armando Garcia Cifuentes, despista-se numa curva à frente da embaixada americana e embate num guindaste cheio de pessoas. Isto causou a morte de seis pessoas e ferimentos em mais quarenta. A corrida foi imediatamente interrompida e ironicamente, o seu rapto pode ter-lhe salvo a sua vida... pelo menos na pista, porque ele ainda estava em perigo. Como entregá-lo a são e salvo, sem que os esbirros de Batista o apanhassem?

A solução foi entregá-lo à embaixada argentina. Depois de garantias por parte do embaixador argentino de que não seriam perseguidos, eles o largaram por lá. Descobriu-se depois que o embaixador, Raul Lynch, era familiar... de Ernesto "Che" Guevara, mas Fangio lá chegou, são e salvo. Ali conversou com um jornalista mexicano que contou as coisas da seguinte forma:

"Bem, esta foi mais uma aventura. Trataram-me de modo excelente, tive as mesmas comodidades que teria se estivesse entre amigos. Se aquilo que os rebeldes afirmam é uma boa causa, eu, como argentino que sou, aceito-a".

Fangio voltou a Cuba em 1981, ao serviço da Mercedes, para ajudar o governo local. Fidel recebeu-o bem, e quando comemorou o seu 80º aniversário, dez anos mais tarde, o governo cubano mandou uma mensagem de felicitações, agradecendo a sua simpatia e colaboração pela causa, assinando-a como... "seus amigos, os sequestradores".

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Os receios a 14 dias da corrida barenita

Faltam 14 dias para o GP do Bahrein, e a cada dia que passa, as coisas parecem extremadas. Se as autoridades barenitas, apoiadas por Bernie Ecclestone, querem passar a imagem de "business as usual", um incidente neste final de semana de Páscoa veio lembrar a mim e ao resto do mundo que as manifestações desportivas não passam imunes aos desejos de qualquer "maluco" de dar nas vistas. Não aconteceu no Bahrein, mas sim... em Londres.

Quem viu a famosa regata entre Oxford e Cambridge viu o episódio da pessoa que se atirou ao rio Tamisa e conseguiu interrompe-la, colocando-se a meio dos dois barcos, arriscando a sua vida, pois o perigo de levar com uma pazada de um dos remos era bem real. Retirado da água, foi detido por momentos, e a regata foi reatada com algum atraso. Claro, o incidente foi importante, pois estamos a falar de uma cidade que dentro de alguns meses, no final de julho, irá receber os Jogos Olímpicos.

E isso fez-me lembrar outro incidente, bem mais antigo, mas com os mesmos objetivos: o rapto de Juan Manuel Fangio, em Cuba, em 1958, pelos revolucionários do Movimento 26 de julho, comandados por Fidel Castro. O rapto pode ter durado pouco menos de 48 horas, mas foi mais do que suficiente para que Fangio não pudesse largar para a corrida. Corrida essa que cedo foi interrompida devido a um acidente que matou oito espectadores.

Com os incidentes e as ameaças por parte dos grupos locais, a cada dia que passa, os receios são maiores e mais fundados. A chegada da Formula 1 ao pequeno emirado do Golfo Pérsico fará mais mal do que bem, isso todos nós sabemos. Atrairá um povo em raiva - na sua maioria, xiita - contra a família real - que é sunita - e causará má reputação à categoria máxima do automobilismo, que passará a ideia de que está atrelada aos mandos e desmandos de um baixote de 81 anos, que estará ali porque a família real dá 40 milhões de dólares só para passar ao resto do mundo uma aparência normal.

Todos sabemos que não é assim, e o que mais receamos é que aconteçam estes dois incidentes que referi acima: ou alguém a correr na pista, para perturbar os treinos ou a corrida, ou um grupo que tente raptar - ou pior, matar - alguém ligado às equipas, manchando irremediavelmente o final de semana automobilistico. E é esse o maior receio, a menos de duas semanas do Grande Prémio. 

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Os cem anos de Juan Manuel Fangio - A biografia (4ª parte)

(continuação do capitulo anterior)

Quando Fangio chegou a Nurburgring, palco do GP da Alemanha, sabia que tinha de ser, no minimo, o segundo calssificado para se sagrar campeão do mundo a duas provas do fim, pois essas corridas iriam acontecer em solo italiano - Pescara e Monza - e poderiam ser favoráveis às cores da Ferrari. O argentino conseguiu a pole-position, com os Ferrari de Mike Hawthorn e Peter Collins atrás de si, mas estes iam com os depósitos atestados para fazerem no limite uma corrida inteira. Fangio, por seu turno, tinha de atestar o seu carro na volta 12 para que conseguisse ser mais rápido do que os Ferrari. Foram esses os seus cálculos e levou o carro até aí.

