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O MÁGICO. 2ªf, IPJ. 21h30. PURA MAGIA. (e desta vez chegou mesmo e já está pronto a ser projectado!)

Sócios 2€, Estudantes 3,5€, Restantes 4€



Do resgate de um argumento inédito de Tati nasce um dos mais belos filmes do ano.

Foi durante a produção de "Belleville Rendez-Vous" - mais precisamente aquando da negociação dos direitos de uma sequência de "Há Festa na Aldeia" que desejava incluir nesse filme - que Sylvain Chomet tomou conhecimento da existência de um argumento inédito de Jacques Tati. Ora, a longa-metragem de animação que agora estreia por cá (a segunda de Chomet) constitui, justamente, uma tentativa de livre adaptação desse argumento (e dizemos 'livre' porque, dele, o cineasta reteve apenas as linhas de força da narrativa). Trata-se, aqui, de uma salvaguarda de liberdade que não trai os princípios cénicos do cinema de Tati. De facto, nesta animação em 2D, como na maioria dos filmes em imagem real de Tati, privilegia-se a imobilidade do quadro (e, sobretudo, a profundidade do plano-sequência fixo) em detrimento da mobilidade da câmara. Mas a constatação desta fidelidade cénica não dissipa as duas grandes dúvidas que, à partida, poderíamos alimentar sobre o projeto de Chomet: a da tradução em animação do imaginário de Tati e a da 'reencarnação animada' do próprio Tati (que, segundo o argumento, protagonizaria uma vez mais a sua ficção). E, se a primeira é académica porque há, no cinema de Tati um culto do cinético, da cor e do pormenor que encontra na animação o seu território natural -, a segunda fia mais fino. É que o protagonista deste filme não é nem o Sr. Hulot, com o qual Tati se confundiu entre 1953 e 1971, nem Jacques Tati - o cineasta -, mas um tal Jacques Tatischeff, que, assumindo o nome de batismo do realizador, coloca a ficção em domínio autobiográfico.



Aqui, Tati põe-se a si mesmo numa intimidade que não admite distância - através da figura de um velho ilusionista de music hall (foi aí, aliás, que Tati começou a sua carreira artística) cujos velhos truques já ninguém quer ver. Talvez por isso, o filme no-lo mostre, de início, vagueando entre Paris, Londres e Edimburgo (onde o grosso da ação decorrerá), num movimento nómada que permite a Chomet estabelecer um contraste entre as frenéticas variações de décor e a impassibilidade de uma personagem que - como o Sr. Hulot - se sabe condenada a habitar um tempo que não é o seu. Nem o seu, nem o de Alice - a adolescente britânica cuja pobreza o comove a tal ponto que, fazendo do truque milagre, ele simulará tirar da sua cartola, para lhos oferecer, um par de sapatos vermelhos que comprara de antemão. Fascinada pelo truque de magia, ela fará questão de acompanhar Tatischeff na sua viagem sem destino. Juntos, instalam-se num pequeno hotel de Edimburgo e dão início a um impossível simulacro de vida a dois: ele, procurando obter o dinheiro suficiente para repetir o gesto original; ela, esperando pela nova dádiva do falso criador...



Dito isto, aquilo que nos comove, aqui, nasce do subtil jogo de permutas que o filme tece entre duas formas de magia: a falsa magia do ilusionismo e a genuína magia da generosidade (a única capaz de extrair, como o Deus do Génesis, algo a partir do nada). Entenda-se: ilusionista de profissão, Tatischeff é generoso por vocação. E, se os seus truques de magia são falsos (como, por fim, confessará a Alice), o gesto generoso que o convida a executá-los para recobrir, com pudor, os presentes que oferece à adolescente, esse, acaba por transfigurar a sua falsa magia numa magia real. Assim, quando, no final, Tatischeff percebe o que sempre soube - isto é, que a felicidade de Alice implica o seu afastamento -, revelar-se-á, como o Chaplin de "Luzes da Ribalta", capaz do maior ato de generosidade possível: o de se sacrificar, saindo de cena para deixar ser feliz a única que acreditou na sua falsa magia real. Talvez seja por isso que, na última sequência, todas as luzes se apagam menos uma. Gostamos de pensar que se trata da luz que o filme de Chomet descobriu na infinita generosidade do olhar de Tati.
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Vasco Baptista Marques, Expresso



A cinefilia também se desenha
Escusado será lembrar que a história dos desenhos animados dos últimos 20 anos é, sobretudo, made in USA. Mais do que isso: as muitas (e, por vezes, fascinantes) transfigurações impostas pela animação digital passam, no essencial, pelos estúdios americanos, com inevitável destaque para a Pixar. Daí que «O Mágico» surja como contraponto, singular e brilhante, que importa valorizar: aqui está um objecto eminentemente europeu, de produção franco-britânica, que aposta em manter uma riquíssima relação criativa com a tradição dos desenhos executados à mão.

