Franz Kafka escreveu no seu diário que nunca tinha amado a sua mãe como ela merecia por causa da língua alemã. "A mãe judia não é uma mutter ", escreveu ele. "Chamá-la de mutter é um pouco cómico. Para um judeu, mutter é especificamente alemão. Portanto, a mulher judia que é chamada de mutter torna-se não apenas cómica como estranha." Kafka escrevia em alemão. A língua do seu quotidiano era o checo. A língua da sua mãe era ídiche. Além de tudo o mais que representa para a literatura moderna, Kafka foi o primeiro a falar do estranhamento com a língua materna, que no fim é um estranhamento com toda a linguagem, que acomete quem a abandona. Escritores escrevendo na língua que não era a da sua casa foi uma constante do século. Foi Kafka quem, no século dos exílios, definiu uma das suas formas: o exílio em outra língua. Na qual ninguém se sentia em casa com a sua mutter e talvez por isso tenham criado o que criaram. Falar e escrever em latim era comum na Idade Média ...
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