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sexta-feira, 7 de agosto de 2020

A noiva

À procura de uma boa imagem para ilustrar o texto que iria escrever sobre esta canção fantástica que descobri, por acaso, quando andei a mexer em vídeos do "Trio Odemira", uma pérola deste “Trio Gaúcho” sobre um noivado para a vida… palavra puxa palavra, imagem puxa imagem… fui “abençoado” com esta noiva do Fernando Botero.

Isto anda tudo ligado!



Anel de Noivado
(Trio Gaúcho)


 

domingo, 16 de junho de 2013

Villa-Lobos e o Choro nº1 – O regresso a casa...


Heitor Villa-Lobos (1887-1959), maestro e compositor brasileiro, foi um apaixonado das raízes da música do seu país. Acreditou que o poder e encanto da sua música “modernista”, viria da possibilidade de criar um som próprio e original. Conseguiu-o trazendo para a linguagem da erudição as tradições da música mais popular e mesmo da musicalidade indígena.
Executante de violoncelo e guitarra clássica, deixou uma obra fantástica exactamente para este último instrumento, obra que anda nas mãos de quase todos os guitarristas, desde então. O “Choro nº1” é, sem dúvida, uma das suas peças mais tocadas.
O José Afonso tinha este velho “LP” do grande guitarrista inglês Julian Bream, com a sua interpretação do “Choro nº1”. Acho que gastei aquela faixa do disco ao Zeca, tantas vezes a ouvi em casa dele... até saber de cor a melodia do “chorinho”. Quarenta anos depois desta “descoberta” e ouvidas muitas dezenas de outras interpretações, continuo convencido de que Bream captou como quase ninguém a “brasilidade” da peça, transmitindo aquele incomparável balanço popular, que a escrita erudita não consegue disfarçar.
Sempre imaginei (e é como a cantarolo para mim) o “Choro nº1” na versão e andamento em que o imagino tocado por um grupo de músicos populares, ou numa qualquer roda de choro de um bairro carioca. O acaso resolveu presentear-me com esta versão deliciosa do “Conjunto Época de Ouro”, grupo fundado nos anos 60 do séc.XX pelo grande Jacob do Bandolim. O grupo de “choro” teve um papel de verdadeira resistência cultural em favor da preservação e sobrevivência daquele género de música popular, numa época em que a “bossa” e outras grandes (e numerosas) novidades pareciam ir tomar de assalto todo o espaço musical.
Este “duelo” de interpretações do “Choro nº1”, entre o erudito Julian Bream, tocando a peça, como foi escrita pelo compositor... e entre o grupo tradicional, mostrando de onde foi “tirada” a música por Heitor Villa-Lobos... é fantástico. Como se o grupo popular “renacionalizasse” a peça musical, fazendo-a regressar à origem, depois de ter viajado pelos salões burgueses e salas de concerto de todo o mundo.
Bom domingo!
“Choro nº1” – J. Bream
(Heitor Villa-Lobos)



“Choro nº1” – Conjunto Época de Ouro
(Heitor Villa-Lobos)




domingo, 19 de maio de 2013

Arlindo Cruz – No seu lugar


“O meu lugar

É cercado de luta e suor

Esperança num mundo melhor

E cerveja pra comemorar

Ai que lugar

Tem mil coisas pra gente dizer

O difícil é saber terminar...”

Arlindo Cruz é já um histórico do samba. Ao longo da carreira foi sendo coberto de prémios e reconhecimento popular (não, nem sempre andam de mãos dadas). Reconhecimento pela genuinidade, pelo talento, pelas suas canções que falam do dia a dia do seu povo.
Hoje partilho um samba que o Arlindo Cruz dedica à sua Madureira. Ao mundo dos seus medos, amores, alegrias, superstições, fé, lutas, danças, cansaços, pó na garganta e toda a cerveja necessária para o lavar. Um hino às crianças, às mulheres, aos homens e, sobretudo, aos seus velhos, fonte de toda a tradição cultural, sabedoria e História.
Por imposição, enquanto jovem, imposição depois seguida de um voluntário estilo de vida pouco dado a sedentarismos... não sou de lugar algum! Se fosse, como gostaria de ser de um lugar que merecesse uma canção assim!
Bom domingo!
“O meu lugar” – Arlindo Cruz
(Arlindo Cruz)



