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domingo, 23 de maio de 2010

Diversificação de depósitos

Os riscos de bancarrota que impendem quer sobre o Estado português, quer sobre a banca nacional, sugerem no mínimo que se faça uma diversificação de depósitos. Mas em que bancos devemos colocar os depósitos?

Julgo que a CGD estará num campeonato à parte. Mesmo que a calamidade das contas públicas impeça o Estado de cumprir a sua parte no Fundo de Garantia dos Depósitos, dificilmente deixará de o fazer sobre os depósitos na CGD.

A partir daqui, instala-se a dúvida. O BCP é o mais frágil, quer em termos de rácios, quer em termos de cotação, quer na falta de consistência da base accionista.

Caso seja necessário, será que os accionistas de referência dos outros bancos avançarão com os fundos necessários a aumentos de capital? O BES tem o Crédit Agricole como grande accionista, mas e se a França também ficar engalfinhada numa grave crise do euro? O BPI e o Santander tem fortes accionistas espanhóis que poderão suster a crise, excepto se enfrentarem também graves problemas no seu mercado doméstico.

Saindo dos cinco grandes e procurando um banco estrangeiro com bolsos bem fundos, que banco escolher? Bancos alemães ou franceses têm grande exposição às dívidas soberanas em risco, pelo que se uma crise de bancarrota se abater sobre a área do euro poderão falir eles próprios. Bancos ingleses têm problemas de outra natureza, mas também estão fragilizados.

Se, por um lado faz todo o sentido procurar diversificar os depósitos, fica muito difícil de perceber (sem uma análise mais aturada) quais os bancos mais seguros para onde faz sentido transferir recursos.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Accionistas?

No final de 2009, os dez accionistas com mais de 2%, e que representavam 43,8% do capital, tinham empréstimos no valor de 2,4 mil milhões de euros contraídos junto da instituição.

http://www.ionline.pt/conteudo/54849-assembleia-bcp-aumentou-creditos-aos-grandes-accionistas

O valor de mercado destes 43,8% é de apenas cerca de 1,75 mil milhões de euros. Mesmo usando o valor nominal esta participação só valeria 2,1 mil milhões de euros. Ou seja, em termos líquidos estes “accionistas” são, na verdade devedores do banco. Mesmo sem entrar em linha de conta com este problema já se sabia que o BCP era um banco subcapitalizado. Com estes dados ficamos a saber que afinal essa fragilidade é muitíssimo maior.

É muito estranho o Banco de Portugal permitir uma situação desta. Para efeitos de rácios oficiais o capital de accionistas só deveria ser contabilizado líquido de todos os créditos. E cuidadinho com triangulações para evitar esta restrição…

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Fuga de depósitos

Sem surpresas, os clientes mais ricos dos bancos gregos, os que não estão abrangidos pela garantia dos depósitos, estão a abandonar a Grécia.

http://www.ft.com/cms/s/0/edbfc18c-4268-11df-8c60-00144feabdc0.html

Local savers transferred about €10bn of deposits – equal to about 4.5 per cent of the total in the banking system – out of Greece in the first two months of the year, according to the central bank.

Como é evidente, isto cria um buraco de recursos que os bancos precisam de cobrir. Os bancos gregos estão cada vez mais dependentes do financiamento junto do BCE, com o mercado cada vez mais fechado aos seus pedidos.

Tudo indica que estes movimentos se deverão ter intensificado entretanto e deverão continuar no futuro próximo. A somar ao elevadíssimo défice externo, a Grécia vai ter que arranjar financiamento para substituir estes capitais em fuga (4% do PIB apenas nos dois primeiros meses do ano). Esta fuga de capitais vem juntar-se a um pesadelo de financiamento que já era gravíssimo.

Os bancos vão ser forçados a cortar drasticamente o crédito à economia, afundando não só a economia, como as contas públicas. Ou seja, está a acelerar-se o caminho para o default da Grécia.

Relembro que a Grécia deve ser encarada como um indicador avançado para Portugal. Tudo o que se está a passar na Grécia tem uma elevada probabilidade de se vir a passar em Portugal.

