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sábado, 3 de outubro de 2020

“LE TABOU”

 

 



Fica assim definitivamente explicada uma boa parte do charme do som de Miles Davis. Estávamos em 1950, na mítica cave de Paris, “Le Tabou”, um “antro” situado em Saint-Germain-des-Prés, frequentado por amantes de jazz e literatura, como Sartre, ou Camus, ou Roger Vailland, ou Boris Vian, ou Raymond Queneau, ou Jean Cocteau… que ali decilitravam bebidas improvisadas, música forte e poesia rompendo através do fumo.

Nesta noite, a trompete de Miles Davis foi tocada pela mágica jovem Juliette Gréco… com 23 anos de idade. Ele tinha 24.

Nunca mais foram os mesmos. Nem ela, nem ele, nem a trompete, nem a poesia, nem a música, nem quem teve a felicidade de os ouvir.

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Sempre o xinguilante jazz

 


Bailarina Negra


A noite

(Uma trompete, uma trompete)

fica no jazz


A noite

Sempre a noite

Sempre a indissolúvel noite

Sempre a trompete

Sempre a trépida trompete

Sempre o jazz

Sempre o xinguilante jazz


Um perfume de vida

esvoaça

adjaz

Serpente cabriolante

na ave-gesto da tua negra mão


Amor,

Vênus de quantas áfricas há,

vibrante e tonto, o ritmo no longe

preênsil endoudece


Amor

ritmo negro

no teu corpo negro

e os teus olhos

negros também

nos meus

são tantãs de fogo

amor.


(António Jacinto · 1924-1991)

domingo, 2 de junho de 2013

Sara Lazarus... e os ciganos


Venho de um tempo em que os mais velhos, por vezes, exortavam as crianças a obedecer a esta ou aquela ordem com uma ameaça quase sempre apenas pateta... embora, algumas vezes, ressumando um indisfarçável aroma de xenofobia: “Olha que vêm aí os ciganos e levam-te!”
Era quase sempre uma ameaça falhada. Ninguém acreditava. Na verdade, nunca soube de algum dos meus amigos ou conhecidos a quem tenha acontecido isso... mas mesmo assim, pensava muitas vezes como seria partir com os ciganos, em caravana, fazendo aquela vida “livre” que, para a miudagem, parecia fantástica. Claro que para tudo é preciso ter uma ponta de sorte. É o caso da Sara Lazarus.
Fazendo orelhas moucas aos avisos, esta jovem cantora de jazz deixou-se levar pelos ciganos... e “rais ma parta” se não ostenta um ar escandalosamente feliz por tê-lo feito!
Dos ciganos aqui em causa, os músicos que a acompanham ao melhor estilo do jazz “manouche”, destaca-se o gigante guitarrista Biréli Lagrène. Ela, a “raptada”, é uma natural dos EUA que actua maioritariamente na França.
É muito bom “ouver” cantar e tocar assim. Faz bem a (quase) tudo!
Bom domingo!
It’s all right with me” – Sara Lazarus
(Cole Porter)