domingo, 5 de maio de 2013

Maria Rita – Num tempo novo


Venho de um tempo antigo. Um tempo triste, em que os novos músicos que iam aparecendo eram tão “curiosos” e amadores com quase todos os que os tinham precedido... e não havia perspectiva de que muitos dos que se seguiriam viessem a ser mais qualificados.
Era um tempo em que as poucas saídas realmente profissionais para músicos qualificados, não iam além da música dita erudita... e fechada sobre si.
Era um tempo em que uma boa parte dos músicos que se diziam “do jazz” (felizmente havia maravilhosas excepções!), não passavam de pequenos aldrabões que, só à custa da falta de preparação de quem os ouvia, conseguiam disfarçar o óbvio: não saberem tocar, realmente, os instrumentos.
Depois, felizmente e fruto da abertura proporcionada por Abril, tudo começou a mudar para melhor. Hoje temos um belíssimo “exército” de músicos fantásticos, capazes de se aventurar em qualquer género musical, interessados na música portuguesa e atentos ao que se passa no resto do mundo. Gente muito nova, capaz de entender as nuances que separam uma canção do Zeca ou do Sérgio Godinho... do universo musical de um Tony Carreira, isto sem, em qualquer dos casos, baixarem o nível de profissionalismo e competência em palco ou em estúdio.
Afortunadamente, eu próprio cruzei o meu caminho com uma mão cheia destes “miúdos” cheios de talento, que dão um novo som ao que faço. Sem eles, provavelmente, já estaria a pensar em arrumar a guitarra de uma vez por todas.
E assim chegamos à Orquestra de hoje e ao vídeo que quero partilhar. Trata-se da Orquestra de Jazz de Matosinhos, um “bando” de músicos fantásticos que explicam, na prática, alto e bom som, tudo o que disse até aqui.
Entra em cena a artista convidada de hoje, a já aqui vista e ouvida Maria Rita.
Habituada ao cliché do fado, da saudade, da tristeza, do bacalhau, cliché que acompanha tudo o que é português na sua terra brasileira, Maria Rita não estaria, certamente, à espera daquele som fantástico de um jazz bem “contaminado” de brasil, produzida por uma orquestra portuguesa... em Matosinhos.
Pelos vistos gostou. Sentiu-se em casa, reconheceu o “balanço” com que foi embalada muitas vezes no colo da mãe, Elis Regina... e ouvindo a sua música e a dos seus tantos e tão talentosos amigos. O balanço da sua terra.
Pelos vistos gostou. Canta com um sorriso aberto. Dança como quem flutua. 
Bela, feliz, sensual... pura!
“Num corpo só” – Maria Rita e “OJM”
(Arlindo Cruz/Picolé)



domingo, 10 de março de 2013

Simone - Nas escolas, nas ruas, campos, construções...


“Vem vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer”

É uma velha canção que vem já dos anos sessenta do século XX. O autor, Geraldo Vandré, fez um hino à liberdade. À liberdade conquistada, participada, activa, generosa, consciente. Fê-lo, corajosamente, numa altura em que na sua grande terra brasileira se vivia uma sangrenta ditadura militar fascista. Fê-lo, afrontando directamente a ditadura, ao concorrer com a canção a um festival de música popular... e ficando em segundo lugar, com milhares de pessoas a gritar na plateia o seu protesto por esta não ter ganho.
Sei que não estamos a viver uma situação igual... mas tenho-me lembrado muito desta canção!
A Simone (independentemente do que fez da sua carreira posteriormente) cantou-a muitas vezes... quando isso não era “seguro”. Quando isso dava problemas sérios. Entre várias outras coisas... admiro-a por isso!

Bom domingo!
“Pra não dizer que não falei das flores” – Simone
(Geraldo Vandré)




domingo, 24 de fevereiro de 2013

Carminho e Chico Buarque – Lá fora, amor, uma rosa nasceu...


