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quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Federico García Lorca (1898-1936)

 


Passadas as duas noites de 18, ou 19 de Agosto, em que os fascistas espanhóis, ídolos e mentores do “Chega” e do suíno André Ventura, assassinaram o poeta Federico García Lorca, deixo aqui, em alternativa aos seus trabalhos mais conhecidos, um dos belíssimos textos que escreveu, "Chove en Santiago", a bela cidade galega onde como se pode ver, por vezes chove.

Ninguém poderia ter musicado isto melhor do que os Luar na Lubre!

Ninguém poderia ter cantado melhor do que a imensa Rosa Cedrón!



Chove en Santiago

(Luar na Lubre)




quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Sábado de memórias boas


À hora a que este post se publica automaticamente, estou eu em ensaios com o “meu” pianista. Trata-se de alinhavar a minha participação musical na tarde prazerosa que se vai viver na Voz do Operário, entre amigas e amigos... lembrando o José Carlos Ary dos Santos.
A ideia e o convite irrecusável foram da “Associação Conquistas da Revolução”. Os pormenores do elenco e horário podem ver-se no cartaz...

Apareçam...


domingo, 30 de junho de 2013

“Meter a viola no saco”...


Os mais de 3.400 textos que aqui escrevi até hoje, foram quase sempre escritos em “legítima defesa”. Quero com isto dizer que foram escritos em reacção às constantes agressões da realidade cinzenta que nos cerca. Uma forma mais de exorcizar as bestas (não têm categoria para serem classificados como espíritos) que nos vão fazendo a vida num inferno.
Fi-lo sempre e continuarei a fazê-lo durante o (muito provavelmente) pouco tempo que ainda durar o blog, quase automaticamente, um pouco como a palmada que se tenta dar a uma melga... sem grandes requintes formais ou profundidades teóricas que, diga-se em abono da verdade, não sei onde iria buscar ainda que o quisesse.
Já o caso das músicas de domingo... sempre fiou mais fino. Esses textos mexem com os gostos, mexem com as sensibilidades, dão trabalho a pesquisar, obrigam a muita atenção sobre o que se vai dizer... se bem que eu tenha tido a tarefa um pouquinho facilitada pela decisão de nunca publicar algo de que não fosse dizer apenas bem.
Assim sendo, é muito diverso o estado de espírito com que recebo os ecos e reacções ao que escrevo.
No caso dos textos de sátira, de pura brincadeira, ou crítica mais política, quase me basta saber que fui lido por uma média de mais de mil pessoas por dia, para “encaixar” o caudal de comentários de ódio, que quase sempre vão para o lixo, dada a abjecção da linguagem, ou o seu carácter de propaganda fascista ou xenófoba. Quase me basta pressentir que se todas essas pessoas continuam lendo, ainda que na sua esmagadora maioria não comentando, nem de forma “simpática” nem de qualquer outra... é porque continuam a encontrar por aqui alguma coisa que lhes interessa.
Já no caso dos textos que têm acompanhado as várias centenas de vídeos... dada a natureza da “coisa”, a única “recompensa” que poderia ter, seria um retorno razoável desta minha partilha. Ora, tal nunca aconteceu verdadeiramente, sendo que nos últimos tempos tem mesmo assumido ares de quase absoluta ignorância tanto pela existência, como pela ausência dos ditos textos e músicas. Quando se partilha uma coisa de que se gosta muito... fica-se bastante exposto ao veredicto daqueles com quem se partilhou essa coisa. O silêncio... é o pior veredicto de todos!
Reconhecendo o sagrado direito a todas e todos de gostarem de outras músicas, de não gostarem de música alguma, de acharem estas partilhas “invasivas” e mais um mundo de hipóteses... cheguei à conclusão óbvia:
Os vídeos e textos domigueiros sobre música, acabam aqui! Para ser mais preciso, acabaram no domingo passado!
Portanto, os domingos aqui na casa passam a ser dias tão “santos” como todos os outros... e a haver lugar para a publicação de quaisquer textos, estes tratarão dos assuntos do dia a dia, por muito pouco “artísticos”, ou feios... ou mesmo belos que sejam. A música, quando incidentalmente passar por aqui, não terá nunca mais (como o “incidentalmente” deixa adivinhar) dia certo ou hora marcada.
Bom domingo!

domingo, 23 de junho de 2013

Valeriy Sokolov – Que os “deuses” o conservem!


