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sábado, 22 de maio de 2010

Estão loucos

As sondagens de hoje do Expresso são elucidativas sobre o divórcio entre o governo e o país. 79% dos inquiridos acha que o TGV deve ser adiado. Praticamente quatro quintos do país percebe o óbvio que o governo se recusa a interiorizar. Apenas 14,5% acham que deve continuar. Ou seja, parece que menos de metade do equivalente ao eleitorado do PS está de acordo com o governo.

Um governo que toma uma decisão duramente criticada pelos nossos melhores e esmagadoramente repudiada pelo eleitorado não está louco?

Mas parece que não estamos sós:

http://www.publico.pt/Economia/tgv-portugal-espanha-e-franca-vao-pedir-a-ue-prioridade-maxima_1438303

“TGV: Portugal, Espanha e França vão pedir à UE prioridade máxima”

Se a Alemanha não puser um travão nesta loucura colectiva, se a Alemanha não tomar consciência do bando de irresponsáveis que a acompanham no euro, vamos esbarrar muito proximamente “numa parede junto de si”.

Se na segunda-feira os investidores tiverem um ataque de pânico perante a pura incompetência destes governos, não se esqueçam de repetir a fábula dos “especuladores”.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

António José Seguro

Só agora li a entrevista do Expresso a António José Seguro publicada no último sábado e gostei claramente. Está consciente dos problemas do afastamento da classe política da realidade, percebe que em Portugal “nos pusemos a jeito” para sofrer com a crise internacional: “O nosso crescimento económico é muito baixo e consumimos acima das nossas possibilidades.”

António Costa poderá ser mais inteligente e ter mais experiência, mas está completamente dentro do sistema (a sua prestação na Quadratura do Círculo é tão constrangedora que muitas vezes desligo a TV), não mostrando ter um décimo da liberdade de pensamento de António José Seguro. Este tem muitíssimo mais facilidade de dialogar do que Sócrates, uma qualidade importantíssima na actual crise.

As últimas palavras de Passos Coelho não se percebem (dizer que lança moção de censura se se concluir que Sócrates mentiu à AR), mas talvez tenhamos mais cedo do que o esperado uma contenda entre Passos Coelho e António José Seguro para o cargo de PM.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Socorro!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Na Europa o problema prioritário a resolver são as agências de rating:

http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=426155

Em Portugal, o ministro Vieira da Silva, em resposta aos avisos do presidente do BPI, “garante que nada mudou nos últimos dois anos, sublinhando que ‘Portugal sempre teve capacidade de se financiar’ ".

“nada mudou nos últimos dois anos” nas nossas condições de financiamento?????????????????????????????????????????????????????

Parece que estamos a fazer todas as asneiras possíveis para bater o mais depressa possível na parede!

domingo, 18 de abril de 2010

O papão dos bancos estrangeiros

Nicolau Santos escreveu ontem no Expresso um interessante artigo sobre o futuro da banca portuguesa, mas que acaba com uma dúvida estranha. Começa por falar na elevada probabilidade dos estrangeiros aumentarem a sua participação na banca portuguesa, mas depois teme que isso coloque entraves ao financiamento da economia.

Fico perplexo. Há bancos estrangeiros que estão interessados em comprar bancos portugueses para depois lhes reduzirem o negócio?

É evidente que tudo aponta para que o negócio bancário tenha taxas de crescimento menores nos próximos anos, por todas as razões e mais alguma, começando pelo excesso de endividamento da economia. Se os bancos portugueses passarem para mãos estrangeiras isso será porque não há capitais suficientes para permitirem o seu negócio “normal”, mesmo assim mais reduzido do que a experiência recente. Se não forem vendidos então é que a economia ficaria estrangulada de financiamento.

Mais ainda, se for verdade que accionistas portugueses permitem níveis de endividamento maiores do que accionistas estrangeiros, então é absolutamente lamentável que os bancos portugueses não estejam há mais tempo nas mãos de estrangeiros, porque isso significaria que os nossos problemas gravíssimos de endividamento seriam agora bem menores.

sábado, 29 de agosto de 2009

Prioridades

“Paula Teixeira da Cruz e Azevedo Soares consideram pobres as propostas da líder do PSD para o País.” (Diário de Notícias)

http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1347661

Pina Moura no Expresso afirma que o programa eleitoral do PSD é “mais duro e mais focado” do que o do PS. Prioridades.

sábado, 9 de maio de 2009

Inconsciência

O Expresso de hoje publica uma sondagem onde os juízes e magistrados do MP aparecem abaixo dos políticos na avaliação dos cidadãos. Estes inquéritos de opinião já davam os juízes muito abaixo da sua posição “natural” nos estudos de outros países, mas nunca abaixo dos políticos, que ocupam sempre o fundo da tabela. Ou seja, nunca a imagem da justiça esteve tão degradada.