domingo, 5 de maio de 2013

Maria Rita – Num tempo novo


Venho de um tempo antigo. Um tempo triste, em que os novos músicos que iam aparecendo eram tão “curiosos” e amadores com quase todos os que os tinham precedido... e não havia perspectiva de que muitos dos que se seguiriam viessem a ser mais qualificados.
Era um tempo em que as poucas saídas realmente profissionais para músicos qualificados, não iam além da música dita erudita... e fechada sobre si.
Era um tempo em que uma boa parte dos músicos que se diziam “do jazz” (felizmente havia maravilhosas excepções!), não passavam de pequenos aldrabões que, só à custa da falta de preparação de quem os ouvia, conseguiam disfarçar o óbvio: não saberem tocar, realmente, os instrumentos.
Depois, felizmente e fruto da abertura proporcionada por Abril, tudo começou a mudar para melhor. Hoje temos um belíssimo “exército” de músicos fantásticos, capazes de se aventurar em qualquer género musical, interessados na música portuguesa e atentos ao que se passa no resto do mundo. Gente muito nova, capaz de entender as nuances que separam uma canção do Zeca ou do Sérgio Godinho... do universo musical de um Tony Carreira, isto sem, em qualquer dos casos, baixarem o nível de profissionalismo e competência em palco ou em estúdio.
Afortunadamente, eu próprio cruzei o meu caminho com uma mão cheia destes “miúdos” cheios de talento, que dão um novo som ao que faço. Sem eles, provavelmente, já estaria a pensar em arrumar a guitarra de uma vez por todas.
E assim chegamos à Orquestra de hoje e ao vídeo que quero partilhar. Trata-se da Orquestra de Jazz de Matosinhos, um “bando” de músicos fantásticos que explicam, na prática, alto e bom som, tudo o que disse até aqui.
Entra em cena a artista convidada de hoje, a já aqui vista e ouvida Maria Rita.
Habituada ao cliché do fado, da saudade, da tristeza, do bacalhau, cliché que acompanha tudo o que é português na sua terra brasileira, Maria Rita não estaria, certamente, à espera daquele som fantástico de um jazz bem “contaminado” de brasil, produzida por uma orquestra portuguesa... em Matosinhos.
Pelos vistos gostou. Sentiu-se em casa, reconheceu o “balanço” com que foi embalada muitas vezes no colo da mãe, Elis Regina... e ouvindo a sua música e a dos seus tantos e tão talentosos amigos. O balanço da sua terra.
Pelos vistos gostou. Canta com um sorriso aberto. Dança como quem flutua. 
Bela, feliz, sensual... pura!
“Num corpo só” – Maria Rita e “OJM”
(Arlindo Cruz/Picolé)



domingo, 23 de setembro de 2012

Stacey Kent – Uma pausa para refrescar... e seguir viagem


Ao longo da vida fui alvo de várias atenções do Júlio Isidro, um profissional de rádio e televisão que, numa época em que os cantores como eu pareciam sofrer de lepra (uma situação tão grave e real, que fez muitos mudar de caminho) nunca deixou de me convidar para os seus programas e de divulgar a minha voz. Fico a dever-lhe mais uma: ter-me lembrado há poucas horas a Stacey Kent que, por pura distração, andava injustamente afastada das minhas audições.
Stacey Kent é uma jovem norte-americana atípica. É culta e alimenta um interminável interesse por outras culturas e línguas. Isso explica, provavelmente, o facto de os vários prémios e tremendos elogios da crítica que já recebeu, serem maioritariamente ingleses, franceses...
A atração pela música francesa levou-a a adquirir um francês invejável. Da mesma maneira, a paixão que “contraiu” pela música brasileira fê-la não achar suficiente ficar-se pelas versões em inglês e francês de canções como “Águas de Março”... e aí a temos, com o seu português cheio de pronúncia brasileira, a descobrir e a encantar-se com Portugal e a incluir no mais recente disco “O comboio”, uma canção com letra do poeta português António Ladeira.
Nos vídeos que partilho hoje, podemos ouvi-la (só ouvir também é bom!) cantar a pérola escrita e interpretada em 1971 por Carole King e tornada ainda mais famosa na versão de James Taylor,You’ve got a friend... e a atrever-se a cantar em francês uma daquelas canções que se julgaria só serem possíveis na voz da autora, BarbaraLe mal de vivre.
Já disse que a Stacey é uma norte-americana atípica. É-o também enquanto cantora de jazz, um género de artistas de quem muitas vezes se esperam verdadeiros números circences em palco e fogos de artifício vocais. Com ela, não! Com ela só há a melodia recriada sobriamente, com extremo bom gosto e um admirável respeito pelos autores, as letras (que ela diz tornarem a sua vida melhor)... e a voz doce.
Ouvir Stacey Kent tem o mesmo efeito de bálsamo que tinham alguns beijos sobre as nossas infantis feridas... reais ou imaginárias.
Bom domingo!
You’ve got a friend” – Stacey Kent
(Carole King)



Le mal de vivre” – Stacey Kent
(Barbara)