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domingo, 10 de março de 2013

Barco da série "Arte Nova" - Maria de Lourdes Castro - Fábrica de Loiça de Sacavém

Publicamos hoje uma das peças de maior envergadura, desenhadas por Maria de Lourdes Castro (n.1934) para a série Arte Nova, da Fábrica de Loiça de Sacavém.
Esta peça decorativa, em forma de taça oblonga de grande escala, com 50 cm de comprimento por 43 cm de altura, materializa modelarmente a abordagem escultórica introduzida pela ceramista na produção da F.L.S.
Desenvolvendo formas livres e orgânicas, evoca a configuração de um veleiro, cuja proa está claramente apontada (ver imagens abaixo), no entanto, os seus contornos são abstractizantes e dinâmicos, em especial o elemento vertical, representado a vela. 
Este elemento nasce de uma torção helicoidal, elevando-se de forma dramática em relação ao corpo da peça. Resultado apenas possível, com o auxílio de um modelador detentor de grande perícia técnica, provavelmente o escultor José da Silva Pedro (1907-1981) que, como anteriormente havíamos referido, trabalhou com Maria de Lourdes Castro, no desenvolvimento da maior parte das peças da série Arte Nova.
Segundo informações fornecidas por Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém, na tabela de preços de Maio de 1960, a peça, designada Barco, surge com a referência A-54, ao preço de 270$00. Acrescentando ainda que, uma anotação manuscrita lhe atribui o peso de 2.500 gramas. A mesma fonte refere também que, na tabela de Maio de 1979, já surge com a referência 9426, sob a designação Barco (A-54), com o preço de 580$00.

Outras peças da mesma série:
Varinas da série "Arte Nova" - Maria de Lourdes Castro - Fábrica de Loiça de Sacavém
Desenhos da série "Arte Nova" - Maria de Lourdes Castro - Fábrica de Loiça de Sacavém
Jarro da série "Arte Nova"- Maria de Lourdes Castro - Fábrica de Loiça de Sacavém
Pratos e Castiçal - Maria de Lourdes Castro - Fábrica de Loiça de Sacavém
Prato, garrafa e copos da série "Arte Nova" - Maria de Lourdes Castro - Fábrica de Loiça de Sacavém



Maria de Lourdes Castro/FLS - Barco A-54, c.1959. © CMP



Maria de Lourdes Castro/FLS - Barco A-54, c.1959. © CMP



Maria de Lourdes Castro/FLS - Barco A-54, c.1959. © CMP



Maria de Lourdes Castro/FLS - Barco A-54, c.1959. © CMP



Maria de Lourdes Castro/FLS - Barco A-54, c.1959. © CMP



Maria de Lourdes Castro/FLS - Barco A-54, c.1959. © CMP


Maria de Lourdes Castro/FLS - Barco A-54, detalhe. © CMP


O Barco A-54 pode ser considerado arquetípico do trabalho desenvolvido por Maria de Lourdes Castro, entre 1955 e 1959, na F.L.S., condensando toda a liberdade expressiva por ela imposta à produção de louça artística da fábrica. 
A expressividade das matérias, a modelação robusta mas fluída das formas, o uso de esmaltes densos em acabamentos informais, onde os vidros, escorrendo e interagindo entre si, revelam texturas, brilhos e cromatismos surpreendentes, marcam uma produção plena de liberdade orgânica, onde a emoção e a intuição se sobrepõem à razão.
Suplantando as condicionantes da produção em série, este conjunto de peças representa um momento raro na história da cerâmica industrial em Portugal, em que uma grande unidade fabril fomenta a elaboração criativa, tirando partido do experimentalismo, em proveito da melhoria da qualidade plástica da sua produção e simultaneamente garante, a uma produção de notórios contornos autorais, uma qualidade técnica só possível em contexto industrial.



Maria de Lourdes Castro/FLS - Barco A-54, detalhe. © CMP



Maria de Lourdes Castro/FLS - Barco A-54, detalhe. © CMP



Maria de Lourdes Castro/FLS - Barco A-54, detalhe. © CMP


Maria de Lourdes Castro/FLS - Barco A-54, detalhe. © CMP


Maria de Lourdes Castro/FLS - Barco A-54, detalhe. © CMP


Embora a peça date de um período anterior à viagem da ceramista para Itália, em 1960, ela reflecte, como aliás toda a série Arte Nova, fortes influências italianas. 
Neste caso, em especial das manufacturas da região de Turim, as mais corajosas e arrojadas no desenvolvimento de formas excêntricas, de contornos anti-racionalistas, totalmente contrários à optimização da produção em série. É quase milagroso que tais peças, cujas formas materializam uma absurda fragilidade, tenham chegado intactas aos dias de hoje.