O PGR diz que se tem que melhorar, embora não esclarece quem tem que o fazer. Já João Palma (do sindicato dos magistrados do MP) e António Martins (do sindicato do juízes) falam em leis mal feitas, escassez de meios, blá, blá, blá…

Ou seja, apesar destes resultados tão extraordinariamente negativos, não se assume um átomo de responsabilidade. Se os altos responsáveis do sector não assumem nenhuma responsabilidade pelo que está mal, como é que os portugueses podem ter um mínimo de confiança no sistema? O primeiro passo para a recuperação da credibilidade tem que ser o assumir de responsabilidades pelo que está mal.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Legislação pró-corrupção

Parece que existe um DVD gravado sem autorização que demonstraria um caso óbvio de corrupção envolvendo o licenciamento do Freeport. Mas, no nosso maravilhoso enquadramento jurídico esta gravação “é ilegal e não tem qualquer valor jurídico em Portugal. ‘Só são válidas recolhas de imagem autorizadas por um juiz’, explica um advogado. Em Inglaterra, o sistema jurídico é diferente e o DVD pode ser aceite como prova caso tenha informação relevante.” (Expresso de hoje, P4).

Imaginem que alguém se vê envolvido num aliciamento de corrupção. Poderia ser tentado a gravar o aliciamento, para fazer a acusação e se defender de eventuais acusações de ofensa ao bom nome. Pois em Portugal, um corrupto que seja acusado por esta via, fica ilibado e até tem o direito de receber uma indemnização por ofensas. Eu não me conseguiria lembrar de uma legislação que fomentasse melhor a corrupção.

O que é que estão à espera para alterar esta vergonhosa legislação? Quem é que vai ter o descaramento de se opor?
Mas podiam colocar a gravação no You Tube, já que em Inglaterra é legal. Gostava de ver a pressão sobre a justiça e os legisladores portugueses…

sábado, 27 de dezembro de 2008

Passos Coelho merecia mais

Considero que Passos Coelho ainda não tem currículo para ser PM. Parece-me mesmo que seria um desastre Portugal voltar a ter um PM quase sem experiência executiva, como foi o caso de Guterres. Isto dito, parece-me que Passos Coelho tem tido um comportamento que é genericamente de louvar. Hoje no Expresso, p. 6, afasta liminarmente a hipótese de um congresso antes de eleições. Penso que Manuela Ferreira Leite faria bem em o acolher numa posição próxima. Passos Coelho é uma óbvia mais valia e aumentava a unidade do partido, sobretudo agora que os santanistas já devem estar quase calados. Sobravam só os menezistas, completamente desacreditados.

sábado, 27 de setembro de 2008

Vendam as casas

Segundo o Expresso de hoje, a CML tem 3246 fogos no seu património disperso, com uma renda média de 35,48 euros, sendo que 40% estarão vagos (e os privados é que são responsáveis pela desertificação de Lisboa…). A atribuição destes fogos a rendas mais do que subsidiadas não tem seguido nenhum critério razoável.

Admitindo um valor médio (baixo) de 150 mil euros por fogo estamos a falar de um património de perto de 500 milhões de euros. Um património que a CML nem conhece com exactidão, segundo Manuel Damásio, coordenador do levantamento deste património “concluído, mas não entregue por falta de pagamento.” Palavras para quê?

Esta é a mesma CML que ainda há pouco estava aflita e incapaz de obter um empréstimo. Se isto não é incompetência, o que é incompetência? Das estórias que se conhece de atribuição destas casas, surge uma ideia clara: é mil vezes preferível que a CML venda a maioria destes fogos (desde logo os que estão vagos), para evitar criar situações obscuras, tendo o óbvio cuidado de desocupar previamente os fogos a vender. O resto poderia ser utilizado para rejuvenescer a cidade, atribuindo casas a jovens, mas por períodos limitados e, sobretudo, bem definidos. Assim, poderia haver um renovar sucessivo de rejuvenescimento.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Título esquecido

A manchete do Expresso deste fim de semana era: “Lisboa é a região da UE com mais auto-estradas”. Estranhamente, não tenho visto muita repercussão desta notícia.

O que ela nos diz é que o argumento do défice de infra-estruturas para continuar a insistir no betão já nem sequer é válido. Para além disso, o argumento da estabilização macroeconómica é, na actual conjuntura, um rematado disparate. Do que precisamos é de recuperar a competitividade e não estimular a procura interna.

