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segunda-feira, 21 de julho de 2014

O nervosismo da Formula 1 em relação à Rússia

No fim de semana de Hockenheim, os eventos desta semana no leste da Ucrânia foram murmurados no pelotão da Formula 1. Muitos dos que estavam presentes afirmaram que costumavam apanhar a rota e o voo da Malasyan Airlines que foi abatido esta quinta-feira, matando 298 pessoas a bordo, incluindo, segundo conta o jornal espanhol "Marca", Fernando Alonso.

Esses eventos causaram ainda mais nervosismo e dúvidas na cabeça do pelotão da Formula 1, a pouco mais de nove semanas do primeiro Grande Prémio da Rússia, a realizar a 5 de outubro em Sochi. Já desde março, quando as forças pró-ocidentais tomaram o poder em Kiev e Vladimir Putin retaliou, ocupando a Crimeia, que as pessoas no meio ficaram atentas aos eventos, que nos tempos seguintes se agravaram, ao ponto de termos hoje em dia uma guerra civil no leste da Ucrânia e uma concentração de tropas russas na fronteira entre os dois países, deixando no ar a ideia de uma hipotética invasão, para ajudar os rebeldes pró-russos.

Muitos não querem arriscar e já tomaram a decisão de não ir a Sochi, contudo, outros, como o piloto japonês Kamui Kobayashi, disse que ainda falta muito tempo e que tudo poderá acontecer: "Há ainda bastante tempo até lá, creio que as coisas se acalmarão entretanto e no final, tudo correrá bem", afirmou, em declarações captadas pelo site Motorsport.

Esta segunda-feira, Bernie Ecclestone veio a público afirmar que, mesmo com todos estes problemas, a Formula 1 irá à Rússia como previsto. "Eu não vejo nenhum problema com isso", começou por dizer em declarações captadas pelo jornalista britânico Adam Cooper. "Eles estavam [Rússia] no Mundial de Futebol ou não? Você teria pensado que as pessoas tentariam pará-los, não é? Como eu disse, nós não devemos nos envolver na política. Temos um contrato com eles, o que nós sabemos que eles vão respeitar. E vamos fazer a mesma coisa."

Perguntado se estreito envolvimento de Putin com a corrida de Sochi não chamará a atenção da comunidade internacional, ele disse: "Pessoalmente, não estou preocupado. Não devemos especular sobre o que poderá acontecer. Nós honraremos o nosso contrato. Putin pessoalmente tem sido muito útil, e nós faremos a nossa parte."

Como podem ver, com o Bernie ao leme, a Formula 1 até correrá no Inferno, caso seja necessário...

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

The End: Nelson Mandela (1918-2013)

Algum dia tinha de ser, não era? Há muito tempo que esta noticia era esperada. Tanto que aposto que neste momento, todos os jornais no mundo inteiro estão a tirar do seu arquivo os seus obituários, escritos há muito tempo, preparando-se para esta inevitabilidade. Para terem ideia, estou a escrever isto no preciso momento em que vejo a CNN. E estou a ver o presidente Barack Obama a falar sobre ele e o seu legado, começando com a famosa frase que proferiu no julgamento de 1964, antes de saber que ele seria condenado a prisão perpétua, mas onde muitos pensavam que seria condenado à morte. Hoje, podemos dizer que este é o dia em que morreu Nelson Mandela. Tinha 95 anos e estava há muito tempo doente.

As biografias vão dizer tudo que sabemos sobre ele. A sua infância, a sua luta contra o dominio da minoria branca, o seu julgamento por "sedição", a sua condenação a prisão perpétua, a sua estadia na ilha de Robben Island, os 27 anos em que esteve preso, os ventos de mudança que fizeram aquele regime ficar isolado do resto do mundo, o dia em que foi libertado, a difícil transição democrática na África do Sul e a sua eleição como presidente, bem como a sua vida depois de sair do poder pelo seu próprio pé, em 1999, aos 81 anos. Tudo isso iremos ler esta sexta-feira nos jornais, vamos ouvir nas rádios e vamos ver nas televisões e na Net, e sentiremos tristes por vermos embora uma personalidade tão poderosa como aquela. Tanto que o Facebook estará cheia das suas frases marcantes, da sua longa caminhada para a liberdade.

Só que aqui vou para o plano pessoal, lembrar o que foi esse senhor e as minhas impressões sobre um periodo que marcou parte da minha infância e juventude. Como cresci nos anos 80, a causa sul-africana era "a causa" que todos apoiavam nas universidades, a causa que todos queriam participar, até pessoas insuspeitas, como o James Hunt. E desde cedo que tinha ouvido falar do nome de Nelson Mandela, numa aura de "mito", como o líder do ilegalizado - e perseguido - Congresso Nacional Africano, o ANC. Ele e outros como Walter Sisulu e Oliver Tambo, tinham lutado contra a opressão do regime do Partido Nacional, de origem africander e que defendia o "apartheid" no seu pior, tinham defendido a mudança, por vezes até de forma violenta, tinham sido presos e condenados a longas sentenças em sitios recônditos, como Robben Island. E nesses anos 80, havia um movimento muito forte no sentido da sua libertação nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, ao ponto de se realizarem concertos em sua honra. Era uma causa que todos queriam participar.

Cedo ouvi falar sobre a África do Sul e o seu regime de minoria branca, que oprimia a maioria negra, e logo naquilo que já apreciava: a Formula 1. Ja sabia que havia os boicotes desportivos à Africa do Sul, onde ele estava excluida de todos os desportos. Todos faziam - até o rugby. Excepto um: o automobilismo. Graças a Bernie Ecclestone, a Formula 1 e a FIA corriam em Kyalami, contrariando a comunidade internacional e o bom senso. Com Jean-Marie Balestre no comando - ele, que tinha pertencido às milicias de Philippe Petain na sua juventude - simpatizavam com o regime segregacionista, que os colocava num casulo durante os dias em que recebiam os pilotos de Formula 1. Até que em 1985, as potências mundiais começaram a pressionar a FIA para que parasse com a brincadeira. A França proibiu Renault e Ligier de se deslocarem a Kyalami, e tentou-se que os pilotos não fossem lá, sem sucesso. A corrida aconteceu, mas poucos transmitiram-na. No ano seguinte, a FIA decidiu não mais correr lá até 1992, ano em que regressaram a um modificado circuito de Kyalami. 

