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31.1.15

o.O


Uma das decorrências mais maravilhosas de escrever um blogue é o facto de não se ser levado demasiado a sério. Talvez nenhuma outra plataforma de escrita ofereça tanto esta vantagem (sim, é uma vantagem) aos utilizadores quanto o blogue.

Ser-se levado demasiado a sério pode, por um lado, ser castrador para quem escreve e, por outro, ser enganador para quem lê. Quem escreve não pode ter preocupações sobre a forma como o que escreveu será interpretado, porque, de outro modo, haveria de ficar de tal forma petrificado pelo receio da má interpretação que acabaria por nada escrever. Já quem lê, não pode concluir que há apenas uma forma de interpretar o que foi escrito, ou melhor, poder até pode, mas não deve, porque incorrerá no equívoco de achar que sabe, quando na verdade não pode, de todo, saber.

© [m.m.b.]

15.2.13

política, semântica, amor.

«O que surpreende na frase de Francisco José Viegas (FJV) não é, pois, a má-educação (de resto, assumida pelo próprio como "evidente"), mas a falta de decoro. É que por muito que possamos ser solidários com a posição defendida, ninguém deixará de notar que, do ponto de vista político, e fazendo a comparação (porque tudo isto vem à tona — coincidência ou não — no Dia de S. Valentim), FJV se mostra um ex- namorado um tanto ressabiado, daqueles que depressa "parte para outr@", sem fazer o luto da praxe à anterior relação, ao que se sabe, bastante amorosa.»

Um excerto de «Francisco José Viegas, serão mágoas de amor?», a minha crónica de estreia, ontem, no «P3».

© [m.m. botelho]

25.12.12

a arejar

Agora, neste exacto momento em que a mágica noite do dia de Natal está prestes a terminar e eu vim espreitar o e-mail, o Reader, o FB, o Blip, o Goodreads "and soyon and soyon", pareceu-me apropriado reabrir as janelas deste meu diário de recordações em «código Marta». Esta noite ficará a arejar. Depois, logo se vê.

© [m.m. botelho]

17.1.12

«algo desajustados e patéticos como se usassem roupa demasiado pequena para o seu tamanho»

«Quando comecei a sair à noite, há anos, havia sempre uns tipos mais velhos que iam ficando esquecidos, geração a geração, e iam adoptando as gerações cada vez mais novas por companhia. A dada altura, (acontecia com 2 ou 3 personagens) mesmo os solteirões da geração deles já tinham mudado de vida e deixado as saídas diárias, a geração seguinte à deles já estava a casar e ter filhos, e esses tipos já não eram os mais velhos do grupo de pessoas com quem saiam à noite, eram apenas tipos de 30 anos no meio de miúdos de 14, algo desajustados e patéticos como se usassem roupa demasiado pequena para o seu tamanho. Tentavam adaptar-se aos novos códigos e tribos, mas, depois do entusiasmo da recepção inicial, eram tratados, pelos mais novos, com algum desconforto, como se trata um tio gágá que insiste em fazer graçolas inconvenientes às nossas amigas. E lá iam, insistindo no ridículo da nova vaga de amigos com os quais, à semelhança dos anteriores, se incompatibilizariam, porque a idade mental é mais sincera e cruel do que a física e até na primeira se deixavam ficar confrangedoramente para trás. Há disto em todo o lado
Laura Abreu Cravo,
no post «Os que ficam», do blogue «A alma conservadora
».

[Está tão bem escrito que não é preciso retirar ou acrescentar seja o que for. O mais curioso é que, consoante os grupelhos, o inverso às vezes também se verifica.]

© [m.m. botelho]

16.12.11

«esta história não é tua»

Hesitei muito entre contar ou não aqui a história que me levou a escrever os posts «amargo de boca» e «instantâneos [42]», mas optei por fazê-lo, agora que tudo chegou ao fim e que me resigno com o lamentável desfecho que isto teve. Cá vai ela.

No início de Novembro, celebrei com a TMN um contrato que me permitia adquirir um iPhone a um preço reduzido, desde que subscrevesse um determinado tarifário e me vinculasse a ele durante o período de 24 meses. Na loja informaram-me que, caso repensasse a situação e quisesse voltar atrás na decisão, bastaria devolver o equipamento na caixa original e com os acessórios originais, tudo em excelente estado de conservação, no prazo de 30 dias e que o montante que eu tinha pago me seria devolvido e o contrato resolvido.

Passados sete dias, quis resolver o contrato com a TMN. Dirigi-me à loja e, junto do mesmo funcionário, apresentei o iPhone tal como me tinha sido dito uma semana antes e disse que queria resolver o contrato. O funcionário verificou o equipamento, pegou nas cópias dos contratos e dirigiu-se ao interior da loja. Passados 40 minutos, regressou e informou-me de que eu não poderia devolver o equipamento à TMN, mas teria de o fazer junto da Apple, pois a TMN só poderia aceitar a devolução caso a Apple a aceitasse previamente.

Fiquei muito espantada e disse-lhe que isso era ridículo, visto que a Apple era um terceiro alheio ao meu contrato com a TMN. Se eu tinha celebrado o contrato com a TMN, era com a TMN que tinha de o resolver e não com a Apple. Perante a recusa do funcionário, apresentei uma reclamação por escrito.