Na partida, foi superado pelos Ferrari, mas no final da terceira volta já tinha voltado a ser lider, que o alargou até aos 30 segundos quando parou para reabastecer na volta onze. Contudo, aconteceu o desastre: uma das porcas perde-se na boxe e os mecânicos andam muito tempo à procura dela. Aquilo que poderia ter demorado em 25 ou trinta segundos, acabou a demorar mais de um minuto e quando arrancou dali, a desvantagem para Hawthorn era de 45 segundos e tinha caído para o terceiro lugar.

E ali começou uma recuperação espectacular. Nas voltas seguintes, Fangio enceta um ritmo muito algo, "comendo" segundos aos Ferrari e batendo constantemente o recorde da volta. Se antes da corrida estava nos 9.41 segundos, feitos por ele no ano anterior no seu Lancia-Ferrari, antes da paragem fatídica, tinha sido baixado para 9.29,5 segundos. E a partir dali, começou a baixar: 9.23,5; 9.17,1... e a diferença a diminuir para 13 segundos a quatro voltas do fim, como todos a ficarem espantados com a performance de Fangio no circuito.

E no inicio da última volta, Fangio estava a apenas dois segundos de Collins, o segundo classificado. Passa-o na "Sudkurwe", mas Collins reage, voltando-o a ultrapassar. Mas o argentino volta a passá-lo na "Nordkurwe" e vai no encalço de Hawthorn, que o apanha na zona de "Adnauerforst" e passa-o na "Breidscheid". Demorara menos de meio circuito para chegar ao primeiro lugar, mas a multidão estava em delírio por tal demonstração de pilotagem.

Quando cruzou a meta, até os seus adversários estavam eufóricos por tal demonstração. A sua performance era comparável a de Tazio Nuvolari, conseguido 22 anos antes, alcançara a sua 24ª vitória em Grandes Prémios, tinha 46 anos e tinha conhecido os seus limites. Batera o recorde do circuito por dez vezes e depois disse: "Fiz coisas que nunca tinha feito, e se calhar não vou mais conseguir pilotar dessa maneira." Após este triunfo, era campeão do mundo pela quinta vez na sua carreira, um recorde.

Até ao fim da época ainda consegue mais 2 segundos lugares, nos circuitos italianos de Pescara e Monza. Torna-se campeão com 40 pontos e começa a considerar, por fim, a retirada. Decide fazê-lo em 1958, enquanto estava no auge, pois não queria ser como Tazio Nuvolari, que competiu até morrer, com mais de sesenta anos.

No inicio de 1958 corre na Argentina, a corrida inicial do campeonato, onde faz a "pole-position" mas na grelha de partida estava o futuro do automobilismo: o Cooper-Climax do seu amigo e adversário Stirling Moss, que tinha um motor traseiro. O carro aguentou toda a corrida com um jogo de pneus e conseguiu vencer os Ferrari e Maserati, incluindo o de Fangio, que terminara na quarta posição, ainda que fizesse a volta mais rápida.

Poucas semanas depois, a 27 de fevereiro, Fangio estava em Cuba para participar no GP local, correndo num Maserati 400S, a convite de Fulgencio Batista, mediante um "cachet" gordo. Contudo, não iria participar na prova: tinha sido raptado na véspera por um comando dos rebeldes do Movimento 26 de Julho, com o objetivo de embaraçar o governo de Batista. A politica interferia no automobilismo e Fangio tinha sido um alvo. Contudo, os raptores tratam-no bem, afirmando que o objetivo era apenas de o impedir de participar na corrida. E isso até o poderá ter salvo, pois a corrida fora interrompida na sétima volta com um acidente, matando sete pessoas.

Com o objetivo alcançado, os raptores libertaram-no na embaixada argentina, são e salvo, e enganando a policia de Batista. "Bem," disse depois a um jornalista mexicano, "esta foi mais uma aventura. Trataram-me de modo excelente, tive as mesmas comodidades que teria se estivesse entre amigos. Se aquilo que os rebeldes afirmam é uma boa causa, eu, como argentino que sou, aceito-a".