Quando pessoas "afastadas" por quarenta anos de idade, milhares de quilómetros e até “separados pela mesma língua”... como disse (com graça) alguém, a propósito de portugueses e brasileiros... pode não acontecer nada, pode acontecer o clássico conflito de gerações... ou coisas maravilhosas.
Uma dessas coisas maravilhosas aconteceu neste encontro de Carminho com Chico Buarque, à volta desta "Carolina" com que ele concorreu a um festival de música popular, em 1967... quando faltavam ainda quase vinte anos para a Carminho nascer.
Uma série infelizmente numerosa de casos de jovens cantores e cantoras que, numa primeira audição me fizeram ficar em estado de “uau!”, para pouco tempo depois se deslumbrarem com os elogios a esta ou aquela “habilidade” vocal, ou fórmula musical, passando a apostar tudo nessas “habilidades” e fórmulas, até ao enjoo, transformando o que tinha começado por ser uma legítima esperança, numa sequência de “números circenses” de gritaria e repetição de truques... faz-me sentir alguma ansiedade de cada vez que ouço uma novidade extraordinária.
Carminho é, até agora, uma dessas novidades extraordinárias! Espero que, com a inteligência que demonstra sempre que fala e o talento que lhe sobra, quando canta, não se deixe enredar em armadilhas musicais do tipo em que "embarcou" com o moçoilo espanhol delicodoçe de há uns tempos... e se concentre na sua arte verdadeiramente única.
Para fazer duetos, que sejam fantásticos! Como este.
Bom domingo!
“Carolina” – Carminho e Chico Buarque
(Chico Buarque de Holanda)



domingo, 17 de fevereiro de 2013

Brasil pandeiro – Quando o bom é amigo do óptimo


“Chegou a hora dessa gente “bronzeada” mostrar seu valor...”
Começa assim a letra de um histórico samba composto ainda nos anos 40 por Assis Valente. É um verdadeiro hino ao povo brasileiro e à sua cultura, um samba irresistível e genial que, depois de um período de incompreensão inicial, resultado da falta de gosto (e cultura) da artista a quem se destinava, acabou por ser largamente reconhecido. Foi já interpretado por centenas de artistas e mantem-se em grande forma, podendo, a ver pela letra... continuar a ser cantado por toda a gente (com excepção do Arménio Carlos, evidentemente!).
Partilho-o convosco em dois diferente vídeos. O primeiro, com Ivete Sangalo e a grande sambista Beth Carvalho.
A Ivete Sangalo, trasbordando talento e fazendo tudo o que é possível para agradar a uma plateia que sabe ser composta por apreciadores da Beth, num espectáculo em que era convidada da histórica artista. A mostrar que, como já tenho dito, devia “visitar” a música de qualidade mais vezes... quanto mais não fosse, para descansar daquelas loucuras mais ou menos “aeróbicas” com que faz quase todo o dinheiro que (muito justamente!) ganha.
Já Beth Carvalho, não precisa de fazer rigorosamente nada... ou, pelo menos, dá a ideia de que não faz. Os sambas parecem todos ter nascido na sua garganta, por onde escorrem com doçura e com a misteriosa simplicidade das coisas naturais.
Visto este vídeo, fica a sensação de que mais nada se poderia fazer com este samba.
É aí que entra o segundo! Qual é forma inteligente de repetir uma coisa irrepetível, de “bater” uma versão imbatível? É esta! Criar um produto tão diferente, tão criativo, tão bem feito, tão respeitador da raiz e da cultura que lhe deu vida... que esse produto se transforma num renascimento, num abraço de ternura ao original.
Para conhecer toda a gente que faz este vídeo delicioso, basta estar com atenção até ao fim, quando passa uma ficha técnica com a identificação de todos... mas atenção à jovem cantora Luê. Ainda agora gravou o seu primeiro disco, mas desconfio que iremos continuar a ouvir falar dela.
Bom domingo!
“Brasil pandeiro” – Beth Carvalho e Ivete Sangalo
(Assis Valente)


“Brasil pandeiro” – Luigi Bertolli
(Assis Valente)



domingo, 27 de janeiro de 2013

Mónica Salmaso – “Até a vista se atrapaia, ai, ai, ai...”