Passados 2 dias, fui informada telefonicamente de que deveria contactar a Apple, ou seja, repetiram a informação dada pelo funcionário na loja. Então, eu escrevi um e-mail ao "Apoio a Clientes Comerciais da PT" (que é o que eu sou), expondo toda a situação e pedindo uma resposta por escrito. Como resposta, recebi um daqueles e-mails automáticos que dizem que o e-mail foi recebido e a situação será analisada e respondida no prazo de 10 dias.

Passados 10 dias, nenhuma informação me havia sido dada. Voltei à loja para devolver o equipamento, mas uma vez mais a TMN "empurrou" o assunto para a Apple. Insisti via e-mail e a resposta lá veio: teria de contactar a Apple. A contragosto, contactei a Apple e eis que a Apple me informa, via e-mail, de que a informação prestada pela TMN é falsa e de que a Apple é absolutamente alheia aos contratos celebrados entre as operadoras e os seus clientes e que as normas desses contratos são estabelecidas exclusivamente pelas operadoras, ou seja, a Apple veio dizer aquilo que eu já havia antecipado logo no primeiro dia em que a TMN tentou "empurrar" a resolução da questão para a Apple.

Então, eu enviei por e-mail à TMN o e-mail da Apple e pedi que se pronunciassem agora, perante este novo facto, sobre como pretendiam resolver a situação. E regressei à loja onde, pela terceira vez e sempre junto do mesmo funcionário, tentei resolver o contrato e devolver o iPhone. Uma vez mais, da parte do "Apoio a Clientes Comerciais da PT" obtive silêncio e da parte do funcionário da loja obtive espanto, que eram as informações que lhe tinham dado, que não sabia que a Apple não tinha intervenção no processo de resolução dos contratos, que sempre pensou que os equipamentos tinham de ser devolvidos à Apple, que ia enviar o e-mail da Apple para um departamento da TMN que me daria uma resposta definitiva em 48 horas.

E eu, pela terceira vez, farta de ser enganada, pedi ao funcionário que chamasse o gerente de loja e, então, chamei "mentirosa" e "falsária" à TMN, disse-lhes que a TMN tinha inventado aquela patranha da necessidade da autorização prévia da Apple apenas para me enganar, para prolongar o procedimento de resolução do contrato, para me impedir de exercer o meu direito que o próprio funcionário da loja me havia dito que eu podia exercer durante 30 dias.

E eis que ele, o funcionário, que até ali sempre havia fingido ser um totó que se limitava a cumprir ordens superiores, se volta para mim e diz que o prazo para troca e devolução dos equipamentos só existe nas vendas online e não nas vendas presenciais e que, como eu tinha adquirido o equipamento na loja, não tinha direito a qualquer resolução do contrato a não ser no dia em que o celebrei.

Ele, que me tinha dito que eu tinha o prazo de 30 dias para devolver o equipamento e resolver o contrato, estava agora a dizer-me que não, que eu não tinha direito a qualquer prazo para o fazer! Isto é: a dar o dito por não dito, a mentir, a falsear, a "fugir com o rabo à seringa", a dizer que não disse o que disse!

Fiquei transtornada, como é óbvio. Cheguei a casa, procurei todos os talões e condições gerais. Em nenhum consta expressamente que posso devolver o equipamento ou resolver o contrato. De acordo com a legislação vigente, isso fica ao critério de cada loja, logo, a TMN, depois de ter tentado "empurrar" a culpa da impossibilidade de resolução para a Apple sem sucesso (apenas para branquear a sua imagem, claro, ainda que isso "queime" a imagem da Apple), admite, só porque é obrigada, que afinal não resolve o contrato e não aceita o equipamento porque essa é a sua política de vendas, ao contrário daquilo que diz aos clientes, mas apenas verbalmente.

Em suma, os funcionários das lojas TMN dão informações falsas aos clientes no que respeita ao processo de trocas e/ou resoluções dos contratos e ficam impunes por isso, porque a grande questão que se coloca aqui é a da prova: como tudo se passou verbalmente e, ainda por cima, eu não tinha testemunhas na altura da compra, não tenho como provar que o funcionário da TMN me disse expressamente que eu poderia resolver o contrato no prazo de 30 dias, visto que ele mesmo nega tê-lo dito. Não tendo como fazer a prova, nada mais me resta senão resignar-me.

É por isso que toda esta situação que veio a lume no dia 8 de Dezembro poderia estar resolvida três semanas antes se a TMN tivesse admitido logo que não resolveria o contrato comigo porque não resolve contratos feitos presencialmente e não tivesse andado a inventar patranhas para me "enrolar". Talvez nesse caso eu tivesse compreendido e não me tivesse sentido enganada. E talvez assim a TMN tivesse conseguido salvar uma relação com uma cliente, o que não conseguiu, porque findo o período de vinculação, a operadora em causa não verá nem mais um cêntimo da minha parte [percebe-se melhor agora o post «amargo de boca»?].

De igual modo, também não vou esquecer que o funcionário da loja, que terá a minha idade ou muito perto disso, negou nos meus olhos o que me tinha dito um mês antes com a voz a tremer, o rosto vermelho como um pimento, os olhos raiados como os de um puto que quase vai chorar enquanto o lábio inferior lhe tremia. É dos espectáculos mais deprimentes a que podemos assistir: ver alguém já crescidinho (com mais de 10 anos, vá) mentir [percebe-se melhor agora o post «instantâneos [42]»?]