Ainda me lembro do dia em que foi libertado da prisão, a 27 de fevereiro de 1990. Era um domingo, estava nublado a fazia frio na minha cidade. No alto dos meus 13 anos, tinha a natural curiosidade de ver quem ele era, se a realidade seria diferente do mito que andaram a divulgar ao longo dos últimos anos. Via-se na televisão a enorme multidão à porta da prisão de Victor Verster, onde ele esteve na parte final da sua sentença, bem mais leve do que tinha passado em Robben Island. E quando saiu, com a sua então mulher Winnie ao seu lado, era um homem sorridente com a sua libertação e espantado com a recepção que estava a ter, num misto de júbilo e receio. O júbilo pela sua libertação e pelo facto de a luta contra o apartheid estar a terminar em breve, e o receio de que a transição iria ser sangrenta, com os ódios latentes, e as vinganças que estavam a ser cozinhadas.

Uns três anos depois, ainda no liceu, estava a conversar com um professor de Ciência Politica e a meio da conversa, começamos a falar sobre a África do Sul. F.W de Klerk era o presidente, Mandela estava na oposição, e havia confrontos nas ruas entre ANC e os zulus do Inkhata. Tentava-se chegar a um acordo de transição, mas falava-se de guerra civil, e semanas antes, tinham matado Chris Hani, um líder sindicalista de origem comunista. E nessa conversa, fiquei surpreso quando me descreveu que "o processo é todo um milagre". Fiquei surpreso, confesso. Mas depois entendi que esse "milagre" era a obra de Mandela e De Klerk, o então presidente da minoria branca, que faziam tudo para que a transição fosse o mais pacifica possivel.

Nos meses que se seguiram, e à medida que se aproximava o dia das primeiras eleições multipartidárias, parecia que não via onde é que esse milagre estava a acontecer. Todos os dias matavam pessoas nas ruas, os extremistas da minoria branca, liderados pelo Eugene TerreBlanche, tinham tentado um golpe de estado num dos bantustões para ver se conseguiam o seu sonho da "terra só para brancos", mas falharam, e todos falavam da "guerra civil que iria haver depois das eleições", como tinha acontecido em Angola, ano e meio antes. Mas entre os dias 26 e 28 de abril de 1994, os dias das eleições, nada disso aconteceu: o que se via eram enormes filas de pessoas para colocarem o seu voto, a grande maioria pela primeira vez na sua vida, e a verem concretizado esse sonho. E tudo foi calmo e pacifico, como se tudo que acontecera antes não tivesse sido mais do que um péssimo filme de Hollywood. Os resultados eram os esperados, uma nova bandeira foi apresentada, e todos celebraram o momento. 

Quando se tornou presidente, continuou a ser um exemplo. Ficou apenas um mandato, aproximou uma desconfiada minoria branca, partilhado o poder e coligação com o Partido Nacional - o famoso jogo da final do Mundial de Rugby, em 1995, onde ele vestiu a camisola dos Springboks e entregou a taça ao capitão de uma equipa quase totalmente branca - e decidiu estabelecer uma "Comissão de Verdade e Reconciliação", no sentido de saber os crimes do passado, mas não no sentido da vingança, mas sim, no verdadeiro sentido do perdão e da reconciliação. Numa nação de muitas tribos - onde há onze linguas oficiais! - o que quis fazer foi que todos se sentissem em casa, que pertenciam em casa. E conseguiu fazer da África do Sul uma democracia forte e consolidada - mesmo com os graves problemas de desigualdade social, de crime e de corrupção - um exemplo para a região e para o mundo. Muito diferente de outros "heróis da independência", seus vizinhos, que ficaram no poder até à morte e exerceram a vingança sobre o anterior regime, nos piores exemplos autocráticos que se pode dar.  

Em jeito de conclusão, eu não estou triste por ele hoje se ir embora. Estou duplamente triste. Acho que só tive dois heróis políticos que conheci: Winston Churchill e ele. E se o primeiro ainda têm impacto, quase 50 anos depois da sua morte, podem imaginar o impacto de Mandela nos anos que vêm aí. Foi-se embora desta vida, deste planeta Terra, passando agora para a história. Ainda por cima, Mandela parte desta vida no meio de uma crise económica, politica - e porque não? - de valores. Estamos desiludidos com os nossos políticos, e algumas das nossas grandes ideias do século XX, como a Europa Unida, estão em crise, fazendo com que as pessoas se seduzam por ideias perigosas, tal como os nossos avós ficaram seduzidos nos anos 20 e 30. 

Gostaria que ele fosse embora com a sensação que que o mundo estaria em boas mãos, com pessoas que nos poderiam inspirar para sermos melhores seres humanos, mas à excepção do Papa Francisco, não vejo nada disso. Não vejo os grandes reconciliadores de outrora. Não vejo os homens de visão que nos façam tirar do atoleiro em que estamos. Não vejo as pessoas que moralizem coisas como o sistema financeiro, que o deixaram soltar com o final da Guerra Fria e se tornou num dragão incontrolável, na pior das suas faces. Simplesmente, não vejo. 

Tenho a sensação que a partir de agora, em termos politicos, na crise económica e de valores que vivemos, pareço estar a olhar para um deserto árido. É triste. Duplamente triste.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

The End: Margaret Thatcher (1925-2013)

Morreu esta manhã, aparentemente a ler um livro na cama. Teve um AVC e morte quase imediata. Foi assim um final simples para uma senhora que marcou toda uma geração de pessoas, aquelas que cresceram nos anos 80. Para o mal e para o bem, foi marcante para a Grã-Bretanha e para o Mundo. Para os neoliberais, foi uma campeã. Para os trabalhadores das minas e dos sindicatos, foi o Diabo em pessoa, que destruiu os seus postos de trabalho e mergulhou as suas regiões na pobreza e no desemprego.

Entre 1979 e 1990, ela geriu os destinos da Grã-Bretanha. Nunca procurou consensos, quis fazer as coisas à sua maneira. Achava que, depois de um período de decadência e desemprego, as coisas tinham de dar uma volta enorme. Para terem uma ideia: no inverno de 1978-79, que ficou na história como o "Inverno do Descontentamento", toda a gente fez greve. Até os coveiros, que decidiram que não iam enterrar os mortos. O lixo acumulou-se nas ruas das principais cidades, as pessoas tinham de trabalhar três dias por semana porque tinham de poupar energia, pois a Grã-Bretanha estava dependente do carvão, vindo das minas do centro de Inglaterra, que por sua vez estavam controladas pelos poderosos sindicatos, que faziam greves para reivindicar (quase) tudo e mais alguma coisa.

Thatcher, quando chegou ao poder, tinha de enfrentar tudo isso e mais alguma coisa. Enfrentou-os e foi teimosa. Foi por isso que os soviéticos a cunharam de "A Dama de Ferro", pela sua teimosia e coragem em os enfrentar. 