Estou cada vez mais abismado com o erro do BCP de não ter querido vender o seu banco na Grécia. Vão-se arrepender amargamente desta decisão.

quarta-feira, 3 de março de 2010

É simples

Reformas de ex-gestores do BCP "não podem ser alteradas" sem acordo

Advogado de Jardim Gonçalves contesta ideia de Berardo de igualar reformas a salários da actual gestão.

http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=412861

O problema é fácil de resolver. Parece que já há um conjunto de processos sobre a antiga administração do BCP e há sempre a possibilidade de criar novos. Berardo pode usar estes processos como moeda de troca. Se os antigos administradores prescindirem da parte mais substancial da sua reforma, os processos são retirados. É bem capaz de ser a melhor solução, para ambos. Dado o miserável estado da nossa “justiça” é altamente improvável que os processos cheguem a algum lado. Mas os antigos administradores também deixariam de ver o seu nome continuamente na lama da praça pública.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Gato escondido…

Ainda há pouco tempo sugeri que o Banco de Portugal revelasse quais os bancos que se tinham revelado mais frágeis nos testes de stress realizados em parceria com o FMI. Recomendei então que esses bancos deveriam ser obrigados a realizar aumentos de capital. Pois não foi preciso esperar muito até ver uma recomendação mais clara:

“JPMorgan: BCP pode ter de aumentar capital”

http://economico.sapo.pt/noticias/jpmorgan-bcp-pode-ter-de-aumentar-capital_80613.html

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Bravo!

Demorou menos tempo do que eu esperava. No BCP lá perceberam que a manutenção de Armando Vara da administração era um erro que lhes ia custar caríssimo.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Não aprendem?

Parece que, numa leitura estrita da lei, o Banco de Portugal não pode impedir a continuação de Armando Vara na administração do BCP. Não acredito que não haja uma norma geral que exija uma boa reputação aos membros do conselho de administração.

Mas há ainda a chamada moral persuasion, em que o governador do Banco de Portugal tem uma “conversinha” com a administração do BCP e eventualmente com os maiores accionistas: “Ó meus caros amigos, vocês não têm consciência da péssima imagem para o banco e para os seus negócios que é passarmos os próximos meses a ler notícias nos jornais que o Armando Vara isto e aquilo? Mesmo que ele não esteja directamente envolvido é o caso onde ele está envolvido. Arranjem-lhe lá uma sabaticazinha, ir tirar um MBA nos EUA ou qualquer coisa do género.”

Mas, como estamos em Portugal, já se sabe que isto só vai acontecer muito tempo depois de muitos estragos já terem ocorrido, em vez de se cortar o mal pela raiz. Esperemos que o mercado accionista saiba dar um sinal atempado à administração do BCP sobre o que fazer. Os accionistas estrangeiros devem estar loucos e a perguntar-se: “que país é este onde eu cometi o erro de investir?”

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Venha o BBVA

Parece que já várias vezes o BBVA tentou entrar no BCP e foi afastado pelas autoridades. Surge agora nova hipótese. Seria magnífico, seria retirar o BCP do ninho de intriga e incompetência em que se tem enredado, pelo menos até à actual administração. Se o BCP for comprado a 51%, cenário ideal, sairiam de cena todas as primas donas que se têm desperdiçado em intrigas e jogos de poder e poderiam todos esses fundos ser aplicados em outros investimentos, mais proveitosos para o país.

Relembre-se que alguns países de Leste, que apresentam potenciais de crescimento elevadíssimo e estão em franca convergência com a UE, têm TODO o sistema bancário nas mãos de estrangeiros.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Santinhos

Da capa do Diário Económico de hoje: “Supervisores garantem que não falharam no BCP. O Banco de Portugal e a CMVM afirmam ter cumprido a sua obrigação de supervisores. Na comissão de inquérito, apontaram o dedo à auditora KPMG e ao próprio BCP.”