Pouco depois, foi para Miami, na altura onde a noticia se espalhara pelo mundo e os americanos não o largaram, chegando até a ser convidado do Ed Sullivan Show, a troco de mil dólares. Algum tempo depois, comentou com ironia: "Ganhei cinco campeonatos do Mundo, as 12 Horas de Sebring, mas tive de ser raptado em Cuba para ser conhecido neste país". Fangio foi depois participar nas 500 Milhas de Indianápolis ao volante de um Kurtis Kraft 500F, mas este se demonstrou ser um carro pouco potente e acabou por desistir da tarefa.

Em julho, vai a Reims para correr pela última vez num Formula 1. Inscreve um Maserati 250F em seu nome, e escolhe aquele lugar em particular em sinal de agradecimento, pois tinha sido o lugar onde se estreara na Europa, dez anos antes. Fangio era o oitavo na grelha e não fez uma grande corrida, marcada pelo acidente mortal de um dos seus antigos companheiros de equipa na Ferrari, o italiano Luigi Musso. No final, iria acabar na quarta posição, mas quando Hawthorn o viu na sua frente, prestes a dar uma volta de avanço, este ficou respeitosamente atrás dele, pois não o queria dobrar.

A sua carreira competitiva na Formula 1: 52 Grandes Prémios, em sete temporadas (1950-51, 53-58), 24 vitórias, 29 pole-positions, 23 voltas mais rápidas, 35 pódios, 245 pontos oficiais em 277,64 pontos alcançados. Campeão do Mundo em 1951, 1954, 55, 56 e 57, por quatro marcas: Alfa Romeo, Mercedes, Ferrari e Maserati.

A partir daqui dedicou-se aos negócios, especialmente aos da Mercedes Argentina, do qual se tornou no seu presidente. Homenageado quer na Argentina, quer no estrangeiro, sendo condecorado em Espanha e Itália, por exemplo. No final dos anos 60 começou a colaborar com a ACA para elaborar a Temporada argentina de Formula 2, e depois, no regresso da Formula 1 ao seu pais natal, em 1972. Pelo meio, em 1969, levou três IKA-Renault para as 84 Horas de Nurburgring, uma façanha hoje em dia lembrada na sua Argentina natal.

Com o avançar da idade, Fangio começou a fazer demonstrações ao serviço da Mercedes nos circuitos, especialmente com os W196. Fê-lo até ao inicio da década de 90, quando já tinha 80 anos, e essas demonstrações eram largamente aguardadas e ovacionadas. Os pilotos dessa geração sempre o admiraram, especialmente Ayrton Senna, que Fangio queria que fosse ele a bater os seus recordes. Infelizmente, foi algo que não aconteceu.

A partir dos anos 70, Fangio começou a ficar doente. Dois ataques cardíacos em 1977 e em dezembro de 1981, este último depois de uma demonstração no Dubai, o colocarariam numa mesa de operações, para fazer um quintuplo "bypass". Mas a partir de 1991, é uma insuficiência renal que o debilita. Mas por esta altura, Fangio está envolvido numa polémica na sua Argentina natal: o estado aprova uma lei que proíbe as pessoas com mais de oitenta anos de conduzir nas estradas nacionais. Fangio faz orelhas moucas e desafia a lei, andando constantemente entre Buenos Aires e Mar del Plata, a mais de 400 quilómetros dali, a mais de 200 km/hora, demonstrando que ainda estava lúcido e capaz de lidar com carros potentes. O governo decidiu então conceder uma licença especial a Fangio.

Pouco tempo antes, na sua Balcarce natal, tinha sido inaugurado o seu grande projeto pessoal: um museu dedicado a ele. O Museo Juan Manuel Fangio fora inaugurado em 1986 tem não só os seus carros marcantes, como o Maserati 250F com que ganhou o GP da Alemanha de 1957, como os Mercedes W196 com que venceu dois campeonatos do mundo. Para além disso, tem dezenas de carros que fizeram história no automobilismo argentino e mundial, oferecidos pelos pilotos e marcas. E nos arredores da sua cidade natal, na encosta de um monte, havia desde 1969 um circuito com o seu nome, desenhado por ele e considerado como um dos mais desafiadores do seu pais.

Fangio nunca se casara nem tivera filhos. Contudo, o seu sobrinho Juan Manuel se tornou nos anos 80 um piloto notável, especialmente nos Estados Unidos, onde correru em provas como a IMSA e a CART, onde no final dos anos 90 andou pela All American Racers, de Dan Gurney. Apesar dos bons resultados, Fangio II nunca teve o palmarés do tio, especialmente porque nunca correu na Formula 1.