O resultado é tanto mais tocante quanto envolve uma calorosa dimensão cinéfila. Ao filmar o argumento legado por Jacques Tati, Sylvain Chomet homenageia o criador do Sr. Hulot, quanto mais não seja pela semelhança física entre a figura do ilusionista e o próprio Tati (há mesmo uma breve sequência em que o ilusionista entra numa sala de cinema onde se projecta «O Meu Tio»). Mas Chomet não se limita a esse gesto de reverência. Em boa verdade, «O Mágico» colhe na obra de Tati os seus métodos essenciais de encenação e, em particular, a exploração de cenas relativamente longas, apresentadas de um único ponto de vista.



Daí o carácter heterodoxo do trabalho de Chomet. Num tempo em que muitos filmes (incluindo desenhos animados) confundem a intensidade da acção com a "velocidade" da montagem, «O Mágico» vem revalorizar a nobre arte da contemplação e, mais do que isso, a sua vertiginosa velocidade afectiva.

E embora muitos aspectos do Natal, em particular do Natal cinematográfico, tenham sido derrotados pelo marketing mais desumano, há que dizer que alguns filmes ainda conseguem recuperar o espírito tradicional das festas. «O Mágico» é, seguramente, um desses filmes.
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João Lopes, Diário de Notícias




Título Original: L'illusionniste
Realização: Sylvain Chomet
Argumento Sylvain Chomet. Adaptação : Jacques Tati
Direcção de Fotografia: Bjarne Hansen
Música: Sylvain Chomet
Interpretação: Jean-Claude Donda (voz), Eilidh Rankin (voz), Duncan MacNeil (voz), Raymond Mearns (voz), James T. Muir (voz)
Origem: Reino Unido/ França
Ano de Estreia: 2010
Duração: 80’
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Os manifestos poéticos de Maio. E os outros dois da trilogia. SEMPRE EM CIMA DA JOGADA.

IPJ – 21H30 - Entrada 2€ Sócios, 3,5€ Estudantes, 4€ Restantes

CICLO MANIFESTOS POÉTICOS

DIA 2
O MÁGICO*

Sylvain Chomet
Reino Unido/ França, 2010, 80’, M/6
*Sessão para escolas às 10h30, entrada 1€

A partir de um guião original de Tati, o autor de "Belleville Rendez-vous" animou uma pequena elegia melancólica sobre o tempo que passa. Poesia em movimento. Tati sem ser Tati, Chomet sem ser Chomet, amalgamando elementos de ambos (e também da banda-desenhada clássica, com um perfume da "linha clara" franco-belga) para construir uma pequena elegia melancólica sobre um tempo perdido para nunca mais voltar. O filme é, cena a cena, visualmente espantoso, com panorâmicas de estarrecer e a colher do universo de Tati uma atenção inusitada aos detalhes, aos pequenos nadas do dia-a-dia, além de uma quase total ausência de diálogos, substituídos, na maioria das vezes, por expressões ininteligíveis. Mais ainda: há na relação entre as duas personagens centrais uma ternura, uma riqueza e uma complexidade não verbalizadas que deixam a perder a vista a maior parte do cinema que por aí vemos. Ou seja, pura magia cinematográfica.
Luís Salvado

DIA 9
O TIO BOONMEE QUE SE LEMBRA DAS SUAS VIDAS ANTERIORES

Apichatpong Weerastethakul
Reino Unido/ Tailândia/ Alemanha/ França/ Espanha, 2010, 113’, M/12

Palma de Ouro de Cannes 2010

Apesar da sua curta carreira cinematográfica, Apichatpong Weerasethakul é já reconhecido como uma das mais originais vozes do cinema asiático e mundial. As suas quatro longas-metragens e as suas curtas-metragens granjearam-lhe o reconhecimento internacional e diversos prémios em festivais pelo mundo fora. O Tio Boonmee que se Lembra das Suas Vidas Anteriores complementa o projecto Primitiv de Apichatpong, que tem a ver com a ideia de extinção e da memória de vidas passadas.
Não é preciso muito tempo, bastam dois ou três planos (até que o boi amarrado se solte e se aventure por uma floresta filmada em "noite americana", ou que assim parece) para se ter a sensação, muito clara, muito nítida, mas também, como dizer, muito calma, de que "O Tio Boonmee que se Lembra das suas Vidas Anteriores" é uma espécie de janela que alguém abriu, uma corrente de ar fresco soprada sobre a tristíssima avalanche de entulho que semanalmente se abate sobre o chamado "circuito comercial".
É um filme extraordinário, em todos os sentidos da palavra, um filme que devolve o cinema à sua (quase) esquecida vocação demiúrgica. É verdadeiramente um filme de "criação", de criação de um "mundo".
É assim tão especial, como são especiais os momentos, cada vez mais raros, em que sentimos o cinema a reencontrar-se consigo próprio.
Luís Miguel Oliveira