Mas o PSD continua a dormir ou a entreter-se com a irrelevância ou a enlamear-se com interferências ridículas na RTP.

sábado, 5 de abril de 2008

PSD e Menezes sempre a cair

Na sondagem Eurosondagem publicada da hoje no Expresso (em parceira com SIC e Rádio Renascença) Menezes cai pelo quarto mês consecutivo (um pouco irritante esta instabilidade de uma vezes publicarem os números e outras não). O PSD está com performance ligeiramente menos má do que o seu “líder”, mas cai pelo terceiro mês consecutivo, para 29,4%. Palavras para quê?

Entretanto Sócrates aguenta-se, sendo o governo e o PS quem mais sofre pelo desgaste governativo. Os grandes beneficiários são a CDU e o BE, os partidos dos irresponsáveis que não têm que confrontar as suas propostas com eventuais futuras aplicações. A esta distância das eleições não nos devemos preocupar excessivamente com estas intenções de voto anti-sistema, mas são um sinal a não ignorar.

O CDS ganha marginalmente (0,2pp para 6,0%), mantendo-se claramente no último lugar dos 5 partidos principais. Até quando se vai manter este vazio do lado direito do espectro político?

sexta-feira, 21 de março de 2008

Professor erra

Marcelo Rebelo de Sousa deu umas aulas de história do PSD esta semana, em Lisboa. Dos resumos publicados hoje no Expresso (p. 8) e Diário de Notícias (p. 2-3) escolho, do primeiro: “Mais do que a análise da situação política, valeu a viagem ao passado”.

Mesmo nesta “viagem ao passado” discordo do ponto 9. no Expresso. “Os que tiveram tempo para se preparar foram os que marcaram o partido – Sá Carneiro e Cavaco Silva”. Esta afirmação não tem sentido. Quanto tempo teve Sá Carneiro para se preparar para lidar com o turbilhão do 25 de Abril? Quanto tempo teve Cavaco Silva para se preparar entre a eleição como líder do partido em Maio de 1985 e ganhar as eleições em Outubro desse mesmo ano? Já Durão Barroso, com uma tão precoce intervenção política e ascensão meteórica, pode dizer-se que teve 20 anos para se preparar para líder. Foi o que se viu. Não me parece que “tempo” seja aqui a palavra-chave. “Por isso o professor defende que o PSD não se deve precipitar e deve dar tempo a Menezes.” Como não concordo com a análise só posso discordar com o corolário. Aliás, esta tentativa de comparar aqueles líderes históricos com Menezes é do domínio do delírio.

Mais à frente: “Quando o PSD sobrepõe a visão de partido de militantes à de partido de eleitores, os militantes podem ficar muito felizes, mas o PSD perde o país” E ainda o partido é “agradecido aos dirigentes que mimam as bases, como Nogueira, Mendes ou Menezes”. Aqui há um indício de contradição de Marcelo. Mas não a vou cavalgar.

No Diário de Notícias (p. 3) Marcelo dá um argumento em si frouxo para defender Menezes: “não há tempo”. Reparem bem que a ideia não é que o PSD deve apoiar Menezes porque ele é um bom candidato, mas simplesmente porque “não há tempo” para o substituir por um candidato melhor.

Mas o próprio argumento do “não há tempo” é ridículo. Sócrates foi eleito líder do PS em Setembro de 2004 e ganhou as eleições de Fevereiro de 2005, apenas cinco meses depois. E não só ganhou as eleições com maioria absoluta como se tem conseguido manter com elevados níveis de popularidade, apesar da agenda “reformadora” pesada.

Aliás, Menezes continua na sua campanha diária: “Eu quero que vocês fiquem certos que eu não sirvo mesmo para líder do PSD”. No Expresso de hoje, p. 4, em relação à polémica das quotas: “A direcção social-democrata considera que esse dossiê está resolvido, sobretudo depois de Menezes ter anunciado que no próximo congresso tenciona matar a polémica, acabando com o pagamento obrigatório de quotas.” Leram bem “matar a polémica”? Já pararam de rir?

terça-feira, 11 de março de 2008

Rio das Flores

Desde que Dóris Graça Dias escreveu algo sobre o Rio das Flores do Miguel Sousa Tavares (MST) que passa por ser crítica literária, também eu me sinto habilitado a fazê-la. Ou, pelo menos, comentário literário.