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/edicion_impresa/financas/pt/desarrollo/1120298.html

Estas afirmações podem ser a mais pura verdade, mas, convenhamos, um juiz em causa própria não pode ser levado a sério. Parece que, infelizmente, não perguntaram a António Marta se fosse hoje, se faria tudo na mesma. Julgo que não faria.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O santo do BCP

Jardim Gonçalves “concedeu” uma extensa entrevista ao Público, por escrito, em que se notam, em algumas passagens, uma grande “ajuda” dos seus advogados. O retrato geral é que ele não tem a menor responsabilidade em tudo de mal que se passou no banco. Não reconhece a menor falha, foi tudo feito da melhor forma possível, dá ideia que, olhando para trás, não há nada que poderia ter feito diferente, ou ter feito melhor. Cheira-me que quando se concluírem os processos em curso no Banco de Portugal e CMVM, Jardim vai ter que engolir algumas das coisas que aqui escreveu.

http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1324964&idCanal=57

Não sou adepto de teorias da conspiração, por isso não consigo conceber uma acção concertada contra o BCP. Parece-me é que as múltiplas frentes de batalha que surgiram foram sinais da fragilidade a que a instituição chegou. E essas fragilidades têm um nome: Jardim Gonçalves.

Uma primeira fragilidade é a excessiva dispersão accionista sem um núcleo de referência. A excessiva blindagem dos estatutos, que diminui o valor das acções ao tornar uma OPA quase impossível de sucesso, serviu apenas para preservar o poder do seu presidente contra os accionistas.

Uma segunda fragilidade deriva da dispersão de investimentos do BCP para fora do sector bancário, contra todas as recomendações dos livros de texto. Alguns destes investimentos destinavam-se a comprar accionistas (em alguns casos parece que o banco lhes emprestava quase mais do que eles investiam no banco). Noutros casos, parecia que se pretendia criar um grande centro de poder, com participações nas maiores empresas portuguesas. Um objectivo insensato. Como é que um grupo sem uma base accionista sólida pretende alargar-se para além do seu próprio sector? As fortes perdas que se seguiram ao crash de 2000, revelaram o desastre destas aventuras. Aqui de novo, a explicação decorre de uma megalomania do poder.

Uma terceira fragilidade decorre de uma excessiva dependência da figura de Jardim Gonçalves, que passou a pasta a Paulo Teixeira Pinto, sem verdadeiramente a passar, gerando uma infinidade de atritos. O delírio da OPA sobre o BPI, uma das operações mais mal montadas da história bancária portuguesa, só pode ser explicada no contexto da tal megalomania do poder.

Como vemos, há um conceito que, mais do que todos os outros, explica a história do BCP: megalomania do poder. Daí, um poder mal exercido, que dá demasiadas vezes o passo maior do que a perna. Daí as fragilidades expostas, que foram sucessivamente aproveitadas ora por este, ora por aquele, e não por uma grande conspiração concertada.

Esperemos que a nova administração faça um corte com o passado, vendendo as participações não estratégicas e desblindando (ainda que parcialmente) as participações accionistas.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O aumento de capital do BCP

1. Plano Millenium 2010.
O Plano (revisto) para os próximos três anos é absolutamente essencial para captar os investidores necessários para o sucesso do aumento de capital. Atenção que colocar as acções não é sucesso, até porque a própria colocação já está garantida (a que preço?). O essencial é que a colocação seja feita sem mais desvalorizações da cotação do BCP.

Para o sucesso da operação julgo que o essencial não é prometer um grande crescimento orgânico da actividade (espero que não andem com lirismos de aquisições), mas uma fortíssima aposta nos ganhos de eficiência. Vergonhosamente, esta é uma área em que o BCP está muito mal colocado. O que também tem as suas vantagens: como a situação é péssima, obter grandes melhorias é muito mais fácil. Neste aspecto, a mudança completa de equipa pode ser uma mais valia poderosíssima. O facto de se ter diminuído muitíssimo (ainda que até se saber da decisão da comissão de remunerações) os salários dos administradores, abre espaço a mais cortes.

A aposta no aumento da eficiência tem muitas vantagens. Primeiro, esta é uma das condições mais duradouras de sucesso a nível de resultados, logo de criação de valor para o accionista. Uma segunda vantagem deriva do facto de ser uma tarefa interna e não estar tão dependente da conjuntura, que se adivinha complicada. Com um PIB fraco, com taxas de juros elevadas e com aperto nas concessões de empréstimo, não é de crer que o mercado de crédito tenha crescimentos elevados no triénio. Logo, a concentração nos ganhos de eficiência abre margem para crescimento dos resultados num contexto de actividade modesto.