E pronto. Pode ser que agora, que está contada a história, se leiam os referidos posts com os olhos com que têm de ser lidos e sem deturpações. Afinal, não passam de posts sobre a minha triste aventura com a TMN e nada mais.

É como canta o Jorge Palma: «Deixa-me rir, esta história não é tua». Se calhar, até podia ser, mas não é. É minha e da TMN, só isso. Valha-me a santinha dos iPhones.

© [m.m. botelho]

13.12.11

as palavras dos outros

Uma das melhores "etiquetas" que este blogue tem é "citações". Diz imenso sobre mim e sobre o que penso com as palavras dos outros e (sem qualquer pedido de perdão pela imodéstia que é inteiramente assumida) isso é um inegável sinal de inteligência: usar as palavras dos outros para dizer o que queremos dizer tem muitas vezes muito mais impacto do que usar as nossas.

[Todavia, isto é muito diferente do ser mero "macaquinho de repetição" do que os outros dizem. Há pessoas que, às vezes, abrem a boca para falar ou os blogues para escrever e tudo o que lhes sai é um chorrilho de frases idênticas às que já ouvimos a outra pessoa (regra geral, a uma pessoa que lhes é próxima). É patético que o façam com qualquer pessoa, mas torna-se ainda mais patético que o façam perante pessoas como eu, que têm memória de elefante e imediatamente vão identificar "a fonte". E quando se acabarem as frases feitas, o que farão? Eu cá tenho uma ideia, que já vi fazer a outros: pegarão no telemóvel, farão uma chamada e dirão: «Já disse tudo o que me disseste, mas não resultou. E agora, o que é que eu faço?». É só uma ideia, nem sequer seria novidade.]

Mas adiante, que eu não quero dispersar-me do objectivo do meu texto que era, uma vez mais, recorrer às palavras alheias para expressar o que sinto neste momento, palavras alheias essas que o farão muito melhor do que as minhas. Com efeito, há um ditado galego que diz assim: «río abaixo vai un tonto, deixar ir que a súa intención leva». Eu sou o tonto, como é óbvio. Deixai-me ir, portanto, que a minha intenção levo, ainda que, aqui e ali, possa parecer que não. Eu sei que vou chegar a algum lado e isso é tudo o que importa e não, não tenho de andar para aí a gritar aos quatro ventos qual é a minha meta. «Live and let live», como dizem os britânicos. Olha, mais um ditado (e o título de uma canção do Cole Porter). Eu bem digo que isto está tudo inventado desde a Babilónia Antiga.

© [m.m. botelho]

19.11.11

o que para uns é evidente, para outros é insondável

«S
ó não perde amigos
quem não se interessa pelas amizades».
Escrito pelo perspicaz Eremita no «Ouriquense».

Uma questão de sensibilidade. E de bom-senso, claro.

© [m.m. botelho]

7.9.11

my body is not a cage

Ao ler isto que a Ana escreveu, não consegui deixar de ter presente que, para mim, tudo o que não seja indiferença tem uma conotação positiva ou negativa. Por isso, em situações como a descrita no post da Ana, opto por trabalhar interiormente o que sinto, até atingir o estado de indiferença (como se nunca houvesse conhecido a pessoa, como se nada soubesse sobre aquela pessoa).

Para atingir este estado, ajuda-me muito focar-me em mim e só em mim sempre que me dou conta de que estou a despender energias desnecessárias com quem não devo. Se isso acontecer, nada como tomar consciência do facto, recentrar-me em mim e lembrar-me de que tudo tem um retorno e que, portanto, produzir (ainda que apenas com o pensamento) energias negativas ou que me desgastem, tem um preço que serei eu mesma a pagar, para além de ser uma inutilidade de todo o tamanho.

Não permito que as pessoas se transformem em fantasmas ou espectros, muito menos as guardo em gavetas. Se não as quero ao pé de mim, envio-as e às suas energias de volta para o Universo. Só quero junto a mim o que for meu, o que não for, que retorne para onde veio.

Os esqueletos no armário atrapalham. Mais tarde ou mais cedo, atrapalham, porque há um dia em que, graças ao hábito, vamos abrir novamente o armário para guardar lá outro esqueleto e o armário rebenta pelas costuras, lançando sobre nós os esqueletos armazenados ao longo do tempo todos de uma só vez.

Eu prefiro lidar com um assunto de cada vez, resolver as coisas o mais rápida e eficientemente possível enquanto têm uma dimensão que justifique que perca algum tempo em torno delas e depois limito-me a seguir com a minha vida em frente e a procurar o caminho para ser feliz, sem espectros, sem fantasmas a perseguir-me.

Agora, que a frase dos Arcade Fire («just because you've forgotten, that don't mean you're forgiven») é uma grande frase, lá disso não há dúvida, mas é uma frase de ligação, uma frase que prende, uma frase que reflecte a vontade de alimentar uma cadeia (ainda por cima, negativa), uma frase que mantém um canal (negativo), ainda que invisível, entre as duas pessoas.

Ao invés, em idênticas situações, prefiro usar uma frase muito mais simples: «o Universo equilibra». Sim, é verdade: o Universo, à sua maneira, com as suas voltas e reviravoltas, no seu tempo e no seu lugar, equilibra. Há quem lhe chame «Deus a escrever direito por linhas tortas». Chamemos-lhe o que quisermos, mas que acontece, acontece. Basta estar atento aos sinais, porque «o Universo equilibra» e novos e indubitavelmente melhores destinos surgem diante dos nossos olhos. Sem espectros a assombrar nada, só uma imensa luz e uma enorme tranquilidade a servirem-nos de guia.