Aliás, enfrentou toda a gente, para demonstrar que, tendo nascido mulher, não era do "sexo fraco". Enfrentou os argentinos, nas Falkland, para demonstrar que a Grã-Bretanha continuava a ser capaz de defender a sua soberania, mesmo a mais de dez mil quilómetros dali e enfrentando o outono e inverno austrais. Enfrentou os sindicatos, que mesmo quando eles decidiram fazer uma greve por tempo indeterminado - quase um ano em greve! - e ela acabou por vencê-los. Enfrentou a oposição trabalhista, ainda demasiado socialista, que a tentou derrubar, mas que no final acabou sempre a ser derrubada, pois Thatcher venceu três eleições legislativas, ficando no poder por onze anos e meio, saindo apenas em novembro de 1990, depois de uma traição por parte dos seus membros do Gabinete, que um dia se fartaram da maneira mandona que fazia as coisas.

Houve imensas coisas do qual se pode apontar defeitos, e já coloquei alguns por aqui. Mas a minha favorita é o seu eurocepticismo. Nunca gostou da Europa, porque ainda pensava no Império Britânico e ainda pensava como em 1914, em que a Europa continental era algo do qual os britânicos nunca se deveriam meter. Para ela, a cooperação europeia e simples um mercado livre seria a única forma da Europa alcançar a paz, sem largar ou sem conceder qualquer espaço de soberania. O facto da libra ainda se manter como moeda e não ter aderido ao euro é graças aos seus esforços. Mas curiosamente, nunca quis ou se esforçou o suficiente para que o Reino Unido saísse da então Comunidade Económica Europeia (CEE) e seguisse o seu caminho.

Em suma, a altura da sua morte tem um simbolismo interessante. Por um lado, ela morre numa altura em que o neoliberalismo vive a sua pior crise desde os anos 80, e por outro, desaparece numa altura em que não vimos líderes - pelo menos na Europa - que sejam mais políticos e menos tecnocratas. A União Europeia caminhou para um equilibrio preverso, onde para conseguirem uma união monetária, abdicaram de muito poder para os dar para o motor da Europa, chamado Alemanha. E no poder está um grupo de pessoas do qual a obsessão é o equilibrio das contas, do qual tem de ser feito, custe o que custar. De uma certa forma, Angela Merkel é a herdeira da Dama de Ferro. E não falo só por ser alemã e ser mulher.

Para finalizar, tenho de dizer que, a mal ou a bem, Margaret Thatcher irá marcar uma geração. Não conheço nenhum líder que tenha tantas musicas dedicadas a ela, a maior parte delas a dizer mal dela. E nunca tiveste, como tiveste esta tarde, 250 pessoas a celebrar a sua morte numa praça escocesa ou uma festa marcada esta noite em Brixton. Falando mal ou bem dela, ninguém a esquecerá. Ars lunga, vita brevis.

sábado, 31 de dezembro de 2011

O meu ultimo post de 2011

Este é o meu último post de 2011. Foi um ano comprido, mas memorável em todos os aspectos. Acho que para o mal e para o bem, vai ser um ano que ficará para a Historia pelos eventos que aconteceram no Norte de Africa, pela quantidade de "estátuas", de ditadores que foram derrubados, e até executados. Khaddafi morto, Mubarak derrubado... quem poderia imaginar isso em dezembro de 2010? Ninguém, nem mesmo os escritores de ficção cientifica.

Mas o ano de 2011 ficou marcado pelo tsunami no Japão e a morte do Querido Líder, o Kim Jong-il. Confesso que no primeiro caso, fiquei impressionado pelo fato dos helicópteros japoneses terem filmado uma catástrofe em andamento, do qual todos nós vimos acontecer nas nossas televisões em todo o mundo. E da destruição subsequente, aprendemos a ouvir falar de um lugar desconhecido até ao dia 11 de março daquele ano: Fukushima. Local de uma central nuclear que não aguentou o forte terramoto e a subsequente devastação causada pelo tsunami. Aprendemos a comparar aquilo com Chernobyl, e pensamos que como seria possível ver outra vasta destruição, sete anos depois de outro tsunami, no Sudeste Asiático. 

No segundo caso, as multidões chorosas pela passagem do féretro do Querido Líder, sob neve, em Pyongyang. Em muitos aspectos, era genuíno, o que me faz pensar se tudo aquilo não será o exemplo bem sucedido de uma lavagem cerebral. E o jovem e gordo líder, Kim Jong-un, continua o mistério do pais mais misterioso do mundo, e que tem armas nucleares. O que vai acontecer a seguir? Mais do mesmo ou alguma abertura, como acontece agora em Cuba?

Contiudo, o ano de 2011 ficou também marcado a ferro e fogo no automobilismo. Tivemos o domínio dos Sebastiões, na Formula 1 e nos ralis, e nunca um nome foi tão dominador como este. A concorrência bem lá tentou, mas foi quase uma inutilidade, onde andaram a recoilher as migalhas. Uma vitória aqui e ali, e pouco mais. Talvez em 2012 as coisas mudem, mas por agora, não creio. Temos de esperar pelo... inesperado. Mas este ano de 2011 vimos acidentes mortais no desporto que mais amamos. Vimos, por exemplo, um Dan Wheldon no seu melhor e dpeois no seu pior. Mal sabiamos que a sua inesperada vitória significou também a seu último grande feito em vida. Meses depois, iriamos ver em direto o seu acidente mortal, na veloz oval de Las Vegas, perseguindo um prémio de cinco milhões de dólares.

Mas também o ano de 2011 foi o último de muita gente. Elizabeth Taylor, Amy Winehouse, Steve Jobs... todos que foram importantes num tempo que agora ficou para trás. Fazem agora parte dos livros de história, estão gravados em filme, voz e outros meios para serem vistos nas gerações que vêm a seguir. De uma certa forma, garantiram a sua imortalidade, pois a cada geração que virá, serão vistos e ouvidos. E muitos ficarão admirados e fascinados por aquilo que fizeram. Tal como eu, um "petrolhead" fico admirado por certas pessoas que morreram antes de eu ter nascido. E assim, a imortalidade.

O que quero desejar para 2012? Melhor do que 2011. Que não seja tão marcante como 2011. Que não aconteça um terramoto tão devastador como no Japão. Que mais ditadores sejam derrubados. Que a crise se alivie. Que o Euro seja salvo, e que os nossos lideres estejam mais inspirados. Queria que fossemos bem sucedidos no campeonato europeu de futebol e batessemos o nosso recorde de medalhas nos Jogos Olimpicos. Que o campeonato de Formula 1 e de ralis sejam mais equilibrados e quem sabe, com outros vencedores. Que haja mais "fair-play" e que saibam que há mais vida para além do clube de futebol que apoiam ou o piloto de vence. Que consciencializem que há mais vida para além disto tudo. E que pensem que 2012 NÃO SERÁ o ano que acabará o mundo. Se querem acreditar numa coisa, agarrem mas é na vossa companheira - ou companheiro - e pratiquem o que vai no Kama Sutra. É muito mais credível do que o horóscopo da vossa revista ou jornal.