Hoje temos uma recolha de folclore brasileiro (um colhido, como dizem por lá). É uma cantiga deslumbrante, muito bem acompanhada à viola por Paulo Freire, que chama para a cantar, uma cantora “boa absurdo!”, segundo as suas palavras.
E é mesmo “boa absurdo”! É a Mónica Salmaso, cuja preferência pela cultura, pela música de recolha, a música mais comprometida com a qualidade literária, embora não a impedindo de ter um vasto público, não se pode dizer que lhe tenha aberto as portas do estrelato. Dá gosto ouvir correr a sua voz. Dá gosto ouvi-la ousar “falar errado”... coisa que repugna a tantos intelectuais de pacotilha.
Quanto à cantiga, o Cuitelinho” (beija-flor)... que diacho se pode dizer de uma coisa assim doida de bonita?
Espero que vos chegue ao peito, que como a letra diz no final (sim, é preciso ouvir até ao fim!), «é onde o coração “trabaia”».
Bom domingo.
Cuitelinho” – Mónica Salmaso
(Popular – Recolha de Paulo Vanzolini e António Xandó)



sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Roda viva – Quem não anda?...


“Os saltimbancos” e “Roda viva”. Duas obras teatrais que viram a luz do dia em tempos turbulentos no Brasil. Ambas têm a marca de Chico Buarque. A primeira, que ele adaptou para português a partir do texto original de Sergio Bardotti e música de Luis Enríquez Bacalov, a que acrescentou mais umas músicas da sua lavra. A segunda, a sua primeira peça teatral, escrita em 1967, com uma canção-tema com o mesmo nome da peça.
“Os saltimbancos” é um musical infantil, que aborda subtilmente a luta de classes, através da estória de um burro, um cão, uma galinha e uma gata… todos contra o “Barão”, o inimigo dos animais.
É impossível igualar a maravilha que foi o elenco original, com Pedro Paulo Rangel e Grande Otelo, as jovens Marieta Severo, Miúcha, Bebel Gilberto (filha de João Gilberto e Miúcha), Sílvia Buarque (filha do Chico e da Marieta), Isabel Diegues (filha de Nara Leão e Cacá Diegues)… e por aí fora.
Quanto à “Roda viva”, essa fiou mais fino! Com um elenco inicial composto por Marieta Severo, Heleno Prestes e António Pedro, teve uma primeira temporada de sucesso. Depois… veio a borrasca.
Já com Marília PeraAndre Valli e Rodrigo Santiago, o espectáculo começou a estar na mira do CCC (Comando de caça aos comunistas), que por duas vezes invadiu os teatros durante a representação, espancando os artistas e destruindo todo o material. Acabou proibida!
Dando um salto de quase cinquenta anos, para Montemor-o-Novo, o meu filho mais “recente”, de sua graça Paulo, decidiu trabalhar com alguns muito jovens rapazes e raparigas montemorenses, numa produção da Associação Theatron, fazendo uma versão muito livre do texto de “Os saltimbancos” (sem as canções), juntando-lhe, a dado passo, a tal canção do Chico Buarque, “Roda viva”.
Levaram a coisa à cena numa das salas do Convento da Saudação, com o apoio do “Espaço do Tempo” do coreógrafo Rui Horta. Diz quem viu, que foi coisa fina. Eu também gostei… mas neste caso a minha opinião não conta lá grande coisa!
Estabelecidas as “distâncias” entre os muitos e célebres actores e cantores originais e a miudagem montemorense, constituída por (ainda) não-actores e não-cantores, aqui fica a “Roda viva”, que eu tive o maior prazer em alindar com uns sons que me pareceram adequados para a idade dos participantes, gravar as vozes de dez dos mais jovens elementos da Oficina do Canto, também de Montemor… e misturar tudo. Boa audição!



domingo, 20 de janeiro de 2013

Mayra – O que será...