© [m.m. botelho]

5.9.11

senso comum

1.Don't be seduced by popular culture. It prevents you from thinking for yourself.
1. Não te deixes seduzir pela cultura popular. Impede-te de pensar por ti mesmo.

2. Don't fall in love with money. It will make you greedy and shallow.
2. Não te apaixones pelo dinheiro. Tornar-te-á ganancioso e superficial.

3. Don't use destructive language. It hurts others as well as yourself.
3. Não uses linguagem destrutiva. Magoa os outros e magoa-te a ti mesmo.

4. Don't judge other people. It's better to work on your own faults.
4. Não julgues as outras pessoas. É melhor trabalhares para corrigir as tuas próprias falhas.

5. Don't let anger get out of control. It can break relationships and ruin lives.
5. Não deixes a raiva sair do controle. Pode pôr fim a relações e arruinar vidas.

6. Keep a positive outlook on life. It's the first step to joy.
6. Mantém uma visão positiva da vida. É o primeiro passo para a alegria.

7. Bring out the best in other people. It's better to build up than to tear down.
7. Faz com que se revele o melhor das outras pessoas. É melhor construir do que demolir.

8. Have impeccable integrity. It brings peace of mind and a reputation of honor.
8. Tem uma integridade impecável. Traz paz de espírito e uma reputação de honra.

9. Help those in need. It really is better to give than to receive.
9. Ajuda os necessitados. É, realmente, melhor dar do que receber.

10. Do everything in love. It is the only way to find true peace and fulfillment.
10. Faz tudo com amor. É a única maneira de encontrar a verdadeira paz e a satisfação plena.
Hal Urban. «The 10 Commandments of Common Sense:
Wisdom from the Scriptures for People of all Beliefs»
[2007]. [tradução minha]

Nota: Mais citações do género, mas de inspiração exclusivamente budista, para acompanhar e meditar aqui, em princípio, diariamente; senão, conforme o meu tempo e dedicação e a minha disponibilidade para publicar.

© [m.m. botelho]

3.9.11

"em que é que está a pensar?"

Acerca do post anterior, perguntaram-me em conversa em que é que eu estava a pensar, concretamente, quando o escrevi. Respondi que aquilo em que eu estava a pensar não interessa ao leitor, pois a este apenas interessa aquilo em que ele próprio pensar aquando da leitura.

Isto é o mesmo que dizer que este blogue é um repositório de reflexões minhas, que partem de mim e são para mim. Não escrevo a antecipar o que os que vão ler vão sentir, pensar ou achar sobre aquilo que eu escrevi. Escrevo para mim [já aqui o disse, mas repito]. Sendo assim, é óbvio que as coisas que aqui são ditas podem ter uma interpretação e um significado para mim e outros para o leitor. E isso, que importa?

Este blogue raramente é uma plataforma de diálogo, se é que alguma vez o foi, a não ser para pessoas a quem eu aviso previamente e, regra geral, para falar de experiências boas que passámos juntos. Este blogue não tem como propósito entabular conversações, enviar mensagens, dar conselhos, "cagar leis" sobre a vida e o mundo para ninguém, a não ser para mim mesma. Raramente escrevo sobre os outros, porque eu é que sou o meu mais interessante objecto de análise. Isto talvez se chame narcisismo, mas neste momento estou muito pouco interessada em classificações de escola e muito mais interessada noutros aspectos e noutros assuntos.

Aqui, escrevo sobre mim, sobre o que eu sinto, sobre o que eu penso, sobre o que eu faço, sobre o que eu desejo. Não vale a pena ler os meus textos como se fossem algo mais do que isto: não passam de solilóquios meus. Também já disse aqui que, na vida, sou uma mera aprendiz sem pretensões de chegar a mestre e isso mantém-se. Não tenho vocação para ensinar a ninguém coisa alguma, só tenho vocação para partilhar com os outros as conclusões a que eu vou chegando, as quais têm a importância que se lhes quiser dar.

O que interessa ter em mente quando se lê qualquer post deste blogue é a frase que está lá em baixo, da autoria do filósofo canadiano Marshall McLuhan (que, curiosamente, morreu no mesmo ano em que eu nasci) e que diz assim: «I don't necessarily agree with everything I say». Porque esta frase não está lá em baixo, permanentemente visível, por acaso: está lá porque reflecte a minha inteira noção de que a mudança pode ocorrer na minha vida, de que o que penso não é estático, de que sei que às vezes tenho de repetir muitas vezes a mesma ideia para acreditar um pouco mais nela, porque a vida em sociedade assim obriga. Até esta frase, portanto, pode ter muitas interpretações.

Voltando ao post anterior. Quem o ler haverá de pensar no que quiser, naquilo que lhe fizer ressonância. Pode pensar em acontecimentos como a guerra, o Holocausto, a morte da Mãe, a perda de um Filho, a traição de um marido, a cobardia de um colega de trabalho, um fracasso pessoal, no que quiser! Aquilo em que eu pensei quando o escrevi, repito, é o que menos importa. Porque aquilo em que eu pensei apenas a mim diz respeito, apenas à minha vida se aplica e não é propósito deste blogue que a minha vida sirva de espelho a ninguém para que nele se reveja ou nele espreite para me tentar encontrar. Não é pela leitura de um blogue que se conhece o seu autor ou, sequer, fica a saber-se como ele pensa ou age em determinadas circunstâncias.