É uma prática que vem de tempos imemoriais. Os canalhas que estão no poder, exercendo esse poder  de uma forma condizente com a sua condição de canalhas, vêem-se obrigados a fazer-se rodear, por razões de sobrevivência, por várias camadas de invertebrados predispostos à condição de lacaios, ou “boys”, como agora se diz, que vão ocupar os mais variados postos na administração pública. Quase sempre, a única “competência” que demonstram para os cargos... é exactamente a condição de lacaios do “chefe”. Salazar não era excepção!
É famosa a estória de um desses lacaios de Salazar, colocado num lugar de chefia na Emissora Nacional. Ali chegado, o “grande conhecedor” do mundo da rádio e das artes, fez a primeira visita à Orquestra da Emissora Nacional, velha glória da casa.
Demonstrando a mais espessa ignorância sobre as motivações que ligam um músico ao instrumento que escolheu para companhia e ferramenta de toda uma vida, ao ser apresentado a um velho músico da secção de violoncelos e tendo-lhe sido dito que o homem era violoncelista da orquestra, havia quase trinta anos... exclamou fascinado:
- E sempre a tocar o mesmo instrumento!!!
E aqui, entra em cena este jovem ucraniano, Valeriy Sokolov, um novo génio do violino, de quem seleccionei um vídeo dos mais “simples”... aconselhando vivamente que pesquisem os muitos outros que estão disponíveis e que atestam o seu irresistível virtuosismo e talento.
Voltando à “anedota” da Emissora Nacional... a bem da Humanidade, espero que todos os deuses, com Orfeu e Euterpe à cabeça, tornem possível que o nosso amigo Valeriy Sokolov continue tocando sempre o mesmo instrumento. Por muitos e muitos anos.
Bom domingo!
“Cânticos húngaros” – Valeriy Sokolov
(Bartok/Szigeti)




domingo, 2 de junho de 2013

Sara Lazarus... e os ciganos


Venho de um tempo em que os mais velhos, por vezes, exortavam as crianças a obedecer a esta ou aquela ordem com uma ameaça quase sempre apenas pateta... embora, algumas vezes, ressumando um indisfarçável aroma de xenofobia: “Olha que vêm aí os ciganos e levam-te!”
Era quase sempre uma ameaça falhada. Ninguém acreditava. Na verdade, nunca soube de algum dos meus amigos ou conhecidos a quem tenha acontecido isso... mas mesmo assim, pensava muitas vezes como seria partir com os ciganos, em caravana, fazendo aquela vida “livre” que, para a miudagem, parecia fantástica. Claro que para tudo é preciso ter uma ponta de sorte. É o caso da Sara Lazarus.
Fazendo orelhas moucas aos avisos, esta jovem cantora de jazz deixou-se levar pelos ciganos... e “rais ma parta” se não ostenta um ar escandalosamente feliz por tê-lo feito!
Dos ciganos aqui em causa, os músicos que a acompanham ao melhor estilo do jazz “manouche”, destaca-se o gigante guitarrista Biréli Lagrène. Ela, a “raptada”, é uma natural dos EUA que actua maioritariamente na França.
É muito bom “ouver” cantar e tocar assim. Faz bem a (quase) tudo!
Bom domingo!
It’s all right with me” – Sara Lazarus
(Cole Porter)




domingo, 26 de maio de 2013

Aline Frazão – Tanto... talento!