Mayra Andrade “persegue-me”... o que é uma sorte que não tem preço!
Os franceses adoram a Mayra Andrade... o que só confirma o tão celebrado bom gosto de muitos franceses!
O Benjamin Biolay é um dos grandes criadores de canções da nova geração de consagrados, que ainda há bem poucos anos era uma revelação. Não pode ser considerado o cantor-tipo... se o critério de apreciação for aquele que preside aos programas de televisão “trituradores” de sonhos de miúdos e miúdas a quem é exigido que tenham grandes vozes e imitem cegamente este cantor ou aquela cantora. Logo, pelos meus critérios... tem tudo para agradar!
Sobre a Mayra já não falo. Se o fizesse. Seria como que uma espécie de discurso por intermináveis camadas, elogio sobre elogio... encantamento sobre encantamento...
Juntaram-se, ao vivo, para nos “colar” aos sentidos uma versão a dois de um clássico do Chico Buarque, “O que será (à flor da pele)”. Ele canta a versão francesa criada por um grande que já partiu, Claude Nougaro, versão que toda a gente trauteia, em França... nos meios mais dados à canção inteligente.
Ela... ela canta na língua original, o que na sua voz tem aquele sotaque de um misterioso “brasileiro” contaminado por Cabo Verde, depois canta em francês com ele, depois canta sem letra nenhuma... depois é uma grande maluqueira! Uma maluqueira doce, meio sussurrada, hipnótica... mas eu já disse que não falava sobre ela!
Bom domingo.
“O que será/Tu verras” – Mayra Andrade e Benjamin Biolay
(Chico Buarque de Hollanda)



domingo, 13 de janeiro de 2013

Dominguinhos e Yamandu – E o que eles se divertem?!!!


Dominguinhos é um enorme artista brasileiro! Ainda criança foi declarado pelo “rei do baião”, o histórico sanfoneiro e autor de “Asa branca”, Luís Gonzaga, herdeiro do seu legado artístico. Luís Gonzaga não poderia ter escolhido melhor!
De facto, rompendo com a possível limitação de ser apenas mais um sanfoneiro de província, Dominguinhos abriu os olhos e os ouvidos ao mundo, bebeu água de todas as fontes (coisa invejável, que se sabe ser mais importante que ter carros, parelhas e montes) e transformou-se num músico extraordinário, capaz de tornar um “baião” num standard de jazz... ou pegar num standard de jazz e contaminá-lo irremediavelmente com o sabor caipira das suas origens populares.
Há já quase um mês que um muito complicado quadro clínico o tem confinado a uma cama de hospital. Este post é também uma forma de desejar o melhor para Dominguinhos.
Hoje, depois de uma escolha que poderia ter recaído em dezenas de temas primorosamente tocados, proponho-vos este “Tico-tico no fubá”, seguido de "Asa branca/Prenda minha", recriados de forma espantosa, com a ajuda do sempre vertiginoso – e já nosso conhecido – Yamandu Costa.
Claro que enquanto fui ouvindo as várias músicas tocadas pelo Dominguinhos em parceria com o Yamandu... as minhas guitarras embalaram a trouxa e abandonaram o lar. Já me ameaçaram de que só voltam se eu prometer tentar, pelo menos, chegar a tocar “assim tipo”...  como o brasileiro. Mais uma vez, terei que lhes mentir descaradamente: que sim... que vou tentar, prometo...
Bom domingo!
“Tico-tico no fubá” – Dominguinhos e Yamandu Costa
(Zequinha de Abreu)



"Asa branca/Prenda minha" - Dominguinhos e Yamandu Costa
(Luís Gonzaga/Folclore do Rio Grande do Sul)




domingo, 6 de janeiro de 2013

Afasta de mim esse cálice!


