Venho de um tempo antigo. Um tempo triste, em que os novos músicos que iam aparecendo eram tão “curiosos” e amadores com quase todos os que os tinham precedido... e não havia perspectiva de que muitos dos que se seguiriam viessem a ser mais qualificados.
Era um tempo em que as poucas saídas realmente profissionais para músicos qualificados, não iam além da música dita erudita... e fechada sobre si.
Era um tempo em que uma boa parte dos músicos que se diziam “do jazz” (felizmente havia maravilhosas excepções!), não passavam de pequenos aldrabões que, só à custa da falta de preparação de quem os ouvia, conseguiam disfarçar o óbvio: não saberem tocar, realmente, os instrumentos.
Depois, felizmente e fruto da abertura proporcionada por Abril, tudo começou a mudar para melhor. Hoje temos um belíssimo “exército” de músicos fantásticos, capazes de se aventurar em qualquer género musical, interessados na música portuguesa e atentos ao que se passa no resto do mundo. Gente muito nova, capaz de entender as nuances que separam uma canção do Zeca ou do Sérgio Godinho... do universo musical de um Tony Carreira, isto sem, em qualquer dos casos, baixarem o nível de profissionalismo e competência em palco ou em estúdio.
Afortunadamente, eu próprio cruzei o meu caminho com uma mão cheia destes “miúdos” cheios de talento, que dão um novo som ao que faço. Sem eles, provavelmente, já estaria a pensar em arrumar a guitarra de uma vez por todas.
E assim chegamos à Orquestra de hoje e ao vídeo que quero partilhar. Trata-se da Orquestra de Jazz de Matosinhos, um “bando” de músicos fantásticos que explicam, na prática, alto e bom som, tudo o que disse até aqui.
Entra em cena a artista convidada de hoje, a já aqui vista e ouvida Maria Rita.
Habituada ao cliché do fado, da saudade, da tristeza, do bacalhau, cliché que acompanha tudo o que é português na sua terra brasileira, Maria Rita não estaria, certamente, à espera daquele som fantástico de um jazz bem “contaminado” de brasil, produzida por uma orquestra portuguesa... em Matosinhos.
Pelos vistos gostou. Sentiu-se em casa, reconheceu o “balanço” com que foi embalada muitas vezes no colo da mãe, Elis Regina... e ouvindo a sua música e a dos seus tantos e tão talentosos amigos. O balanço da sua terra.
Pelos vistos gostou. Canta com um sorriso aberto. Dança como quem flutua.
Bela, feliz, sensual... pura!
“Num corpo só” – Maria Rita e “OJM”