Costumo dizer, em tom de brincadeira, mas, na realidade, mais a sério de que a brincar, que tivemos um grande azar quanto à “nossa” música africana. Ao passo que países como a França, ou a Inglaterra, ou os EUA, países com uma História de relacionamento com a África, o seu povo e as suas raízes culturais, tão ou mais turbulentas do que as nossas, tiveram a sorte (e o talento) de valorizar e “herdar” dessa relação com as ex-colónias, ou mesmo a importação de escravos, o melhor da inspiração africana, se pensarmos nos “blues”, no “jazz”, ou, na actualidade, nos grandes artistas africanos que fazem boa parte da sua vida nos palcos desses países que antes os colonizaram.
Infelizmente, salvo raras e maravilhosas excepções... não é o nosso caso. Por uma qualquer maldição, ou tendência para atrair a desgraça, parece que fomos condenados a dar guarida a uma música africana meio apimbalhada, própria para alimentar bailaricos copofónicos.
Na verdade, deixando à parte as tais excepções, das quais Cesária Évora é o mais admirável exemplo, exemplo a que se vieram somar nomes jovens como Mayra Andrade ou Lura, para ficar apenas por mulheres... o panorama é pobre.
No caso angolano, agravado pela minha ignorância sobre os novos valores, ignorância muito “ajudada” pela quase total ausência de divulgação de música de qualidade... a minha memória andava parada lá bem longe, no tempo de Monangambé e mais uma mão cheia de saudosas canções do Rui Mingas... e pouco mais. Até há uns poucos dias!
Entra em cena a nossa muito jovem convidada, Aline Frazão. Instrumentista, arranjadora, autora dos textos e das músicas, grande intérprete.
Vinte e poucos anos, angolana, viajada, estudante em Lisboa, depois passando por Barcelona, ganhando asas na Galiza, deixando-se contaminar pela cultura e novos sons dos novos mundos e novas gentes... mas não permitindo que a grande distância a que deixou Angola (ou então exactamente por isso) lhe nublasse a visão sobre a realidade do seu povo. Visão aguda, clara, desassombrada, despida de rodriguinhos e postais ilustrados para turista ver.
A letra da canção que aqui partilho, merece ser lida do princípio ao fim, por isso vai publicada na íntegra.
Grande canção! Grande futuro pode ter esta tão jovem mulher do mundo!
Bom domingo.
Tanto
(Aline Frazão)

É tanta luz aqui - Que até parece claridade
É tanto amigo aqui - Que até parece que é verdade
É tanta coisa aqui - Que até parece não há custo
É tanta regra aqui - Que até parece um jogo justo
É tanto tempo aqui - Que até parece não há pressa
É tanta pressa aqui - Que até parece não há tempo
É tanto excesso aqui - Que até parece não há falta
É tanto muro aqui - Que até parece que é seguro

Tanto, tanto, tanto
Na embriaguez do encanto
É tanto ‘tanto faz’
Que ninguém sabe quem fez
Mundo, gira, mundo
Mundo vagabundo
Não olhes, senão vês

É tanta pose aqui - Que até parece não há esquema
É tanta História aqui - Que até parece um problema
É tanto festa aqui - Que até parece sexta-feira
É tanta dança aqui - Que até parece a das cadeiras
Tanto flash aqui - Que até parece que ilumina
É tanta frase aqui - Que até parece que resolve
É tanto ecrã aqui - Que até parece um grande invento
É tanta força aqui - Que até parece um movimento.

É tanta coisa aqui - Que até parece não há custo
É tanta regra aqui - Que até parece um jogo justo
É tanto excesso aqui - Que até parece não há falta
É tanto dano aqui - Que até parece ninguém nota