DIA 16
A CIDADE DOS MORTOS

Sérgio Tréfaut
Portugal, 2010, 63’, M/12

Na vastidão do cemitério El Arafa, no Cairo, existe uma cidade com um milhão de habitantes que vivem em edifícios construídos entre túmulos e mausoléus. Há funerais todos os dias, enquanto à sua volta a vida decorre normalmente nas padarias, cafés, mercados e escolas. Tudo dentro da maior necrópole do mundo. A Cidade dos Mortos é gigante, mas parece uma pequena aldeia, onde um jovem pastor leva o seu rebanho pelas ruas estreitas, uma mulher tenta vender alguidares de plástico e as crianças brincam por entre as lápides, com os seus papagaios voadores. Este filme apresenta-nos vários aspectos deste estranho e maravilhoso enclave. Observamos as sepulturas cor de areia, com a sua beleza e serenidade, em simultâneo com a agitação de um lugar onde uma população predominantemente pobre luta para sobreviver. Os movimentos da câmara são calmos e comedidos, tal como a voz que descreve os atractivos desta cidade dos mortos, onde o ritmo da vida é definido pelo Corão. Alá pode ser omnipresente, mas isso não impede ninguém de se encostar a uma sepultura e de arrotar, insultar pessoas que passam ou falar abertamente do desejo de ter sexo antes do casamento. Como diz uma local “viver tão perto dos mortos só pode trazer sabedoria”. Preparado e rodado ao longo de cinco anos (2004-2009), este filme procura dar a ver a alma invisível do cemitério. Seleccionado para dezenas de festivais de cinema documental, obteve o Grande Prémio Documenta Madrid 2010.
Festival Indie Lisboa

DIA 23
POESIA

Lee Changdong
Coreia do sul, 2010, 139’, M/12

Lee Changdong filma o seu argumento premiado pelo Festival de Cannes o ano passado, mais uma vez, como acontecia, por exemplo, em Oasis (premiado no Festival de Veneza, em 2002), com emoção e profundidade e desejo de reflexão. Esta mulher que não sai de cena (a extraordinária Yun Jeong-hie), a braços com um neto insolente que se torna criminoso ao participar numa violação colectiva, um grupo de pais empenhado em abafar o crime e um patrão prepotente; esta velha a lidar ainda com os seus próprios sinais de Alzheimer, que luta para aprender poesia, é, mais do que um símbolo de um mundo em extinção, um exemplo de vida que o realizador acolhe no seu desejo de trazer a realidade para o cinema. O que faz de maneira lírica e delicada, sem retórica florida nem desejo de propaganda, instilando talvez mais do que insinuando, acrescentando humanidade onde geralmente só existe desdém, dando a ver em imagens rigorosas e pungentes outro lado do quotidiano, uma faceta onde juventude, beleza e saúde não evocam fogos de artificio.
Rui Monteiro

DIA 30
MEL

Semih Kaplanoglu
Turquia/Alemanha, 2010, 103’, M/12

Urso de Ouro em Berlim 2011

Um filme turco cheio de palavras ausentes nesta história sobre um menino gago, o seu pai único, as abelhas, o faisão e a poesia a germinar no silêncio da contemplação. Todo o filme é-nos transmitido através daquilo a que o próprio realizador chama, paradoxalmente, "realismo espiritual". Sempre na perspetiva de quem vê o mundo a um metro do chão. E é nesta perpendicularidade, entre a verticalidade das árvores enormes da floresta onde o pai assaltava colmeias, e o olhar horizontal no miúdo, que se encontra um ponto qualquer onde se formam as "origens da alma", na palavras do realizador. Ou se vai incubando, fermentado, acumulando, cozinhando com leite, mel e ovos, o armazenamento vocabular e sensorial de um poeta que ainda não sabe que o será porque ele apenas é um poeta em construção. Diz-se que a palavra pode ter a valência de mil imagens e não o contrário, e produzir um efeito impactante, mas a pausa - no momento certo, na hora e no local certos produz um efeito ainda mais estrepitante. Por isso, este é um filme de pausas cheias de poesia lá dentro. E a poesia, como se sabe, é feita da mesma matéria com que se constroem os sonhos. E não por acaso o filme acaba com o miúdo a dormir, no meio da imensa e misteriosa floresta, cheio de "brancos pavores", tão líquidos como o rio que corre ali perto. E cita-se uma frase maravilhosa em latim, que condensa todo o filme - soa muito melhor em latim, mas a tradução impõe-se: Altissima quaeque flumina minimo sono labi, os rios mais profundos correm sempre com menos ruído.
Ana Margarida de Carvalho