Para se ler essa “crítica” de mais um “génio incompreendido”, que a direcção do Expresso “censurou” (vejam bem a injustiça!) e comentários que suscitou:
http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/233576

Quanto ao livro do MST, que li sem a expectativa de estar perante grande literatura, tem algum interesse, embora tenha encontrado dois problemas que me impediram de aderir verdadeiramente à obra. O primeiro, que já tinha sido salientado pelo Vasco Pulido Valente (Público, 24 Nov 07, P2: 6-9), são os erros históricos e o segundo, que ainda não vi referido, é a falta de respeito do autor por algumas personagens femininas secundárias.

Há erros históricos mais subjectivos que outros. Por exemplo o que é um regime democrático? Há quem defenda, sem se rir, que as repúblicas do Leste Europeu eram “democráticas”. Neste sentido se poderia dizer que a nossa 1ª República foi democrática, porque dominada pelo Partido Democrático, embora as liberdades fossem bem diminutas. Mas quando li “A República pusera fim legal aos morgadios” (p. 94) dei um salto na cadeira. Este é um erro do mais objectivo possível: os morgadios foram abolidos em 1863, com excepção da Casa de Bragança.

Isto não é um mero problema de data. Isto revela uma visão altamente distorcida da história, revela uma ideia de que a data charneira da nossa história é a passagem da monarquia constitucional para a república. Ora na divisão clássica da história em períodos a época em que vivemos actualmente designa-se por Idade Contemporânea e teve início simbólico em 1789, com a Revolução Francesa, sob o signo da “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Ou seja, a grande transição é entre a monarquia absoluta dum lado e a monarquia constitucional e as repúblicas do outro. E os morgadios, como instituto não da monarquia mas da monarquia absoluta, vão ser desmantelados pela monarquia constitucional. A igualdade de que aqui se fala é a igualdade perante a lei, que vai logicamente conduzir à extinção dos morgadios.

Há outra consequência lógica da igualdade, que é a da ascensão da burguesia ao longo de todo o século XIX, que vai alterar radicalmente a relação de forças (com o clero e a nobreza) própria da monarquia absoluta. Em Portugal esta transição dá-se com atraso mas, mesmo assim, de forma relevante:

“No que respeita à consciência de classe, a burguesia constitucional reforçou sem dúvida a sua na segunda metade do século XIX. (…) Dos trinta e sete governos que dirigiram Portugal entre 1870 e 1910, nenhum foi presidido por titular e só à frente de três ou quatro se encontraram nobres de boa linhagem. Nenhum dos grandes estadistas ou parlamentares do tempo recebeu qualquer título. A burguesia dera-se por fim conta do seu próprio valor e desdenhava de nobres e nobilitações.” in Marques, A. H. Oliveira (1972) História de Portugal, III vol., Palas Editores, 1986, 3ª edição, p. 121-122

Isto é para reforçar a ideia de que a transição essencial se dá da passagem da monarquia absoluta para a monarquia constitucional, com algum atraso, em 1820.

O problema deste grave erro histórico é que a partir daqui, cada informação histórica passa a ser vista com a maior das suspeições. E aquilo que poderia ser uma mais-valia da obra, o revisitar o período histórico de 1915-1945, acaba por não funcionar, pelo menos para mim.

Um outro exemplo de erro histórico, neste caso francamente menor, mas erro de toda a forma: “[a] ‘mais velha aliança do mundo’, que unia Portugal à Inglaterra, desde o século XIII.” Esta aliança, o Tratado de Windsor, data de 1386, logo do século XIV e não XIII. A propósito, na p. 609, há uma “Nota do autor”, onde se lê: “Aos leitores garanto a seriedade do relato histórico, aos caçadores de erros a inutilidade final do seu esforço.” Face ao exposto atrás, isto que tem que ser encarado como uma advertência divertida.

Quanto ao segundo problema, o respeito pelos personagens, na arte da representação existe a recomendação básica que o actor respeite os seus personagens, por piores que eles sejam. Como caso paradigmático atente-se ao Hitler criado pelo Bruno Ganz no filme A Queda (2004), dirigido por Oliver Hirschbiegel. Há aqui um pouco mais do que um mínimo de respeito por aquele que é um dos mais terríveis personagens da História.

Não sei se existe recomendação geral semelhante na literatura, mas eu assumo essa recomendação. MST revela falta de respeito por uma série de personagens femininas secundárias, uma falta de respeito que ultrapassa uma descrição de caricatura e chega a roçar o insulto. A mulher do sr. Ashiff “tão abundante de banhas” (p. 382). “Banhas” é uma palavra muito deselegante. Sobre a sra. Trindade: “o seu ridículo corte de cabelo de madame de Viseu, o seu berrante bâton vermelho contrastando com o sombreado negro do bigode.” (p. 383). De novo a caricatura e a falta de subtileza do “bigode”. Mais “uma cabecita loira e tonta que pertencia ao corpo de baile francês” (p. 390), um estereotipo insultuoso.