“Tanto” – Aline Frazão
(Aline Frazão)



domingo, 28 de abril de 2013

Han-Na Chang – Um post excessivo


Demos as boas vindas à jovem sul-coreana Han-Na Chang. Violoncelista e directora de orquestra. Tem um currículo que dificilmente cabe nos escassos trinta e um anos de vida que conta... o que é perfeitamente normal num post feito de “excessos”.
É excessiva a beleza que Camille Saint-Saens concentrou num dos vários e pequenos movimentos do seu “Carnaval dos animais”... uma peça que fez por puro divertimento e que durante muito tempo, erradamente, pensou que não abonaria muito à sua imagem de compositor “sério”. Apesar dessa humilde desconfiança, até ele achava que este “Cisne” era uma excepção.
É excessiva a perfeição com que os pais de Han-Na Chang passaram do sonho à prática, quando se tratou de “criar” o rosto (e tudo o mais) da filha e seleccionaram os genes que, acrescentado o trabalho técnico necessário... floresceram como génio puro.
É excessiva a qualidade da “alma” que o construtor do violoncelo colocou dentro do instrumento que ela aqui toca... e que resulta neste som fabuloso que exibe no encore de final de concerto.
É excessiva a distância que Han-Na Chang percorre na viagem que a leva lá para onde “vai” enquanto toca. Assim olhando apenas, imagina-se que, para além de longínquo, seja um lugar onde a beleza e o prazer correm... excessivamente.
Bom domingo!
“O cisne” – Han-Na Chang
(Camille Saint-Saens)



domingo, 21 de abril de 2013

Outro mundo é possível...


Anuncio mais uma mulher guitarrista clássica... e logo vocês: lá vem ele com a Ana Vidovic, ou outra que tal! Não. As mulheres guitarristas clássicas tomaram a cena de assalto de uma forma esmagadora. Começam a chegar de todos os lados... e assim chegamos à novidade de hoje: Kim Chung.
Vem do Vietname, é assombrosa. Algures os mistérios da Alhambra de que ela não pode recordar-se verdadeiramente, arranjaram maneira de lhe habitar o berço e produzir a maravilha que é esta interpretação dos “Recuerdos de la Alhambra”, de Francisco Tárrega.
Há algo de mágico na serenidade deste momento, na perfeição do equilíbrio entre a linha melódica e o tremolo que lhe serve de acompanhamento, na ilusão, tremendamente enganadora, de facilidade.
Há algo de mobilizador neste vislumbre breve do que seria um mundo em que tudo se fosse depurando assim... a caminho da paz, da beleza, da perfeição, da poesia.
Bom domingo!
Recuerdos de la Alhambra” – Kim Chung
(Francisco Tárrega)



domingo, 14 de abril de 2013

Algo na maneira como ela se move...


Ao mesmo tempo que estou de partida para um concerto recheado das chamadas canções de intervenção, deixo o “Cantigueiro” encarregado de lembrar uma extraordinária canção de amor.
Espero que nenhum de vocês ache que existe qualquer espécie de contradição entre as canções ditas de intervenção e as ditas de amor. A única coisa que separa as canções é a sua qualidade e, sobretudo, a sua intenção.
Na verdade, uma canção de intervenção é sempre, ao mesmo tempo, uma canção de amor. Da mesma forma, as canções de amor intervêm na realidade que as rodeia, dependendo do seu conteúdo a forma como o fazem.
Chegamos à canção de hoje. “Something”, composta pelo “Beatle” mais sereno, Geoge Harrison, é um clássico dos clássicos e fez parte do álbum histórico “AbbeyRoad”, que o grupo editou em 1969.
No vídeo que hoje partilho, um excerto de um grande concerto de homenagem a Harrison, temos uma épica versão de “Something”, interpretada pelos Beatles sobreviventes Paul McCartney e Ringo (este, como sempre, na bateria, com a participação preciosa de Eric Clapton, acompanhados por um tremendo grupo de músicos.
Something”, já todos ouvimos centenas de vezes. O que poderemos não ter ouvido é a estória da dedicatória... e assim chegamos (finalmente!) ao verdadeiro assunto deste post, a jovem inglesa da fotografia, modelo, fotógrafa e autora: Pattie Boyd.
Quando a canção foi escrita por Geoge Harrison, ela era casada com ele e, ao que parece, a canção foi-lhe dedicada. Só que, anos depois e findo o casamento,Pattie casou novamente, desta vez com Eric Clapton, que lhe terá dedicado dois dos seus maiores êxitos musicais, “Layla” e “Wonderful tonight”.
Provavelmente, estas não são as únicas canções que os jovens autores da época lhe dedicaram… mas mesmo só estas, fazem dela uma espécie de encantador “íman” para atrair grandes canções, uma “musa” absolutamente campeã… isto se existisse algum campeonato para estas coisas.
Ah… aqueles anos 60 e 70!...
Bom domingo!
Something” – Paul McCartney e Eric Clapton
(George Harrison)




domingo, 7 de abril de 2013

Hilary Hahn – Porque a beleza pode ajudar a salvar a Humanidade...