Enfim, que tenham um grande 2012, é o que desejo a todos.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Extra-Campeonato: A morte de Muhammar Khadaffi

Tinha treze anos de idade quando houve o golpe de estado que derrubou Nicolae Ceausescu, o ditador da Roménia comunista. Começou como uma revolta popular em Timisoara, no oeste, demorou dez ou doze dias e acabou nos dias anteriores ao Natal católico - o ortodoxo é comemorado uns dias depois. Mas no dia de Natal, ouvimos noticias de que Ceausescu e a sua mulher, Elena, tinham sido capturados no centro do pais por militares que tinham passado para o lado dos rebeldes, julgados sumariamente e executados.

E eles, para provarem que tinham feito isso, decidiram mostrar as imagens do casal morto, com um fio de sangue a correr dos seus corpos já sem vida. Já não me recordo como foi a reação dos romenos a isso, mas por aqui causou sensação, ainda mais na época festiva que viviamos. E aquilo para mim, causou impressão.

Quase vinte e dois anos depois, a mundo assiste, entre o espanto, o receio e o júbilo às Primaveras Árabes e às agitações sociais que levaram, no caso líbio a uma guerra civil que dura há oito meses, com dezenas de milhares de mortos. Tudo isso para derrubar um ditador que estava no poder há 42 anos, ou seja, provavelmente 80 por cento da população não viram outra pessoa no poder que ele. E hoje, tudo poderá ter acabado com a captura de Sirte e a morte de Muhammar Khadaffi. Ou Gadaffi.

E para provar que o homem está morto, lá mostraram as imagens dele, do seu cadáver. Aparentemente, este homem acossado por tudo e todos, cujo paradeiro parecia ter evaporado, alimentando todo o tipo de especulações, estava em Sirte e foi abatido pelas forças da NATO, quando tentava escapar da cidade. Eles detetaram a coluna de veículos e mandaram uns misseis, que fizeram parar a coluna de veículos. Quanto a ele, aparentemente estava gravemente ferido quando o apanharam, levaram para Misurata e acabou por morrer.

E as imagens desses últimos momentos de Khadaffi estão a ser transmitidos para o resto do mundo, enquanto que o resto do país comemora como se tivesse ganho o Mundial de Futebol... é um dia de absoluto júbilo para aquele povo, martirizado primeiro pela mão de ferro de Khadaffi, depois pela guerra civil que martirizou aquele pais desde fevereiro.

Mas agora acabou uma fase, outra aparecerá, e essa pode ser tão ou mais dificil como a guerra civil que passaram. Esperemos que não, porque o resto do mundo árabe está de olho na Libia. Os que oprimem e os que estão a ser oprimidos, especialmente em sítios como a Síria.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Extra-Campeonato: as últimas horas do regime de Khadaffi


Temos sempre o previlégio de ver, ao longo das nossas vidas, a História a acontecer. Umas vezes a uma velocidade tremenda, outras de uma lentidão espantosa. Esta noite é o que está a acontecer: os rebeldes chegaram a Tripoli e numa rapidez surpreendente, a cidade começou a passar para o lado dos rebeldes. Começaram a surgir noticias de que dois dos seus filhos, Saif-Al Islam, Saadi (o tal que chegou a ser futebolista) e Muhammad, foram capturados pelos rebeldes, e voam rumores de que Khadaffi estará em fuga. Uma coisa é certa: os rebeldes já controlam partes da cidade e a população já se atreve a comemorar na Praça Verde, o sitio onde no inicio da guerra civil, Khadaffi atrevia-se a mostrar-se, desafiando o resto do Mundo.

Agora é uma questão de horas para o vermos. Não sabemos se capturado pelos rebeldes ou veremos o seu cadáver arrastado pelas ruas de Tripoli, e pendurado na Praça Verde, para gáudio dos populares. A sua bandeira, totalmente verde, será queimada nas ruas e substituida pela antiga bandeira, que curiosamente era a da monarquia, que era o sistema vigente até que Khadaffi tomou o poder. Seis meses de guerra civil estão rapidamente a chegar ao seu fim.

O que irá acontecer no futuro é uma enorme incógnita, pois isto é o episódio mais violento desta tempestade que está a varrer o norte de Africa. Tunisia, em janeiro, e o Egito, em fevereiro, conseguiram mudar o regime de forma mais ou menos pacifica, mas ainda não fizeram eleições. E mesmo aí, o perigo do regime cair para as mãos dos islamitas ou radicais é mais do que presente.

E depois há - como acontece em todos os regimes - a sede de vingança. Toda a gente quer cortar a cabeça aos homens do Khadaffi, ainda por cima, falamos de seis meses de guerra civil, onde milhares de pessoas morreram a lutar para correr com um tirano que estava no poder desde 1969, e que iria fazer 42 anos no dia 1º de setembro. E num regime onde são as tribos que colam este pais - é mais um pais construido pelas potências coloniais, neste caso a Itália - manter essa "cola" viva é essencial.

Essa é uma enorme incógnita. Agora, comemora-se a queda de um ditador.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Extra-Campeonato: Ahhh... os vulcões islandeses

Desde o ano passado que o mundo inteiro descobriu que a Islândia é uma ilha tremendamente vulcânica. Plantado no meio de duas placas tectónicas, de vez em quando um dos seus vulcões - e a Islândia tem para cima de duas dezenas - resolve explodir e complicar a vida das pessoas na Europa e nos Estados Unidos.

A razão é simples: as cinzas vulcâncias são prejudiciais aos rotores dos aviões. Sendo as cinzas nada mais do que rochas microscópicas, derretidas contra os jatos causam estragos significativos, podendo levar em casos extremos à sua paragem. O vôo 9 da British Airways, em junho de 1982, quando voava sobre um vulcão indonésio, é o melhor exemplo daquilo que essas cinzas vulcânicas podem causar aos aviões.

Treze meses antes, em abril de 2010, a Europa colocou as mãos em cima da cabeça ao ver milhares dos seus vôos cancelados devido às cinzas do vulcão Eyafjlallajokull. Agora é outro vulcão com um nome esquisito, o Grimsvotn, que acordou este fim de semana e expeliu a sua coluna de cinzas sobre a Islândia, Gronelândia e agora vai a caminho das Ilhas Britânicas. E a cada hora que passa, os cancelamentos estão a ser anunciados, um a um. E por causa do que se passou no ano passado, algumas pessoas anteciparam a partida para o Reino Unido, como Barack Obama e a equipa de futebol do Barcelona. Vamos a ver se conseguem depois sair a tempo.

