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quarta-feira, 11 de abril de 2018

Cine Humberto Mauro completa 40 anos

 O mais antigo funcionário da sala, Mercídio Scarpelli, conhecido por todos como Cid, já foi ameaçado de morte por cinéfilos que se sentiram "roubados"

 Sala recebeu mostras completas de Charles Chaplin, Alfred Hitchcock e Howard Hawks

Sala foi reformada em 2013, recebendo equipamentos de projeção e som de última geração

Publicado originalmente no site Hoje em Dia, em 09/04/2018

Cine Humberto Mauro completa 40 anos
Por Paulo Henrique Silva

Projecionista do Cine Humberto Mauro há mais de 30 anos, Mercídio Scarpelli já sentiu na pele até aonde pode ir o amor ao cinema. “Nosso projetor era aquele de rolinhos, que tinham que ser trocados a cada dez minutos. Quando estava exibindo ‘Ben-Hur’, houve uma pequena diferença de cenas nesta passagem e um espectador foi à minha fala me dizer que eu estava roubando filme!”, lembra ele, divertido.

Apesar do medo que ficou, precisando ser acompanhado até o ponto de ônibus por um policial que estava na plateia, na hora de ir para casa, Scarpelli gosta de contar essa história para diferenciar o tipo de público da sala do Palácio das Artes, que comemorará 40 anos de atividades em outubro.
Criada após um grupo de cinéfilos de Belo Horizonte se reunir para ver filmes no Grande Teatro, o cinema não perdeu o papel: dar acesso a obras importantes de todo mundo.

Mônica Cerqueira foi responsável por dar a cara que o cinema tem hoje, apresentando uma programação regular e diversificada. Antes de virar a coordenadora, ela era uma das secretárias da presidência que sonhava um dia em trabalhar no cinema, uma de suas paixões.

A oportunidade chegou, mas não sem polêmica. “O pessoal da área pediu a minha destituição nos jornais e na Coordenação de Cultura do Estado. Afinal, quem era aquela menina? Não era do cinema”, recorda Mônica, que acabou ficando dez anos à frente do espaço, criando mais tarde outras salas cult, como o Savassi Cineclube e o Usina.

Criou mais controvérsia ao exibir um filme dos Beatles, até então visto como entretenimento puro. “Queria que a sala fosse conhecida, queria abrir a roda. Ele ficou aquecido e nunca deixei isso esfria", lembra Mônica, que, para não perder público, cheogu a substituir o projecionista que havia quebrado a perna. "Não iria fechar a sala após chegar a esse ponto. Então eu mesmo fui ser a operadora”.

Não é nenhuma “maldição”, mas, uma vez que se passa pelos bastidores do Cine Humberto Mauro, o vínculo com o espaço parece se tornar vitalício, com as pessoas sempre retornando a ele, de uma forma ou de outra.

Ana Siqueira foi coordenadora da sala em 2008 e saiu para ter a sua filha, Rosa. Voltou cinco anos depois, para ficar à frente do Festival Internacional de Curtas-Metragens de Belo Horizonte, criado em 1994 por José Zuba Jr., outro nome fundamental na história do Humberto Mauro.

“É muito gratificante trabalhar num cinema que tem esse perfil. Além da possibilidade formativa, tendo na plateia gente que mais tarde estaria dirigindo seus filmes, havia o trabalho cotidiano com a história do cinema. Não passava um dia sequer que eu não entrava na sala, mesmo que por alguns minutos”, registra Ana.

A história de Bruno Hilário, atual gerente da sala, começa em 2009, quando entrou como estagiário na gestão de Daniel Queiroz. “Na época, eu estudava cinema e tinha no Humberto Mauro um espaço democrático que unia divertimento e filmes de diferentes lugares”, destaca.

Ele acompanhou de perto a transformação da sala, primeiramente aos olhos do próprio Palácio das Artes, que passou a dar ao cinema o mesmo status de suas óperas e apresentações de balé. “Foi muito significativa essa passagem para gerência, ganhando maior autonomia e um lugar mais estabelecido na política interna”, observa.

Assim o Humberto Mauro se tornou referência nacional na realização de mostras retrospectivas, várias delas acontecendo na gestão de Rafael Ciccarini. Eram verdadeiras buscas arqueológicas, com cópias vindas do exterior, para não deixar nenhum filme de fora.

Acompanhadas por debates e catálogos, as mostras de Alfred Hitchcock, Charles Chaplin e Howard Hawks chamaram a atenção para a programação oferecida pela sala pública.

"É um lugar democrático, que abriga todos os tipos de filmes", observa atual gerente

A busca por ampliação e diversificação do público levou o cinema a um grande desafio, há quatro anos, quando passou a exibir filmes que não exatamente clássicos absolutos do cinema mundial.

“Quando promovemos uma mostra de Elvis Presley, um grupo muito reduzido de cinéfilos chegou a questionar. Não esquecemos os clássicos, mas buscamos dar uma outra cara”, destaca Hilário.

O cinema realizou, em seguida, mostras de “Star Wars”, de filmes de terror dos anos 90 e, com início nesta quinta-feira, uma dedicada às obras de artes marciais.

“Os filmes não são exibidos sem contextos. Há toda uma discussão que se dá em torno deles, propondo um outro olhar”, explica o atual gerente, lembrando que a quadrilogia “Pânico” foi apresentada no mesmo dia, coincidentemente, que a Cinemateca Francesa promovia uma sessão especial destes filmes.

No lado de infra-estrutura, a sala também passou por uma grande reforma em 2013, com novos sistema de som e imagem, tornando-se uma das primeiras de Belo Horizonte a ter projeção em DCP (Digital Cinema Packpage), que substitui as películas.