Ainda uma jovem mulher de 33 anos, a norte americana Hilary Hahn já foi antes visita “aqui de casa”. Apeteceu-me voltar a partilhar o seu génio convosco.
Como que numa tentativa de explicar o inexplicável, Hilary diz que a sua forma de tocar e entender a música, deve-se em parte ao facto ter começado a estudar, aos dez anos de idade, com um mestre russo que ia já nos mais de oitenta anos e que não se cansava de lhe falar daqueles que tinham sido os seus mestres, fazendo-a interiorizar a sensibilidade de violinistas que abarcavam mais de um século de vida.
Se não for essa a explicação para a dimensão da sua “cultura” musical, pelo menos mostra bem o respeito que os verdadeiramente grandes têm pelos seus mestres.
No primeiro vídeo, um encore do seu concerto de estreia na Alemanha, aos 15 anos de idade, pode ouvir-se como era “fraquinha” a tocar... mas escolhi o vídeo pela escolha do guarda-roupa que, nessa altura, desgraçadamente, ainda não devia ser da sua responsabilidade.
A escolha do segundo vídeo, já dos dias de hoje, serve apenas para mostrar como ela passou a apresentar-se infinitamente mais bem vestida... embora a tocar continue a ser mesma “desgraça” de sempre.
Bom domingo!
Gigue” (em ré menor) – Hilary Hahn
(J. S. Bach)



Bouree” (from Partita No. 3), Siciliana” (from Sonata No. 1)
 e
“Medley trad.” – Hilary Hahn
(Bach – Bach - Charles Ives)



domingo, 31 de março de 2013

Jake Bugg – De vez em quando…



“Stuck in speed bump city
Where the only thing that's pretty
Is the thought of getting out

Somewhere there's a secret road
To take me far away I know
But til then I am hollow”
De vez em quando acontece. Aparece algo novo... que parece ser-nos familiar desde sempre. Entra em cena o jovem inglês Jake Bugg!
Diz-se influenciado por Jimi Hendrix, Johnny Cash, os Beatles, Donovan e, evidentemente, embora faça por o admitir menos do que em relação aos anteriores, Bob Dylan. Aliás, no meu ouvido fica a pairar como que um cruzamento exactamente de Dylan e Donovam... mas isso sou eu...
Entre baladas românticas e nova música de intervenção com a dureza dos subúrbios problemáticos e bairros operários de uma cidade inglesa de província, como é o caso da canção que hoje partilho, este miúdo de Nottingham, se não for cilindrado pela máquina de soterrar talentos com dinheiro... será um caso muitíssimo sério!
Bom domingo!
Trouble town” – Jake Bugg
(Jake Bugg)



domingo, 24 de março de 2013

Bach – O homem que sonhou um bandoneon


No dia em que estou a “pagar” a intensidade (saborosa intensidade!) da tarde de ontem, na Aula Magna, apetece-me a calma suave da beleza desta ária de Bach. Se existem bálsamos sonoros, esta ária tem que estar na lista.
Esta versão é tocada pelo, normalmente, vertiginoso acordeonista de jazz, o francês Richard Galliano, interpretada num bandoneon, instrumento ligado ao imaginários dos amantes do tango argentino e uruguaio.
Johann Sebastian Bach, como grande visionário, sabia que cerca de cem anos após a sua morte viria a existir um seu compatriota, Heinrich Band, que nos escassos quarenta anos que teve de vida, haveria de criar o “bandoneon”. Bach sabia que, independentemente das tórridas coreografias dançadas ao som dos tangos produzidos pelas palhetas deste bandoneon depois de ter sido levado para a Argentina e Uruguai por emigrantes alemães, este era o instrumento com a sonoridade, a suavidade e a respiração perfeitas para protagonizar esta sua fantástica ária.
Como “extra” partilho ainda uma interpretação de “Minuete e Badinerie”, desta vez, tocado numa “accordina”, um instrumento criado muito mais recentemente... e com a ajuda dos excelentes músicos de uma das diferentes formações que, dependendo do género musical, acompanham Galliano.
Bom domingo!
“Aria na corda de Sol” - Richard Galliano
(Johann Sebastian Bach)