Em 1995, quando a Formula 1 estava de volta à Argentina, Fangio estava demasiado doente para ver os bólidos em Buenos Aires. A insuficiência renal o tinha deixado na cama e levava gradualmente as suas forças. Até que às 4:10 da manhã do dia 17 de julho de 1995, acaba por morrer na clinica onde estava internado, em Buenos Aires, aos 84 anos de idade. A Argentina decretou três dias de luto e o seu corpo foi velado na Casa Rosada, a sede do governo em Buenos Aires, onde ficou por três dias, e depois levado para o panteão da sua familia na sua Balcarce natal.

O seu legado é incrivel. Quando ele morreu, ninguém tinha batido o seu recorde de títulos. Isso só aconteceria em 2003, quando Michael Schumacher alcançaria o seu sexto título mundial. Este ainda conseguiria mais um no ano seguinte, estabelecendo o recorde em sete. E mesmo assim, a aura de Fangio não diminuiu. O próprio Schumacher disse depois que "Fangio está num nível mais alto do que eu. Aquilo que fez é unico, e tenho imenso respeito por aquilo que alcançou. Eram eras diferentes e não se consegue transplantar uma personalidade como ele para uma uma era como a nossa. Não existe qualquer tipo de comparação possivel".

Existem atualmente seis estátuas de Fangio em todo o mundo: uma em Buenos Aires, outra em Montemeló, uma terceira no Mónaco, a quarta em Estugarda, na sede da Mercedes, a quinta em Nurburgring e uma sexta em Monza. Todas elas foram feitas pelo artista catalão Juan Rós Sabaté e representam Fangio ao volante do Merecedes W196, o carro com que venceu os títulos de 1954 e 55. E no seu pais, sempre que alguém quer abastecer o seu carro com a gasolina "premium", este tem o nome de Fangio.

Fontes:

Santos, Francisco: Formula 1 1991/92, Ed. Talento, Lisboa, 1991
Idem, Formula 1 1995/96, Ed.Talento, Lisboa, 1995.

http://www.museofangio.com/es/
http://www.ddavid.com/formula1/fangio_bio.htm
http://bestcars.uol.com.br/hm/291-fangio-1.htm
http://bestcars.uol.com.br/hm/291-fangio-2.htm
http://es.wikipedia.org/wiki/Juan_Manuel_Fangio
http://continental-circus.blogspot.com/2008/07/gp-memria-frana-1958.html
http://continental-circus.blogspot.com/2007/08/gp-memria-alemanha-1957.html

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Operação Fangio: a história de um rapto espectacular em Cuba

No final de 1957, Juan Manuel Fangio tinha 46 anos e tinha alcançado um inédito quinto título mundial na formula 1, depois de uma corrida épica no Nurburgring, indo para além dos seus limites numa condução heróica. Após isso, decidira que era a altura mais do que certa para fazer uma última temporada no automobilismo, antes de se reformar e regressar à sua Argentina natal e cuidar dos seus negócios.

Contudo, no inicio de fevereiro de 1958, estava em Havana para correr numa corrida de sportscars, o GP de Cuba, disputado nas ruas da capital, Havana. Fangio era o cabeça de cartaz de vários pilotos, todos convidados pelo presidente Fulgêncio Batista, que queria dar ao mundo uma aparência de normalidade. Mas a realidade era outra: uma ditadura brutal, que estava a ser combatida pelos guerrilheiros do Movimento 26 de Julho, comandados por Fidel Castro nas montanhas de Sierra Maestra. E mesmo com os guerrilheiros nas montanhas, havia calulas ativas nas principais cidades, destinadas a combater o Exército e as forças policiais, que reprimiam com violência toda e qualquer oposição a Batista.

Os guerrilheiros sabiam que o Grande Prémio era uma manifestação importante de relações públicas por parte da Batista, e seria também significativo se causassem algo de espectacular para perturbar o evento. E após alguma reflexão, decidiram que o melhor seria raptar um piloto. E não era um qualquer: iria ser o pentacampeão do mundo Juan Manuel Fangio.