“O Cine Humberto Mauro se tornou um templo do cinema. Não só como um lugar sagrado, como a casa do cinema, mas também este lugar democrático, que abriga todos os tipos de filmes. Falar do valor de uma obra é sempre subjetivo e que temos nos permitido é chegar a risco, a um confronto. Isso é promover o diálogo”, analisa.

Texto e imagens reproduzidos do site: hojeemdia.com.br

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Cine Humberto Mauro - 30 anos

Na projeção. Alípio José Ferreira, 78, admirador dos clássicos que viu da cabine.

Publicado originalmente no site O Tempo Magazine, em 11/10/2008.

Cine Humberto Mauro - 30 anos. 

Resistência e memória

Por Marcelo Miranda. 

O Cine Humberto Mauro sempre se caracterizou tanto pela ousadia de suas programações - com mostras e retrospectivas de cinemas vindo dos países mais inusitados, como Rússia, Hungria, Suécia e, nos anos 80, até mesmo da Alemanha Oriental - quanto por formar diversas gerações de cinéfilos. O pesquisador e professor Ataídes Braga está ligado às duas vertentes. Ele freqüenta o Cine Humberto Mauro desde o final dos anos 70, quando tinha 16 anos, e guarda todos os folhetos de programação desde aquela época. O objetivo é publicar o livro "Cachoeiras e Filmes", em processo bastante adiantado. Ataídes pretende registrar todas as mostras que já passaram pela sala em suas três décadas - e mesmo antes. "Já tenho muito material do período pré-inauguração do cinema", conta ele. O título da publicação homenageia o patrono da sala - Humberto Mauro dizia que "cinema é cachoeira". "Era um espaço de formação política, que insistia em exibir filmes e gerar variadas discussões", afirma o pesquisador. "Hoje, ainda mantém a resistência de não se render a filmes comerciais e seguir com debates", avalia.

A PROGRAMADORA. Herdeira de um cargo que já passou por dezenas de nomes - Helvécio Ratton, Rafael Conde, Mônica Cerqueira, José Zuba Jr e Daniel Queiroz, entre outros -, a jornalista Ana Siqueira é a diretora de programação da sala desde janeiro deste ano. "O contexto de um trabalho como este mudou muito. O Cine Humberto Mauro surgiu numa época em que os cinemas de rua estavam no auge, não havia DVD nem internet e os cineclubes funcionavam com toda a força. Atualmente, a existência de uma sala como a nossa tem ainda mais diferencial", diz Ana, que enxerga o cine como "um abrigo" para o que não teria vez em outros lugares e, ainda assim, é relevante de ser exibido. A vida de Ana literalmente é paralela ao Cine Humberto Mauro. Ela nasceu apenas um mês depois da inauguração da sala. Obviamente, desde cedo passou a freqüentá-la. Soa uma bela coincidência, portanto, que Ana esteja grávida - quando o filho (ou filha) tiver a sua idade, o Cine Humberto Mauro vai estar completando 60 anos.

O PROJECIONISTA. Aos 78 anos, Alípio José Ferreira se orgulha de ser o mais longevo projecionista ainda em atividade em Belo Horizonte. Nascido em Conselheiro Lafaiete, Alípio está no ofício há 51 anos. "Comecei ainda como ajudante, mexendo nos rolos de filme", relembra ele. Impressiona a quantidade de cinemas onde trabalhou. Alípio faz questão de tentar seguir a cronologia, mas se perde quando percebe ter deixado algum local para trás. No saldo, entram, por exemplo, os extintos Cine Rosário, Cine Tamoios, Roxy, Guarani, Havaí, Pompéia, Serrador, Astória e Salgado Filho. Ele entrou para o Cine Humberto Mauro em 1987. "O que me faz permanecer na profissão é simplesmente porque eu gosto", resume. De filmes, claro, também é fã. Seus favoritos - vistos da cabine de projeção dezenas de vezes - são todos clássicos: "... E o Vento Levou", "O Morro dos Ventos Uivantes", "O Mágico de Oz" e "Cidadão Kane".

O PORTEIRO. Outro funcionário antigo na casa, curiosamente José Horta de Oliveira, 65, entrou no mesmo ano de Alípio. Nasceu também no interior, em Bom Jesus do Galho, e está na capital há 33 anos. Antes do Cine Humberto Mauro, Horta trabalhava no Cine Nazaré e no Cine Regina - sempre como recepcionista. "É um serviço muito bom, mas que exige um pouco de paciência porque cada pessoa é de um jeito", comenta ele. "Hoje está mais complicado, os jovens são muito desobedientes." A função de José Horta consiste em estar à disposição dos freqüentadores da sala no que ele puder ajudar - "tento não deixar fazer barulho na sala e também controlo o ar-condicionado". Entre um momento de folga e outro, consegue dar uma espiadinha nos filmes em exibição. "Aqui é interessante porque passa filme de arte, né? E de tudo quanto é país." Dos que se lembra, conta gostar muito de "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e assume ser fã dos franceses Gérard Depardieu (ator) e François Truffaut (diretor).

A MOSTRA. Nas celebrações dos 30 anos do Cine Humberto Mauro, a sala exibe, de 15 de outubro (próxima quarta-feira) ao dia 26, 12 filmes escolhidos por 12 dos antigos programadores do lugar. "Foi uma idéia que a gente teve de ir atrás dessas pessoas e mostrar como elas fazem parte dessa história que está sendo formada", explica Ana Siqueira. Cada ex-curador teve liberdade de escolher um título a ser exibido na mostra (veja quadro). "Com as escolhas particulares de todos eles, conseguimos formar um retrato bastante diversificado e condizente ao perfil do Cine Humberto Mauro!, conclui.

Texto e imagem reproduzidos do site: otempo.com.br