Folha de modelos da série Arte Nova. © CDMJA-MCS © MAFLS


A folha de modelos da série Arte Nova, aqui reproduzida, faz parte do acervo do Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso do Museu de Cerâmica de Sacavém, publicada por MAFLS.




Maria de Lourdes Castro/FLS - Barco A-54, tardoz. © CMP


A generalidade das peças desta série, aparecem marcadas a pincel com a sigla "FLS", ou "Sacavém", ou sem marca e apenas com a referência do modelo incisa, como acontece neste caso.
Sendo objecto de menor tiragem, ao contrário da louça utilitária e decorativa da produção corrente, a série Arte Nova raramente está marcada com o típico carimbo de fábrica.


Maria de Lourdes Castro/FLS - Barco A-54, marca. © CMP





quinta-feira, 26 de abril de 2012

Varinas da série "Arte Nova" - Maria de Lourdes Castro - Fábrica de Loiça de Sacavém

Os temas folclóricos e regionais foram explorados abundantemente nas artes decorativas, durante a vigência do Estado Novo em Portugal, sendo parte essencial da construção da identidade nacional através de imagens muitas vezes estereotipadas e de apreensão fácil.
Vários artistas das sucessivas gerações do modernismo abordaram o tema de forma mais ou menos moderna, consoante as situações e exigências do contexto: exposições internacionais, cartazes e folhetos turísticos, delegações do SNI (Secretariado Nacional de Informação), etc.
Na produção cerâmica do pós Guerra, as figuras folclóricas começam a ser tratadas de modo menos ilustrativo,  revelando uma maior plasticidade das formas e sobretudo uma notória fuga ao carácter descritivo da imagem.
As figuras de varinas que Maria de Lourdes Castro (n.1934) concebeu para a série Arte Nova da Fábrica de Loiça de Sacavém, são um bom exemplo desta abordagem. 
A Figura de Varina A-18 e a Figura de Peixeira (Nazarena) A-27, com cerca de 20 cm de altura, contêm uma expressividade dada pelo tratamento das formas e aplicação das cores e um dinamismo expresso pelo gesto e pelo esvoaçar das vestes. Qualidades estas que acabam por demonstrar maior competência na modelação, provavelmente executada pelo escultor José Pedro (1907-1981), do que propriamente no desenho.


Maria de Lourdes Castro/FLS - Figura de Varina A-18 e Figura de Peixeira (Nazarena) A-27. © JMPF

Na tabela de preços de 1960, cedida pelo Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso do Museu de Cerâmica de Sacavém, estas figuras aparecem com o preço de 100$00, como pode ver-se abaixo. 
Destas páginas constam ainda os preços de um conjunto de peças já aqui referenciadas:

A-9 Galheteiro galinha
A-10 Floreiro patinho
A-11 Cinzeiro patinho
A-13 Prato cinzeiro
A-21 Jarro nº4
A-22 Tijela
A-23 Jarra nº2
A-24 Azevinho grande
A-26 Azevinho pequeno


Tabela de preços de 1960, Fábrica de Loiça de Sacavém. © CDMJA-MCS


A pose mais tradicional da Figura de Peixeira (Nazarena) A-27, segurando a canastra com uma das mãos e um grande peixe com a outra, garante a elegância do porte, remetendo a dinâmica para o movimento da saia e o esvoaçar do cachené. É de salientar o jogo de linhas curvas sobre a cintura, dado pelo entrelaçar do braço com o peixe.


Maria de Lourdes Castro/FLS - Figura de Peixeira (Nazarena) A-27. © JMPF



Maria de Lourdes Castro/FLS - Figura de Peixeira (Nazarena) A-27. © JMPF



Maria de Lourdes Castro/FLS - Figura de Peixeira (Nazarena) A-27. © JMPF



Maria de Lourdes Castro/FLS - Figura de Peixeira (Nazarena) A-27, marca de fábrica. © JMPF


Esta peça está representada na folha de modelos da série Arte Nova, abaixo reproduzida, cedida pelo CDMJA-MCS.
Desta folha constam também o Tigelão A-25, a Folha de Eucalipto A-29 (cujo preço se pode ver na tabela acima reproduzida) e o Copo A-35, já anteriormente aqui publicado.


Folha de modelos da série Arte Nova. © CDMJA-MCS

A Figura de Varina A-18, quebra a pose clássica para dar lugar a um dinamismo dramático. 
O braço no ar, o lenço e avental que esvoaçam, conferem-lhe uma dimensão cinematográfica, como uma personagem captada no desenrolar de uma acção. 
Figuras de vulto perfeito, mudando a cada diferente ângulo de visão, estas varinas são também objectos de grande fragilidade. 
Os membros superiores afastados do corpo e os tecidos esvoaçantes quebram facilmente, sendo difícil na actualidade encontrar peças intactas.


