O filho único NÃO HÁ nada mais difícil do que escrever sobre a dor. Os pais seguram na mão as botas de futebol do filho único que enterraram num bocado de chão escapado ao terramoto de Sichuan. Num montinho de pedras e terra rala o pai e a mãe improvisam uma sepultura e um cerimonial. Junto da sepultura do filho depositam todos os objectos de que gostava, especialmente os brinquedos e as botas de futebol, e ajoelham como quem está num altar. O pai, dorido e lacrimoso, conta que o filho ficou enterrado vivo por baixo dos escombros da escola, toneladas de entulho e cimento, vigas, ferros retorcidos, pedras, vidros, onde os socorristas conseguiram escavar um buraco. A voz do filho vinha dos fundos da escuridão, ainda vivo, pedindo que o tirassem dali. Depois, o filho disse "pai, tenho fome" e morreu. Retiraram o corpo morto. Devido à política do filho único da China, os pais tinham apenas este rapaz que, segundo a cultura chinesa, um dia os encheria de orgulho e tomaria conta d...
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