Claro, a Formula 1 também está atenta ao que se ouve e fala do Grimsvotn. O circo estava em Xangai quando o Eyafjallajokull decidiu expelir fogo, e viu-se aflita para chegar à Europa. Agora o circo está na Europa e não deve haver problemas, mas no inicio de junho tem de se preocupar, pois terá de fazer a sua visita anual à América do Norte, mais concretamente ao Canadá, e não convêm que o Grimsvotn esteja ativo por essa altura. Não se garante que tal coisa aconteça, mas a possibilidade está lá.

Em suma, a Islandia pode não andar muito nas noticias, mas quando aparece, vem para chatear. Seja quando o pais vai à falência, como em 2008, ou quando um dos seus vulcões dá sinal de vida. Ao menos o Hekla está calminho. Pelo que me contam, muitos geólogos estão convencidos que foi a explosão de junho de 1783 é que causou a Tomada da Bastilha...

sábado, 12 de março de 2011

Depois do terramoto, a explosão na central nuclear



As noticias vindas do Japão não são nada boas, a cada hora que passa. No final da tarde de hoje, madrugada por aqui, a central atómica da Fukushima, que fica perto da zona de Sendai, sofreu uma explosão num dos seus reactores e os receios de um derretimento são cada vez mais reais.

Ainda por cima, o numero de desaparecidos aumenta de hora a hora. Se oficialmente os mortos são mil, circula agora por uma das agências internacionais uma noticia de que há dez mil desaparecidos só numa vila piscatória na perfeitura de Miyagi, devido ao tsunami. Não ficaria admirado se no final disto tudo, 98 por cento dos mortos sejam disto e não do terramoto em si. Aliás, oficialmente só se contabilizam quatro mortes devido a isso...

Uma coisa é certa: mesmo no pais melhor preparado para isto, este não estava preparado para o pior dos - já falam disso - últimos 1200 anos, e até agora, o segundo pior do século XXI.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Extra-Campeonato: o terramoto no Japão



Depois de ter passado a noite a escrever biografias, corridas do passado e a entrevista ao meu amigo Mike Vlcek, acordo a meio da manhã impressionado com os eventos que aconteciam no outro lado do mundo, no Japão. O que mais me impressionou num pais como aquele foi a força que um tsunami têm. É certo que a área de Sendai é plana, mas ver por exemplo barcos de pesca a serem arrastados por mais de cinco quilómetros, qual barquinhos de papel, é um bom exemplo da força que a Natureza tem para libertar uma terramoto de 8.9 graus na escala de Richter.

Hoje, por umas horas, até a CNN "mandou às malvas" um discurso do filho de Muhammar Khadaffi por causa do que se passava no pais do Sol Nascente, onde os prédios tremeram, as pessoas ficaram em pânico - mesmo num pais habituado a terramotos todos os dias - e as refinarias pegaram fogo. Até há uma estado de "alerta nucelear" porque há duas centrais nas zonas afetadas.

O numero de vitimas ainda é baixo, mas quando estava a sair de casa, pelas duas da tarde, estava a ouvir uma noticia da autoridade de proteção civil japonesa que falava da descoberta de mais de duas centenas de corpos numa praia na zona de Sendai. E também falavam em dezenas de carros, camiões e autocarros arrastados pelas vagas do tsunami, com pessoas lá dentro. E até um comboio... uma coisa é certa: o terramoto desta madrugada é o quinto mais violento de sempre registado pelos instrumentos, e o segundo mais violento do século XXI, logo atrás do de Sumatra, a 26 de Dezembro de 2004.

Impressionante, simplesmente impressionante... principalmente as imagens das ondas destruidoras, que simplesmente varreram tudo.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Do desejo de Ecclestone à realidade vai um grande passo

Toquei um bocadinho no assunto ontem à noite quando mostrava o cartoon do Mantovani, mas hoje coloco aqui alguns pormenores sobre a hipótese de Bernie Ecclestone querer colocar o GP do Bahrein noutra altura do campeonato. Eis aquilo que disse ontem à noite ao Daily Telegraph:

"O que aconteceu no Bahrein é verdadeiramente triste mas há um mês atrás toda a gente estava ansiosa pela corrida. Ninguém tinha problemas com a prova então. Se tudo voltar a ficar pacífico, que espero que aconteça, vamos tentar fazer o nosso melhor para o recolocar no calendário".

"O valor que é pago normalmente [40 milhões de dólares, mais 20 milhões para ser o evento inaugural do calendário] pelo evento não será pago. Não vou cobrar-lhes nada por uma corrida que não vão ter. Se as suas seguradoras cobrem as perdas de receitas, as vendas dos bilhetes, etc, não tenho a certeza. Mas se há alguma coisa que é de força maior, este foi o caso", continuou.

Há várias razões por detrás desta determinação do velho Bernie. Desde as obrigações contratuais com televisões, patrocinadores e outras entidades, que provavelmente pagaram determinada soma para garantir as vinte provas desse calendário, até a mais presente: querer os 40 milhões que o pequeno emirado barenita dá todos os anos para ter um Grande Prémio. Se está disposto a abdicar dos vinte milhões extra, tudo bem, mas aquele valor poderá ser importante para equilibrar as suas contas, porque pelas suas exigências cada vez mais altas e incomportáveis, os próximos anos serão dificeis.

E quando diz no final da noticia que "se e quando voltar ao calendário eles irão pagar o valor habitual", acho que está a ser demasiado otimista. As coisas na zona estão absolutamente imprevisiveis, nenhuma "cabeça coroada" da região sabe onde estará no dia de amanhã. Esta tarde, andei a ver imagens do Bahrein, onde quase toda a gente saiu à rua para exigir reformas, e parece que isso não terá um fim próximo. Aparte disso, os eventos noutros lugares como Libia ou Irão demonstram que apesar das fortes resistências dos regimes vigentes, a onda da mudança veio para ficar.

E mesmo que as coisas no Bahrein cheguem a um final feliz, caso a população faça com que se transforme numa monarquia constitucional, com o poder do emir fortemente reduzido, sabendo nós que o Grande Prémio é uma ambição pessoal do herdeiro da coroa, acham que o povo vai ver com bons olhos que o dinheiro seja gasto num Grande Prémio em vez de, por exemplo, cuidados de saúde, água, saneamento, educação, etc... de uma zona como essa? Creio que não, pelo menos nos próximos tempos.

