Apesar de pouco conhecido, o trabalho de Maria Luísa Fragoso (1907-1985), enquanto ceramista e directora do ECA - Estúdio de Cerâmica de Arte, ocupa um lugar importante na divulgação e ensino da cerâmica moderna em Portugal.
M.L. Fragoso iniciou-se na pintura pela mão do pintor naturalista António Saúde (1875-1958), abandonando esta disciplina em 1940, para se dedicar exclusivamente à cerâmica.
M.L. Fragoso iniciou-se na pintura pela mão do pintor naturalista António Saúde (1875-1958), abandonando esta disciplina em 1940, para se dedicar exclusivamente à cerâmica.
Foi ainda discípula e esposa de João Fragoso (1913-2000), fundador do Estúdio-Escola de Cerâmica, em Lisboa. Sem o acompanhar no fascínio pela abstracção, linguagem abraçada pelo escultor a partir de 1954, Maria Luísa mantém-se fiel às temáticas do figurado popular português, contaminadas por alguma modernidade formal, vinda sobretudo da escola italiana de Faenza.
Entre 1944 e 1945, cursa Cultura Hispânica, na Universidade de Santander, licenciando-se em História da Arte, na Universidade de Santiago de Compostela, como bolseira do Instituto de Investigação Científica de Madrid, Espanha.
Participa na Exposição Nacional de Cerâmica, em 1952, sendo-lhe atribuído pelo SNI (Secretariado Nacional de Informação), o Prémio Manuel da Costa Brioso.
Entre 1944 e 1945, cursa Cultura Hispânica, na Universidade de Santander, licenciando-se em História da Arte, na Universidade de Santiago de Compostela, como bolseira do Instituto de Investigação Científica de Madrid, Espanha.
Participa na Exposição Nacional de Cerâmica, em 1952, sendo-lhe atribuído pelo SNI (Secretariado Nacional de Informação), o Prémio Manuel da Costa Brioso.
Maria Luísa Fragoso na E.C.A., revista Lusíada, Volume II, nº6, Dezembro de 1954. Matriznet |
Em
1954, o Estúdio-Escola de Cerâmica realiza a sua segunda exposição, na
Casa Quintão, loja de mobiliário e decoração na Rua Ivens, em Lisboa,
onde M.L. Fragoso mostra 26 peças.
Ainda nesse ano, é galardoada com a
Medalha de Ouro da Exposição Internacional de Cannes, vendo o seu
trabalho reconhecido internacionalmente, ao mesmo nível dos ceramistas
sediados no sul de França, responsáveis pela modernização da cerâmica de
autor mediterrânica (por exemplo, Roger Capron, ganha, no mesmo ano, a Medalha de Ouro da X Triennale de Milan, e a Medalha de Prata em Cannes, no ano seguinte).
O trabalho da ceramista demonstra uma enorme evolução, durante a segunda metade da década de 50, tanto na modelação como no cromatismo.
A modelação torna-se mais escultórica e eficaz, explorando superfícies irregulares trabalhadas com esmaltes brilhantes e baços, de cores profundas e sólidas, no entanto, a expressão mantém-se de cariz popular, explorando temas correspondentes ao gosto dominante, de que são exemplo as Meninas abaixo reproduzidas.
Maria Luísa Fragoso / E.C.A. - Menina, peça modelada em barro vermelho, sem data. © CMP |
Maria Luísa Fragoso / E.C.A. - Menina, peça modelada em barro vermelho, sem data. © CMP |
Maria Luísa Fragoso / E.C.A. - Menina, peça modelada em barro vermelho, sem data. © CMP |
Maria Luísa Fragoso / E.C.A. - Placa decorativa, peça modelada em barro vermelho, sem data. © CMP |
Maria Luísa Fragoso / E.C.A. - Placa decorativa, assinatura. © CMP |
M.L. Fragoso foi Bolseira de Cerâmica, da Fundação Calouste Gulbenkian, em Itália, França e Espanha, em 1961, experiência que se reflecte no seu trabalho de forma bastante visível.
A primeira metade da década de 60, consolida-se numa maturidade estilística e técnica, sem precedentes na década anterior, da qual são exemplos os vasos abaixo reproduzidos.
Maria Luísa Fragoso - Vaso, peça modelada em barro vermelho, 1965. © CMP |
Maria Luísa Fragoso - Vaso, peça modelada em barro vermelho, 1965. © CMP |
Maria Luísa Fragoso - Vaso, peça modelada em barro vermelho, 1969. © CMP |
Podemos encontrar, na obra da ceramista, indícios da convivência com a obra cerâmica de Hein Semke (1899-1995), artista alemão, radicado em Portugal no início da década de 30.
Participantes regulares das exposições organizadas pelo SNI, é natural que os dois ceramistas se tenham cruzado e convivido.
Semke, com formação em escultura na Academia de Belas Artes de Hamburgo, dedica-se mais profusamente à cerâmica, após a promulgação da lei para a protecção dos artistas nacionais, em 1941, que o afasta das encomendas oficiais, logo após ter integrado as equipas responsáveis pela elaboração da Exposição do Mundo Português, em 1940.
Ao ver-se privado das encomendas de estado, fundamentais à sobrevivência dos artistas no contexto da época, Semke abraça a cerâmica como solução comercial, melhor correspondente às solicitações decorativas das habitações da burguesia em crescimento, acabando por desempenhar um papel renovador, da maior relevância para a cerâmica moderna portuguesa.
Na taça, abaixo reproduzida, é notória a influência de Semke, no traçado das figuras das varinas, o que também acontece na modelação de algumas representações da Paixão de Cristo (ver imagens abaixo), ainda que a linguagem de M.L. Fragoso não possua a força expressiva e o desempenho técnico do escultor, acabando sempre por recair num registo suave, de uma certa ingenuidade mais próxima do figurado popular.
Maria Luísa Fragoso - Taça, peça modelada em barro vermelho, sem data. © CMP |
Maria Luísa Fragoso / E.C.A. - Calvário, peça modelada em barro vermelho, sem data. © CMP |
Maria Luísa Fragoso / E.C.A. - Calvário, detalhe. © CMP |
Maria Luísa Fragoso - Anunciação, peça modelada em barro vermelho, sem data. © CMP |
Maria Luísa Fragoso - Anunciação, detalhe. © CMP |
Todas as peças pertencem às colecções do Museu da Cerâmica, nas Caldas da Rainha, sendo as imagens aqui publicadas provenientes da exposição temporária Maria Luísa Fragoso nas Colecções do Museu da Cerâmica.