O plano foi rapidamente delineado e coordenado por Faustino Perez, que mais tarde iria ser ministro no governo de Fidel Castro. Era simples: ir ao Hotel Lincoln, local onde ele se hospedara, ter com o piloto argentino e persuádi-lo de entrar num carro e ir com eles. Fácil no papel, mas complicado na prática: Fangio tinha seguranças à sua volta. Para isso, Perez contactou Oscar Lucero Moya, que comandava as operações secretas, e um homem de confiança para operações delicadas como esta.

Fangio já estava em Havana desde o dia 21 de fevereiro. Nos dois dias a seguir, foi treinar com o seu carro, um Maserati 400S e fora visitado por Fulgêncio Batista, que o saudou pela sua presença. No final do dia 23, depois da sessão de treinos, Fangio desceu do seu quarto para ir ao bar do hotel, onde estavam alguns dos seus amigos como o piloto e construtor Alejandro De Tomaso, o mecânico Guarino Bertochi e o "manager" Marcelo Giambertone, entre outros.

E de repente... “Estavamos a ter uma conversa quando de repente um homem com um casaco de cabedal nos aproximou", recordou Fangio. "Tinha uma pistola automática na sua mão e disse, de modo firme e decisivo que não nos deveriamos mexer ou nos mataria". O homem com a pistola na mão era Oscar Lucero, e os seus cumplices estavam espalhados na sala. A principio, Fangio pensava que era uma brincadeira, mas quando viu que não era, perguntou-lhe onde o levaria. Disse que o levaria para um sitio seguro e não tinham intenções de o fazer mal.

Descobri depois que haviam três carros envolvidos,” disse Fangio. “Eles guiavam devagar para não atrair as atenções. As pessoas que viajavam comigo pediram-me desculpas por aquilo que estavam a fazer, mas o que queriam era atrair a atenção do mundo para a sua causa".

Pouco depois, enquanto o faziam transportar de casa para casa segura, informavam o mundo que o tinham cativo. Como seria de esperar, os jornais colocaram a noticia nas suas primeiras páginas, e o governo de Batista, entre o enfurecido, humilhado e o embaraçado, faz uma operação de caça ao homem para recuperar Fangio, mas apesar das buscas casa a casa, não o encontram.

À medida que as horas para o inicio da corrida se aproximavam, parecia que os rebeldes iriam alcançar o seu objetivo. Fazer a corrida sem Fangio, raptado por eles, e causar um enorme embaraço a Batista. Ele poderia cancelar a corrida, mas decidiu que esta iria acontecer, mesmo sem Fangio. A corrida começou com hora e meia de atraso, e Maurice Trintignant iria correr no lugar de Fangio no seu Maserati. A corrida começou com um duelo entre o americano Masten Gregory e o britânico Stirling Moss.

Por essa altura, os seus raptores assitiam à corrida na televisão na sua casa segura. convidaram Fangio a vê-lo com eles, mas não quis, pois ainda sentia decepcionado por não estar presente. Mas na sétima volta acontece um acidente, quando o Ferrari de 2 litros conduzido pelo cubano Armando Garcia Cifuentes, despista-se numa curva à frente da embaixada americana e embate num guindaste cheio de pessoas. Isto causou a morte de seis pessoas e ferimentos em mais quarenta.

Ao ver o que tinha acontecido, provavelmente Fangio viu que o seu rapto deverá ter salvo a vida. E a corrida foi logo interrompida nesse instante e os organizadores declararam Moss como vencedor. Alcançado o seu propósito, surgia outro problema: como entregar "El Chueco" são e salvo, sem que o regime de Batista os apanhasse e matasse, incluindo Fangio. Depois de conferenciarem, decidiram que o melhor seria largá-lo à porta da embaixada argentina, o pais natal do corredor. Depois de contactos com o embaixador e garantias de que não seriam seguidos após a libertação de Fangio, este foi largado por volta da meia-noite na embaixada.

No final, o embaixador Raul Lynch - que era familiar... de Ernesto "Che" Guevara - anunciou ao mundo que Fangio estava são e salvo em solo argentino. "Bem," disse depois a um jornalista mexicano, "esta foi mais uma aventura. Trataram-me de modo excelente, tive as mesmas comodidades que teria se estivesse entre amigos. Se aquilo que os rebeldes afirmam é uma boa causa, eu, como argentino que sou, aceito-a".

