Os dados do PIB do 3º
trimestre deveriam levar o governo a reconhecer, sem qualquer ambiguidade, o
erro da sua estratégia económica e a mudá-la em conformidade.
1. Os dados preliminares do PIB do 3º trimestre foram
substancialmente melhores do que o esperado, sendo ainda necessário conhecer os
seus detalhes, que só estarão disponíveis no final do mês. A sua decomposição é
particularmente importante para avaliar a sua sustentabilidade.
É favorável que os bons valores se devam ao comportamento
das exportações, quer de bens, quer de serviços (turismo), porque indicará que
o movimento será mais generalizado do que apenas ao turismo. Circula, de forma
não oficial, a informação de que a reabertura de uma refinaria e a exportação
de material militar usado estarão a empolar os valores das exportações, mas
teremos que esclarecer isso.
A contribuição da procura interna para o crescimento
homólogo do PIB (acelerou de 0,9% para 1,6%) foi agora mais intensa, o que não
é um bom sinal porque resultou do consumo privado na sua componente de bens não
duradouros e serviços.
É essencial insistir neste ponto: Portugal tem um excesso de
consumo privado e um défice de poupança (quer privada quer pública) e se não
corrigirmos isto não poderemos voltar a investir sem cair de novo em défices
externos.
O investimento é exactamente a incógnita mais procurada,
tendo tido um comportamento muito negativo no 1º semestre e podendo constituir
um forte entrave à recuperação futura e à criação de emprego se não passar a
crescer. Teremos que esperar ainda alguns dias para esclarecer este ponto.
Não devemos extrair demasiadas conclusões destes números
porque ainda são muito pouco detalhados e se trata de um número desfasado dos
imediatamente anteriores, ainda que igual ao crescimento médio de 2015.
No entanto, eles deveriam ajudar o governo a perceber o erro
de ter mudado a estratégia económica do país, de um foco nas exportações (ou
bens transaccionáveis se preferirem) para a procura interna. Se não têm coragem
de o assumir publicamente, já que existe a errada ideia feita de que reconhecer
um erro é uma falta grave em política, ao menos reconheçam-no na prática,
aumentando o apoio e, sobretudo, retirando os obstáculos absurdos à actividade
das empresas exportadoras.
2. Seria possível fazer pior na gestão da CGD? Como foi
possível ignorar o plano de capitalização da Caixa proposto pela anterior
administração? Porque razão se adiou a constituição da nova equipa? Porque se
escolheu um modelo que não melhora a fiscalização da empresa, muito pelo
contrário, em boa hora travado pelo BCE?
Que trapalhada é esta com a declaração e divulgação de
rendimentos e património da administração do maior banco público? Há
compromissos escritos ou não? Quanto é que a CGD e os contribuintes já perderam
com este folhetim de baixo nível? Quando é que o governo reconhece que errou de
forma grave e emenda a mão?
[Publicado no jornal online ECO]