Se se lerem os blogues com isto presente, não haverá a tentação de fazer perguntas como a que me foi feita, nem haverá a tentação de se achar que se compreende o que está escrito exactamente como foi escrito, pois o que é lido nunca é igual ao que é escrito e ter consciência disto é apenas sinal de inteligência.

Por isso é que, pela minha parte, leio os blogues que leio pelo prazer de ler o que está bem escrito, sem pretensões de desconstrução, de análise, de compreensão daquilo que o autor queria dizer, estava a viver ou a sentir. Não me interessa isso: interessa-me o que o autor me disse, o que as suas palavras despertaram em mim e como as posso aplicar a mim e à minha vida e nada mais.

Não sei se é assim que os blogues devem ser lidos, só sei que é assim que eu os leio. E cada um lê o que quer, como quer, onde quer. O que posso afirmar é que por aqui, só haverá "explicações" adicionais quando eu entender e se eu entender [porque, por exemplo, preciso de reflectir melhor sobre um determinado assunto]. Aqui não se encontram lições de vida porque aqui não há mestres, só há uma aprendiz. E, ainda por cima, só há uma aprendiz ávida de conhecimento, descoberta e aperfeiçoamento, o que lhe deixa muito pouco tempo escrever posts longos, como os que eu escrevo, a pensar nos outros ou para que os outros deles tirem qualquer vantagem. Se tirarem, óptimo para eles. Se não tirarem, é porque não tinham de ou não podiam tirar.

© [m.m. botelho]

3.6.11

toma «Centrum», pequena, toma «Centrum»!

Acho que se voltar a ler num blogue um apelo para ir votar no próximo Domingo, vomito. Eu até compreendo que nos blogues ditos "políticos" se façam esses apelos, se apresentem declarações de voto e se faça propaganda por um determinado partido. Já num blogue que não tenha essa característica vincada, que sentido faz estar ali a apregoar «vão votar», como se disso dependesse a própria sobrevivência? E qual é o interesse do leitor em saber que o Autor do blogue "X" (que é, por hipótese, de cariz literário, pessoal ou desportivo), vai votar neste ou naquele partido? Acaso saber o sentido de voto dos outros influencia o meu? Bem, o meu não influencia, mas se calhar até influencia o de uns quantos patetas que não sabem destrinçar a admiração que se tem por uma pessoa numa determinada área, do seguidismo que se pode ou não fazer das suas convicções políticas. Por exemplo, eu tenho o maior respeito e admiração intelectual e académica pelo Professor Doutor Gomes Canotilho, mas não partilho da sua ideologia política, logo, por muito que ele me dissesse «vou votar no partido "Y"», eu não votaria no partido "Y". Daqui se conclui que, se alguém votar no partido "Y" só porque "A" vota no partido "Y", fá-lo porque não passa de um grande nabo que não tem consciência de que o voto é um acto individual.

Assim sendo, só compreendo estas declarações de voto de gente que nem sequer está ligada à política como uma qualquer necessidade de afirmação de que se faz parte deste ou daquele grupo (os que votam "naquele" partido). E essa necessidade de afirmação vem de onde? Será da importância que dão a sentirem-se identificados com as figuras públicas que também votam nesses partidos? É uma hipótese, mas Freud que explique, que eu não tenho interesse ou conhecimentos para tanto e, em boa verdade, também não tenho tempo para me dedicar a analisar a vida dos outros, que a minha já me dá o que fazer.

O que acho tremendamente curioso é que as pessoas que muito apelam ao voto são precisamente aquelas que, provavelmente, já falharam o dever cívico noutros actos eleitorais. Fazem-me lembrar aqueles sujeitos que nunca tomaram vitaminas na vida e um dia vão ao médico, que lhes receita uma embalagem de «Centrum». É ouvi-los, a partir de então, a recomendar «Centrum» a toda a gente, como se não tomar «Centrum» fosse um pecado. Com o voto passa-se mais ou menos o mesmo. Um dia acordam e descobrem que faz todo o sentido ir votar, principalmente agora, neste momento, por causa da crise e tal e tal. Tal como um dia acordaram e perceberam que, como estavam em crise, tinham de poupar, mas só porque estavam em crise.

O português-médio é assim: nos momentos especialmente delicados vota; quando a crise aperta, tenta poupar (a maior parte nem consegue poupar porque não tem por onde), quando troveja, invoca Santa Bárbara. Mas só faz uma coisa quando sucede a outra, caso contrário, vive «pobrete, mas alegrete».

Às vezes questiono-me se aquela gente que vai para as televisões dizer que agora leva a refeição de casa para comer no trabalho só descobriu no século XXI a existência das marmitas e dos «Tupperwares», do mesmo modo que me interrogo se esta gente que agora apela ao voto em cada post que escreve só descobriu agora que existem actos eleitorais e que votar é um dever cívico.

Não há pachorra para esta gente. Se estivessem caladinhos faziam melhor figura. Assim só mostram que não passam de uns acomodados que só se levantam da cadeira para ir fazer alguma coisa quando a casa já está a arder. E uma pontinha de vergonha na cara, não? Oh, não, isso é só quando for absolutamente necessário. Até lá, deixa arder que o FMI é bombeiro e a abstenção é rainha. Não há pachorra.