Há muitos anos (1973), em plena ditadura militar nos Brasil, Gilberto Gil e Chico Buarque participaram em duo num concerto em que seria suposto cantarem “Cálice”, uma canção escrita pelos dois expressamente para essa ocasião.
Previamente ouvida pela censura, a canção foi de imediato proibida.
Para encurtar a estória... os dois, contra as ordens recebidas, acabaram a cantá-la, em palco, apenas com a letra tartamudeada, entrecortada repetidamente pela palavra “cálice”, que faz realmente parte da letra... mas que na pronúncia brasileira resultou num provocador “Cale-se!”, cantado até que a organização lhes foi desligando os microfones um a um.
Sabemos bem que ainda não estamos aí... e, pelo menos alguns de nós, sabem bem qual o sabor daquele “vinho tinto de sangue” de que fala (realmente) a canção. Felizmente, sabemos também que os soldados mais dificilmente são apanhados a dormir, são aqueles que montam sentinelas e estão de prevenção e alerta.
O segundo vídeo, desta vez com Milton Nascimento e cantado sem censura, serve para quem ainda não tenha ouvido, ficar a conhecer... e para todos os restantes que já conhecem poderem recordar uma canção histórica.
Bom domingo.
“Cálice” (versão censurada) – Chico Buarque e Gilberto Gil
(Chico Buarque e Gilberto Gil)


“Cálice” – Chico Buarque e Milton Nascimento
(Chico Buarque e Gilberto Gil)



domingo, 23 de dezembro de 2012

Elis e Maria Rita – A fusão total


Durante cinco anos foi apenas a menina da sua mãe. Tímida, armações de óculos muito grossas, um olho vendado, extremamente estrábica. E ficou órfã.
Depois “descobriu” realmente o que é ser-se filha de Elis Regina. Foi uma adolescente esmagada pela memória da sua mãe. Descobriu que fora uma artista genial, cantora inesquecível, figura inultrapassável na cena artística brasileira, um ícone da força que foi precisa nos anos de chumbo do Brasil fascista.
Só aos 24 anos teve a coragem de cantar para o mundo, embora o quisesse fazer desde muito mais jovem. Mesmo assim, deve tê-lo feito com a noção de que lhe cairiam em cima as suspeitas do costume nestes casos: que quereria fazer carreira à custa da mãe, que a imitava propositadamente... isso para além da inveja daqueles que nem precisam de razões ou desculpas para a inveja... para além da própria inveja.
Venceu! Agora, ao fim de vários anos de carreira e muitos prémios conquistados, achou finalmente que podia e devia fazer aquilo que até agora nunca tinha ousado: cantar Elis Regina.
Em vez de incluir, discretamente, uma qualquer canção do reportório da mãe num novo disco, decidiu montar um espectáculo inteiro (acompanhado de CD e DVD), em homenagem à grande Elis. O resultado é tremendo!
No primeiro vídeo podemos ouvir Elis Regina cantando um dos seus grandes clássicos, “Como nossos pais”.
No segundo, vemos a Maria Rita cantando a mesma canção, invadida, como sempre, pela herança avassaladora que carrega na voz... mas inda “resistindo” fazendo diferente aqui e ali...
No terceiro, é a rendição total. Este “Águas de Março” é arrepiante. Como se fosse um dueto cantado por um corpo só.
Há particularidades nas interpretações de uma e de outra.
Claro que a Maria Rita tem o toque extra que é a emoção de ver, segundo a segundo, concerto a concerto, o quanto a sua própria mãe é lembrada, amada e cantada em coro por tantos milhares de pessoas
Claro que a interpretação da Elis, na primeira canção, traz um dramatismo e um rasgar de voz únicos que, para além de serem a marca de água da cantora eram o resultado do facto de ser cantada sob um regime brutal de ditadura militar e censura... um “pormenor” que pode mudar para sempre a nossa maneira de cantar, como nós bem sabemos.
Bom domingo!
“Como nossos pais” - Elis Regina
(António Carlos Belchior)


“Como nossos pais” – Maria Rita
(António Carlos Belchior)


“Águas de Março) – Maria Rita
(Tom Jobim)




domingo, 18 de novembro de 2012

Pitanga em Pé de Amora – um nome a fixar, sem lugar para dúvidas!