E pouco depois, foi para Miami, onde a noticia se espalhara pelo mundo e os americanos não o largaram, chegando até a ser convidado do Ed Sullivan Show, a troco de mil dólares. Algum tempo depois, comentou com ironia: "Ganhei cinco campeonatos do Mundo, as 12 Horas de Sebring, mas tive de ser raptado em Cuba para ser conhecido neste país". Em 1959, os rebeldes chegam ao poder, mas Fangio só regressaria a Cuba em 1981, para fazer um contrato com o governo cubano, em nome da Mercedes, a firma que o representava. Fidel Castro chegou a interromper uma reunião de propósito para o receber. E quando Fangio fez oitenta anos, o governo cubano lhe mandou uma mensagem de parabéns, agradecendo a sua simpatia e colaboração pela causa, assinando a mensagem como... "seus amigos, os sequestradores".

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Fangio, o mais mítico de todos

"Conheci pilotos mais corajosos do que eu. Estão mortos"

Juan Manuel Fangio (1911-95)

Foi só em 2003 que o recorde de títulos de Juan Manuel Fangio foi batido por Michael Schumacher. Fangio ainda teve tempo de ver evoluir o piloto alemão na Formula 1, mas até ao fim achava que Ayrton Senna o iria bater no seu recorde de títulos. Infelizmente, ainda viveu para assistir aos eventos de Imola...

Juan Manuel Fangio conseguiu todos aqueles títulos e viveu para contar a sua história. à medida que passam os anos e vejo as suas corridas, convenço-me que o segredo do seu sucesso foi que ele era um piloto consistente, sempre nos limites. Sabia quais eram e sabia o que acontecia se os pisasse. Logo, ao ter conhecimento desse limite automobilistico, manteve-o suficientemente alto para bater os seus adversários. Daí o facto de ter conseguido esses títulos, independentemente da máquina que o conduzia: em 1951 com um Alfa Romeo, em 1954 e 55 com um Mercedes, em 1956 com um Lancia-Ferrari e por fim com um Maserati.

"Nunca tinha conduzido daquela maneira antes e duvido que alguma vez venha a conduzir dessa forma"

Juan Manuel Fangio, após o GP da Alemanha de 1957.

Foi a bordo de um Maserati 250F que ele conseguiu a sua mais épica vitória: o GP da Alemanha de 1957, numa corrida de recuperação, apanhando os Ferrari de Mike Hawthorn e Peter Collins, depois de uma operação mal sucedida nas boxes, que demorou demasiado tempo que o previsto. Os 22 quilómetros de extensão do "Inferno Verde" ajudaram-no a permitir essa recuperação, mas ao passar dos seus limites que ele próprio tinha establecido, creio que se assustou e a idade o pesou. Tinha 46 anos e pensou que era bom sair agora, enquanto estava vivo.

Ainda deu nas vistas em 1958, e na sua última corrida, na pista francesa de Reims, alinhava com alguns Coopers de motor traseiro, um deles pilotado pelo australiano Jack Brabham. Alguns meses antes, na Argentina, vira Stirling Moss, seu companheiro na Mercedes, a bater todos eles e a vencer a corrida. Foi simbólico ver Fangio a ir embora numa altura em que a Formula 1 passava pela primeira revolução do pós-guerra, ao colocar o motor atrás do piloto.

E em Rouen, ao mesmo tempo que via Luigi Musso a morrer em plena corrida, via o inglês Mike Hawthorn, que ia a caminho da vitória e do título mundial no final daquele ano, a ficar atrás de Fângio, que lhe ia dar uma volta, a ficar atrás dele em sinal de respeito. Cinco anos antes, na mesma pista, lutaram lado a lado, metro a metro, pela vitória, que acabou nas mãos de Hawthorn. A primeira das centenas que a "Velha Albion" iria ter na Formula 1.

E mesmo quando Fangio passou pela sua situação mais aflitiva da sua vida, quando foi raptado pelos rebeldes cubanos no inicio de 1958, antes de um GP de Cuba, estes o trataram com respeito. E provavelmente isso o deverá ter salvo a vida: o carro que o ia guiar, um Maserati 450S, estava defeituoso e a corrida em si mesma foi interrompida na sexta volta quando um despiste de dois carros causou a morte de seis pessoas e ferimentos em mais quarenta.

Com o objectivo alcançado, libertaram "El Chueco", largando-o à porta da embaixada argentina, cujo representante na altura era familiar... de Ernesto "Che" Guevara. E pouco depois, foi para Miami, onde os americanos não o largaram. Comentou depois com ironia: "Ganhei cinco campeonatos do Mundo, as 12 Horas de Sebring, mas tive de ser raptado em Cuba para ser conhecido neste país". Até à sua morte, o regime cubano sempre agradeceu pela sua colaboração, mandando sempre mensagens de parabéns no seu aniversário, assinando sempre como... "seus amigos, os sequestradores".