2. Investidores.
O momento em que ocorre este aumento de capital é especialmente complicado, o que requer cuidados redobrados. Dada a evolução das cotações do BCP, considero quase certo que os actuais accionistas qualificados serão vendedores líquidos de direitos de subscrição de novas acções. Muitos estão já tão endividados, que poucos parecem estar a aproveitar os “saldos” nas cotações par reforçar as suas posições. Já quanto aos pequenos accionistas, com o que já sofreram, parece-me seguro esperar que também sejam vendedores líquidos de direitos.

Quem se afigura como comprador líquido de direitos será talvez a Sonangol, mas não deverá compensar a venda de direitos de outros accionistas qualificados. Os fundos de acções, que fugiram maciçamente do BCP, poderão voltar agora e, para eles a credibilidade do Plano 2010 vai ser absolutamente essencial para os convencer a entrar de novo.

Para além disso, julgo que a administração deveria estar a trabalhar em outras vias, seguidas recentemente pela UBS, entre outros: procurar novos accionistas ricos como os fundos soberanos, que estão cheios de liquidez (aliás a própria Sonangol funciona como fundo soberano). Estes pretendem apenas ter carteiras diversificadas e não me parece que haja muitos riscos de tomada de controlo. Aqui, de novo o Plano 2010 será essencial para os conquistar.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

PSD de mal a pior

Do Diário Económico online:
“Crise no BCP 2008-02-20 11:28
PSD veta ida de Jardim Gonçalves e Paulo Teixeira Pinto à Assembleia da República”

Ver aqui

Uma decisão que só pode ter as piores leituras. Pois bem, ainda não passaram duas horas desde que esta notícia está em linha, já há uma verdadeira chuva de comentários, quase todos indignados com esta decisão do PSD. Como seria de esperar.

O que surpreende é o quão esta decisão é irreflectida. Estes tipos nunca dedicam 2 segundos a reflectir sobre as possíveis consequências de determinada decisão, de determinada declaração? É evidente que estão a proteger dois amigos, mas não haveria uma outra forma de fazer isto, se querem mesmo fazê-lo, que não provoque um tão forte clamor de indignação?

É evidente que é por episódios como este que a política tem uma fama péssima e o parlamento tem uma fama ainda pior.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Um pouco excessivo, não?

Noticia o Público de hoje, capa e p. 41, que Paulo Teixeira Pinto (PTP) se reformou (!) aos 47 anos, recebendo 10 milhões de euros à cabeça e um pensão vitalícia, paga pelo banco, de cerca de 35 mil euros por mês, em 14 prestações por ano. No total, o banco assume o conjunto destes compromissos, tendo o seu valor actualizado sido estimado em cerca de 22 milhões de euros.
Parece que os 10 milhões de euros se destinam a assegurar que PTP jamais volte a exercer funções em instituições bancárias concorrentes. Tendo em atenção a forma como lançou e geriu a OPA ao BPI, não parece que houvesse assim tantos concorrentes dispostos a pagar salários milionários por estes serviços. Uma coisa que sempre me delicia é quando uma empresa decide ir por um certo caminho e o mercado recebe essa decisão com uma estrepitosa queda das cotações. Um pouco mais à frente, essa decisão falha (como a corrida a uma privatização na Roménia) e o mercado saúda esse “fracasso”, com uma forte subida de cotações. É óbvia a mensagem que o mercado está a dar…
Agora cito de cor, mas o pretexto para uma reforma aos 47 anos parece ter sido por razões do foro psicológico, um pretexto que dá para tudo. Já agora como é que uma pessoa num dia é presidente do maior banco privado e no dia seguinte está incapaz do mais pequeno trabalho? Há aqui ainda outra pequena (ligeiríssima…) contradição. Se ele se reforma por manifesta incapacidade de voltar a trabalhar, qual a necessidade de lhe pagar uma indemnização para ele nunca mais trabalhar? Pois então ele não está reformado por incapacidade?
Há depois a questão “menor” dos valores envolvidos. Num período em que os resultados do banco vão ser substancialmente afectados pelos custos da OPA falhada sobre o BPI, não poderíamos falar de valores um pouco menores, que mostrassem um pouco mais de respeito pelos maltratados accionistas do BCP?
Para quem enchia a boca de valores éticos (não precisava de o fazer), também não fica lá muito bem, pois não?
Finalmente, a nabice de não saber fazer as coisas. Se as contas estão bem feitas, PTP poderia ter negociado receber os 22 milhões de euros à cabeça tal como o banco as escriturou. Depois comprava, um negócio privado que ninguém tinha que saber, a tal pensão vitalícia com 12 milhões de euros (de novo, parto do princípio que as contas estão bem feitas). Ao banco custava a mesma coisa. PTP receberia exactamente a mesma coisa e não tinha que passar pelo opróbio de uma reforma mal explicada. Aliás ainda recentemente apareceu nos jornais com extensa descrição de afazeres… Mas chama-se a isto não saber fazer as coisas. Falta de intuição política. Também necessária em outros lugares públicos, que não apenas na política.
A propósito, se PTP está apto para tantos afazeres, não será legítimo aos accionistas do BCP pedirem a suspensão da tal reforma por incapacidade?