[Nota: o título deste post é uma adaptação livre feita por mim de um conhecido verso de Álvaro de Campos.]

© [m.m. botelho]

4.4.11

«note to self»

Bem vistas as coisas, todos os posts deste blogue poderiam, como o post anterior, ser antecedidos pela expressão «note to self», porque todos eles são escritos por mim, sobre mim e para mim.

A maior parte dos blogues de cariz pessoal, como este, são compostos por exercícios de reflexão do próprio (outros há que têm outros propósitos, mas sobre isso não me pronuncio, até porque não devo). Porque é que é alguns de nós não o fazemos simplesmente para a gaveta e o fazemos num blogue? Não sei responder pelos outros, mas eu faço-o porque a sensação de enviar para o éter da internet algumas das minhas reflexões me ajuda no processo de libertação de algumas coisas que me "atormentam", como se escrever em vez de simplesmente pensar e escrever aqui e não num mero papel levasse as coisas para longe de mim, para fora do meu alcance, para uma dimensão virtual fora do meu controlo. Como se tudo o que aqui é escrito continuasse meu, mas já não sob o meu controle.

Há quem diga que isto de ter um blogue tem o seu quê de narcísico. Até pode ser que tenha. Eu não escrevo para os outros nem para ser lida pelos outros, mas seja narcísico ou não, ajuda-me. É por isso que eu, que durante tanto tempo achei este blogue uma tontaria pegada, gosto, cada dia que passa, um pouco mais dele.

© [m.m. botelho]

25.3.11

traições, perdões e superações

«Não me venham com coisas. As pessoas não perdoam ou superam traições. Simplesmente aprendem a não questionar o passado, não analisar o presente e não planear o futuro.»

Até ao momento em que somos confrontados com uma traição, seja ela de que cariz for, achamos sempre que somos capazes de ultrapassar a coisa e gerir o futuro como se nada se houvesse passado, em nome do sentimento traído (seja ele o Amor, a Amizade, o Companheirismo, etc.).

Depois do confronto com a traição, há os que percebem imediatamente que a superação é impossível e que nada será como dantes, porque algo foi permanentemente alterado e não pode ser refeito e partem imediatamente para outra, arrumando o livro na prateleira e riscando as pessoas do mapa; e há os que querem tanto perdoar e superar o sucedido que fazem das tripas coração para o conseguir. Esses são os que tentam, desalmadamente, fazer tudo o que está ao seu alcance e até o que não está, para agarrarem o que restou do sentimento e dar-lhe uma dimensão idêntica à que tinha antes da traição. Nesse processo, desgastam-se tremendamente, porque é como se estivessem a tentar transformar cascalho em ouro sabendo, de antemão, que não possuem a pedra filosofal. Estuporam-se primeiro psicológica, depois fisicamente, até que chegam ao estádio em que não dormem, não comem, não riem e não conseguem trabalhar porque a desolação da revelação da impossibilidade da recuperação do cenário anterior à traição se torna uma evidência tão grande e uma realidade tão indesmentível, que só resta escorregar parede abaixo, enterrar a cabeça entre os joelhos e aceitar que é impossível, que não há volta a dar-lhe, que há algo que se perdeu, que se estragou, que é irrecuperável e que, para complicar a coisa, às vezes nem se sabe bem o que é, embora quase sempre lhe possamos chamar «confiança». Depois, é fazer o que tiver de ser feito, que é como quem diz arejar a cabeça, limpar o dia-a-dia do que está a mais, arrumar as tralhas na maleta e começar a trilhar novo rumo.

Ora, são experiências destas que nos dão a lucidez para reflectir, concluir e escrever observações como a que a Ana do «Caroço de Tangerina» escreveu.

Até há uns meses, eu fazia parte do grupo dos que acham que são capazes de ultrapassar a traição e gerir o futuro como se nada se houvesse passado, em nome do sentimento traído. Já hoje, faço parte do outro grupo e tenho o discurso totalmente oposto. É que até há uns meses, eu sabia que a traição existia como possibilidade nos relacionamentos humanos (já que também fui menina das minhas diabruras, embora apenas um par, uma delas absolutamente inconsequente e ambas perfeitamente justificáveis pela imaturidade física e, principalmente, emocional), mas nunca tinha estado na posição daquele que tem de enfrentar e lidar com a traição. Logo, tinha apenas uma pálida ideia da dificuldade que seria gerir a situação e, por isso, acreditava piamente que uma traição era passível de ser perdoada, superada e esquecida, embora admitisse que havia traições e traições e que nem tudo era igualmente resolúvel ou aceitável (depende de quem trai, com quem trai, como trai, durante quanto tempo trai e em circustâncias trai). No fundo, porque nunca tinha estado no papel daquele que é confrontado com a traição, fazia uma errónea leitura do que é que as pessoas conseguem fazer perante e depois dela porque tenho sempre a mania de achar que, à primeira vista, é tudo muito mais fácil do que na verdade é.