“Minuete & Badinerie” - Richard Galliano
(Johann Sebastian Bach)



terça-feira, 12 de março de 2013

Papa e “pop” - Os “anjos” possíveis...


Pressente-se que algo vai muito mal no jornalismo e na comunicação social de um país quando, como nas últimas horas, num país com um milhão de desempregados, sendo que uma grande parte já nem tem acesso a subsídio de desemprego, com milhares de doentes sem consultas, ou dinheiro para elas ou para os medicamentos, com milhares de estudantes sem futuro nem dinheiro para as propinas e todas as despesas que hoje um curso acarreta, com milhares de velhos tratados como lixo em “lares” indignos de acolher até animais vadios, um país ocupado por forças estrangeiras, com um governo vendido a essas forças, com um Presidente aposentado...  mas estou a “perder-me”.
Dizia que algo vai muito mal no jornalismo e na comunicação social de um país quando, aparentemente, as notícias mais importantes são as tricas de bastidores para a escolha de um novo chefe de estado para o Vaticano e as peripécias dos concertos em Portugal de uma estrela mais ou menos indigente da “pop” juvenil, de nome JustinBieber.
Quanto ao jovem cantor canadiano, fico a saber que o mais relevante da sua música parecem ser os atrasos, as “agressões” a fotógrafos, os números de bilheteiras...
Quanto ao futuro Papa, para além de suspeitar que o único responsável pela escolha do candidato, alegadamente, o “Espírito Santo”, já farto de piadas parvas que o ligam a um banco português irrelevante, está a virar-se para as grandes agências de apostas internacionais no sentido de influenciar a votação... estou convencido de que, no momento em que for eleito não terá o topete de aparecer ao seu público envergando umas asas de anjo... como fez o juvenil artista “pop”.

domingo, 3 de março de 2013

Tatyana Ryzhkova – Fantasia…


Eu sei... eu sei que aconteceu ontem uma manifestação, ou melhor, dezenas de manifestação que juntaram para cima de uma quantidade de pessoas de várias idades... as idades físicas e as outras. Disso falarei amanhã, segunda-feira, depois de recobrar o fôlego.
Por hoje, e para não fugir a repetir esta domingueira “experiência que deu certo”, que é, até hoje, a melhor definição de “tradição”, fico-me pela música. Uma sequência de fantasias à volta da “Traviata” do senhor Verdi, inventadas por Francisco Tárrega... compositor e guitarrista espanhol que há mais de cem anos perdeu a possibilidade de me agradecer de viva voz esta escolha musical.
Como aqueles bombons que, mesmo já sendo muito bons, ainda assim vêm embrulhados em invólucros luxuosos, apenas pelo caprichoso bom gosto de quem os oferece, também este momento musical chega pelas mãos da jovem bielorussa Tatyana Ryzhkova, uma recentíssima descoberta deste estabelecimento.
Ainda sem ter chegado sequer aos trinta, Tatyana é uma daquelas guitarristas que faz muitas das guitarras que não tiveram a fortuna de ir morar para casa dela definharem, estalar-se-lhes a madeira… e finarem-se por aí numa vil tristeza (estou neste momento a olhar para uma). Há guitarras muito felizes! Ouvindo e vendo o vídeo, ouvindo e vendo quanto a dona da guitarra se diverte com pequenos pormenores da música e como se transforma e ilumina ao tocá-los... percebe-se porquê.
Bom domingo!
Fantasia sobre temas da Traviata - Tatyana Ryzhkova
(Francísco Tárrega)



domingo, 3 de fevereiro de 2013

Quatuor Ebène – Alguns minutos de um mundo melhor...