Noutro registo: “Diogo sentia no ar um cheiro a gado, a sardinhas e também a fêmea.” (p. 98) e “ancas largas de fêmea já parida” (p. 446). Para mim “fêmea” e “parida” são duas palavras de uma grosseria de cavador.

Estes exemplos, desagradáveis como são, poderiam passar sem sobressalto se aparecessem no discurso directo das personagens masculinas, num tempo histórico bem diferente do nosso. Na reflexão interior de um personagem já cabem com mais dificuldade, mas ainda se desculpam um pouco, como é segundo grupo de exemplos, que poderiam ser interpretadas como reflexão dos personagens, Diogo e depois Pedro. O problema neste caso é a distinção entre narrador e diálogo interior do personagem, nem sempre nítida, sobretudo porque este narrador é claramente omnisciente. Já no primeiro grupo de exemplos é claramente o narrador que usa aquela linguagem de falta de respeito e nestes casos já não há desculpas. Este misto de marialvismo e misoginia, não só não tem graça, como não é nada bonito de se ler.

Dois apontamentos finais. Uma surpresa a entediante e longa explicação das regras do jogo de cartas blackjack nas p. 387-389. Qual a utilidade de maçar o leitor com isto?

Uma embirração pessoal: por diversas vezes (p. 456, 502, 597) há a utilização do verbo “realizar” no sentido de “tomar consciência”, o que segundo o dicionário Houaiss (e eu estou 200% de acordo) “é um anglicismo semântico a evitar”.

domingo, 2 de março de 2008

Sondagem negativa

A sondagem do Expresso de ontem tem uma tonalidade muito negativa. Todos os líderes partidários caiem na sondagem (Menezes cai há 3 meses consecutivos, o pior desempenho de todos). Sócrates é o que cai mais este mês, mas mantém níveis muito elevados de popularidade.

Quanto aos partidos, por construção, não podem cair todos. O que mais cai é o PSD, enquanto o PS sobe. O CDS não consegue aproveitar o mau momento do PSD e cai também, o que parece um pouco extraordinário, excepto se nos lembrarmos das referências sucessivas a negócios pouco claros. Uma questão das mais humilhantes é o CDS estar cada vez mais abaixo do BE.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Menezes castigado

A sondagem mensal de Expresso de Fevereiro, publicada no sábado passado, dá resultados contraditórios entre a evolução dos principais partidos e dos respectivos líderes. O PS cai 0,8% para 42,5%, enquanto Sócrates sobe 0,8% para 31,4%. No PSD passa-se o inverso. Enquanto o PSD beneficia parcialmente desta queda (sobe 0,5% para 33,0%), mantendo-se muito afastado de disputar a primazia com o PS em pé de igualdade, Menezes é dos líderes que mais cai (-1,1%, a par de Jerónimo de Sousa) obtendo o pior resultado desde Novembro, quando estes inquéritos passaram a incluí-lo.

As diferenças entre PS e PSD estão-se a estreitar, mas não faz muito sentido o PSD clamar que “já cheira a poder”. O PS ainda obtém resultados que o colocam próximo da maioria absoluta, enquanto o PSD vai melhorando penosamente. Relembre-se que os actuais resultados do PSD são piores do que ele tinha em meados de 2007, tendo inclusive atingido os 35% de intenções de voto em Jul-07. Continua a ser ridículo falar em desgaste do governo e imaginar que a alternância está à beira da esquina.

Mais ridículas são certas ilusões sobre os protagonistas dessa esperada (outro comentador escreveria “putativa”) alternância. Se há um ligeiro estreitamento entre PS e PSD (cai 1,3% para 9,5%), há um alargamento do abismo que separa Sócrates de Menezes (sobe 1,9% para 27,3%). Ou seja, o PSD até pode estar com um pouco mais de hipóteses de contestar eleitoralmente o PS, mas não com este líder.

Outra questão que me merece destaque é a diferença entre a duração do “estado de graça” de Sócrates e o de Menezes. O de Sócrates durou bastante tempo, apesar de estar a tomar (ou aparentar tomar) medidas difíceis. Já Menezes, que surgiu num período em que o governo está fragilizado, a economia está a divergir há muitos anos, não consegue aguentar-se mais de três meses!