Hoje, eu concordo com a Ana, sem tirar nem pôr. Porém, nisto, como em tudo o resto, é possível que a doutrina divirja e, assim sendo, entendimentos diversos aceitam-se e respeitam-se, até porque cada um faz as coisas como sabe e como pode e nem todos sabemos e podemos o mesmo. Felizmente para a Humanidade, nestas coisas de lidar com a traição há de tudo, como na farmácia. O que não convém que haja é meias-tintas, que é para a coisa, volta e meia, não aflorar ao pensamento e abalar as estruturas do que se foi reerguendo a tanto custo. Ora, é essa separação das águas, essa total reabilitação do outro, essa reposição da fé e da confiança naquele que nos atraiçoou, tarefa de tal modo hercúlea e penosa, que a maior parte de nós, quando tem uma lâmina de considerável tamanho cravada nas costas, não consegue fazer. Acho que se percebe perfeitamente porquê: porque um lanho destes dói para caraças e consta que não há analgésico, antidepressivo ou ansiolítico que diminua a dor por aí além, isto é, ajuda, mas não resolve. O que dava jeito, mesmo, era que alguém inventasse o «spray do esquecimento», porque o Homem, esse, já não tem solução: imperfeito foi criado, e assim permanecerá, traindo até ao último dos seus suspiros, crente, certamente, no ditado que diz que «entre mortos e feridos, alguém há-de escapar».

© [m.m. botelho]

aviso à navegação

A partir de hoje, passa a ser possível ler integralmente através do feed os textos publicados neste blogue. O que a gerência agradece encarecidamente é que não se copie descaradamente sem se mencionar a fonte porque se, em rigor, original ninguém é pelo menos desde a Babilónia Antiga, ao menos dêem-se os créditos pela maçada de ter digitado o texto (e os meus até que são granditos e, como tal, dão o seu trabalho).

Em tempos de austeridade económico-financeira, uma liberalidade para com a meia dúzia de leitores que lê o que escrevo porque aprecia, os dois ou três que o fazem por padecerem de uma psicopatologia denominada masoquismo e os outros não sei quantos nem quero saber que o fazem não sei porquê nem me interessa.

© [m.m. botelho]

16.3.11

artéria aorta

Coisas que vejo por aí e que me fazem pensar ou apelam às minhas preferências pessoais, agora coligidas num só lugar. Sem constrangimentos, sem limitações, sem espartilhos mentais, sem porquês. Gosto do meu tumblr. Gosto mesmo.

© [m.m. botelho]

15.3.11

heróis de nós mesmos

fonte: visto aqui

A propósito dos blogues ditos pessoais, uma grande Amiga minha (sem dúvida, das maiores que tenho), disse-me há tempos que é preciso ser muito maturo e muito contido para conseguir escrever sobre o que se sente sem evidenciar as próprias fragilidades. «Obviamente», dizia-me, «não é para todos». Para não variar muito, reconheço-lhe inteira razão no que diz.

Julgo que a maturidade e a contenção de que a minha Amiga falava nada têm que ver com a idade, nem com as circunstâncias de vida das pessoas, nem com a arte e o engenho para a escrita, mas sim com o modo como as pessoas estão (bem ou mal) estruturadas. Desnudar as fragilidades em forma de escrito, clamar aos sete ventos o quanto se está a sofrer para, com isso, exercer pressão sobre o alegado causador do sofrimento é, no dizer dessa minha querida Amiga, uma forma como outra qualquer de chamar à atenção. Porque, diz ela também, quanto mais desgraçadinho se diz que se é, mais simpatia se gera. E há gente que se basta com isso, porque é precisamente isso que procura.

Sucede que essa simpatia só é gerada em quem se limita a ler e não se dá ao trabalho (ou não tem a habilidade) de desconstruir o que é escrito. Regra geral, só se colhe a simpatia de quem não tem lá muitos dedos de testa e, porque não sabe viver as suas próprias dores e amarguras de outra forma, também adopta o registo do «coitadinho a quem tudo corre mal» e que tanto jeito dá para zurzir contra o mundo, principalmente quando centrarmo-nos no sofrimento que vivemos nos ajuda a não encarar a nossa própria responsabilidade na causa desse sofrimento.

É bem verdade que atraímos aquilo que procuramos. Quem adopta o discurso do «ai que mal que eu estou» só atrai gente que, em idênticas circunstâncias, também acha que a única saída é chorar pelos cantos. A dado passo, já ninguém sente mais nada por aquela pessoa a não ser pena e, nessas situações, a pena alheia é tão útil como um penso rápido sobre uma ferida profunda. A única coisa que ela dá ao sofredor é uma zona de conforto momentânea, que rapidamente se esfuma no ar. Logo a seguir, lá tem o desgraçadinho de ir a correr chorar-se um pouco mais, para que venha de lá outra pancadinha nas costas, mais uns minutos de sensação de que há alguém no mundo que o compreende e está solidário consigo. E isto torna-se um ciclo vicioso, um registo permanente, cansativo, vazio, desprovido de qualquer substância, registo esse infelizmente tão frequente em tantos blogues, internet fora.

É muito tramado ter de curar as feridas sozinho, lambê-las como fazem os cães, ficar no silêncio a ranger os dentes, adormecer e acordar com os olhos esbugalhados ao longo de meses e, mesmo assim, durante todo esse tempo, sair à rua com a cabeça erguida. É muito mais fácil exibir com alarido os cortes sangrantes, esperar deitado no chão que venha de lá alguém fazer o curativo, carpir com estardalhaço as mágoas, dizer que não se dorme e mostrar profundas olheiras, enfiar-se em casa e esperar lá pelas visitas que haverão de levar a canja de galinha à cama. Mais fácil, de facto, mas muito menos dignificante.