Quando um grupo musical se dedica a reproduzir e revisitar as músicas do passado, a linha que o separa do pastiche e do saudosismo barato é sempre muito ténue e perigosamente fácil de transpor.
Quando, pelo contrário, como fazem estes paulistanos, se recriam os ambientes dessas músicas, nalguns casos, ambientes dos tempos dos avós, com músicas e letras feitas hoje, originais e com tamanha frescura, arte, rigor e alegria... então tudo “vira” uma coisa do futuro.
São jovens (Diego CasasAngelo Ursini, Gabriel Setúbal, Flora Poppovic e Daniel Altman), todos tocam, cantam eles, canta ela... e fazem tudo bem!
Grande grupo! Grande primeiro disco! Grande descoberta! Venham mais!
Bom domingo!
“Choro (bate boca)” – Pitanga em Pé de Amora
(Diego Casas/Angelo Ursini)



domingo, 11 de novembro de 2012

Roberta Sá e João Bosco – Mais uma janela... para a beleza


Já não há muito para dizer sobre Roberta Sá e João Bosco... ainda que soubesse...
Hoje proponho mais um dueto. 

Ele, um dos grandes do Brasil! Autor, compositor, intérprete, guitarrista desconcertante, “inventor”, por exemplo, de alguns dos mais arrebatadores êxitos de Elis Regina. Diz que anda nisto há quarenta anos... razão para este tema fazer parte do DVD “Quarenta anos depois”.
Ela ainda vai longe dos quarenta anos, seja de carreira, seja de idade... e vão ser incontáveis os duetos que ainda fará. Quem no seu estado perfeito de juízo não quererá cantar com esta mulher mágica?
Quanto ao restante acompanhamento instrumental, contribuição do “Trio Madeira Brasil”... não consigo imaginar uma única forma de ser melhor.
A canção, “De frente pro crime”, mais uma grande parceria de João Bosco com o letrista Aldir Blanc e gravada originalmente em 1975, é tremenda na sua abordagem à “tragicomédia” da violência urbana, porta com porta com a indiferença de uns e a festa de outros. A saborear... nota por nota, palavra por palavra.
Bom domingo!
“De frente pro crime” – Roberta Sá e João Bosco
(Aldir Blanc/João Bosco)



domingo, 28 de outubro de 2012

Chico Buarque – Chame ladrão!


Servindo-se da sua forma encantadora de, por vezes, retratar realidades sinistras, o Chico Buarque escreveu, há muitos anos, uma canção descrevendo o sobressalto da repressão, da perseguição política, das prisões, da tortura, dos assassinatos, do afastamento, do exílio, do nojo da ditadura militar que durante tanto tempo esmagou o Brasil.
Eram anos de chumbo... em que, como se diz na cantiga, quando a hora chegava, quando "tinha gente lá fora batendo no portão", não adiantava chamar a polícia. A polícia era o inimigo. Era melhor chamar um ladrão...
Também nós já vivemos nesse mundo execrável. Agora, ao arrepio da História e do futuro, há quem esteja a perturbar a nossa linha do tempo, torcendo-a, obrigando-a a apontar de novo ao passado.
Não, inda não chegámos lá! Só que aquilo que é realmente decisivo na História da Humanidade raramente acontece por acaso. O passado só não regressará, se lhe fizermos frente!
Bom domingo!
“Acorda amor” – Chico Buarque
(Francisco Buarque de Holanda)