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Parabéns

Santos Ferreira foi eleito CEO do BCP com uma das mais esmagadoras vitórias de sempre, com quase 98% dos votos expressos. Esperemos que traga tranquilidade e ambição ao banco, cujas cotações estão hoje pelas ruas da amargura.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Da independência do Banco de Portugal

Durante muitos anos o Banco de Portugal (BdP) cresceu em reputação. Falando só dos mais recentes, o peso da estabilização macroeconómica que recaiu na política monetária, quando a política orçamental estava longe de fazer o seu papel, deu-lhe uma grande importância. A dificuldade de lidar com a liberalização dos movimentos de capital foi outro elemento a obrigar a uma elevada qualidade na sua gestão. E o Banco foi crescendo em termos técnicos, com um Departamento de Estudos da mais elevada qualidade.
Mas o governador António de Sousa (1994-2000) ficou demasiado calado perante o desvario orçamental do guterrismo. Digo “demasiado”, porque internamente as críticas eram fortíssimas – tive várias reuniões com os técnicos nesse período. Veja-se ainda o Relatório Anual do BdP de 1998, p. 26: “As condições de política económica [deviam ser mais explícitos e dizer política orçamental] constituíram um estímulo adicional, ampliando a resposta à mudança de regime económico.” Se houvesse independência este “estímulo adicional” deveria ser altamente criticado, porque vai contra tudo o que se recomenda. A política económica deve ser anti-cíclica: se a economia está a acelerar a política económica deve contrariar esse estímulo e NUNCA ser um estímulo adicional.

Constâncio, governador desde Fevereiro de 2000, apesar de começar por dizer que estava tudo bem, pouco depois acordou e começou a falar no problema orçamental. O Relatório de 1999, publicado já sob a sua chancela, começa a criticar a política orçamental, mas ainda timidamente. p. 27: “cabem à política orçamental portuguesa dois papéis cruciais. Por um lado a sua orientação cíclica deverá ser ajustada (…) por forma a se conseguir uma combinação correcta de políticas, evitando que a flutuação cíclica da economia portuguesa seja exacerbada.” Agora já não há medo de chamar o boi pelo nome e critica-se brandamente (“deverá ser ajustada”) a natureza pró-cíclica que a política orçamental tinha.

Por esta altura, Guterres quando lhe mostraram um programa de emagrecimento orçamental terá dito: “isso é para a direita fazer”. E, com a desculpa do desapego ao poder (a piada do século!), foi-se embora. Constâncio até deu apoio ao novo governo, saído das eleições de 2002, no combate ao défice orçamental. O pecado capital veio em 2005, com a farsa do défice de 6,82%. A sua re-nomeação para governador estava para breve… Este défice de 6,82% nunca existiu e foi calculado como se existisse 0% de cativação das despesas aprovadas, o que é absurdo. Como toda a despesa necessita de ser aprovada pela AR, o comum é pedir-se autorização para realizar mais despesa do que se pensa inicialmente realizar, ficando essa despesa extra “cativada”, isto é, proibida de realização. À medida que a execução orçamental se vai realizando, vê-se se a margem para descativações e só nesse caso elas são autorizadas. Logo, o exercício que Constâncio fez era totalmente destituído de sentido económico, mas com o sentido político de vender a necessidade de aumentar impostos e restringir gastos.