A diferença entre os que fazem uma e outra coisa é a mesma que distingue os heróis dos cobardes. Heróis são aqueles que, mesmo debaixo de fogo, não abandonam o campo de batalha, são os que são baleados mas não tombam à primeira, nem à segunda, nem à terceira, são os que não perdem tempo a tentar colher a simpatia alheia, à espera que alguém lhes venha dizer palavrinhas de conforto enquanto eles esperneiam no chão, mas que se fazem à vida porque sabem que só eles mesmos é que podem fazer algo por si e pôr-se de pé novamente. Heróis são os que, quando tudo o que apetecia era ficar mergulhado no desespero e na solidão, saem da cama todos os dias, ainda que a muito custo, para enfrentar os amigos que não sabem (nem têm de saber) o que se passa, os colegas de trabalho e as suas manias irritantes, a família a quem se oculta a dor por protecção, os desconhecidos que merecem amabilidade, ainda que amável seja a última coisa que apetece ser naquelas circunstâncias. Heróis são os que preferem partir a dobrar, os que preferem cortar o mal pela raiz a alimentar coisas moribundas ou dissimuladas, os que preferem dar e receber indiferença à pena, os que fazem das tripas coração para suportar os dias um atrás do outro quase desfeitos, mas não acabados, os que são capazes de falar do que sentem sem se vitimizarem em cada frase que dizem ou escrevem.

Nos momentos de crise, nos momentos de tragédia pessoal, temos de ser héróis de nós mesmos, heróis da nossa salvação das desgraças a que a vida nos conduziu, sem questionar se o que nos está a suceder é justo ou merecido. As mais das vezes não é, mas isso é o que menos importa. O que importa é que nos aguentemos na tempestade até à bonança, que sobrevivamos ao conflito até que cheguem as tréguas e isso não se alcança com dramas, penas e pancadinhas nas costas. Isso faz-se tendo coluna vertebral, bom-senso e discrição - a tal maturidade e contenção de que falava a minha sábia Amiga. O resto são floreados decadentes, disparates voláteis, palavreado atirado para o ar do qual, daqui a uns anos, todos, até os que o disseram ou escreveram, haveremos de rir muito.

© [m.m. botelho]

2.3.11

tão fofinhos que eles são

fonte: visto aqui

Tenho cada vez menos pachorra para "a fogueira das vaidades", cada vez menos pachorra para assistir ao desfilar de reis e rainhas que vão nus à luz dos holofotes sob os quais se colocam, sabe-se lá se intencionalmente, se porque a cabecinha não dá para mais. Por enquanto, ainda me divirto a topar as diferenças avassaladoras entre as posturas das pessoas que estão em situações com alguns pontos de contacto. Há os bons malandros, os meramente malandros e os que nunca passarão de aspirantes. Por enquanto, ainda vai tendo graça perceber quem são uns e os outros, ainda me vai rasgando um sorriso assistir ao espernear infantil dos "wannabe" em desespero de causa, tão fofinhos que eles são. Mais do que isso não, porque não há por que levar certas coisas muito a sério. Até porque haveremos todos - todinhos - de morrer um dia, não é? Pois é.

© [m.m. botelho]

22.2.11

força e determinação

«Confundem força e determinação. Eu sou fraco, porque nunca imponho a minha vontade, mas sou determinado, porque nunca desisto da minha vontade. Ficamos ambos divertidos, eles com o fracasso, eu com o que vem depois.»
Pedro Mexia, «O que vem depois», no blogue «Lei Seca»

21.2.11

monstros

Costumo ler um blogue, o «Educação Irracional», de cuja frase de descrição gosto muito. Diz assim: «Existem dois monstros dentro de mim, um bom e um mau. Se quiseres saber qual sou, respondo-te : sou aquele que mais alimentares».

É uma grande verdade. A não ser que estejamos a falar de gente com sangue de barata, que ninguém espere receber coisas boas quando deu coisas más, que ninguém espere companheirismo quando deu esporadas, que ninguém espere cuidado quando deu rejeição. O ideal, aliás, é que ninguém espere nada, mas muito menos colher as flores que deliberadamente pisoteou.

Depois, ninguém diga, muito consternado, que não ia ficar feliz se assim fosse. Não há pachorra para tanta hipocrisia.

© [m.m. botelho]

13.5.10

do fundo do baú

[clicar para aumentar]

O texto foi escrito por Carlos Quevedo, com a colaboração de Miguel Esteves Cardoso, para a extinta revista «K», a propósito da viagem que o Papa João Paulo II fez a Portugal (Fátima) nos dias 11 a 13 de Maio de 1991.

A fotografia é de uma página do livro «Já não em lembrava: Os delírios da K».

© [m.m. botelho]

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[m.m. botelho] || Marta Madalena Botelho
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» O âmbito do direito de autor e os direitos conexos incidem a sua protecção sobre duas realidades: a tutela das obras e o reconhecimento dos respectivos direitos aos seus autores.
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» A protecção das obras não está sujeita a formalização alguma. O direito de autor constitui-se pelo simples facto da criação, independentemente da sua divulgação, publicação, utilização ou registo.
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» O direito de autor pertence ao criador intelectual da obra, salvo disposição expressa em contrário.