Seguindo as tendências internacionais, dominadas pela liberdade formal e a predominância de cores saturadas, a
SECLA introduz, no final dos Anos 50, serviços de chá e café, com decoração caligráfica abstracta, a linha negra sobre aguadas coloridas e fundo branco.
O carácter vivaz dos conjuntos é ainda reforçado pelo facto de o interior das peças ser revestido com esmaltes densamente coloridos, conferindo-lhes um aspecto surpreendente.
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SECLA - peças de serviços de chá e café, Anos 50. © CMP |
A autoria da decoração destes serviços deve-se a
Hansi Staël (1913-1961), como atesta a marca de fábrica na leiteira (8,5 x 10 cm) abaixo reproduzida.
Hansi Staël colaborou com a SECLA entre 1950 e 1957, tendo sido fundadora do Estúdio SECLA.
A artista húngara, formada em Artes Gráficas pela mítica Escola de Artes e Ofícios de Viena, revelará facilidade e eficiência na aplicação do grafismo abstracto à decoração cerâmica, como afirma Alberto Pinto Ribeiro (1921-1989) em A Nova
Cerâmica da Caldas (1989), "manchas de cores abstractas, que se adaptavam às formas ou às utilizaçãoes, criando um estilo de decoração que, até então, não era vulgar na produção de outras fábricas".
Staël foi responsável pela concepção de várias peças para a produção corrente e também pela criação de peças únicas que expôs em nome próprio ou representando a fábrica em mostras nacionais e internacionais, contribuindo de forma determinante para a actualização e melhoria da qualidade da produção, bem como para o aumento do prestígio internacional da SECLA. Muitos dos seus desenhos para a produção corrente continuaram a ser executados, pelo menos até finais da década de 80.
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SECLA - leiteira. © PMC |
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SECLA - leiteira, marca de fábrica. © PMC |
Estes serviços, Modelo Secla, cujo formato foi desenhado por Fernando da Ponte e Sousa (1902-1990), receberam várias decorações, sendo esta uma linha criada pela artista para ser reproduzida em série.
Assim, inteiramente pintada à mão, cada peça aparece, por vezes, rubricada pelo executante da sua decoração. Qualquer esclarecimento sobre as assinaturas dos vários pintores, poderá aqui ser acrescentado.
O bule mede 22 x 12,5 x 12 cm, é esmaltado no interior a amarelo vivo, inclusive a tampa, pontuada no exterior por um elemento circular verde.
No entanto as cores aplicadas no interior de cada peça são variáveis, podendo aparecer peças de formato semelhante com cores inteiramente diferentes.
Também na qualidade das pastas e dos vidrados se notam variações significativas, sendo que algumas peças, como o caso do bule, provavelmente da produção inicial (tendo em conta a marca de fábrica), aparentam ser mais frágeis e propensas à criação de efeitos craquelé e amarelecimento com o passar do tempo, enquanto outras, provavelmente de produção posterior, apresentam vidrados brancos opacos mais estáveis, macios e densos, como pode verificar-se na leiteira acima reproduzida.
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SECLA - bule, Anos 50. © CMP |
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SECLA - bule, Anos 50. © CMP |
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SECLA - bule, Anos 50. © CMP |
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SECLA - bule, Anos 50. © CMP |
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SECLA - tampa do bule. © CMP |
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SECLA - bule, marca de fábrica. © CMP |
As chávenas de chá medem 9,4 x 5 cm e os pires 14,5 cm de diâmetro.
Ao contrário do bule, marcado com o carimbo da fábrica, tanto as
chávenas como os pires estão marcados à mão e com o punção da fábrica,
por vezes exibindo também a rubrica do pintor executante da decoração.
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SECLA - chávena de chá e pires. © CMP |
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SECLA - chávena de chá e pires. © CMP |
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SECLA - chávena de chá, marca de fábrica. © CMP |
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SECLA - pires. © CMP |
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SECLA - pires, marca de fábrica. © CMP |
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SECLA - pires, marca de fábrica e rubrica do pintor. © CMP |
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SECLA - pires, marca de fábrica. © CMP |
As chávenas de café medem 6 x 5,5 cm, estando apenas marcadas com o
punção da fábrica.
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SECLA - chávenas de café. © CMP |
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SECLA - chávenas de café. © CMP |
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SECLA - chávena de café, marca de fábrica. © CMP |
Nas imagens abaixo, podemos ver um tête-à-tête composto por duas
chávenas de café e respectivos pires, uma leiteira e um açucareiro.
Este conjunto permanece na sua embalagem original, a que
provavelmente faltará uma cobertura incolor de material semelhante ao da
etiqueta.
Os novos materiais plásticos, transparentes, estavam estavam em voga,
deixando sobressair o aspecto informal e descontraído do embalamento. As
peças estão presas à caixa com uma fita colorida e têm entre si, por
precaução, pequenos pedaços de papel de lustro negro.
O diâmetro dos pires é de 11 cm e o açucareiro mede 8,8 x 8,7 cm.
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SECLA - tête-à-tête, na embalagem original. ©
CMP |
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SECLA - tête-à-tête, na embalagem original. ©
CMP |
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SECLA - tête-à-tête, na embalagem original. ©
CMP |
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SECLA - tête-à-tête, na embalagem original. ©
CMP |
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SECLA - tête-à-tête, na embalagem original. ©
CMP |
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SECLA - tête-à-tête, na embalagem original. ©
CMP |
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SECLA - tête-à-tête, fundo da embalagem original. © CMP |
As mesmas peças foram mais tarde produzidas em versões monocromáticas,
podendo ser compradas avulso e misturadas entre si, de modo a criar
conjuntos multicolores.