Formula 1 em Cartoons - Bahrein 2011 (Pilotoons)

Como sabemos, o GP do Bahrein foi... adiado. Queremos acreditar nisso porque por aquilo que Bernie Ecclestone diz esta noite, mais me faz crer que ele vai remarcar a corrida para outro dia, porque 40 milhões são... 40 milhões. Acreditem, com aquele senhor, tudo é possivel.

Entretanto, segundo o Bruno Mantovani, há um verdadeiro vencedor desta corrida, e ele demonstra isso no seu "pilotoon" sobre a tal corrida barenita. Por uma vez, a realidade venceu o automobilismo...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Extra-Campeonato: Agora é a Libia

Já se sabia que a onda é imparável. Se um cai, os outros iriam ruir de tão podres e secos que estão. Acho que quando as pessoas viram o que se passou, primeiro na Tunisia e depois no Egito, ganharam coragem para dizer "basta". De tiranos, corruptos e nepotas, de familias e elites a enriquecerem, enquanto que vasta maioria de pobres ou de jovens bastante instruidos - nunca houve uma geração tão instruida como agora - não tinham qualquer chance. Naquele Médio Oriente árabe e maioritariamente muçulmano, não havia acessos e oportunidades de participação na sociedade. Os governos não deixavam.

E de repente, um tipo decidiu pegar fogo a si mesmo. Era tunisino, e a politica tinha-lhe tirado o seu ganha pão. Da maneira como isto está a correr, corro o risco de ver o sacrificio deste jovem homem, em Dezembro de 2010, a ser comparado com Gavrilo Princip, o homem que disparou as balas que mataram o Arquidique Francisco Fernando (Franz Ferdinand) naquele já distante 28 de Junho de 1914, na cidade de Sarajevo. Um mês depois, a Europa estava em guerra e dali a quarto anos, grande parte das cabeças coroadas europeias estavam fora dos seus tronos, a velha ordem destronada.

E é isso que está a acontecer: a velha ordem destronada. Quatro semanas depois do rapaz se ter imolado pelo fogo, Ben Ali fugiu do pais. Quatro semanas depois, no Egito, com um milhão de pessoas na rua, só no Cairo, Hosni Mubarak resistiu mais o que pode, mas somente adiou o inevitável. Os militares tomaram conta do pais e o povo reagiu jubilante na rua. Agora... Argélia, Bahrein, Yemen, Jordânia, Marrocos, Irão e Libia.

A Libia deverá ser o caso mais grave. O ditador Muhamar Khadaffi está lá há 41 anos a comandar os destinos do pais e não se importa de o defender à bala. Desde sexta-feira que se ouvem relatos de confrontos em Benghazi, a segunda maior cidade do pais, e estão a acontecer verdadeiros massacres. Há relatos - incompletos, diga-se - de mais de duzentos mortos na cidade, só no Sábado, e desde o final da tarde que se ouvem relatos de que há revoltas no próprio exército e se colocou ao lado dos manifestantes. Alguns até dizem que Benghazi foi tomada. E esta madrugada, os protestos chegaram à capital, Tripoli. Relatos desencontrados falam até que Khadaffi já saiu do pais.

Claro, tudo isto é especulação. Mas uma coisa é mais do que certa: algum de vocês imaginaria isto tudo por alturas do Natal?

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Quando a politica estraga os planos do automobilismo

"Os eventos no Bahrein estão a mudar a cada momento, e agora com a entrada em cena esta manhã do exército barenita e a consequente declaração do estado de emergência no pais, são cada vez mais os receios do adiamento ou o cancelamento puro e simples do GP do Bahrein, que está marcado para o dia 13 de Março. Apesar de Jean Todt, o presidente da FIA, já ter tentado acalmar os ânimos, a corrida da GP2 Asia, marcada para este fim de semana, foi cancelada e as preocupações aumentam. Há fortes rumores de que pode ser implementado o recolher obrigatório ainda hoje, e os organizadores da corrida de Abu Dhabi já se ofereceram em receber, pelo menos, os testes marcados para o inicio do mês." (...)

É o começo do post que hoje coloquei no site Pódium GP sobre os exemplos do passado onde a politica interferiu com o automobilismo. Sejam eles algo externo, ou seja, nada a ver com a Formula 1, ou então quando houve conflitos entre a FOCA e a FISA, entre 1980 e 82, que culminou em três corridas boicotadas: Espanha 1980, Africa do Sul 1981 e Sam Marino 1982. E somente esta última é que contou...

Ultima Hora: Corrida da GP2 Asia no Bahrein cancelada

Os eventos no Bahrein avançam velozes como um raio. Os tanques de guerra já rolam em Manama, a capital, e já se posicionaram na Praça Lulu, ou se perferirem, a Praça das Pérolas. Helicópteros voam pelos céus da cidade e aparentemente, as comunicações com o pais estão em baixo. A situação continua confusa e há fortes rumores de que será decretado ainda hoje o recolher obrigatório nas ruas.

Uma coisa é certa: a corrida da GP2 Asia, prevista para este fim de semana, foi cancelada, depois de inicialmente ter sido adiada por 24 horas. Os pilotos, jornalistas e demais pessoas que estão no local dizem que a situação é deveras confusa, que vão desde passaportes confiscados aos jornalistas e logo devolvidos sem explicações, até à presença intermitente da Internet no pequeno emirado.

Em conversa para o jornal espanhol "Marca", o piloto catalão Dani Clos afirma ter ouvido a agitação na praça central da cidade. "Esta noite andei a escutar os disparos", afirmou numa conversa telefónica. "Quando despertei, vi logo os tanques, forças militares, muita presença policial à porta do hotel onde estou hospedado, que está a apenas 200 metros do centro", continuou.

Clos diz que a organização tenta acalmar os ânimos dos pilotos, preocupados com a situação: "No circuito não há presença militar, só as pessoas da organização e eles nos tentam tranqulizar-nos, afirmando que o que se passa é uma problema interno", concluiu.

Por enquanto, nada se ouve da FIA e de Bernie Ecclestone, mas fala-se que a FOTA, a associação dos construtores, irá ter uma reunião esta sexta-feira para discutir outros assuntos, e a situação do Bahrein está definitivamente em cima da mesa. E segundo o que se conta no Twitter, as companhias de seguros não cobrem os pilotos, mecânicos e bens em situação de conflito...

Noticias: policia reprime manifestantes no Bahrein, GP2 adiado por 24 horas

Nem de propósito: enquanto eu falava sobre os protestos no Médio Oriente, mal sabia eu que a policia estava a reprimir os manifestantes que estavam acampados na Praça da Pérolas em Manama, a capital do país. Segundo numeros ditos pelas cadeias internacionais, três pessoas morreram e há relatos de outras três mortes. Centenas de pessoas estão feridas e os tanques já rolam nas ruas da capital. A sessão do Parlamento foi adiada e teme-se que o pior está para vir.