Tocam como tocariam os "deuses"... se estes existissem e, existindo, fossem sensíveis aos encantos da música, tal como (recorrentemente) digo quando me deparo com tais “exemplares”.
São quatro rapazes franceses que podem ser vistos e ouvidos em salas de concerto por todo o mundo, integrados em orquestras, mas, principalmente, na sua formação de excelência, o “Quatuor Ebène”. Pierre Colombet (violino), Gabriel Le Magadure (violino), Mathieu Herzog (viola), Raphaël Merlin (violoncelo).
Escolher uma ou duas interpretações do quarteto, do seu reportório clássico, seria fácil, já que tocam tudo bem. Assim, a opção foi escolher dois vídeos onde se entregam ao seu divertimento preferido: tocar “outras músicas”, ao seu jeito e, já agora, com arranjos fantásticos no seu bom gosto. Claro que a escolha não é simples... já que eles se “divertem” muitas vezes, felizmente!
Apenas dois vídeos então. O primeiro, uma assombrosa versão instrumental de “Come together”, dos Beatles, que nas mãos deles se torna em outra coisa. Uma coisa “maior”! O segundo, uma das suas melhores “traquinices”: aproveitarem o facto de todos cantarem, para fazerem versões mistas de voz e dos instrumentos que tocam. É um arranjo primoroso de uma das suas músicas de infância... e da infância de milhares de outras pessoas de várias gerações, “Someday my prince will come”, da banda sonora da Branca de Neve de Walt Disney... canção velhinha de mais de setenta anos, aqui na versão em francês.
Bom domingo!
“Come together” – Quatuor Ebène
(Lennon/McCartney)


“Someday my prince will come” - Quatuor Ebène
(Larry Morey/Frank Churchil)



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O homem que gostava de canções


“Festa de aldeia” – Álvaro Cunhal, in “Desenhos da prisão”

Quando no dia 13 de Abril de 1980 chegou a hora do grande comício de encerramento da 4ª Conferência da Reforma Agrária, em Évora, nem um ano tinha passado sobre o assassinato do “Casquinha” e do “Caravela” às mãos da GNR e a mando do Governo de Maria de Lurdes Pintassilgo, apoiado na lei criminosa de Barreto.
Já se tinha entendido que iria ser muito difícil defender a mais bela conquista do 25 de Abril... mas ainda assim, era o que faltava que se perdesse sem luta! Daí o lema da Conferência, “Defender a Reforma Agrária, prosseguir Abril”. Daí a redobrada importância do discurso que encerraria a Conferência e o comício, proferido por Álvaro Cunhal.
Eu tinha acabado de cantar algumas canções, duas delas (pelo menos) saídas do meu mais recente disco, editado no ano anterior. Palmas... sentei-me no grande estrado feito palco, a alguns lugares de distância de Álvaro Cunhal, que estava a escassos minutos de ir discursar para aqueles milhares de pessoas.
De mansinho, levantou-se e veio, sem dar muito nas vistas, sentar-se ao meu lado. Queria saber como estava a correr a “carreira” do meu disco. Gostava de várias das suas canções (não caiu na tentação de me dizer que gostava de todas!). Deu-me algumas razões técnicas para explicar o seu gosto pela minha canção com poema do AryLlanto para Alfonso Sastre y todos” (a ligação da música com a letra, a cavalgada rítmica que eu tinha decidido compor, a forma de a cantar)... mas preferia, decididamente, “Ao alcance das mãos”. Para meu grande prazer enquanto autor, disse-me também porquê. Uma mão a apertar-me o ombro, a dar-me força... e foi para o seu lugar, praticamente no momento em que o seu nome era anunciado.
Um membro da organização, provavelmente daqueles (já me cruzei com tantos!) para quem os cantores, assim que cantam a última nota com que “abrilhantaram” a sessão para que foram convidados, deixam de ter qualquer utilidade ou interesse... não aguentou a dúvida que o “angustiava” e perguntou-me:
- O que é que o Álvaro tanto tinha pra falar contigo em cima do palco?
Uma das minhas razoáveis qualidades (há horas em que é um defeito) foi sempre a capacidade de responder a perguntas deste “género” com respostas por vezes insolentemente anárquicas:
- Estava a dar-lhe umas ideias para o discurso!
Não lhe dei tempo para “chegar lá” por si... tive pena do seu ar algo perdido e optei por explicar-lhe o que se tinha passado realmente.
Afinal, aquela figura carregada de História, de anos de heroísmo, de algum mistério e mais tudo o que sabemos... era, também, apenas mais um homem que gostava de canções!