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Continuamos a propiciar chá, café e bolinhos na nossa sede… a acompanhar filmes! Pois SE Mel é o terceiro elemento de uma trilogia (o único estreado em Portugal), e se só se pode 'apreendê-lo' na sua plenitude conhecendo os dois primeiros... qual é a função de um cineclube, qual é? :-)

SEDE CINECLUBE DE FARO - 21H30 - ENTRADA LIVRE – LOTAÇÃO 25 LUGARES

CICLO OS OUTROS DOIS DA TRILOGIA

DIA 11
OVO
, Semih Kaplanoglu, Turquia, 2007, 97’, M/12

DIA 25
LEITE
, Semih Kaplanoglu, Turquia/França/Alemanha, 2008, 102’, M/12

Palavras do realizador:
MEL é o terceiro filme da minha “Trilogia Yusuf”. A ideia para esta trilogia começou a formar‐se quando estava a rever um guião, que tinha escrito há muito tempo, sobre a história de Yusuf durante os seus anos de universitário em SÜT / LEITE. Enquanto estava a elaborar esta personagem dei por mim a especular sobre como seria o seu futuro enquanto adulto (YUMURTA/OVO) e acerca de como teriam sido o passado e a infância do rapaz (BAL/MEL). Estas ideias ajudaram a moldar a trilogia. Comecei com YUMURTA/OVO, talvez porque a minha intenção fosse ir descobrindo a personagem em camadas, até chegar ao centro. Toda a trilogia pode ser vista como um extenso flashback. Nenhum dos filmes pode ser considerado de época: todos eles decorrem na actualidade, em diversos ambientes e escalões económicos turcos. Perguntam‐me se todos estes Yusufs são, efectivamente, a mesma personagem. Opto por não responder para não denunciar os seus segredos, a relação directa e indirecta entre os filmes, os mistérios da trilogia.
Semih Kaplanoglu

de 24 a 31, Festa do Cinema Francês. 14 sessões. 1 grátis. As outras a 3€. Passe para todas por 10€ (menores de 30 anos) e 20€

DE QUE É QUE ESTÃO À ESPERA????

Fui lá hoje - Teatro Municipal de Faro, já todos sabem, não é? - comprar os meus bilhetes (vou a 5 sessões) e aquilo (ainda) ESTÁ ÀS MOSCAS!!!!!

Ouçam:

ABRE COM O ÚLTIMO FILME DO JEUNET!! Sabem, aquele?... esse mesmo, o de Delicatessen? E É À BORLAAAAAAAAA! MICAMACS À TIRE LARIGOT (domingo, 24, 21h30):



E logo no 2º dia O MELHOR FILME DE TODOS, O MAIS AGUARDADO - mais propriamente, desde há... 7 anos!! - do ESPANTOSO criador de animação Sylvain Chomet, o de La Vieille Dame et Les Pigeons (curta) e da estrondosa longa Les Triplettes de Belleville/Belleville Rendez-Vous. Agora, finalmente, numa adaptação de um argumento nunca realizado de Jacques Tati, que Chomet homenageia figurando o Mr Hulot, L'ILLUSIONISTE (2ª, 25, 19h):



Na 4ª, 27, também às 19h, ELLE S'APPELLE SABINE, o documentário que a actriz Sandrine Bonnaire - 'madrinha' desta 11ª edição da Festa do Cinema Francês, que lhe dedica um ciclo do qual poderemos ver em Faro Mademoiselle e Sans toi, ni loi - fez da sua irmã autista, Sabine, recorrendo a imagens recolhidas ao longo de 25 anos. Comovente, claro está, e importante, como mensagem-testemunho do nosso desconforto (nosso, o da sociedade) em lidar com a diferença absoluta como no caso deste distúrbio.



Aceitem estas como sugestões minhas. Mas, aceitando-as ou optando por outros filmes, vão. Bom cinema, para além daquele que o CCF dá, não abunda pelas nossas bandas.

Certo? Certo.