Entretanto, a sessão da GP2, que estava marcada para este fim de semana no circuito de Shakir, foi adiada por um dia devido à falta de médicos disponiveis no local. E claro, soam as campainhas de alarme na Formula 1 devido aos testes marcados para o local no inicio do mês. E há noticias de que as autoridades de Abu Dhabi já se disponiblizaram trocar datas com a do Bahrein para ser a corrida de abertura, pelo menos até que as coisas se acalmem mais um pouco. Ou até que matem mais alguns milhares...

O engraçado é que as autoridades ainda não estão preocupadas. Ou pelo menos não exteriorizam a sua preocupação. O presidente da FIA, Jean Todt, já disse a um média irlandês que "ainda não é altura de premir o botão de pânico". Estará à espera da Lei Marcial?

5ª Coluna: Os ventos de mudança no Médio Oriente

O assunto desta semana é mais que conhecido, pois andamos a ver isso todos os dias nas nossas televisões: os ventos de mudança no Médio Oriente e a velocidade no qual isto pegou fogo. Se falassemos nessa ideia em Dezembro, provavelmente iriamos rir na cara da pessoa, afirmando que era algo impensável nos tempos mais próximos. Afinal de contas, bastou uma pessoa pegar fogo a si mesmo na Tunisia pare que verificasse que todo o Médio Oriente era uma vasta pastagem de erva seca, pronta a ser queimada. As redes sociais deram uma ajuda e em poucas semanas dois velhos dinossaurios, Ben Ali da Tunisia e Hosni Mubarak do Egito, sairam do poder, de onde toda a gente pensaria que só sairiam dali depois de mortos.

As coisas ainda andam frescas, mas o desejo de mudança continua mais do que presente em muitos locais, e estes não tardarão a pegar fogo. Siria, Yemen, Irão, Libia, Argélia, estão agitados ou em vias de agitar, e outros paises, como a Jordânia e Marrocos, já tiveram algumas agitações, mas os regimes vigentes conseguiram acalmar os ânimos, fazendo algumas mudanças e fazendo algumas concessões.

O que isto tem a ver com a Formula 1? Bom, se falarmos sobre o pequeno emirado do Bahrein... tudo. Independente desde 1971, acolhe desde 2004 a Formula 1 e tornou-se na prova de abertura do mundial nos tempos mais recentes. O seu circuito pode ser arquiteturalmente muito bonito, mas em termos de emoção, é uma treta. Aborrecido para os nossos olhos, é o exemplo mais acabado da politica atual de Bernie Ecclestone, que procura os petrodólares do Golfo, pois são os unicos que satisfazem as cada vez maiores exigências de dinheiro por parte do octogenário anão.

Só que agora, a musica é outra. Bernie Ecclestone é um homem preocupado. Quer saber se tem garantias de que no próximo dia 13 de Março o seu Grande Prémio não será incomodado pelos manifestantes locais. Caso as coisas por lá andarem à mesma velocidade do que na Tunísia e no Egito, ele deve recear que dentro de um mês a família real barenita esteja num curto voo só de ida rumo ao seu vizinho saudita...

Os locais, que reclamam justamente por uma maior democracia e igualdade entre sunitas e xiitas, que no caso particular do Bahrein, representam a maioria da população, mas são governados por uma elite sunita, já disseram que iriam usar o Grande Prémio para verbalizar as suas reivindicações. Mas antes disso, nos primeiros dias de Março, a Formula 1 fará testes no circuito, em preparação para a corrida. Ecclestone quer saber se tem garantias de que as coisas correrão "business as usual", sem ser incomodado pela "arraia míuda", pois caso contrário, ou adia para o final do ano, ou simplesmente cancela a corrida e se corre com 19 Grandes Prémios.

Nesse aspeto, os dias que se seguirão irão certamente dar uma resposta a essa dúvida.

Por outro lado, ao ver a agitação no Médio Oriente, certamente há uma certa ideia do Tio Bernie que caiu por terra. Quando abre a boca para dizer as suas asneiras, uma das mais habituais é o elogio aos ditadores, como o Adolf Hitler (que ironia, é judeu...) Robert Mugabe ou a Margaret Thatcher (não foi ditadora, mas não a chamaram de Dama de Ferro por nada) e a boa razão pelo qual perfere ter corridas na Russia, China, India ou Malásia é porque esses regimes pagam muito e a sua população não faz muitas perguntas.

E os pedrodólares, como é óbvio, vêm a calhar. Ter duas corridas no Golfo Pérsico e com a possibilidade de mais uma no Qatar sempre no horizonte, tem a sua vida feita. Mas com este barril de pólvora a explodir, ele começará a pensar duas vezes antes de ter a politica, ou se perferirem, a realidade a bater à porta do seu mundo fantasioso, elitista, asséptico, cheio de caras bonitas e famosos cheios da pasta. Para ele, já é tarde para que mude, será assim até morrer, mas acho que a Formula 1 precisa um pouco mais de bom senso e menos dos seus promotores, que para terem a Formula 1 nos seus países, precisaram de fazer pactos com o Diabo...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sede de revolta no Bahrein, e o futuro imediato do Grande Prémio

As coisas no Bahrain estão a aquecer a cada hora que passa. Desde segunda-feira que já morreram duas pessoas nos confrontos com a policia e o xeique local já foi à televisão apelar à calma e prometer mais reformas dentro em breve. Contudo, as manifestações alastram-se e a policia de choque anda a reprimi-las com alguma violência. A mesma receita que fizeram na Tunisia e no Egito, com as consequências que todos conhecemos...

Caso os eventos se arrastem durante mais algum tempo, isso afetará inevitavelmente o automobilismo. O Bahrain será a prova inicial do campeonato de 2011 e essa acontecerá dentro de um mês, mas antes, ela tem marcada a última sessão de testes oficial. E terá também uma ronda dupla da GP2 Asia Series, e pelo que os pilotos e algumas equipas dizem, já estão a receber avisos das embaixadas para terem cautelas sobre a situação do momento e sobre a circulação das pessoas e bens na pequena ilha do Golfo Pérsico.