Maria de Lourdes Castro/FLS - Figura de Varina A-18. © JMPF


Maria de Lourdes Castro/FLS - Figura de Varina A-18. © JMPF

No caso desta figura, a marca não aparece pintada na base mas sim gravada à mão, apenas A-18.


Maria de Lourdes Castro/FLS - Figura de Varina A-18, marca de fábrica. © JMPF


CMP* agradece a colaboração de José Manuel Pinheiro de Figueiredo, não só pela cedência de imagens de peças da sua colecção, mas também pelo trabalho adjacente de pesquisa que está na origem desta publicação.
Agradece ainda a colaboração do Museu de Cerâmica de Sacavém, pelos esclarecimentos prestados e pela cedência de imagens do seu centro de documentação.



segunda-feira, 26 de março de 2012

Desenhos da série "Arte Nova" - Maria de Lourdes Castro - Fábrica de Loiça de Sacavém

Com o objectivo de complementar publicações anteriores e tornar visíveis mais alguns elementos e informações sobre a série Arte Nova da Fábrica de Loiça de Sacavém, publicamos a reprodução digitalizada de duas folhas de modelos referentes a esta série, pertencentes ao Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso do Museu de Cerâmica de Sacavém.
Na folha de modelos abaixo reproduzida, com a referência nº1563 do CDMJA-MCS, intitulada " Peças decorativas modelo Arte-Nova", podemos ver os seguintes modelos:

A-5 Cinzeiro sempre em pé
A-6 Caixa para cigarros
A-7 Frasco decorativo
A-8 Caixa para pó de arroz
A-9 Galheteiro galinha
A-10 Floreiro patinho
A-11 Cinzeiro patinho
A-13 Prato cinzeiro

 Folha de modelos da série Arte Nova. © CDMJA-MCS


Maria de Lourdes Castro/FLS - Cinzeiro sempre em pé A-5. © CDMJA-MCS Foto publicada no catálogo Maria de Lourdes Castro: Uma Exposição Biográfica, edição do Museu Nacional do Azulejo, 2005.

O Cinzeiro sempre em pé A-5, já aqui anteriormente publicado, aparece referido no catálogo Maria de Lourdes Castro: Uma Exposição Biográfica, edição do Museu Nacional do Azulejo, 2005, com a seguinte legenda: 
"Pequena taça, 1958-1959 
Faiança moldada e pintada, cozida a 1080º
6 x 13 x 11 cm
Assinada FLS/M.L.C., pintado a preto na base e não datada.
Executado na Fábrica de Louça de Sacavém
Colecção da autora"


Maria de Lourdes Castro/FLS - Frasco decorativo A-7, na foto acompanhado do copo A-35. © CDMJA-MCS © CMP

O Frasco decorativo A-7, aqui publicado, aparece acompanhado dos copos modelo A-35, sobre uma bandeja ou prato de grandes dimensões. Todos elementos apresentam decorações geométricas, sem marca de fábrica, e fazem parte do acervo do MCS.
Estas peças encontram-se em exibição na mostra A Geometria das Cores, que apresenta uma selecção de peças e desenhos de inspiração geométrica, produzidos sobretudo entre as décadas de 30 e 60.
A exposição, destinada a celebrar o 11º aniversário do Museu, estará patente até ao final de Março de 2012.

De outra folha de modelos, pertencente ao CDMJA-MCS, constam as seguintes peças:

A-21 Jarra nº4
A-22 Tijela
A-23 Jarra nº2
A-24 Azevinho grande
A-26 Azevinho pequeno


Folha de modelos da série Arte Nova. © CDMJA-MCS


Maria de Lourdes Castro/FLS - Jarra nº4 A-21. © CDMJA-MCS © HPS

A Jarra nº4 A-21, aqui publicada, embora apareça na folha com a designação "Jarra", pela sua forma e funcionalidade aproxima-se mais de um jarro ou gomil, contentor de líquidos.




Maria de Lourdes Castro/FLS - Jarra nº2 A-23. © CDMJA-MCS © MAFLS
A Jarra nº2 A-23, foi publicada pelo blogue Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém, bem como a folha de modelos que a inclui e outras peças e desenhos da série Arte Nova. A decoração deste exemplar é da autoria do pintor Nuno Lopes (1920-1974).



CMP* agradece ao Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso do Museu de Cerâmica de Sacavém a cedência de imagens dos seus arquivos bem como todas as informações prestadas, sem as quais seria impossível esta publicação. 
Agradece ainda ao autor do blogue Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém a cedência de imagens e informações, desejando que este profícuo intercâmbio se mantenha e fortaleça.