De facto, independentemente do que acontecer no futuro do automobilismo, o lugar de Fangio na memória histórica está mais do que garantida.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Extra-Campeonato: Hasta Siempre, Fidel

"Comunico que não aspirarei nem aceitarei - repito - não aspirarei nem aceitarei o cargo de presidente do Conselho de Estado e o de comandante em chefe." Fidel Castro, Granma, Havana, 19 de Fevereiro de 2008.

Um dia, tudo tem um fim. Para Cuba, o dia 19 de Fevereiro de 2008 significa o final de 49 anos de liderança por parte de Fidel Castro, o homem que efectuou a revolução socialista em Cuba, transformando-a num país comunista, a menos de 90 milhas (120 km) do seu maior inimigo, os Estados Unidos. Resistiu a dez presidentes norte-americanos, de Dwight Eisenhower e George W. Bush, à Crise dos Misseis de 1962, que levou EUA e URSS à beira de uma guerra nuclear, ao fim da União Soviética e do Bloco de Leste, e acima de tudo, ao bloqueio económico, que asfixiou a ilha.

Contudo, internacionalmente, tornou-se numa figura mítica e num modelo a seguir por todos aqueles que procuravam uma alternativa ao capitalismo, desde os intelectuais franceses, os "soixante-huitards" até ao fenómeno venezuelano chamado Hugo Chavéz. Todos esses esqueceram (ou menorizaram) os métodos ditatoriais, que vão desde a prisão de opositores até os mais de dois milhões de pessoas que emigraram (ou fugiram) para fora de Cuba desde 1960, muitos deles vivendo em Miami, "a maior cidade de Cuba fora de Cuba".

Agora, para o seu lugar vem Raul Castro, seu irmão e lugar-tenente. Já tomava conta dos destinos do país desde Julho de 2006, altura em que o seu irmão foi operado ao intestino. Hoje em dia, ainda se discute do que Fidel sofre, se teve uma hemorragia intestinal grave (e que poderá ter obrigado a remover o intestino delgado), ou um cancro no colón, entre outas coisas. A unica coisa verdadeira é que o seu estado de saúde é segredo de estado no seu país.

Voltando a Raúl... em principio é mais do mesmo. Mas parece que ele usa mais o cérebro e pensa menos na ideologia e mais na maneira do país ser menos dependente do exterior. Provavelmente, quererá seguir o modelo económico chinês, e até já ensaiou aproximações aos Estados Unidos! Quem diria...

Claro, Raul não pode esticar muito a corda, pois Fidel ainda vive, e ainda tem muita influência. "Ele continua com o poder por controlo remoto, na cama presidencial desde a qual dita (sempre foi um ditador) os textos que lhe permitem exercer essa outra categoria de poder", escreveu o cubano exilado Raúl Rivero, num artigo para o site do jornal espanhol El Mundo.

E agora qual é o seu legado? No dia em que foi condenado pelo assalto do Quartel da Moncada, em 1953, ele afirmou: "A História me absolverá". Nâo creio que iss aconteça, mas o seu carisma, influência e inspiração para muitos homens e regimes, durante quase 50 anos, tornaram-no imortal, para o bem e para o mal.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Extra-Campeonato: Mais uma prova de vida...

Fidel Castro deu mais uma vez o seu sinal de vida. Falou ontem em directo com o seu homologo venezuelano, Hugo Chavez, afirmando que já se sente muito melhor que na altura em que foi operado, em Julho passado.


"Fidelito" e "Chavito" chegaram até a trocar mimos em inglês: "Fidel, how are you?", perguntou Chavez. "Very well", respondeu Castro. Com uma voz pausada e clara, o lider cubano agradeceu ao seu homólogo venezuelano por manter o mundo informado acerca do seu estado de saúde, pedindo aos seus correlegionarios que tenham "paciencia e calma".


Lá os dois conversaram sobre varios assuntos, como as alterações climaticas e a crise economica mundial, que é, no entender de ambos, a prova de que o capitalismo vive os seus "últimos dias". Poois... A conversa terminou com a frase do costume: "Hasta la victoria siempre, venceremos!". So me apetece rir...