Adenda: Entretanto, recebi esta prenda do Monginho (sim, o Monginho dos cartoons do Avante)... que sempre tem mais uma corzinha, como ele diz. Faz toda a diferença! O cartaz é da autoria do saudoso João Martins, outro cartonista, mas este de "O Diário".

Publicado em paralelo no "2013 - Centenário de Álvaro Cunhal"

domingo, 20 de janeiro de 2013

Mayra – O que será...


Mayra Andrade “persegue-me”... o que é uma sorte que não tem preço!
Os franceses adoram a Mayra Andrade... o que só confirma o tão celebrado bom gosto de muitos franceses!
O Benjamin Biolay é um dos grandes criadores de canções da nova geração de consagrados, que ainda há bem poucos anos era uma revelação. Não pode ser considerado o cantor-tipo... se o critério de apreciação for aquele que preside aos programas de televisão “trituradores” de sonhos de miúdos e miúdas a quem é exigido que tenham grandes vozes e imitem cegamente este cantor ou aquela cantora. Logo, pelos meus critérios... tem tudo para agradar!
Sobre a Mayra já não falo. Se o fizesse. Seria como que uma espécie de discurso por intermináveis camadas, elogio sobre elogio... encantamento sobre encantamento...
Juntaram-se, ao vivo, para nos “colar” aos sentidos uma versão a dois de um clássico do Chico Buarque, “O que será (à flor da pele)”. Ele canta a versão francesa criada por um grande que já partiu, Claude Nougaro, versão que toda a gente trauteia, em França... nos meios mais dados à canção inteligente.
Ela... ela canta na língua original, o que na sua voz tem aquele sotaque de um misterioso “brasileiro” contaminado por Cabo Verde, depois canta em francês com ele, depois canta sem letra nenhuma... depois é uma grande maluqueira! Uma maluqueira doce, meio sussurrada, hipnótica... mas eu já disse que não falava sobre ela!
Bom domingo.
“O que será/Tu verras” – Mayra Andrade e Benjamin Biolay
(Chico Buarque de Hollanda)



domingo, 16 de dezembro de 2012

Rhapsody in blue - Um dos eleitos...


Aposto que Gershwin esperaria tudo menos vir a ter a sua “Rhapsody in Blue” tocada desta maneira, numa de harmónica e por um pequenote chinês de nome Leung Pak.
Aposto também que o aplaudiria sem reservas!
Suspeito que chamaria umas coisas que eu cá sei aos vários imbecis que, na internet, chamam ao miúdo “mais um robot da China” e que, para tocar desta maneira, só pode ter sido “forçado”... coisa que nunca lhes passou pela cabeça, sempre que admiram uma qualquer menina ou menino-prodígio ocidentais.
Na cabeça dessas bestas é natural que nasça a convicção de que é possível forçar alguém a tocar assim, a “sentir” assim a alma desta Rapsódia em Blue... não sabendo que este “blue” é uma coisa que não se ensina, nem se explica, nem se força. Atinge apenas alguns seres, como uma luz...
São oito minutos de encanto sereno e de um brilho que faz bem à alma.
Bom domingo!

"Rhapsody in blue" - Leung Pak
(George Gershwin)