Nesta versão, traduzem, tanto no contexto nacional como para o mercado
internacional, as ideias introduzidas pelo designer americano Russel
Wright (1904-1976), com a linha American Modern, produzida pela
Steubenville Pottery entre 1939 e 1959, que rapidamente adquiriu o
estatuto de clássico da década de 50.
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Russel Wright - peças da linha American Modern, Steubenville
Pottery, 1939. MET |
Numa época em que os jovens casais começavam a viver de modo mais
informal, os serviços completos foram caindo em desuso, dando lugar a
conjuntos de peças variadas que se podiam ir comprando ao longo do
tempo,
daí o seu enorme sucesso comercial. Várias companhias europeias e
americanas começaram a produzir linhas deste tipo.
Às peças já referidas falta a cafeteira, para que os dois serviços, chá e
café, fiquem completos. Aqui apresentada numa versão monocromática
negra, de produção mais tardia, corresponde a uma versão mais alta e
oblonga do bule.
Vários designers exploraram internacionalmente as mesmas referências,
desenho linear a negro sobre fundo branco, conjugado com cores primárias
e secundárias, na senda das propostas de artistas do modernismo como
Juan Miró (1893-1983) ou
Alexander Calder (1898-1976).
Representante destas tendências, do ceramista francês
Roger Capron (1922-2006),
aqui
anteriormente referido, fica um conjunto composto por jarro e
copos, decorado com elementos abstractos a negro sobre branco e
interiores esmaltados a cores vivas.
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Roger Capron - jarro e copos. |
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Marca "Capron Vallauris". |
Algumas propostas da designer britânica
Susie Cooper (1902-1995),
utilizam também os mesmos recursos estilísticos.
Cooper foi uma das mais importantes designers de cerâmica utilitária no
Reino Unido, tendo trabalhado, entre 1922 e 1929, para a A.E. Gray na
decoração de variadas peças, com elementos florais, abstractos,
ocasionalmente geométricos, pintados à mão. Em 1929 fundou a sua
empresa, dedicando-se à criação de linhas próprias a partir de peças em
branco fornecidas por outras companhias, estabelecendo-se como uma
designer de referência no período entre as guerras.
Em 1931 mudou-se para a Crown Works, em Burslem, propriedade da Wood
& Sons, que lhe fornecia peças em branco, já segundo os seus
próprios desenhos.
Foi também pioneira na introdução de novas técnicas, como a litografia,
conferindo ás suas decorações um grafismo inconfundível. A combinação
entre modernismo e funcionalidade, garantiu-lhe o respeito tanto dos
críticos como do público.
Após a Segunda Grande Guerra, Cooper trabalhou sobretudo em porcelana,
para a sua própria companhia, a Susie Cooper China Ldt., fundada em
1950.
Desenhou vários serviços com o interior colorido de modo a realçar a
brancura da pasta, como acontece com os múltiplos padrões aplicados no
formato Quail. Abaixo reproduzido está o padrão Whispering
Grass, desenhado em 1954.
Mais tarde, em 1958, no serviço de café Balck Fruit, utiliza
também a estampagem de desenho linear a negro sobre fundo branco, na
decoração exterior das peças.
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Susie Cooper - peças do formato Quail com o padrão Whispering
Grass, 1954. eBay |
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Susie Cooper - peças do formato Quail com o padrão Whispering
Grass,
1954. eBay |
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Susie Cooper - serviço de café Black Fruit, 1958. Design Council Slide Collection VADS |
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Susie Cooper - chávenas de café Black Fruit, 1958. eBay |
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Marca de fábrica - Susie Cooper China Ldt. eBay |
De entre os designers escandinavos, talvez a sueca
Marianne
Westman (n.1928), seja o melhor exemplo no desenvolvimento de
padrões em que o desenho a linha a negro se sobrepõe a manchas coloridas
sobre fundo branco.
Westman trabalhou para a
Rörstrand
entre 1950 e 1971, aí produzindo alguns dos clássicos do design sueco
do século XX, como as linhas
Picknick,
Mon
Amie,
Pomona e
Elisabeth.
A linha
Picknick, lançada em 1956, é demonstrativa de como a
autora utiliza o quotidiano como referente, servindo-se do que a rodeava
como base de trabalho, atitude característica da produção moderna
escandinava.
Regra geral, Marianne Westman não utiliza elementos abstractos, usa
antes uma figuração estilizada, de uma simplicidade quase infantil. O
desenho eficiente e graficamente apelativo, fez desta linha um dos
maiores sucessos comerciais da Rörstrand, actualmente recuperado em
várias
reedições.
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Marianne Westman - peças da linha Picknick, Rörstrand, 1956. |
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Marianne Westman - tábua da linha Picknick, Rörstrand, 1956. eBay |
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Marca da linha Picknick, Rörstrand, 1956. eBay |
CMP* Agradece a indispensável colaboração do autor do blogue
Memórias e Arquivos da Fábrica de
Loiça de Sacavém, bem como de todos os coleccionadores e
investigadores, que com informações e imagens das suas colecções,
contribuíram para a identificação da autoria das peças aqui publicadas.