Durante algum tempo até não se notou muito, mas agora são cada vez mais frequentes as referências ao governador como “apparatchik socialista”, como por exemplo o editorial de hoje do Público.
Penso que estamos com um problema de independência no BdP. Olhando para trás, parece que se devem mudar os estatutos e atribuir um mandato mais longo ao governador, mas não renovável. Isso resolveria o problema que tivemos com Constâncio, mas não o problema com António de Sousa. Nesse caso o seu “bom comportamento” foi premiado não com a re-nomeação, mas com a presidência da CGD.
Provavelmente nunca se achará uma solução ideal. Definitivamente, temos um problema de falta de independência da sociedade portuguesa. Poderíamos dizer que em grande parte ele adviria das nacionalizações, o que fez que todos os principais gestores tivessem necessariamente uma ligação ao Estado/partidos e, nessa geração, praticamente não haveria alternativa.
Mas o recente e tristíssimo episódio do BCP (que também tem ajudado a escurecer a imagem de Constâncio) veio revelar que o problema é muito mais extenso do que gostaríamos de reconhecer…

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Ocultar informação

O governador do Banco de Portugal considera que não há nenhum erro por parte das suas funções de supervisão, porque o BCP ocultou informação.
Esta linha de argumentação é extraordinária. Um polícia está isento de culpas, sempre que o bandido não lhe comunique as patifarias que está a fazer.
Que pensará o BCE disto?
Esta história faz-me lembrar outra, passada num banco em que trabalhei. Os meus colegas de produtos estruturados, tenho ideia que dos melhores do sector, eram fiscalizados por funcionários do BdP que não percebiam um décimo do que estava em causa. A percepção deles era que, se quisessem, lhes dariam um bailinho com a maior das facilidades.
Os produtos estruturados, só um exemplo, são das matérias mais complexas e em mais rápida mutação na banca.
Um paquiderme jamais será capaz de os acompanhar.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Privatizar a CGD

Menezes, em entrevista de ontem ao Público, p. 2, entreabe muito cautelosamente a questão da privatização da CGD: "A questão de saber se deve ser 100 por cento um banco público devia ser discutida."
Devo dizer desde já que uma privatização parcial me pareceria o pior cenário possível, em as suspeitas de promiscuidade seriam exponenciais.
Um dos problemas que detecto no BCP é não existirem capitais nacionais suficientes para efectivamente o controlarem. As blindagem de estatutos não estão lá por acaso. Mas se desaparecessem, que grupo português poderia comprar o BCP?
Por isso defendo a privatização a CGD a 100%, em duas partes. Uma 1ª, maioritária, vendida a um grande grupo internacional, que aumente a concorrência no sector; uma 2ª, dispersa em bolsa.
É evidente que, antes da privatização, a CGD precisa de ser "limpa" de todas as participações "estratégicas", que deverão passar para a Parpública, se entretanto não se for (mentalmente) capaz de fazer privatizações a 100% no que ainda resta.
É incrível como o PREC ainda resiste...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Zangam-se as comadres...

Já aqui tinha referido (26 Dez) a falta de tacto de Santos Ferreira ao convidar Armando Vara para o acompanhar no BCP. Agora vem-se a saber que aprovou créditos a investidores para reforçarem no BCP e que esses mesmos investidores o convidaram para presidir ao BCP. As nódoas começam a espalhar-se...
Mas isto também explica outra perplexidade minha. Porque é que quem comprou lotes grandes no BCP não está agora a aproveitar os saldos? É porque fez compras alavancadas com empréstimos que, provavelmente estão hoje perigosamente próximas da linha de água.
É também evidente que este timing é ideal para Miguel Cadilhe, o que não indicia necessariamente o seu envolvimento, mas a de alguém com contas a ajustar com Santos Ferreira. Presume-se.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Sem perfil?

Se Santos Ferreira propor Armando Vara para administrador do BCP, prova que não tem perfil para presidente do banco. Mesmo que Vara se tenha revelado um excelente administrador da CGD (uma enorme surpresa!), insistir no seu nome para o BCP revelaria uma total falta de noção. A suspeita de excessiva influência do PS desvalorizaria obviamente as acções do BCP.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Recomendado

Na sequência do último comentário, um artigo certeiro do Paulo Ferreira, no Público de hoje (sem link), p. 44:
"Os perdões do BCP e os desafios para a supervisão"
Do final do artigo: "A questão é saber se o Banco de Portugal, que raramente actua e parece ser sempre o último a saber, (...) está preparado para enfrentar um grande banco e investigar de forma transparente."