Certamente que muitos estão preocupados se existirá Grande Prémio. Até Bernie Ecclestone já se mostra nervoso com o que se passa por lá e o possível arrastamento da situação. Passar a corrida para outra altura do ano ou simplesmente cancelar o Grande Prémio são duas hipóteses que estão em cima da mesa, bem como arranjar um novo local para a sessão final de testes da pré-temporada. Caso adie, a Formula 1 começaria a 27 de Março, em paragens australianas, e eventualmente o Bahrein se juntaria ao Abu Dhabi como uma dupla jornada final no Golfo Pérsico, em Novembro. Claro, pensar que como estarão as coisas no Médio Oriente, nesta altura do campeonato, é um exercício de adivinhação...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Os ventos de mudança no Médio Oriente e como podem afetar a Formula 1

Está a ser um dia interessante. Hoje é um dia qualquer para casais, o Ronnie Peterson e o Ricardo Rodriguez fariam anos hoje e Ronaldo arrumou esta manhã as botas (e provavelmente terá 120 quilos em 2014...) e para finalizar, o Hosni Mubarak pode estar em coma em Sharm el Sheik. Mas quero pegar neste último capitulo porque parece que os ventos de mudança no Médio Oriente poderão ter implicações... na Formula 1. Eu explico.

Na sexta-feira estava a ver um documentário da BBC sobre o Bahrein. Para quem não sabe, é uma ilha no Golfo Pérsico com pouco mais de 800 mil habitantes. É outro emirado muito rico - o petróleo foi descoberto em 1932 - e que historicamente foi portuguesa entre 1521 e 1602, mas eles são mais avançados do que a sua vizianha Arábia Saudita, por exemplo. Contudo, tem uma maioria xiita muito ativa, que se queixam de discriminação sob a minoria sunita, ao qual pertence a familia real. E nos últimos 30 anos eles estiveram muito agitados. Tentaram derrubar a monarquia em 1981, queixam-se de estarem pouco representados na comunidade. Tem havido confrontos esporádicos e já prometeram agitar a ilha com mais protestos, nomeadamente "um dia de raiva", marcada para amanhã.

Esta manhã lia o Joe Saward, que falava sobre o mesmo assunto que tinha visto na sexta-feira e parece que me fez luz sobre a minha mente. Afinal, as queixas deles são legitimas, mas como o Irão é do outro lado do Golfo, há muita gente que olha isto com enorme desconfiança. ainda por mais que, por exemplo, os americanos têm uma base no Bahrein. Apesar de tudo, tem havido nos últimos anos enormes concessões por parte da familia real, nomeadamente uma constituição que a transforma numa monarquia constitucional, eleições e um parlamento. Só que parecem que querem mais, e estão a ver como as coisas funcionam nos outros lados para fazer o seu aqui.

Claro, como sabemos, a grande maioria dos protestos são no Norte de Africa. Tunisia, Egito, Argélia e em menor grau, Jordânia e Yemen, mas estamos a ver que 2011 está a ser o "1989" que o Médio Oriente não viveu. E estes ventos de mudança são fortes, tão fortes como as tempestades de areia no deserto. Agora resta saber se afetarão o "business as usual" na Formula 1, e que não seja uma dor de cabeça para Bernie Ecclestone...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Extra-Campeonato: a saída do "faraó" Mubarak

Bom, agora é oficial. Demorou dezoito dias e provavelmente algumas centenas de mortos, muito por culpa da teimosia do presidente. Mesmo ontem quando disse que iria transferir poderes ao vice-presidente, a multidão não estava contente. Eu entendo: oprimidos durante trinta anos, queriam tudo. A cabeça do faraó em troca de paz. Esta tarde, circulavam noticias de Hosni Mubarak estava fora do Cairo, para Sharm el Sheik, mas que não indicava que tinha abandonado o poder. Ele largou as coisas, aos poucos, de forma irritantemente lenta, demasiado lenta para um povo que grita a plenos pulmões que quer ser livre.

Esta tarde, há pouco mais de uma hora, o vice presidente Suleiman disse na televisão as palavras que todos queriam ouvir: "Em nome de Deus, o misericordioso, cidadãos, durante as difíceis circunstâncias que o Egipto atravessa, o Presidente Hosni Mubarak decidiu deixar o cargo de Presidente e encarregou o Conselho Supremo das Forças Armadas de administrar o país. Que Deus ajude toda a gente", afirmou.

Algumas pessoas dizem que povo venceu o faraó, e com razão. Desfiaram primeiro a policia de choque, depois o recolher obrigatório. Depois as contra-manifestações violentas de esbirros pagos pelo regime e policias disfarçados, apenas com o objetivo de causar o caos. Foi sempre pacifico e resistente, e sempre com uma ideia em mente: fazer sair Hosni Mubarak. Foram dezoito dias onde foram testados ate ao limite. E conseguiram, dou os parabéns para isso.

Mas se quisermos usar a metáfora futebolistica, acabou agora a primeira parte do jogo. A segunda parte começa agora, quando os militares e o agora presidente Suleiman falarem com a oposição organizada, desde a Irmandade Muçulmana até aos intelectuais como Mohammed el Baradei, Amr Moussa e outros, e elaborarem um calendário de transição que permita as tais eleições livres e justas que querem e desejam. Que aquele povo, que saiu à rua aos milhões como se fosse o Maio de 68 nas margens do Nilo, que muitos temiam uma viragem para o pior, viva livre e procure a felicidade, tal como muitos procuram na América, Europa e Ásia. E depois da Tunisia, precisamente quatro semanas depois da fuga de Ben Ali, outro ditador cai. Resta saber onde este dominó irá parar, e se terá um final feliz.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Extra-Campeonato: As coisas no Egito começam a piorar

Vejo agora - como provavelmente muitos de vocês - as manifestações no centro do Cairo, com apoiantes pró e contra Hosni Mubarak, lutando uns contra os outros, sob o olhar do Exército. Depois de ontem, o velho presidente Mubarak ter dito que aos 82 anos, não se recandidatará a novo mandato, começou-se a tentar uma contra-revolução.

Que Mubarak cedeu forte e feio, lá cedeu. Mas ele quer sair pelo seu próprio pé em vez de ser puxado pelo povo e fugor, como fez o Ben Ali na Tunisia, isso é verdade. Só que essas pessoas perderam um pouco o medo e agora exigem o impossivel. Lembram-se a frase o Maio de 68? Andamos por aí.

Só se pode esperar e torcer para que não acabe num banho de sangue. Mas estou a ver cenas surreais, como os manifestantes pró-Mubarak, que provavelmente são organizados e ordenados por ele, e cenas como cavalos e camelos a correr pela Praça Tahir e a atacarem os jornalistas internacionais.

"São brutamontes do Partido Nacional Democrático [no poder]. Eu estava com outros num muro humano e então apareceu um grupo de gente que começou a empurrar-nos e atirar pedras contra nós", descreveu à Reuters um manifestante anti-Mubarak, com a cabeça ensanguentada dos ferimentos sofridos. Muitos acreditam que são policias disfarçados, que na semana passada andaram a espancer os mesmos manifestantes.

Como isto acabará, não sabemos, porque tudo isto está a acontecer enquanto escrevo estas linhas... é o pandemónio.