domingo, 23 de setembro de 2012

Stacey Kent – Uma pausa para refrescar... e seguir viagem


Ao longo da vida fui alvo de várias atenções do Júlio Isidro, um profissional de rádio e televisão que, numa época em que os cantores como eu pareciam sofrer de lepra (uma situação tão grave e real, que fez muitos mudar de caminho) nunca deixou de me convidar para os seus programas e de divulgar a minha voz. Fico a dever-lhe mais uma: ter-me lembrado há poucas horas a Stacey Kent que, por pura distração, andava injustamente afastada das minhas audições.
Stacey Kent é uma jovem norte-americana atípica. É culta e alimenta um interminável interesse por outras culturas e línguas. Isso explica, provavelmente, o facto de os vários prémios e tremendos elogios da crítica que já recebeu, serem maioritariamente ingleses, franceses...
A atração pela música francesa levou-a a adquirir um francês invejável. Da mesma maneira, a paixão que “contraiu” pela música brasileira fê-la não achar suficiente ficar-se pelas versões em inglês e francês de canções como “Águas de Março”... e aí a temos, com o seu português cheio de pronúncia brasileira, a descobrir e a encantar-se com Portugal e a incluir no mais recente disco “O comboio”, uma canção com letra do poeta português António Ladeira.
Nos vídeos que partilho hoje, podemos ouvi-la (só ouvir também é bom!) cantar a pérola escrita e interpretada em 1971 por Carole King e tornada ainda mais famosa na versão de James Taylor,You’ve got a friend... e a atrever-se a cantar em francês uma daquelas canções que se julgaria só serem possíveis na voz da autora, BarbaraLe mal de vivre.
Já disse que a Stacey é uma norte-americana atípica. É-o também enquanto cantora de jazz, um género de artistas de quem muitas vezes se esperam verdadeiros números circences em palco e fogos de artifício vocais. Com ela, não! Com ela só há a melodia recriada sobriamente, com extremo bom gosto e um admirável respeito pelos autores, as letras (que ela diz tornarem a sua vida melhor)... e a voz doce.
Ouvir Stacey Kent tem o mesmo efeito de bálsamo que tinham alguns beijos sobre as nossas infantis feridas... reais ou imaginárias.
Bom domingo!
You’ve got a friend” – Stacey Kent
(Carole King)



Le mal de vivre” – Stacey Kent
(Barbara)


domingo, 12 de agosto de 2012

MPB4 - Até sempre, Magro Waghabi!


No passado dia 8 morreu Magro Waghabi (António José Waghabi), aos 68 anos. Foi um dos fundadores do histórico agrupamento musical brasileiro MPB4. Na fotografia, é o segundo, a contar da esquerda. Não tinha dado pela notícia, mas a Adriana (sim... a Adriana) teve o cuidado de mo lembrar. Estes domingos musicais nunca abriram (nem virão a abrir) uma secção de “discos pedidos”, pelo risco que isso acarreta... mas no caso da Adriana não há perigo. Bom gosto musical tem ela de sobra... e para além disso, agradeço-lhe a chamada de atenção.
O MPB4 é, desde 1965, um marco na música popular brasileira, da música “inteligente” - como dizem em Cuba – e manteve-se fiel até hoje ao compromisso que fez os quatro amigos enfrentarem os “anos de chumbo”, intervindo com a sua arte. Anos de censura, perseguição e as dificuldades e privações correspondentes.
Nos primeiros tempos eram considerados como mais uma voz de Chico Buarque, tal era a intensidade da colaboração com aquele cantautor, tanto em gravações, como espectáculos ao vivo. Uma voz diferente, colectiva, com harmonias novas e um som que se tornou uma “marca registada”.
Não sei que efeito, para além da dor, terá para os restantes elementos do grupo a morte do seu companheiro de sempre. Espero que essa dor se sublime num canto ainda mais sentido. Ainda mais urgente.
A escolha da Adriana é “Amigo é pra essas coisas”, um sucesso de 1970. A minha escolha é “Roda viva”, de 1967, talvez o melhor exemplo da frutuosa parceria com o Chico.
Qualquer um dos dois vídeos corresponde a gravações recentes, depois de todos eles terem feito anos, como todos nós... e na “Roda viva” o Chico comete a proeza técnica de, em estúdio, se misturar com a gravação ao vivo dos seus velhos amigos, confirmando mais uma vez o título ganho há muitos anos: o de “quinto elemento do quarteto”, como se dizia, então, por graça.
Bom domingo!
“Amigo é pra essas coisas” – MPB4
(Aldir Blanc/Sílvio da Silva Jr.)



“Roda viva” – MPB4 e Chico Buarque
(Francisco Buarque de Holanda)